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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

Programa Especial de Primeiro Aniversário (1971)
Entrevista com Francisco Cândido Xavier

No Limiar do Amanhã: um programa desafio.

Caso tenha interesse em ouvir as perguntas separadamente, cada uma delas acompanha o áudio específico.
Para ouvir o áudio completo do programa, utilize esta opção:

Introdução

Audição especial de aniversário gravada em Uberaba com o médium Francisco Cândido Xavier.

J. Herculano Pires: O Grupo Espírita Emanuel, a emissora que o produz e o leva ao ar, no 730 kHz da Rádio Mulher, e a equipe de apresentadores elevam a Deus, nosso pai, a Jesus, nosso mestre e senhor, e aos espíritos benevolentes que velam pela sua realização os pensamentos conjugados de gratidão e reverência por tudo quanto lhes foi permitido realizar. Todas as dificuldades foram superadas, graças ao amparo constante do alto, que cobriu as nossas deficiências para que nunca faltassem, nos céus de São Paulo, as mensagens de boa vontade e esclarecimento espiritual. Semana por semana, o diálogo espírita se desenvolveu através das ondas hertzianas sob a inspiração vigilante dos espíritos do Senhor. Para comemorar esse aniversário de trabalho conjugado entre o Céu e a Terra, decidimos juntar os microfones metálicos da Rádio Mulher ao microfone mediúnico da Comunhão Espírita Cristã de Uberaba, o médium Francisco Cândido Xavier, abrindo uma nova perspectiva na radiofonia brasileira: a perspectiva da rádio psicofonia. Graças a Deus, a noção decisão recebeu a aprovação do alto, e aqui estamos, em Uberaba, no recinto da Comunhão Espírita Cristã, testando a microfonia terrena com a macrofonia do além. Este é um instante legítimo, autêntico, marcado pelos ponteiros invisíveis do tempo no limiar do amanhã. Uma nova era se abre diante dos nossos ouvintes: as mãos seguras de Emanuel comandam a mensagem do futuro.

Pergunta nº 1 - Momento de transição

Renato - Meu querido amigo Francisco Cândido Xavier, em nome da nossa equipe terrena, proponho conversarmos sobre algumas questões que nos parecem fundamentais nessa hora de transição. Vou levantar a primeira questão: você acha que na efervescência do mundo atual podemos divisar o homem que deve estar surgindo na Terra para a construção do mundo novo?

Chico Xavier - Os espíritos amigos nos afirmam que nós estamos ante a luz do futuro, quase que na presença desse mesmo futuro que nós consideramos como sendo o nosso grande porvir humano. Mas, a figura autêntica do homem novo, dentro da nebulosa que se espraia à frente dessa luz nos domínios psicológicos de nossas concepções, ainda não se delineiam com tanta segurança como seria de desejar.
Por isso mesmo nós estamos à frente de experiências inúmeras nos diversos campos do progresso humano observando, estudando, pesquisando, experimentando a vida nova como se fôssemos sacudidos pela notícia de que o homem novo está entre nós em sua fase embrionária sem que nós possamos ainda defini-lo em toda sua estrutura.

Pergunta nº 2 - Mutantes

J. Herculano Pires - Me parece que o Renato... Renato, você me falou há pouco do problema dos mutantes, não é? Seria interessante trocarmos idéia com o Chico sobre isso.

Renato - É uma teoria sobre esses mutantes, essas pessoas que estão num super desenvolvimento na face da Terra. Eu gostaria de ouvir a palavra do Chico sobre esse desenvolvimento considerado anormal ou supernormal até da inteligência.

Chico Xavier - Não estou muito bem informado com respeito aos mutantes, mas gostaria de saber se os mutantes guardam alguma conexão com os hippies, por exemplo, ou com outras modalidades de experiência psicológica no campo da humanidade. Experiências essas a que muitos classificam como sendo protestos.

Renato - Não, eu acredito que há uma característica que os une apenas pelo inusitado, quer dizer, pelo aparecimento atual da coisa, mas esses mutantes estão sendo até considerados como pessoas provindas de outros planetas, isso numa interpretação, vamos dizer, leiga do assunto.

J. Herculano Pires - E um tanto audaciosa.

Renato - E um tanto audaciosa (risos). Mas é uma teoria que existe e que já faz eco, assim, em grande parte da Europa, foi publicado em vários livros, eles aceitam como havendo uma característica de anomalia no desenvolvimento, anormalidade até no super-desenvolvimento cerebral, pessoas que estariam se preparando para uma nova era, num novo século que se aproxima.

Chico Xavier - Diz o nosso Emanuel, que está presente, que podemos considerá-los como se fossem balizas à frente de marcha enorme de criaturas. As balizas serão sempre considerados como seres extravagantemente apresentados com seus movimentos, com as suas piruetas harmoniosas, vamos dizer assim.
É possível que este grande grupo de criaturas esteja chamando a atenção das massas humanas para uma vida nova, sem serem, por si mesmos, criaturas super inteligentes, ou extremante diversas da média da inteligência humana.
Serão criaturas animadas por um desejo enorme de renovação, sem saberem, às vezes, expor o que elas próprias pensam, e o que é que elas próprias desejam quando examinamos os pontos de vista em que se exprimem com as realidades essenciais que presidem a nossa vida na Terra.

Pergunta nº 3 - Superpopulação

Renato - O crescimento da população terrena, que hoje assusta tanta gente, pode constituir um desastre ou será controlada pelas leis naturais sob a supervisão dos espíritos superiores?

Chico Xavier - Nosso amigo espiritual considera que este assunto está crescendo em sua importância e em sua extensão em todas as vanguardas do pensamento humano. Todas as grandes metrópoles hoje se interessam vivamente pelo problema chamado demográfico, e isso é uma fatalidade, a não ser que tenhamos guerras próximas de efeitos muito desastrosos por conta do próprio homem, mas não a conta das leis de Deus. O problema demográfico deve ser estudado em todas as suas nuances, porque é conhecida a assertiva de que de trinta e três em trinta e três anos o número de habitantes da terra se duplica, de modo que o problema do povoamento do solo, do aproveitamento das energias e facilidades do planeta precisa ser considerado, pesquisado de todas as maneiras a benefício das criaturas humanas no porvir. Isso não deve assustar a ninguém porque se o homem, agindo pacificamente nos próximos cem anos, se o homem aproveitar as energias que estão ainda ignoradas por ele nos oceanos, a Terra comportará razoavelmente um número de quarenta bilhões de habitantes. Conquanto muita gente acredite que esse número não deva exceder de dez bilhões. Mas na marcha em que vamos com estes assuntos, já o problema preocupa a todas as mentes que se ocupam de administração e de direção dos movimentos humanos. Mas nós com isso somos chamados aos problemas de ordem moral que são conseqüentes à população mais intensa do planeta. Não vamos dizer super população, porque o problema da habitação do globo está sempre presidido por inteligências de ordem superior, mas a inteligência divina se conjuga com a inteligência humana. O homem não pode ser dispensado da solução de todas as questões que se relacionam com seu habitat. Por isso mesmo os assuntos que se relacionam com o problema demográfico são assuntos humanos, atualíssimos, e que merecem a máxima consideração de todos os estudiosos.

Pergunta nº 4 - Relacionamento

Renato - Com esse aumento de população e com a revolução industrial está acontecendo um outro problema também que é o problema ecológico; é um problema que está angustiando muito, principalmente as nações mais desenvolvidas. São questões pertinentes à poluição de ambientes, de ar, de águas etc., e está criando aos meus olhos de publicitário uma neurose inclusive publicitária. Se isso não vai ter também conseqüências pouco desastrosas do ponto de vista de desenvolvimento de relacionamento entre os homens.

Chico Xavier - Ele está nos dizendo que essa questão é realmente essencial, mas que esse problema está relacionado também com uma espécie de poluição que os cristãos principalmente, mais de quinhentos milhões no seio da humanidade, ainda não nos preocupamos com ele: é o problema da poluição das idéias cristãs no curso dos séculos. Se nós, os cristãos, estivéssemos atentos à preservação dos valores do espírito segundo nos ensinou Jesus Cristo em sua divina revelação da qual hoje procuramos no espiritismo com Alan Kardec uma interpretação mais justa e mais simples; se o homem tivesse guardado essa preservação, a poluição da natureza nas cidades e nos campos não seria hoje esse flagelo que está tomando vulto no seio das cidades metropolitanas, por exemplo. Porque se nós nos respeitássemos uns aos outros, segundo a lei áurea, não deseje ao seu vizinho àquilo que você não deseja para você mesmo, a poluição talvez nem chegasse a existir, porque todo o mundo industrial, todo campo de educação, todos os grupos sociais, todos os valores que presidem o progresso humano estariam quem sabe condicionados à regra áurea e estaríamos em dimensões de paz realmente imprevisíveis para nós agora em que a poluição dos valores espirituais segue tão adiantada no mundo ocidental, por exemplo.

J. Herculano Pires - Essa proposição que o Chico acabou de fazer parece-me que esclarece bem a resposta dada anteriormente. Quer dizer, ele falou que a população da Terra está sob controle, de acordo com Emanuel, de autoridades espirituais superiores, mas que cabe ao homem também a colaboração. Ora, me parece que a parte do homem está precisamente nisso, quer dizer, a população vai aumentando, mas o homem precisa ir acomodando essa população aqui na Terra, e precisa evitar aquilo que pode prejudicar. Esse é o trabalho do homem, e isso coincide com àquela afirmação que tem no Livro dos Espíritos que diz que a Terra está longe ainda de possuir a população para a qual ela foi construída.

Pergunta nº 5 - Catástrofes

Renato - Chico, o mundo espiritual prevê alguma catástrofe geológica nos próximos anos para a expulsão de contingentes de espíritos retrógrados do planeta? Como achariam os nossos amigos espirituais, ou nosso Emanuel, que se dará à passagem da Terra para um plano melhor?

Chico Xavier - As calamidades geológicas sempre existiram porque a Terra em si ainda está sendo criada. Há um conceito bíblico interessante que afirma: Deus criou o mundo, mas não afirma que essa criação esteja completa, de modo que nós vemos vulcões, terremotos, maremotos, tempestades, tufões surgirem e desaparecerem arrebatando vidas, modificando a fisionomia de cidades, e até mesmo de nações. Isso aconteceu sempre. Agora, a modificação do mundo, a modificação do mundo, na essência é de ordem moral. Como disse nosso caro amigo professor Herculano Pires, o homem está sendo chamado à colaboração autêntica com o seu criador na Terra para que determinadas definições sobre a vida espiritual sejam efetuadas nos grupos do planeta, nos grupos vivos do planeta, de modo que devemos esperar que as modificações venham através das autoridades governamentais que regem a vida dos povos. A coexistência dos diversos regimes é uma necessidade, porque cada povo se ajusta aos seus processos de formação, aos seus processos de educação, àquilo que é interessante, válido; numa região não é válido nem interessante em outra região, de modo que devemos esperar que as forças administrativas que orientam a vida dos povos venham a ser inspiradas pelos mensageiros divinos quanto às alterações que se fazem necessárias, a benefício da paz e da felicidade no relacionamento humano.

J. Herculano Pires - Aliás, a respeito deste assunto, eu não sei se vocês têm aí alguma coisa a lembrar...

Renato - Eu teria ainda sobre a poluição, porque existe então a necessidade do homem plantar primeiro um jardim na sua mente para depois acabar com a poluição ambiental.

J. Herculano Pires - Mas no tocante a essa transição da Terra, a pergunta que nós formulamos teve mesmo por finalidade esclarecer bem isso: que a Terra no seu processo atual está sujeita a mais, segundo o próprio Livro dos Espíritos nos informa, às catástrofes morais, que é o que diz bem o Kardec lá. Porque a crosta terrena quando não estava suficientemente consolidada, ela apresentava uma instabilidade muito grande como à construção ainda em andamento, mas ela atualmente, embora não esteja terminada, concluída, ela já está consolidada suficientemente para que o planeta tenha a estabilidade necessária ao desenvolvimento espiritual do homem. É isso, Chico?

Chico Xavier - Muito bem. Sem que nos livremos dessas calamidades de ordem moral que se sucedem, uma das outras, convidando a nossa atenção para uma época de mais entendimento fraternal entre criaturas.

Pergunta nº 6 - Parapsicologia

Renato - Você acha que está havendo, Chico, você ou Emanuel, um despertar de novas faculdades psíquicas e mentais na espécie humana? A parapsicologia surgiu por este motivo ou ela está pesquisando simplesmente faculdades que sempre existiram e se manifestaram?

Chico Xavier - Nossos amigos asseveram que a parapsicologia está pesquisando valores do espírito que sempre existiram, mas que viveram por longo tempo em condições de potencialidade na mente humana. Mas no momento da humanidade em que a máquina vai exonerando as mãos humanas de muitos serviços que escravizavam nos tempos de ontem o nosso pensamento, a nossa alma vai se liberando de muitos processos de cativeiros moral ao ambiente inferior, não propriamente inferior, mas ao ambiente de serviço mais ativo na crosta do mundo, para se ocupar de si mesma e dos problemas que lhe dizem respeito. Assim, o homem de agora está sendo acordado para muitas indagações; ele está sendo chamado pelo seu próprio íntimo a considerações de ordem espiritual que nós no momento não conseguimos abordar. A criatura pede resposta aos problemas da finalidade dela mesma dentro do universo, ela pede resposta com respeito à formação desse universo dentro do qual a terra está contida e evoluindo com todos os seus valores. Tudo isso hoje habilita a mente humana a processos espirituais de indagação muito altos, muito profundos, e por isso mesmo a parapsicologia é um movimento muito importante para nós todos, porque ela pode orientar as questões mediúnicas, principalmente se ela estiver filiada a indicações de ordem espírita, dentro da doutrina, espírita que já conseguiu uma estrada de acesso a respostas fundamentais sobre a vida. A parapsicologia é uma espécie de avenida enorme, muito bem asfaltada, que a inteligência tranqüila está procurando edificar para atingir estes pontos, e que a doutrina espírita já alcançou com a indagação de mentes sofredoras, agoniadas, que há mais de um século estava procurando respostas para os seus problemas de vida interior.

J. Herculano Pires - Muito bem. Essa resposta Chico é muito interessante, porque realmente o problema da parapsicologia para nós é esse: a parapsicologia está seguindo as trilhas do espiritismo no desenvolvimento das pesquisas psíquicas. Mas eu gostaria de lembrar aqui, porque é oportuno, que já em abril de 1857, Allan Kardec admitiu que o aparecimento do espiritismo marcava uma nova fase do desenvolvimento humano e ele chamou essa nova fase de “era psicológica”. Agora nós estamos, segundo me parece, pelo menos é a impressão que se tem diante da explosão, não apenas da explosão demográfica, mas uma explosão psicológica no mundo que veio terminar na parapsicologia; parece que nós estamos passando da “era psicológica” para a “era do espírito”.

Chico Xavier - Muito bem. Nós estamos mesmo encantados com essa definição, porque a verdade é essa mesma. Desde meados do século passado, temos uma psicologia muito avançada que deu origem à psiquiatria, que deu nascimento aos processos de análise, medicina psicossomática, e por aí nós vamos encontrar movimentos muito importantes que lidam com os valores e com os problemas da mente humana, e o espiritismo desde 1857 não é uma resposta acabada, porque disse o próprio codificador, o nosso grande orientador Allan Kardec que a doutrina é evolutiva. Mas desde 1857, nós já estamos com a resposta para além da psicologia.

J. Herculano Pires - Perfeitamente delineada.

Pergunta nº 7 - Papel do Brasil

Renato - Você acredita, Chico, na tese de Humberto de Campos sobre o papel do Brasil num futuro próximo? Ele é realmente o coração do mundo e a pátria do evangelho? Isso não é uma espécie de ufanismo espírita? De messianismo do tipo judaico?

Chico Xavier - Muita gente interpreta esse livro como sendo realmente um volume de legendas patrióticas sem finalidade dentro do esquema de progresso mundial. Mas nós estamos convencidos de que ao Brasil foi assinalado um papel muito significativo na chamada “era do espírito” a que se reportou o nosso caro professor Herculano Pires, porque em verdade o cristianismo no Brasil é diferente dos processos de vida cristã nos outros países.

J. Herculano Pires - Chico um momentinho, um momentinho; perdoe, mas eu não quis perder, parece que entra bem no fio da questão. Nas suas viagens pelos Estados Unidos, pela Europa, nas observações que você teve oportunidade de fazer, você constatou que há realmente diferença na nossa posição perante o cristianismo aqui no Brasil em relação aos outros povos?

Chico Xavier - Se eu tivesse a autoridade de uma pessoa que fosse representar algum valor cultural fora do Brasil, a minha opinião teria realmente significado neste sentido. Eu fui como uma pessoa de hábitos simples, com mente muito simplista para observar o que eu via, principalmente do ponto de vista religioso. Do meu ponto de vista, tudo que eu vi nos países que visitamos em 1965 e 1966 é diferente do que se verifica no Brasil. O amor fraterno, o chamado calor humano que existe no Brasil, eu não vi em parte alguma nas cidades a que estivemos presentes por alguns meses, conquanto, tenhamos regressado ao Brasil com muita admiração e com muito respeito pelos países visitados, especialmente pelos Estados Unidos da América do Norte e, por que não dizer, pela Inglaterra também? Mas encontramos em todos os países que visitamos – América do Norte, incluindo o México, a cidade Montreal no Canadá, a Inglaterra, França, Espanha, Portugal, Itália –, encontramos comunidades cristãs absolutamente diferentes, mas tão diferentes que nós não conseguimos entrosar o coração com espírito de fé apresentado por aquelas comunidades, fossem elas dessa ou daquela confissão religiosa dentro do evangelho de Jesus Cristo. Encontramos a monumentalização da fé através de templos majestosos, movimentos educacionais de expressão enorme no campo verbalístico, mas o calor humano, não encontramos. Parece que visitamos grandes museus honrados pela vida de hoje, grandes legendas em matéria de conclamação ao espírito de Jesus, mas sem vida. E no Brasil, por muito que se faça desvinculação no Brasil, por muito que se pegue hoje no Brasil a desvinculação e a re-educação dos nossos impulsos de amor, o brasileiro de todas as condições é portador de recursos afetivos imensos que parecem iluminados por uma inspiração de ordem superior. Digo “parecem” falando fora da doutrina espírita. Mas com a minha convicção espírita, eu digo que iluminados pelo espírito de Jesus através dos bons espíritos que estão apostos ajudando os brasileiros a construir o grande celeiro espiritual do futuro.

Pergunta nº 8 - Outros países espíritas

Renato - Chico, diante desses países visitados, algum ou alguns apresentam condições ou amadurecimento para aceitar o espiritismo nos moldes que é praticado no Brasil?

Chico Xavier - Do que pude perceber, encontrei na Inglaterra uma legião de criaturas, principalmente no campo da cura espiritual, uma legião de criaturas consagradas ao bem do próximo em regime de perfeita gratuidade; grandes grupos de médiuns perfeitamente interessados em auxiliar os seus semelhantes sem nenhum desejo de remuneração. Encontrei esse clima em grande parte da Inglaterra, mas nos outros países, incluindo a França, de onde recebemos a bênção da doutrina espírita, por muito que veneremos os nossos irmãos franceses como nossos amigos, como nossos orientadores na formação da nossa pátria, conjugados ao esforço de Portugal, nós não encontramos, de momento, um clima propício ao desenvolvimento da doutrina espírita nos moldes brasileiros. Encontramos muita dificuldade em pensar, em que nossos irmãos venham a pensar na legenda do dar sem interesse de receber. Não digo propriamente dar, dar, dar sem nunca receber, mas esse dar sem intenção de receber, eu não vi, a não ser em grandes grupos de nossos irmãos ingleses interessados principalmente na solução do problema de auxílio aos doentes. Mas cremos que é possível que num futuro próximo, brasileiros possam sair de nossa pátria aos grupos para, vivendo de seu próprio trabalho no exterior, venham a formar grupos capazes de mostrar que é possível fazer-se um espiritismo tocado de alegria, tocado felicidades, paz, e muito amor, sem o trabalho remunerado como sendo o trabalho castigo para enriquecer.

Pergunta nº 9 - Ingleses, franceses e brasileiros

Renato - Nota-se que alguns grupos ingleses têm interesse no intercambio com o espiritismo no Brasil. Na sua opinião, valeria à pena um esforço maior nosso no sentido de ampliar este intercambio? Seria válido isso?

Chico Xavier - Cremos que os nossos irmãos ingleses têm muita coisa interessante para nos dar, tanto quanto os brasileiros possuem também muita coisa valiosa para darem aos nossos irmãos ingleses. De minha parte, se eu pudesse entrar no conhecimento da língua inglesa, se eu pudesse estudar o inglês para comunicação fácil com os nossos amigos da Inglaterra e dos Estados Unidos da América do Norte, incluindo também o Canadá, eu sentiria uma felicidade enorme se eu pudesse fazer isso. Mas estando muito interessado com o serviço que os nossos amigos espirituais me deram por misericórdia de Deus no Brasil, eu não tenho a menor idéia de como é que eu posso realizar esse ideal. Se eu pudesse, iria à Inglaterra conhecer melhor a língua inglesa, aperfeiçoar os conhecimentos que eu pudesse adquirir e entrar em contato maior com nossos irmãos do Cristian Spirit Center, em Yale College, nos Estados Unidos, para um contato mais amplo entre nós. Mas vejo, a cada dia, que as minhas possibilidades pessoais são cada vez mais reduzidas, mas é de desejar que outros irmãos possam fazer isso e que esse intercâmbio seja ampliado tanto quanto possível. Vejo isso com tanta simpatia que o próprio Mister Barbanell, que é um dos nossos melhores amigos na Inglaterra, ele está sempre interessado, nos últimos dois anos, em traduzir e publicar trechos de obras de Allan Kardec para fixar os conhecimentos da codificação kardequiana entre os ingleses. Isso é muito importante.

J. Herculano Pires - Acho interessante, Chico, lembrar também aqui neste assunto – nós estamos aqui conversando e as idéias vão surgindo –, uma coisa muito curiosa que ainda parece que não foi lembrada; nós encontramos no Brasil, nós estamos falando da posição do Brasil, no Brasil como pais do futuro, encontramos na posição atual do Brasil essa coisa curiosa: é a primeira grande nação do Ocidente que está se tornando basicamente reencarnacionista. A idéia da reencarnação penetrou de tal maneira no Brasil por influência não só do espiritismo, mas também das religiões africanas que foram trazidas aqui pelo contingente negreiro, de tal maneira essa idéia está se disseminando que você dificilmente encontra hoje uma pessoa que, se não aceita assim positivamente a idéia, pelo menos não a nega, não a combate e a admite. Isso é muito curioso porque no ocidente só houve uma nação reencarnacionista no passado que foi a França. Não propriamente a França, mas as Gáleas antigas, envolvendo inclusive a Irlanda, parte da Inglaterra e a França; as Gáleas antigas eram reencarnacionistas, e como nós sabemos pelo druidismo. E depois, com o desaparecimento da idéia de reencarnação no Ocidente, a idéia voltou na Franca com o espiritismo e de lá se projetou ao Brasil através do espiritismo e está se desenvolvendo de uma tal maneira que o Brasil será, dentro em breve, a grande nação reencarnacionista do Ocidente. E curioso que o doutor Ian Stevenson, na pesquisa sobre a reencarnação, ele disse exatamente isso, que nós consideramos, por exemplo, a Índia como um grande maciço reencarnacionista no mundo; diz ele: é verdade, mas no Brasil eu encontrei – diz ele lá no livro dele – uma compreenderão mais precisa, mais natural da reencarnação, por exemplo, a pesquisa da reencarnação no Brasil é mais fácil, porque não há preconceitos contra a reencarnação aqui. Enquanto na Índia, que é um país reencarnacionista, existem preconceitos do tipo religioso. Por exemplo, quando a pessoa se lembra de uma reencarnação passada, eles dizem que essa pessoa vai morrer logo. Então não querem divulgar e não querem criar o problema de expectativa de morte em torno daquela pessoa, enquanto no Brasil nós não temos isso. Quando a pessoa se lembra de uma encarnação passada, nós achamos admirável e queremos aprofundar a questão.

Chico Xavier – Muito bem! Queremos aprofundar a questão e passamos a estudar. A esse respeito, peço licença para aditar um apontamento de Emanuel, o que me interessou muito nas conversações com ele em 1965. Perguntei a ele onde estavam aqueles companheiros de Allan Kardec que vibravam com a doutrina espírita na França; onde estava aquele contingente de almas heróicas, sublimes que aceitaram aquelas idéias e a divulgaram com tanto entusiasmo pelo mundo inteiro – a maior parte na França, grande parte na Bélgica, por exemplo –, então ele me disse que do último quartel do século XIX para cá, mais ou menos de quinze a vinte milhões de espíritos da cultura francesa e, principalmente, os simpatizantes da obra de Allan Kardec, se reencarnaram no Brasil para dar corpo às idéias da doutrina espírita e fixarem os valores da reencarnação. Tanto é assim, diz ele, que nos últimos oitenta anos se desenvolveu entre nós tal amor à cultura francesa, que muitos de nós, milhares de nós outros sabemos de ponta a ponta a história da Revolução Francesa, mas nada conhecemos a respeito do Marques de Pombal, das lutas de Napoleão, dos reis de Portugal, que foram os donos da nossa evolução primária. Nós nos reportamos muito mais à França como terra mater de nossa espiritualidade do que Portugal, até porque isso está no conteúdo psicológico de milhões e milhões de brasileiros que estão fichados, por certidão de cartório, como brasileiros, mas psicologicamente são franceses.

J. Herculano Pires - Isso que você está nos dando aqui é uma revelação extraordinária, viu Chico? É extraordinária essa revelação de Emanuel, porque é uma verdadeira revelação espiritual; porque é uma coisa que não pode ser provada materialmente; a revelação vem do lado de lá, mas é uma coisa que nós podemos sentir no Brasil; podemos sentir no desenvolvimento do espiritismo no Brasil. Quer dizer que grandes trabalhadores do espiritismo que estavam na França naquele tempo hoje estão aqui lutando pelas idéias espíritas.

Chico Xavier - Diz ele que isso é tão válido que nós devemos lembrar um fato curioso: é que na Proclamação da República, quando as cidades brasileiras em grande número vacilavam com respeito ao hino que se devia adotar para a nova pátria, centenas de cidades cantaram a Marselhesa na Proclamação da Republica do Brasil.

Pergunta nº 10 - Reencarnação de Kardec

Renato - Existe alguma notícia, já que se fala tanto, do plano espiritual sobre a reencarnação de Kardec aqui no Brasil ou em algum outro país?

Chico Xavier - Até hoje, pessoalmente, eu nunca recebi qualquer notícia positiva a respeito da presença de Allan Kardec reencarnado no Brasil ou alhures. Entretanto, eu devo dizer que em se tratando desses vultos veneráveis do nosso movimento, seja do cristianismo, seja do espiritismo, pessoalmente eu tenho muito receio de receber qualquer notícia, porque temo, pela minha fragilidade, e estimaria não ser o médium de notícias tão altas.

J. Herculano Pires – Excelente, Chico, essa resposta, porque infelizmente há por aí uma onda de reencarnações de Allan Kardec. Infelizmente há. Nós sabemos que isso são perturbações que ocorrem no movimento espírita em virtude da invigilância dos médiuns e da falta mesmo de compreensão de grande parte dos nossos companheiros no tocante à significação de uma personalidade espiritual como a de Kardec. De maneira que a sua resposta é também para nós de um valor inestimável.

Chico Xavier - Muito obrigado. Pensamos que, quando Allan Kardec surgir ou ressurgir, ele dará notícias de si mesmo pela sua grandeza, pela presença que mostre.

Pergunta nº 11 - Sobre Cristo e Buda

Renato - A pergunta seguinte é um pouco longa, então eu gostaria de ser bem claro aqui para facilitar sua resposta. Como você considera Jesus? É o criador do nosso planeta incumbido por Deus, ou um espírito que evoluiu na Terra e superou a condição humana? É o espírito supremo que rege a Terra em nome de Deus, ou que rege o nosso sistema solar? E em seguida: qual a posição de Buda?

Chico Xavier - Do que posso pessoalmente depreender dos ensinamentos dos espíritos amigos, consideramos Jesus Cristo como sendo o espírito de evolução suprema em confronto com a evolução dos chamados terrícolas que somos nós outros. Não o senhor do sistema solar, com todo respeito que temos à personalidade sublime de Jesus; mas consideramo-lo como sendo o supremo orientador da evolução moral do planeta. E espíritos como Buda, como Zoroastro, como aqueles outros grandes instrutores da Índia, da Grécia, por exemplo, que eram considerados orientadores ou chefes de grandes movimentos mitológicos, serão ministros do Cristo que nós não temos ainda uma definição para classificar dentro dos nossos parcos conhecimentos com respeito a nossa história no lado espiritual da vida. Vemos que Jesus convidou doze discípulos, discípulos humanos, tanto quanto nós outros, para que nós não fôssemos instruídos por anjos, senão nada entenderíamos da doutrina do Cristo. Teríamos de entender a doutrina de Cristo com discípulos também humanos, frágeis, portadores de deficiências como as nossas, embora respeitemos nos doze chamados pelo senhor personalidades eminentemente elevadas em confronto com a nossa posição atual na Terra. Mas do mundo espiritual para a Terra, ministros do senhor cooperaram, cooperam e cooperarão sempre para que a nossa estabilidade espiritual se consolide cada vez mais como o plano físico. Como muito bem lembrou nosso professor Herculano, já está consolidado. Nós estamos, vamos dizer, no limiar da “era do espírito”, como disse o nosso querido amigo, professor Herculano Pires, mas estamos ainda sacudidos por grandes calamidades psicológicas como a Terra em seu início, como habitação sólida, esteve movimentada por grandes convulsões. Psicologicamente estamos sacudidos por estes movimentos que dificultam a nossa compreensão. Mas os ministros do senhor estão cooperando para que nós alcancemos a segurança com a estabilidade precisa para que o planeta seja realmente promovido a mundo de paz e de felicidade para todos os seus habitantes. Não sei se expliquei bem...

J. Herculano Pires – Excelente! É isso mesmo: uma explicação bem clara e que respondeu perfeitamente a questão. Faltou apenas um pontinho aqui Chico; não tem lá grande importância, mas é a curiosidade humana que às vezes nos... Faltou um pontinho que diz assim: se Jesus realmente foi o criador do nosso planeta incumbido por Deus?

Chico Xavier - Bem, o criador, a nosso ver e conforme ensinam os espíritos amigos que nos visitam, o criador é o criador. Nós não podemos ainda ter outra definição de Deus mais alta do que aquela de Jesus Cristo quando chamou o nosso criador de pai nosso. Além disso, a nossa mente vagueia como se nós estivéssemos em águas demasiadamente profundas, sem recursos para tatear a terra sólida: Pai Nosso, Deus, Criador do universo. Deus, então a força que representa Deus, teria se manifestado em Jesus Cristo para que ele como um grande engenheiro, um arquiteto de mente complexa, de mente quase divina, pudesse realizar prodígios sobre a inspiração de Deus na plasmagem, na estruturação do mundo maravilhoso que nós habitamos. Mas não consideramos Jesus como criador, com todo o respeito que lhe devemos.

J. Herculano Pires - Está muito bem, a resposta é perfeita também neste tocante. Eu apenas queria lembrar um assunto curioso que é o seguinte: no Livro dos Espíritos, como, aliás, você também precisou aí, nós sabemos que Deus age através dos seus ministros, dos seus enviados, quer dizer, Jesus então teria sido, como você disse, o arquiteto construtor do planeta. Agora isso eu estou fazendo uma conotação aqui com um assunto que me parece também interessante para nós do ponto de vista do estudo dessa questão. Você sabe que os gregos foram um povo de grandes intuições, intuições que marcaram praticamente todo desenvolvimento da nossa civilização. Nossa civilização até hoje nas suas últimas conquistas ainda está apoiada nas intuições gregas. E nós encontramos em Platão – que foi, sem duvida nenhuma, uma das figuras mais fulgurantes do mundo no campo da intuição, a ponto de Kardec dizer que ele e Sócrates eram percussores da idéia cristã na Terra –, nós encontramos ali uma afirmação muito curiosa de Platão, uma teoria bastante interessante; ele diz que existe Deus, quer dizer, o bem supremo, a idéia suprema no mundo das idéias, que controla tudo, dirige tudo. Mas que abaixo de Deus existe o demiurgo. O demiurgo é um deus secundário, e a função deste deus é receber de Deus a matéria prima com que vai construir os mundos.

Chico Xavier - Muito bem! Eu não conheço não... (risos)

J. Herculano Pires - É muito interessante. Quer dizer, Jesus seria um demiurgo da Terra!

Chico Xavier - Isso é extraordinário! E o demiurgo do sistema solar. Será então um demiurgo de alta potência criadora! E a este respeito eu peço licença para dizer que certa feita, indagando de Emanuel a respeito da posição de Jesus no sistema solar, ele me disse que ficasse com a expressão pai nosso e não perguntasse muito a respeito de Deus, porque eu não tinha mente capaz de entrar no domínio desses conhecimentos com a segurança precisa. Eu insisti e ele não desdobrou o painel à minha vista, mas do ponto de vista mediúnico; apareceu-me então a Terra na comunidade dos mundos do nosso sistema evoluindo em torno do sol; o nosso sol, depois em outra face do painel, evoluindo para a constelação que, se não me engano, é a constelação chamada de Andrômeda. Depois, essa constelação arrastando nosso sistema e outros evoluíam em direção de uma outra constelação, que já não tinha nome na minha cabeça. Essa outra constelação avançava para uma outra constelação muito maior dentro da nossa galáxia. Depois apareceu a nossa galáxia, imensa, como se uma lente de alta potencialidade estivesse entre os meus olhos e o painel, e a nossa galáxia evoluía com outras galáxias em torno de uma nebulosa enorme, e que Emanuel me disse que passava a evoluir em torno de outras nebulosas... Então aí minha cabeça ficou cansada e eu pedi para voltar, como se eu tivesse saído num foguete da Terra e me perdesse pelo espaço afora e sentisse uma vontade louca de voltar a ser gente outra vez e ficar no meu lugar! Porque tudo está dentro da ordem divina, cada mundo, cada sistema, cada galáxia, orientados por inteligências divinas, e Deus para lá disso tudo!


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