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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

No Limiar do Amanhã

Programa 184

 

 

No Limiar do Amanhã. Um desafio no espaço.

Nosso desafio é dirigido a todos os que pensam. Aos que não se entregam ao comodismo da rotina. Não se trata de um desafio pessoal, mas do desafio secular do Espiritismo que está no mundo para transformar o mundo. Não somos sábios, nem mestres. Somos apenas aprendizes da nova cultura, que nasce no limiar do amanhã.

José Mariano Martins, nosso ouvinte de são Bernardo do Campo, escreve-nos a seguinte carta:

Nunca aceitei a existência do chamado mundo espiritual. Para mim tratava-se de simples invenção de criaturas imaginosas, posteriormente exploradas por espertalhões que criaram as religiões. Não que eu seja materialista ou ateu. Isso, não. Sempre achei que tem de haver um poder superior. Uma espécie de foco de energias que gerou e sustenta o Universo. Com essa coisa para mim esmagadora que é a chamada mecânica do infinito. Esse foco seria Deus, mas não em forma humana. Dei de barato todas as religiões e seitas. Chutei da memória as preces que me ensinaram na infância e passei a viver por conta do destino. Sem me incomodar com problemas transcendentes. Tornei-me um cético. Nada mais que isso.

Um dia me falaram nesse programa e resolvi ouvi-lo sem muita curiosidade, mais por desfastio. Faz três meses que venho ouvindo regularmente. A ideia que eu fazia do Espiritismo era o que há de pior. “Religião mestiça”, como diria Euclides da Cunha. Mistura de superstições de toda espécie, coisa para engambelar pessoas ignorantes, incapazes de pensar com acerto. Confesso que fiquei assustado ao ver que o Espiritismo é uma doutrina de princípios elevados e de origem francesa. Pensava que vinha da África e de nossas selvas, de negros selvagens e de índios.

Confesso também que pela primeira vez, peguei um livro espírita para ler e acho que não vou parar tão cedo. Mas uma coisa continua a me atazanar a cabeça. Se Deus é inteligência suprema, causa de tudo quanto existe, deve ser também a sabedoria suprema e o poder supremo. Sendo assim, por que ele não interfere na desordem que os homens fazem na Terra? Onde tanta gente inocente é sacrificada por gente esperta e gananciosa e por malfeitores de toda espécie? Deus que tudo sabe e tudo pode, nos larga aqui na Terra como enjeitados? Gostaria que o professor Herculano Pires me desse uma resposta sobre isso. Depois pode ser que eu volte a lhe escrever, pois ando matutando muito nessas coisas.

No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Produção do grupo espírita Emmanuel. Transmissão 184 - 4° ano.

Apresentação de José Pires e Teresinha Ribeiro.

Técnica de som: Maria das Graças.

Sonoplastia: Antonio Brandão.

Direção e participação do Professor Herculano Pires.

Gravação dos estúdios da Rádio Mulher, São Paulo, Brasil.

Todas as semanas, neste dia e neste horário, transmissão pela Rádio Mulher 730 kHz, São Paulo; Rádio Morada do Sol 640 kHz, Araraquara; Rádio Difusora Platinense 780 kHz, Santo Antônio da Platina, Paraná. Todas as semanas, neste dia e neste horário.

Diálogo no Limiar do Amanhã. Uma busca radiofônica da verdade.

 

O professor Herculano Pires passa a responder à carta do nosso ouvinte, José Mariano Martins de São Bernardo do Campo.

JHP – Vamos iniciar pela sua teoria, meu caro ouvinte, a sua teoria da origem das religiões. É claro que esta teoria já deve estar superada no seu espírito, mas talvez eu possa lhe dar umas informações que o ajudem a compreender melhor esse problema.

As religiões não foram absolutamente inventadas por criaturas imaginosas. Porque as religiões nasceram, já nos tempos mais recuados da evolução humana, entre os próprios chamados homens da caverna. Portanto, antes de haver qualquer desenvolvimento intelectual na Terra. Antes de haver qualquer desenvolvimento da civilização e da cultura. Entre esses homens primitivos que não dispunham da capacidade de imaginação, porque não possuíam a capacidade de abstração do pensamento, para recriação da realidade por eles sentida, já entre estes homens, havia religião.

Então nós temos de admitir o seguinte: A religião nasce com o homem. O homem é, por assim dizer, um animal religioso. Estou naturalmente fazendo um paralelo com a expressão de Aristóteles [1] de que o homem é um “animal político”. O homem é um animal religioso. Ele já nasce trazendo em si, o sentimento religioso.

De acordo com a Doutrina Espírita, existe uma coisa que caracteriza a espécie humana. A Lei de Adoração. Esta lei está no coração de todas as criaturas humanas, desde o aparecimento do primeiro homem na Terra. A Lei de Adoração leva o homem a reverenciar sempre alguma coisa e a adorá-la. E o homem faz isso, tendo naturalmente por impulso um sentimento instintivo que o leva a adorar, por exemplo, as coisas materiais. Um rio, uma montanha, uma pedra, uma estrela, o Sol, a Lua e assim por diante, como nós vemos entre as tribos selvagens. Não há, portanto, uma influência imaginária no assunto. O que há é um impulso instintivo que leva o homem a este processo de adoração, do qual nascem as religiões.

Mas não é apenas disto que nascem as religiões. Além deste processo, existem o que hoje se chama de “fenômenos paranormais”. Ou seja, as manifestações mediúnicas, manifestações de Espíritos, pois o homem é Espírito. E desde que o mundo é mundo, desde que o homem apareceu na Terra, ele morre e renasce. Ele morre, e como ensina o apóstolo Paulo, enterra-se o seu corpo material, mas ressuscita-se o seu corpo espiritual. A ressurreição deste corpo espiritual, faz com que o homem passe a viver numa nova dimensão, por assim dizer. Uma nova dimensão da realidade. Já não mais revestido de matéria densa como a do corpo físico, mas revestido de um corpo sutil, de um corpo energético, que é o corpo espiritual.

Assim, os homens ressuscitados em espírito, continuam procurando relações com os homens encarnados na Terra. Porque eles estão ainda em estado primitivo, bastante apegados à matéria e o seu desejo é voltar imediatamente à vida carnal.

Nestas relações aparecem então as manifestações espíritas, os fenômenos de aparição em que criaturas mortas aparecem para pessoas vivas. As manifestações orais, através de médiuns, que depois apareceriam entre as pitonisas e os oráculos, no mundo civilizado. Surgem então todos estes fenômenos que vão levando o homem ao fato concreto de que existe a sobrevivência após a morte. E de que portanto, deve haver uma subordinação dos Espíritos que sobrevivem a autoridades superiores, como existe, na própria tribo, a subordinação dos indivíduos ao cacique e espiritualmente ao pajé ou xamã. Assim, a religião nasce, como afirma o professor Ernesto Bozzano[2], dos fatos concretos, das realidades concretas que se manifestam desde as tribos selvagens até os nossos dias através da mediunidade.

Dois fatores preponderantes: primeiro a Lei de Adoração, depois as ocorrências naturais fenomênicas, nas selvas. É disto que nascem as religiões.

Quanto à exploração dos espertalhões a que o senhor se refere, isto há naturalmente sempre, sempre existiu e sempre haverá. E não apenas no campo religioso. Os espertalhões atuam em todos os campos das atividades humanas, inclusive na Ciência e na Filosofia. Por toda parte eles estão presentes e procuram explorar. Mas não devemos confundir os espertalhões e suas atividades de trapaceiros, com as atividades reais, sinceras, dedicadas, daqueles que são realmente religiosos, que acreditam na verdade espiritual e que procuram servir os seus deuses. Sejam os deuses mais inferiores dos tempos passados, ou seja, o Deus verdadeiro, o Deus único que o Cristianismo nos revelou e que o Cristianismo impôs a todo mundo através de uma verdade incontestável e inegável. De qualquer maneira, é preciso distinguir entre os que se aproveitam das religiões, mesmo em nossos dias, e aqueles que sinceramente são religiosos. Houve um filósofo francês que é muito conhecido, mas às vezes a gente convém explicar melhor as coisas, porque falamos ao grande público. Houve um filósofo francês chamado René Descartes[3]. Este homem tem uma frase muito importante, que é a seguinte. Ele diz que nós todos trazemos a ideia de Deus conosco. Desde que nascemos essa ideia está dentro de nós. Então ele diz: “a ideia de Deus está no homem, como a marca do obreiro na sua obra”. Um pintor, por exemplo, faz um quadro, põe a sua marca, a sua assinatura. Um artista plástico no campo, por exemplo, da escultura, faz uma escultura ou coisa semelhante, põe a sua marca. E assim por diante. Inclusive o simples oficial de uma oficina qualquer, de carpintaria, de marcenaria ou de qualquer outra coisa, no campo da cerâmica e assim por diante, costuma marcar os objetos por ele fabricados com a marca da casa ou a marca dele, pessoal.

Então Descartes disse que a ideia de Deus é a marca de Deus em nós mesmos. Nós já trazemos a marca do Criador, que é a ideia de Deus. Porque Descartes chegou a essa conclusão da seguinte maneira, investigando o seu próprio interior, o seu próprio psiquismo, aprofundando-se na sua consciência, mergulhando nela, numa cogitação profunda, ele verificou que existia nele a ideia de um ser perfeito, absoluto. Um ser que realmente estava muito acima das condições humanas. Então diz ele: “De onde me vem essa ideia?” De mim não vem, porque eu sou imperfeito. Eu não sou eterno. Ao menos não me considero assim. Eu sou uma criatura falível, cheia de defeitos. Como posso eu ter essa ideia de uma criatura perfeitíssima e superior, muito superior a mim? E ele chegou à conclusão de que todos os homens têm essa ideia consigo. O que realmente se prova, na experiência religiosa através da História das religiões e da Psicologia da Religião em todo o mundo. Nós temos conosco esta tendência para a religião, que é uma marca decisiva da espécie humana.

Assim, a sua teoria de que as religiões poderiam nascer apenas da imaginação de algumas pessoas, é uma teoria errônea. Acontece que ainda hoje, algumas religiões estão nascendo na terra. Muitas vezes nascem das mãos de algum espertalhão que pretende criar uma seita, para dela se servir, para dela se enriquecer ou para lhe dar projeção. Isso é muito comum no mundo inteiro. Mas acontece que estes são fatos isolados no campo propriamente do desenvolvimento religioso, que é muito mais amplo e muito profundo. E onde aparecem figuras espirituais notáveis, indiscutivelmente grandiosas, que dedicaram toda a sua vida e deram a sua vida pelo desenvolvimento de certos sistemas religiosos a que se dedicaram. Assim nós temos de estabelecer uma divisão entre aquilo que se chama exploração da religião e aquilo que se chama a religião verdadeira.

Bem, passando deste ponto que penso que deixei mais ou menos explicado. Vamos então nos referir agora ao que o senhor disse do Espiritismo. Realmente a ideia que o senhor tinha do Espiritismo não era absolutamente uma ideia isolada sua, muita gente ainda hoje pensa assim. Muita gente ainda hoje, quando se fala em Espiritismo, lembra-se logo de sessões de macumba e de coisas semelhantes, não tendo a menor noção do que seja a Doutrina Espírita.

É bom que eu lhe diga o seguinte. A Filosofia Espírita, criada por Alan Kardec, ela figura oficialmente nas universidades, nas instituições universitárias do mundo inteiro e nas obras filosóficas. O senhor pegando, por exemplo, qualquer dicionário de filosofia, organizado por instituições realmente credenciadas para isso no mundo inteiro. E particularmente o Dicionário Lalande, do Instituto de França, o senhor encontra a palavra Espiritismo e a definição da Doutrina Espírita, como uma filosofia existente no campo filosófico. Assim, as pessoas que desconhecem tudo isso estão inclusive faltando ao desenvolvimento do seu conhecimento filosófico. Porque se tivessem verdadeiro conhecimento da Filosofia e da História da Filosofia, saberiam que apareceu na França em meados do século passado[4], a partir praticamente do ano de 1857, um novo sistema filosófico que foi o Espiritismo.

E que esse sistema filosófico, como disse Allan Kardec[5], tinha consequências religiosas. Não pretendia ele formar uma religião. Kardec chegou mesmo a dizer que a finalidade do Espiritismo era auxiliar as religiões. Por quê? Porque as religiões se fechavam na sua dogmática e não podiam lutar contra o desenvolvimento do materialismo científico na Terra, uma vez em que o materialismo se baseava em investigações científicas e a religião ficava fechada em dogmas de fé. Dogmas impostos de qualquer maneira, por força das autoridades eclesiásticas. Ora, o Espiritismo, pelo contrário, vinha trazer às religiões um contingente enorme de provas, de fatos verificados, de experiências e pesquisas realizadas no campo científico, para demonstrar a existência real do Espírito e as possibilidades de comunicações do mundo espiritual com o mundo material. Então Kardec diz: a religião no Espiritismo é uma consequência da filosofia. Uma filosofia que admite a sobrevivência do homem após a morte e naturalmente a evolução espiritual do homem, entra forçosamente no campo religioso. E a consequência religiosa do Espiritismo é o que hoje se chama de Religião Espírita.

Bom, colocado isto, eu queria dizer ao senhor a última palavra sobre esta sua pergunta, referente a situação em que nos encontramos aqui na Terra. Nós não somos filhos enjeitados de Deus. Nós não estamos abandonados ao sofrimento, à amargura, à doença e à morte aqui na Terra. Não. Nós estamos aqui na Terra de passagem. Todos nós. Sabemos que a vida humana é curta. Ninguém ignora isto. Por mais que o homem possa viver cem anos, cento e poucos anos, isto não é nada em face da eternidade do Espírito. O Espírito é eterno, o Espírito não morre. O que morre é o corpo. Como podemos provar que o Espírito é eterno? É claro que a prova científica da Eternidade não se pode fazer. E não se pode fazer, por quê? Porque a prova cientifica só se refere a fatos efêmeros. Nós podemos provar que tal coisa existe ou não existe, diante de provas concretas e imediatas. Mas não podemos acompanhar o desenvolvimento desta coisa pela eternidade. Porque então nós morremos antes de poder prosseguir a pesquisa e os que vem depois de nós também vão morrer sucessivamente e assim nós nunca chegaremos a comprovar a eternidade. Mas a eternidade se impõe a nós logicamente pela sua própria presença em todas as coisas. Por exemplo, há um princípio científico que diz que nada se perde, nada se acaba, tudo se transforma. Há uma transformação constante das coisas porque as coisas não se acabam. Acabam apenas as manifestações das coisas, as formas através das quais as coisas como essência aparecem perante nós. Mas uma vez que se destroem estas formas, a essência das coisas volta para o campo energético ou espiritual e vai formar novas coisas. Isto é um princípio de ciência, hoje indiscutível.

Ora, do ponto de vista espiritual, a eternidade do Espírito se prova através do processo da reencarnação. Os homens morrem e renascem. Eles não renascem apenas espiritualmente, renascem também carnalmente. Por isso é que existem dois tipos de ressurreição nas religiões e particularmente no judaísmo e no cristianismo. A ressurreição em espírito e a ressurreição na carne. Quando é que ressuscitamos na carne? Dizem as teologias das igrejas que nós ressuscitaremos na carne no último dia, depois do fim do mundo. É um dogma escatológico judaico. Um dogma, portanto, que não passa de dogma, de uma afirmação apenas. No Espiritismo, a ressurreição na carne é a reencarnação. Quando Espírito morre [isto é], quando o homem morre, o Espírito ressuscita espiritualmente no corpo espiritual. Mas se ele quer ressuscitar na carne, ele se reencarna, nasce de novo na Terra. Então esta é a reencarnação, é realmente o que se chama nas religiões, a “ressurreição na carne”. Não é no último dia. É apenas no primeiro dia de uma nova existência que o homem vai viver na Terra.

Assim nós não estamos abandonados, não estamos largados a nós mesmos, mas estamos vigiados, protegidos, amparados, assistidos pelo mundo espiritual. O mundo espiritual, diz o Espiritismo, existe por si mesmo, ele é absoluto, ele independe do mundo material. Podemos destruir todos os planetas materiais do Universo. Destruir todos os sóis, que isto não abala em nada o mundo espiritual. O mundo espiritual é uma simples projeção. É aquilo que Platão chamava a sombra. É à sombra da realidade. Não é a realidade.[6]

Os físicos hoje, na investigação da matéria chegam a essa mesma conclusão. Eles verificam que a matéria densa não existe como nós a vemos, como nós a conhecemos. A matéria é constituída de átomos. Os átomos são “sistemas solares em miniatura”. Entre uma partícula atômica e o núcleo do átomo, existe um grande espaço vazio. A maior parte do átomo é vazio. Vazio de acordo com nossa concepção física. Mas na verdade aquele vazio está cheio de forças, de energia. Então quer dizer, nós concretamente só temos, na matéria densa, alguns pontos concretos. Porque o mais é espaço vazio que nós não percebemos. Aos nossos sentidos a matéria é compacta. Na realidade ela não é compacta.   Em qualquer matéria, num papel que temos na mão, de um lápis que pegamos, na mesa sobre a qual escrevemos, na parede da sala em que estamos... Em qualquer coisa, nós temos uma contextura atômica com a maioria do seu espaço inteiramente vazio. Por isso é que se pode reduzir, segundo dizem os físicos, um prédio de vinte andares. Pode-se reduzir – quer dizer, teoricamente – pode-se reduzir, se nós conseguirmos dissolver todas as constelações atômicas, fazer com que os átomos se fechem em si mesmos, reduzir um prédio de vinte andares a uma pequena caixinha cheia de poeira, nada mais do que isso. Porque o que há de real, de concreto ali, não passa de uma série de partículas minúsculas.

Ora, sendo assim, nós então temos de compreender que a realidade da vida não é material, a realidade do mundo não é material, e que o mundo espiritual independe inteiramente da existência do mundo material. Mas exerce sobre o mundo material a sua influência. É ele praticamente que domina e que estrutura esse mundo material. E se nós vivemos aqui, aparentemente abandonados, é porque a nossa ilusão referente à matéria grosseira também se aplica à nossa condição na Terra. Nós temos a ilusão de estar abandonados, mas não estamos. Nós estamos vigiados, protegidos, amparados. E Deus está presente em cada um de nós, na nossa consciência e no nosso coração. Deus não está longe de nós. No infinito, no céu, na distância imensa que nós imaginamos. Deus fala em nós pela voz da consciência. Fala em nós pelos sentimentos do nosso coração.

 

 

Mande suas perguntas para o programa No Limiar do Amanhã. Rádio Mulher, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Ouça o nosso recado no final do programa e nos mande a sua resposta por escrito. Gostaríamos de ler a sua resposta ao microfone.

Agenda Sonora. Saber ou não saber, eis a questão.

 

Você sabia que quando Kardec escrevia O Evangelho segundo o Espiritismo, o seu guia espiritual lhe deu uma mensagem declarando.

“Nossa ação, principalmente a do Espírito da Verdade, é constante ao teu redor.”

E que acrescentou:

“Com esta obra o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já podemos ver-lhe a cúpula a desenhar-se no horizonte.”

Mais de 100 anos depois, aqui em São Paulo, um tradutor dessa obra, resolveu reformar a cúpula do edifício doutrinário.

Há numerosos espíritas que resolveram aprovar em silêncio a adulteração de O Evangelho segundo o Espiritismo.[7] Certamente não sabem o que dizer, porque não há argumentos que possam justificar essa adulteração, e a adulteração de qualquer obra de Kardec. Essas obras representam o cumprimento da promessa de Jesus sobre a vinda do Espírito da Verdade à Terra.

Saber ou não saber, essa é a questão. Os que sabem o que significa a obra de Kardec, sabem o que devem dizer neste momento. Os que não compreendem a significação dessa obra, não sabem o que dizer. Mas os que sabem, esses têm o dever moral e espiritual de dizer a verdade, de esclarecer e orientar o povo.

Se você amigo ouvinte comprou sem saber um volume da edição adulterada de O Evangelho segundo o Espiritismo, deve devolvê-lo imediatamente à livraria. Troque esse volume mutilado por uma tradução da Federação Espírita Brasileira. Isso mesmo, por um volume da FEB. Porque a FEB, apesar de editar Roustaing[8], não adulterou Kardec.

Tudo é uma questão de saber. O Evangelho adulterado é uma edição da Federação Espírita do Estado de São Paulo, na tradução de Paulo Alves Godoy[9]. Se a tradução não for de Paulo Alves Godoy, você pode comprá-la sem medo. E fique sabendo mais esta. Nenhum dos tradutores de O Evangelho segundo o Espiritismo, tem qualquer interesse financeiro na venda do livro. Pouca gente sabe disso e é bom saber.

Causou surpresa no Rio de Janeiro, a notícia de que em São Paulo foi iniciada a adulteração das obras de Kardec. De Curitiba, o doutor Victor Ribas Carneiro[10], diretor do jornal Mundo Espírita, escreveu-nos solidarizando-se com a nossa oposição a esse atentado.

Fique sabendo, amigo ouvinte, que se insistimos no assunto é porque se trata do mais grave acontecimento ocorrido até hoje em nosso meio espírita. Nunca em todo o mundo, ninguém se atreveu jamais a adulterar uma obra de Kardec. Nem mesmo os adversários da Doutrina. Precisamos impedir que isso continue. Para tanto, o principal é que todos saibam que a obra de Kardec não pode ser modificada por ninguém. Pois ninguém possui autoridade e nem capacidade para corrigi-la. Ela não é de Kardec. É dos Espíritos Superiores.

No Limiar do Amanhã, velhos problemas sob nova luz.

 

Pergunta 1: Negros velhos e índios em sessões espíritas.

Locutor – O ouvinte Jarbas Fernandes Pena, da Avenida Santo Antônio, faz algumas perguntas. Primeiro: por que há tantas manifestações de espíritos de negros velhos e de índios nas sessões espíritas? Na maioria eles se mostram evoluídos. Como se pode explicar isso? Não será influência do sincretismo impressionando os médiuns?

JHP – Não. Não é influência do sincretismo impressionando os médiuns. É uma realidade. Os Espíritos de negros velhos e de índios que se manifestam nas sessões espíritas, revelando uma condição espiritual superior, realmente possuem essa condição. Falam naturalmente, ainda conservando aquela forma da sua linguagem terrena. E isto, porque querem identificar-se. Querem mostrar cultura. Eles não tinham capacidade intelectual para desenvolver o seu Espírito a ponto de hoje se tornarem, por assim dizer, orientadores de pessoas brancas e cultas que se reúnem em sessões espíritas. Às vezes, esses Espíritos são realmente orientadores. E isto mostra que eles não eram apenas negros, velhos, escravos e analfabetos quando morreram. Acontece que eles já tinham tido, naturalmente, encarnações anteriores em civilizações onde se desenvolveram. A raças inferiores, ou assim consideradas no processo sociológico terreno, essas raças que na verdade não são inferiores, mas que se apresentam assim em condições humildes, elas servem justamente para o desenvolvimento de uma das qualidades mais elevadas do espírito, que é a humildade. Enquanto nas raças “superiores”, nós nos perdemos no orgulho, na arrogância, na vaidade, no egoísmo.

Quando encarnamos entre raças ainda humildes ou mantidas ainda em condições humildes, nós aprendemos ali, com elas, as virtudes da humildade, da bondade, do amor fraterno. Ora, a evolução do Espírito se processa em dois planos, o plano intelectual e o plano moral. Nem sempre os dois planos se equilibram. Muitas vezes o Espírito desenvolve-se intelectualmente de maneira espantosa, mas não tem o desenvolvimento moral correspondente. Vêm então essas figuras sinistras que aparecem na História, de homens dotados de grande cultura, de grande saber, de grande poder, de grande autoridade e, entretanto, cheios de maldade. Capazes de transformar situações populares em verdadeiras situações trágicas e calamitosas. Porque falta-lhes a orientação moral.

Nesses casos estes homens voltam a encarnar-se entre criaturas humildes e levam vidas humildes, conservando-se desprovidos dos conhecimentos que retêm no inconsciente, mas que não chegam a se manifestar na consciência. Desprovidos disto para aprenderem a humildade. E uma vez aprendendo a humildade eles se tornam realmente Espíritos equilibrados, elevados, e manifestam-se geralmente nas sessões naquela condição inferior em que eles obtiveram a maior conquista de sua vida espiritual, que foi a conquista da humildade. É por isso que aparecem tantos negros velhos e negras velhas e índios nas sessões espíritas. São Espíritos bondosos que não vêm geralmente dar orientações, mas auxiliar, proteger, consolar, amparar as criaturas ali existentes. Por isso, eles fazem questão de se manterem na posição humilde em que conquistaram o seu maior galardão na evolução espiritual.

 

 

Pergunta 2: Efeitos negativos de trabalho de “macumba” para as pessoas visadas.

Locutor – Segunda pergunta: Na macumba pega-se um sapo, coloca-se na boca dele o nome de uma pessoa em um papel escrito. Costura-se a boca do sapo e enterra-se ele. A pessoa fica muda, pois o endereço do despacho já está lá escrito na boca do sapo. Por que o senhor tem negado que isso produza resultado?

JHP – Porque na realidade nem sempre isso produz resultado. Em geral, essas tentativas são frustradas. E nós sabemos que isso por toda a parte tem acontecido. Numerosos feiticeiros, numerosos macumbeiros lutam anos e anos para poder transmitir esse impedimento a pessoas por eles visadas e não conseguem. Por quê? Porque isto é uma prática ingênua, uma prática supersticiosa que se choca em geral com as leis do Universo e com as leis da misericórdia de Deus. Com a defesa que as pessoas têm em si mesmas. Só acontecem, às vezes, casos em que as pessoas são atingidas, em virtude de dívidas das pessoas visadas para com aquelas que fazem estas coisas.

Então entra em jogo a Lei de Ação e Reação. Houve um atrito pessoal entre essas pessoas. Ouve uma situação de compromisso de uma para com a outra. Há uma ligação espiritual entre elas. Não é o papelzinho na boca do sapo que vai atingir aquela criatura. É o pensamento mau de quem fez isto com o sapo. É a vibração inferior dessa pessoa e também os acompanhantes maus deste indivíduo maldoso, que vão lá agir sobre aquela criatura, vingando-se dela, atingindo-a com os seus instintos vingativos e inferiores. Então acarretam às vezes estas situações, que parecem ter sido determinadas por aquela tolice de um papelzinho colocado na boca de um sapo que foi costurado e enterrado.

Não se pode absolutamente entender que ali está o endereço que o sapo vai levar, vai seguir para atingir aquela pessoa. O sapo é inocente, é uma vítima. O sapo não tem função nenhuma nesta coisa. Usa-se o sapo pela superstição de considerar que o sapo é um animal ligado a planos inferiores. É um animal que causa nojo, espanto e medo a muitas pessoas. Então se serve do sapo, da cobra, do crocodilo, do jacaré, da ratazana. De por exemplo, outros animais inferiores, perigosos como lagartixas e outras coisas assim. Mas tudo isto só tem na verdade um efeito, é o efeito mental da pessoa negativa que age sobre a outra produzindo isto. É por isso que eu nego a realidade dessas manifestações, destas transmissões de efeitos negativos para outras pessoas.

 

 

Pergunta 3: Os astros não influem sobre nós? Já ouvi o senhor dizer que sim. Então por que o senhor é contra astrologia?

Locutor – A terceira pergunta do ouvinte Jarbas: Os astros não influem sobre nós? Já ouvi o senhor dizer que sim. Então por que o senhor é contra astrologia? Quer explicar-me, por favor?

JHP – Eu não sou contra a Astrologia no seu sentido geral. Eu sou contra a essa astrologia comum. Essa astrologia que serve para a divulgação constante em revistas, jornais, estações de rádio, televisão etc., no sentido apenas de atração popular. Porque essa astrologia é evidentemente como se pode ver, uma forma apenas de satisfazer a curiosidade ou desejo de muitas pessoas de saberem alguma coisa a respeito de sua situação e de sua orientação. A Astrologia foi uma ciência muito importante no passado, no passado remoto, é claro. Nós vemos, por exemplo, aquele episódio, embora lendário, mas que talvez tem um fundamento histórico, dos Reis Magos que foram procurar Jesus porque viram no céu uma estrela que representava o nascimento do Messias. Ora, esses reis eram chamados magos, precisamente porque eram astrólogos. Eles observavam o céu para ver as constelações e notar os acontecimentos que ocorriam na Terra.

Mas essa ciência astrológica da Antiguidade praticamente se perdeu. A reconstrução que se fez posteriormente, não tem as condições de que dispunham os astrólogos antigos. Por outro lado, a situação da Astrologia naquele tempo era bem adequada a um tempo de misticismo exagerado e de obscurantismo mesmo, de falta de conhecimento de problemas científicos que só mais tarde foram investigados e desenvolvidos pelas ciências. Então aquilo que nós podemos considerar uma eficácia da Astrologia no passado, pode-se basear em dois fatos importantes que são:

Primeiro, a inegável influência dos astros em todo o planeta. Nós sabemos que as estrelas e os demais astros exercem influência natural sobre a Terra. E naturalmente afetam também os homens, os animais, as plantas e assim por diante. As investigações científicas nesse terreno provam que existe essa força de ação dos astros sobre a Terra. Mas essa força não é de natureza mágica, como se supõe e, sim, de natureza física. Geralmente, a força da gravidade exercida por esses astros sobre a Terra, como no caso da Lua por exemplo, que produz as marés.

E atualmente está se investigando inclusive a provocação de erupções vulcânicas por influência da Lua, que corresponde ao mesmo fato da provocação das marés. A Lua pode provocar marés das lavas vulcânicas no fundo da Terra e provocar então erupções. Mas como diziam os romanos que, neste ponto, eram muito lúcidos. Diziam: os astros inclinam, mas não decidem. Se nós nos apegarmos aos astrólogos para querer orientar a nossa vida, nós estamos nos enganando. Porque os astros não decidem a nossa vida. Eles podem nos inclinar num certo sentido. Podem suscitar em nós certos sentimentos ou certas tendências do nosso próprio Espírito, mas não podem criar em nós tendências. Não podem criar em nós sentimentos. Podem apenas despertar, excitar, como fazem nas águas do mar. Os astros não criam as águas do mar. Eles apenas exercem influências, como a Lua exerce influência nas marés, exercem influências sobre as águas. Mas essa influência não é uma influência decisiva. Por isso diziam os romanos inclinam, mas não decidem.

Não podemos, portanto, admitir que os astros decidam os nossos destinos. O nosso destino é decidido por nós mesmos, pelas nossas ações, pelo nosso comportamento, pela nossa conduta enfim, na vida terrena. Nós construímos o destino de vida para vida. Numa vida anterior determinamos os acontecimentos que vão ocorrer nesta vida. Determinamos não conscientemente, mas automaticamente pela maneira porque procedemos. Tudo se baseia em ação e reação na natureza. Uma determinada ação provoca determinada reação. Foi por isso que Jesus ensinou no Evangelho que “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Quer dizer, aquele que andou ferindo os outros com ferro, também amanhã passará pela mesma coisa. Seja na própria vida em que está, seja numa vida subsequente, mas passará fatalmente, porque a ação de suas ações é inevitável, uma vez que toda estrutura do universo é constituída desse processo de ação e reação.

Admitindo, entretanto, a influência dos astros, eu não sou obrigado a admitir a crença cega na Astrologia. Porque, como já expliquei, essa influência é limitada e não está ao alcance dos homens no processo atual do movimento astrológico no mundo, o conhecimento preciso dessas influências sobre cada criatura humana. Basta ver-se na verificação tanto através dos jornais e revistas, como do rádio e da televisão. Basta ver-se a imensidade de criaturas que são envolvidas pelas predições de um determinado astrólogo e predições que abrangem criaturas dos tipos dos mais diversos, não obstante nascidas sobre os mesmos signos. E que tem destinos completamente diferentes umas das outras. Então a crença que se atribui à Astrologia, de maneira hoje quase fanática. Há pessoas que não podem fazer nada, nada fazem todos os dias sem consultar primeiro o seu horóscopo. Essa crença na verdade é imaginosa. É falsa. Não tem o sentido de certeza que lhe querem atribuir. É nesse sentido que eu não combato a Astrologia, mas me oponho a essa crença cega nos processos astrológicos para determinação das condições de vida ou da atividade de uma criatura na vida.

 

 

Pergunta 4: O romance Lázaro e o problema da estória do Golem.

Locutor – A ouvinte Marise Noronha da rua Fiação da Saúde, Jabaquara, pergunta: No seu romance Lázaro o senhor conta a história de um golem, um morto ressuscitado por uma mágica e que fica sendo uma espécie de autômato ligado a ele. Por que o senhor não aceita a teoria da possessão de um cadáver recente por um Espírito estranho? Como no caso de Lobsang Rampa[11] . O professor Stevenson[12] aceita essa tese em seu livro de pesquisas científicas sobre a reencarnação.

JHP – Eu não aceito por duas razões que posso alegar imediatamente. Primeiro. A história do golem é realmente uma estória. Uma estória com E no sentido de lenda, de criação imaginária. Nunca se soube de nada que comprovasse essa lenda. Um indivíduo morre e outro dotado de poderes mágicos se apossa dele para revivê-lo e guiá-lo. Isto aparece no romance como um fato constante da crença daqueles tempos. Realmente acreditava-se nisso. E chegava-se a dizer que Lázaro por exemplo, havia sido ressuscitado por Jesus porque Jesus tinha poderes mágicos e passou a controlar a vida de Lázaro. Lázaro seria um autômato guiado por ele. Foi neste sentido que era forçoso aparecer, no romance sobre Lázaro, o problema do golem. Mas isso não quer dizer que eu esteja afirmando, porque não afirmei realmente. Apenas em sentido romanesco, por assim dizer, numa obra de ficção, tive de reproduzir essa lenda, de colocá-la ali, como uma lenda bastante significativa e importante para a compreensão do estado de espírito daquele tempo e da sua cultura.

Entretanto, as afirmações atuais não têm nenhuma razão de ser. O caso de Lobsang Rampa é tão absurdo que a gente fica às vezes pensando como pode esse homem vender tantos livros no mundo inteiro. E levar tanta gente nessa história de que ele realmente não é o inglês que ele é, mas sim o Lama do Tibet, que morreu lá e que veio encarnar-se no corpo, no corpo velho e desgastado do inglês que estava prestes a morrer. Isto é inteiramente absurdo. Por quê? Porque de acordo com todos os processos vitais conhecidos na Biologia, e todos os condicionamentos psicológicos demonstrados pelas criaturas, as investigações psicológicas.

E de acordo com a Doutrina Espírita, o corpo da criatura humana é a manifestação do Espírito da criatura humana. Então este corpo está ligado estreitamente ao Espírito. Nós sabemos que na reencarnação o Espírito que se reencarna controla o desenvolvimento do corpo físico. Ele se liga no ato da fecundação ao embrião que vai se desenvolver e, dali por diante, ele age de maneira que nós podemos dizer, cataléptica. Por influência da sua presença ele age no desenvolvimento daquele corpo. Porque ele como Espírito reencarnante já traz na sua mente, a estrutura toda do corpo que ele vai ter aqui na Terra, o mapa, por assim dizer, orgânico daquele corpo. Então há uma influência de interligação perfeita entre corpo e espírito na encarnação. Não é possível um Espírito expulsar aquele Espírito que ali está ligado, para se colocar no lugar dele. Isto implicaria uma desordem universal no processo importantíssimo, básico, fundamental da evolução humana, que é o processo da encarnação. Isto não pode acontecer e não acontece realmente.

Fala-se no caso, do professor Ian Stevenson. Ian Stevenson admitiu essa possessão. Admitiu na pesquisa científica dele sobre a reencarnação. Ele entendeu que certos casos por ele observados justificam a tese de que um Espírito pode afastar outro e incorporar-se naquele corpo que se destinava ao Espírito afastado. Mas é preciso lembrar o seguinte, Stevenson não é espírita. Ele não tem conhecimento de Espiritismo. E não é biólogo, ele é psiquiatra. Então ele observa isto do ponto de vista das suas ideias a respeito do processo reencarnatório. E aquilo que ele entendeu ser uma possessão, como ele descreve. E não propriamente uma reencarnação, mas uma possessão. Aquilo nada mais é na verdade do que um engano do professor Stevenson. O cientista também tem o direito de errar. Ele não pode acertar sempre. Quantos cientistas têm errado tremendamente em muitos assuntos? De acordo com a nossa posição espírita e de acordo naturalmente com a posição dos biólogos, não é possível admitir-se um fato deste. O Espírito que se encarna num corpo, está ligado a ele desde a sua origem. Desde o ato da fecundação, segundo os Espíritos disseram a Kardec. E daí por diante, todas as investigações realizadas têm demonstrado exatamente isto. O caso do professor Stevenson é um caso excepcional no campo das pesquisas. Porque nenhum outro pesquisador no mundo inteiro admitiu isto. Ora, assim sendo, nós não temos razão nenhuma para aceitar uma posição que vem modificar toda a estrutura do pensamento no tocante a um assunto bastante investigado, e no qual o professor Stevenson foi um dos últimos a entrar. Ele é um dos mais recentes, nesse campo de pesquisas. Então não há motivo nenhum de conferirmos a ele uma autoridade que ele mesmo talvez reconheça que não possui. Porque ele se coloca na posição de um investigador que levanta hipóteses e, não, de alguém que está fazendo afirmações peremptórias. É uma hipótese apenas que ele levantou, mas infelizmente uma hipótese errada. Que contradiz todo o processo de desenvolvimento biológico de uma criatura. E ao mesmo tempo contradiz tudo quanto nós conhecemos a respeito, do ponto de vista da ciência espírita.

 

 

Mande suas perguntas para o programa No Limiar do Amanhã. Rádio Mulher, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Ouça o nosso recado no final do programa e nos mande sua resposta por escrito. Gostaríamos de ler sua a resposta ao microfone.

 

O Evangelho de Jesus em Espírito e Verdade.

Abrindo sempre o Evangelho ao acaso e a explicação de texto é dada no momento. Você pode discordar da explicação e deve escrever-nos a respeito, pois estamos no ar para dialogar. É conversando que a gente se entende, não é? Vamos conversar sobre o Evangelho.

Temos hoje o seguinte trecho. Tessalonicenses, 1: 8-10:

“Pois de vós, fez-se ouvir a palavra do Senhor, não somente na Macedônia e na Acaia, mas também em todos os lugares, divulgou-se a vossa fé para com Deus. De maneira que não nos é necessário dizer coisa alguma. Porque eles mesmo anunciam de nós, qual entrada que tivemos entre vós. E como vos convertestes dos ídolos a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e para aguardar dos céus, seu filho a quem ele ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus que nos livra da ira vindoura.”

A posição de Paulo nessa carta aos Tessalonicenses é bastante elogiosa para a igreja a que ele se dirigia. Porque ele está constantemente louvando essas pessoas e mostrando que elas realmente se dedicaram ao trabalho apostólico com afinco. Produzindo frutos valiosos para a divulgação do Cristianismo, como nós vimos aí nesse trecho. Importante considerar a sua referência ao problema dos ídolos. Realmente a idolatria dominava o mundo. E era necessário que o Cristianismo combatesse esta idolatria. Porque ela havia existido numa fase inferior da vida humana como uma necessidade. Mas com o desenvolvimento espiritual do homem, no tempo da divulgação do Cristianismo, a idolatria já estava se tornando um empecilho para a compreensão espiritual. Por que no começo foi necessário? Pelo seguinte: porque o homem primitivo não tem o pensamento abstrato que só se desenvolve posteriormente no desenvolvimento da civilização. O homem primitivo está muito ligado às coisas concretas, o seu pensamento está sempre ligado às coisas materiais. Então não adiantava falar ao homem primitivo de entidades puramente espirituais e de um Deus que era puramente uma abstração. Não adiantava porque eles não entenderiam. Era necessário dar a eles alguma coisa positiva, que seria, no caso, as imagens, os ídolos. E essas imagens e ídolos confirmadas através dos fenômenos mediúnicos que realmente revalidavam, por assim dizer, a crença nas imagens.

Os ídolos exerceram função educativa, fazendo com que o pensamento do homem se voltasse para Deus através do objeto concreto de uma imagem, de um ídolo. Mas no tempo do Cristianismo, o mundo já tinha evoluído suficientemente para superar essa condição. Então Paulo se refere ao sacrifício de Jesus, à sua dedicação, ao seu trabalho em favor dos homens e às lições que ele nos trouxe para a nossa salvação. A salvação, entretanto, não devemos entendê-la no sentido sobrenatural e místico, mas sim no sentido natural. Salva-se o homem da ignorância, salva-se o homem do crime, salva-se o homem da maldade, através dos ensinos evangélicos de Jesus. O sacrifício de Jesus foi útil à Humanidade, apesar de representar o maior crime que a Humanidade já cometeu contra um justo na Terra. Foi útil pelo seguinte: porque o sacrifício despertou nas criaturas humanas o desejo de também se entregarem ao sacrifício necessário para se redimirem dos seus erros e não mais os cometerem. Quer dizer o ensino de Jesus se confirmou no seu exemplo. Ele não ensinou apenas verbalmente, mas também através da sua conduta humana na Terra. E é isto que Paulo ressalta neste trecho da epístola aos Tessalonicenses, procurando mostrar que o trabalho desses apóstolos, desses servidores do Cristianismo primitivo, foi muito útil porque conseguiu espalhar, entre as criaturas idólatras, os princípios renovadores do Cristianismo que levavam o homem a adorar a Deus não mais de uma forma material, mas sim em Espírito e Verdade.

É a hora e a vez do nosso recado. Ouça-o e responda-o.

Você é dos tais que batiza os filhos numa igreja, por que no Espiritismo não existe o sacramento do batismo? Você tem medo de Deus ou da crítica dos amigos? O batismo é um rito de iniciação. No Espiritismo não há ritos, mas há batismo. Quando você inicia seu filho na Doutrina Espírita, ele recebe o batismo do Espírito. Lembre-se que o batismo da água era de João Batista, não o de Jesus. Os apóstolos não batizavam com água, mas com a imposição das mãos. Quando o seu filho nascer, faça uma prece de agradecimento a Deus. É o que basta. E quando ele tiver idade suficiente para entender as coisas, você o inicia no conhecimento espírita. Esse é o batismo do Espírito. Estamos de acordo?

No Limiar do Amanhã. A verdade desabrocha como uma flor.

 

[1] Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), filósofo grego.

 [2] Ernesto Bozzano (1862 – 1943), professor da Universidade de Turim e pesquisador espírita italiano.

 [3] René Descartes (1596 – 1650), filósofo, físico e matemático francês.

 [4] Refere-se ao século XIX.

 [5] Allan Kardec. Pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804 – 1869), educador francês.  Conhecido como o Codificador do Espiritismo.

 [6] Aqui fica evidente que Herculano se refere de fato ao mundo material, segundo a visão platônica.

 [7] Sobre essa lamentável ocorrência, sugerimos o livro Na hora do testemunho, de Francisco C.  Xavier e J. Herculano Pires, Ed. Paideia.

 [8] Jean-Baptiste Roustaing (1805 – 1879), advogado francês.

 [9] Paulo Alves Godoy (1914 – 2001), jornalista e escritor espírita paulistano.

 [10] Victor Ribas Carneiro (1915 – 1991), jornalista e Procurador do Estado do Paraná.

 [11] Lobsang Rampa, pseudônimo de Cyril Hoskins (1910 – 1981), escritor britânico.

 [12] Ian Stevenson (1918 – 2007), psiquiatra, pesquisador de experiências espirituais e especialmente da reencarnação. Autor do livro Vinte casos sugestivos de reencarnação, entre outros. 


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