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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.

 

Temos prazo marcado para a nossa residência na Terra. Cada fim de ano nos adverte de que esse prazo está se esgotando. Quantos anos teremos ainda na frente? Nenhum de nós pode sabê-lo, amigo ouvinte. Porque ao contrário do que se diz, a vida é certa mas a morte é incerta.

 

Sim, a vida é certa porque estamos nela, estamos vivos na Terra, utilizando o nosso escafandro material para a realização do nosso trabalho sublimar. Somos escafandristas em ação no fundo de um oceano. Mergulhamos na atmosfera terrena e pisamos no solo do planeta. Nosso escafandro é cômodo, eficiente, e nos permite fazermos o que desejarmos.

 

Amigo ouvinte, seja você um jovem, uma criatura em idade madura ou já entrando no declínio da idade. Aproveite esses últimos dias para perguntar à sua consciência: o que fiz nesse ano? O que poderei fazer no ano entrante? Porque a vida não nos dá nada de graça, ela tem um preço, o preço exato do nosso esforço para auxiliar o próximo. Não se iluda, amigo ouvinte. Se você só pensou em si mesmo, só cuidou de melhorar a sua posição, de satisfazer os seus desejos e os seus caprichos, o ano que se finda foi para você um ano perdido. Trate de acertar a sua contabilidade, abrindo o seu coração para a vida que não é só sua, mas de todos. Dê um pouco de si mesmo para a vida, a alegria, a felicidade dos outros. Há sempre uma oportunidade para nós na contabilidade da vida. O novo ano que surge é mais uma prova de que a vida é certa. Sim. É certa porque estamos nela, estamos vivendo e precisamos aproveitar cada minuto que passa. Mas a morte é incerta. Você não sabe quando ela pode chegar, não pense na morte, pense na vida e faça da sua vida uma garantia para a vida maior.

 

Não se esqueça das palavras do mestre: aquele que se apega à sua vida, perdê-la-á, mas aquele que a perde por amor a mim, esse a encontrará. Não tenha medo de perder a sua vida auxiliando o próximo, que somos nós mesmos. Você é o meu próximo e eu sou o seu próximo. Cada um de nós é o próximo do outro. Você pode ter muito pouco, mas há sempre quem tem bem menos que você. De um pouco do seu bem estar, da sua alegria, da sua compreensão, do seu conhecimento para aquele que tem menos. É assim que você conquistará a vida em abundância de que falou Jesus, o homem de Nazaré que não tinha onde repousar a cabeça.

 

No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Transmissão número 142, terceiro ano, direção e participação do professor Herculano Pires. Esse é um programa livre, sem compromissos sectários. Não queremos converter ninguém. Buscamos a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade. E se você nos provar que está com a verdade, ficaremos com você.

 

Perguntas e respostas. Pergunte para você e para os outros. Há muita gente que tem as mesmas dúvidas que você.

 

Pergunta nº 1: Nascimento de Jesus

 

Locutor - Professor, o ouvinte J. C. da S., do Jardim Brasil, faz as seguintes perguntas. Herculano, irmão, fala-me: Jesus é nazareno ou judeu? Ele nasceu em Belém, cidade da Judéia e Nazaré fica na Galileia. Para mim, irmão Herculano, Jesus nasceu quando eu abri o evangelho. O ponto de interrogação está aqui, dentro de mim.

 

J. Herculano Pires - O nosso amigo pergunta se Jesus era nazareno ou judeu. Ora, na verdade, o fato dele ter nascido em Nazaré é que lhe daria o título de nazareno e foi justamente por isso que o chamaram de nazareno. Entretanto, dizem os evangelhos que Jesus nasceu em Belém de Judá, e o nosso ouvinte entendeu que somente aqueles que nasceram na Judéia ou em Judá é que são judeus. Não, os nazarenos também eram judeus, porque a cidade de Nazaré estava localizada, como sabemos, na Galileia, uma província judaica. O judaísmo não é propriamente uma nacionalidade no sentido apenas territorial. É uma nacionalidade no sentido de “raça” e particularmente no sentido de religião. Qualquer pessoa, mesmo que não tenha nascido na Judéia, desde que pertença à “raça” judaica e ao mesmo tempo espose a religião judaica, é judia. Os nazarenos, portanto, eram judeus como todos os galileus. Os galileus nada mais eram de que os que haviam nascido na província judaica da Galileia.

 

Gostei muito da parte em que diz o nosso amigo que para ele Jesus nasceu quando ele abriu o evangelho pela primeira vez, quando leu o evangelho naturalmente. Esse é de fato o nascimento de Jesus em nosso coração. Cada vez que nós tomamos contato com o evangelho, procuramos compreendê-lo, Jesus está, por assim dizer, nascendo em nós, nascendo em nosso coração. Ora, nós já estivemos analisando aqui no programa passado a simbologia do natal que poderíamos dizer a mitologia do natal, e nós demonstramos naquele programa que Jesus de fato, historicamente, não nasceu em Belém, nasceu em Nazaré. Ele era nazareno não só porque seus pais moravam lá, mas porque ele nasceu lá em Nazaré. O nascimento em Belém de Judá foi um mito, uma lenda criada pelos próprios apóstolos de Jesus e pelos seus seguidores, porque, de acordo com as escrituras judaicas, o Messias devia nascer na cidade de Davi, que era Belém de Judá, e devia descender do rei Davi. Então, os apóstolos, os evangelistas, os primeiros cristãos, que eram judeus, interessaram-se muito pelo fato de que Jesus devia nascer em Belém e procuraram demonstrar que ele havia nascido lá. Entretanto, a verdade histórica confirmada depois pelos documentos, pela investigação e pela pesquisa realizada por grandes figuras, grandes professores universitários, desde Renan no século passado até (inaudível) no século atual, essa pesquisa histórica demonstrou inegavelmente que o nascimento de Jesus em Belém de Judá não passou de um mito, de uma lenda. Na verdade, ele nasceu em Nazaré. Mas no mito do seu nascimento figuram ainda outros elementos muito importantes. Jesus teria nascido numa gruta, teria nascido cercado pelos animais e esses animais ao seu redor procuravam dar-lhe calor, auxiliá-lo no seu nascimento. Entretanto, eram animais cheios, portanto, de instinto, do instinto inferior das raças primitivas, dos seres primitivos. Ora, isso simboliza no mito do natal um fato bastante importante que corresponde àquilo que o nosso ouvinte disse: que Jesus nasceu quando ele leu o evangelho pela primeira vez. De acordo com a simbologia desse mito, Jesus nasce no nosso coração quando nós tomamos conhecimento da sua existência, do seu ensino; ele nasce cercado pelos nossos instintos animais; na gruta, por assim dizer, do nosso coração, o menino Jesus que ali aparece pela primeira vez ainda não bem definido, porque só na proporção em que nós vamos conhecendo, nos aprofundando no conhecimento dos seus ensinos, é que ele vai se definindo como um homem. Aquele menino Jesus que ali está, aparece cercado pelos nossos instintos animais. Nós vamos, entretanto, na proporção em que nos aprofundamos no conhecimento de Jesus, vencendo esses instintos, libertando-nos deles e ao mesmo tempo preparando-nos para os sacrifícios necessários, como o sacrifício da cruz que Jesus se atirou a fim de nos dar, por assim dizer, a salvação, não no sentido da sua morte, mas no sentido do seu exemplo. O exemplo de que nós, criaturas humanas, se queremos libertar-nos da prisão dos instintos, devemos sempre estar prontos a sacrificar-nos em benefício do espírito.

 

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Pergunta nº 2: Evangelho e Bíblia

 

Locutor - Herculano irmão, eu estudo o evangelho – por certo foi o tradutor do Evangelho Segundo o Espiritismo, não foi? Mas não consigo sair da Bíblia. Eu estudo as obras de Kardec e leio a Bíblia.

 

J. Herculano Pires - É preciso fazer uma diferença entre evangelho e Bíblia. As igrejas cristãs cometeram um engano. Esse engano proveio das raízes judaicas do cristianismo. Elas quiseram transformar o novo testamento num novo livro da Bíblia judaica. Na verdade é preciso compreender: a Bíblia no seu sentido real é o velho livro judaico da religião dos judeus, da qual nasceu a religião cristã. O novo testamento é outro livro. O evangelho, portanto, não pertence de fato à Bíblia. É uma confusão que foi cometida pelas religiões cristãs porque elas todas descendem do cristianismo primitivo. Ora, nós sabemos que o cristianismo primitivo estava de tal maneira ligado ao judaísmo que ele era, a princípio, uma simples seita do judaísmo, uma nova seita, assim como havia a seita dos Fariseus, a seita dos Saduceus, havia também a seita dos Nazarenos. Os seguidores de Jesus foram chamados inicialmente de nazarenos. Só posteriormente é que se passou a chamá-los de cristãos. Então, até que isso se desse, as próprias reuniões dos cristãos se faziam nas diversas sinagogas judaicas. Foi em Antioquia que o cristianismo se libertou, graças à intervenção do apóstolo Paulo, se libertou das suas raízes judaicas, e que então se fundou a primeira igreja cristã na Terra. Dessa maneira, nós temos de compreender que a confusão que se fez era natural porque proveio dessas raízes, desse início confuso em que o cristianismo se desenvolveu. Mas hoje, depois de passados já dois milênios, nós devemos compreender bem que há uma distinção muito nítida entre os dois livros: o velho testamento, por isso que se diz o velho testamento, e o novo testamento. O velho testamento é a Bíblia judaica, o novo testamento é o evangelho de Jesus. Ora, pelo que o senhor diz na sua carta, eu noto que o seu interesse não tem sido pela Bíblia judaica, mas sim pelo novo testamento. O senhor está lendo o evangelho na tradução que fizemos de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, está lendo as explicações ali que Kardec e os espíritos dão a respeito do evangelho. Mas o senhor diz que não pode se desapegar do evangelho propriamente dito, do texto dos evangelistas. Então, o senhor não está apegado à Bíblia. O senhor está apegado ao novo testamento. Ora, o novo testamento é o fundamento do espiritismo, de maneira que não há problema nenhum. O espiritismo não quer que o senhor deixe de ler o novo testamento, e mesmo o velho testamento o senhor pode ler com inteira liberdade. O espiritismo não proíbe ninguém de ler coisa alguma. O espiritismo é a doutrina da liberdade absoluta, porque se o homem não tiver liberdade, ele não tem responsabilidade. Se o espiritismo fosse ditar aquilo que o senhor tinha de ler, o senhor ficaria preso aos dogmas que o espiritismo estabelecesse. Felizmente o espiritismo não faz isso. O senhor tem ampla liberdade de ler. Mas, no tocante aos evangelhos, é até um dever de sua parte continuar a lê-los. Leia os evangelhos. Eles trazem a mensagem do Cristo e nos interessam bastante. Entretanto, existem problemas, como o senhor está levantando nessa carta, e esses problema é preciso que se vão esclarecendo através de estudos, estudos que o senhor irá fazendo. O senhor ainda é muito moço, tem apenas 19 anos de idade, segundo nos diz. É uma coisa empolgante que um jovem da sua idade tenha tão profundo interesse pelos problemas espirituais como a sua carta revela. E o senhor terá pela frente muito o que estudar e aprender.

 

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Pergunta nº 3: Salmo e Jesus

 

Locutor - Na cruz Jesus disse: Eli Eli lamá sabactâni, isto é, Deus, meu, Deus meu, por que me abandonaste? Agora eu pergunto: como entender essas palavras, e por sinal essas mesmas palavras estão escritas no Salmo de Davi 22? Senhor Herculano, me explica isso: Jesus Nazareno repete palavras do Salmo.

 

J. Herculano Pires - Sim, é muito claro que tenha de repetir, Jesus Nazareno era judeu. Jesus Nazareno foi instruído desde criança no judaísmo. Ele aprendeu na sinagoga judaica a religião judaica. Ele estudou a Bíblia, ele conhecia os Salmos, conhecia todo o velho testamento, ele pregou nas sinagogas, como o senhor pode ver no próprio evangelho, e ao pregar nas sinagogas, ele dava uma nova interpretação ao velho testamento, porque ele vinha lançar as bases de uma nova religião que é o cristianismo e, portanto, as bases do novo testamento. O que está no Salmo está também na boca de Jesus, porque Jesus conhecia a maior parte dos textos bíblicos, como fazem geralmente os judeus ortodoxos e até mesmo os cristãos mais aferrados à sua religião em nosso tempo, eles decoravam os textos. Jesus, portanto, conhecia de cor e aprendeu desde criança nas sinagogas os Salmos e os demais livros do velho testamento. Mas quando ele exclamou isso na cruz, quando ele citou essa frase, quando ele a mencionou, é claro que ele estava se dirigindo ao pai através das expressões do Salmo, porque lhe ocorreu a lembrança dessas expressões de acordo com a situação em que ele se encontrava. O senhor, naturalmente, perguntará: mas se Jesus era divino, por que ele foi dizer que Deus o havia abandonado? É preciso não se esquecer de que Jesus afirmou sempre durante a sua vida que ele era homem, filho do homem e também filho de Deus. Mas quando ele dizia isso, ele acrescentava naturalmente, como nós vemos no próprio, texto que nós também somos filhos do homem e filhos de Deus. Ele se colocava, portanto, numa posição humana. Ele era um homem, um homem que nasceu na Terra para viver a vida de um homem e para como homem poder ensinar os homens e dar o exemplo aos homens de como viverem a vida espiritual. De maneira que quando ele falou isso a Deus, ele não estava reprovando Deus. Ele estava apenas através de uma frase do Salmo, que é sempre uma prece, estava apenas se dirigindo a Deus para pedir o seu auxílio a fim de que ele como homem, como criatura humana falível que ele era naquele momento, enfrentando uma prova terrível como a crucificação, ele pudesse suportar espiritualmente essa prova sob as bênçãos de Deus.

 

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Pergunta nº 4: Espíritos podem comer

 

Locutor - Professor Herculano, Jesus, depois de desaparecer no caminho para Emaús para os dois discípulos (um deles era Cleófas), apareceu entre os doze apóstolos e comeu um peixe assado. Agora eu pergunto: um espírito pode comer algo material?

 

J. Herculano Pires - As provas que nós obtemos através dos fenômenos de materialização, essas provas que vêm sendo realizadas desde o tempo das pesquisas da metapsíquica até os nossos dias com a parapsicologia, essas provas deixam evidente que um espírito materializado pode fazer qualquer ação que uma pessoa natural encarnada faz. Os espíritos podem comer. Mas o senhor perguntará: mas como se dá isso? O espírito, quando está materializado, ele está revestido de matéria e consequentemente tem condições para pegar as coisas materiais e para ingeri-las como qualquer pessoa normal, qualquer pessoa viva comum. Entretanto, é claro que o espírito não precisa comer. Ele faz aquilo apenas para demonstrar que realmente é uma criatura humana que ali se encontra presente, que está falando com as pessoas, que não é apenas uma aparição, porque são dois fenômenos distintos. A aparição não tem consistência. A aparição é apenas uma visão que as pessoas têm de um espírito, mas não podem tocá-lo. Ela não tem consistência. Ao passo que a materialização, que Kardec chamou mesmo de aparição tangível, a materialização é consistente e nos dá a perfeita ideia e o perfeito contato de um ser humano natural. O fato de Jesus haver comido um peixe ou de haver partido o pão quando sentou-se à mesa com os discípulos de Emaús e comido o pão com eles, esse fato não traz nenhuma novidade no campo das experiências espirituais. Não só no novo testamento existe isso, o senhor encontrará também no velho testamento passagens em que os espíritos materializados agem como criaturas humanas normais, naturais, principalmente no livro de Tobias, do anjo que apareceu para ele.

 

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Pergunta nº 5: Apelido de discípulos

 

Locutor - Herculano, irmão, por que Jesus trocava o nome dos apóstolos como de Cefas para Pedro e dos outros também? Me explica isso.

 

J. Herculano Pires - Jesus não trocou o nome de Pedro para Cefas, pelo contrário, Jesus quando se encontrou com Simão Pedro, o nome de Pedro era apenas Simão. Então, ele chamou Simão de Cefas. Cefas em aramaico quer dizer pedra, rocha, daí foi que se passou a chamar o apóstolo Simão de Pedro, porque Pedro correspondia a pedra, a rocha, portanto. E Jesus mudou naturalmente o nome de muitos de seus discípulos, mas não de todos, porque, ao se referir a eles, ele sempre lhes dava um apelido, por assim dizer, um apelido correspondente à situação espiritual daquele discípulo. Em Pedro ele viu uma fortaleza, um espírito decidido a acompanhá-lo e decidido a sacrificar tudo para segui-lo. Então ele o chamou de rocha, o chamou de pedra. Então, Simão passou a chamar-se Simão Pedro.

 

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Pergunta nº 6: Dúvida de João sobre Jesus

 

Locutor - Professor, o que Jesus fez dos treze anos aos trinta? No evangelho de Lucas, página mil e oitenta, versículo treze a vinte e cinco, Lucas diz que começou sua obra com trinta anos. O que foi que aconteceu a dezoito, dezenove, vinte anos que os evangelistas não falam?

 

J. Herculano Pires - É claro que a biografia de Jesus por assim dizer, só passou a interessar realmente depois dos trinta anos. Por quê? Porque até os trinta anos ele viveu como uma criatura normal, uma criatura comum. As passagens mesmo da sua infância são muito rápidas e o novo testamento não tem por finalidade nos dar uma biografia de Jesus. A finalidade do novo testamento é nos dar o evangelho. Então tudo quanto os evangelistas falam de Jesus se referem à fase da sua pregação evangélica. Algumas referências como as que são feitas ao seu nascimento e à sua presença no templo de Jerusalém são feitas apenas porque trata-se de fatos que tinham importância do ponto de vista de demonstrar, como queriam os apóstolos dos evangelistas, demonstrar aos judeus que Jesus era realmente o Messias esperado pelo povo judaico. Mas é claro que a infância de Jesus e o seu tempo de vida até os trinta anos de idade foi praticamente uma fase obscura de sua vida. E obscura por quê? Porque era a fase em que ele crescia, se desenvolvia e, nesse desenvolvimento, ele estava se interessando pela sua integração na vida humana. Nós temos, por exemplo, no espiritismo um exemplo típico disso. Sabemos que Allan Kardec veio à Terra, nasceu aqui entre nós com a finalidade especial de codificar a doutrina espírita. Entretanto, até os cinquenta anos de idade, veja bem, até os cinquenta anos de idade, Kardec não foi espírita. Ele somente aos cinquenta anos de idade começou a se interessar pelos fenômenos espíritas. Isso nos mostra que o que se passou com Jesus também se passam com as demais criaturas. Por outro lado, pergunto assim: mas por que não se dá nada de positivo a respeito desse tempo obscuro da vida de Jesus? O mesmo aconteceu com Kardec. Os biógrafos de Kardec encontram grande dificuldade em restabelecer a sua biografia porque ele viveu como um professor, um pedagogo, um filósofo, um pensador, uma vida tranquila, dedicando-se ao estudo, ao ensino, à publicação de livros, mas não realizou nada de excepcional que pudesse chamar atenção das criaturas para fixá-lo na história. Então, a fase anterior à vida espírita de Allan Kardec é uma fase muito difícil de se restabelecer. Nenhum dos seus biógrafos conseguiu até hoje restabelecer. E lembre-se que Kardec nasceu mil e oitocentos anos depois de Jesus, quando na França moderna, portanto, já havia condições muito maiores para o registro dos acontecimentos ocorridos na vida de qualquer pessoa. É, portanto, inútil nós querermos saber o que se passou nesse período. Há um livro publicado recentemente no Rio que pretende nos dar a explicação daquilo que se passou com Jesus entre os treze anos e os trinta anos, mas tudo quanto esse livro apresenta nada mais é do que fabula, imaginação, suposição. Ninguém tem prova nenhuma daquilo que aconteceu com Jesus nesse período.

 

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Pergunta nº 7: Casamento de Maria

 

Locutor - Senhor Herculano, João Batizador, já tinha batizado com água Jesus, o Nazareno, mas depois dessa narração, o evangelho narra que quando João foi preso, ele manda os seus discípulos dizer a Jesus se ele era aquele que veio ou deveria esperar alguém diferente, e Jesus disse-lhes em resposta: ide e relatai a João o que eu vi e vedes. Os cegos estão vendo novamente etc. Mas, senhor Herculano, João não tinha sido testemunha de ter visto abrir o céu e ver uma pomba e uma voz a dizer? "esse é meu filho amado"? Desculpe-me se não falo tudo que está escrito. Estou escrevendo de cor, sem olhar na Bíblia. Como João manda os discípulos fazer essa pergunta a Jesus Nazareno? Como? Explica-me.

 

J. Herculano Pires - Quando João se encontrou com Jesus, ele reconheceu que Jesus era realmente aquele que estava sendo enviado por Deus, de acordo com os evangelhos. Entretanto, passaram-se depois vários tempos sem que eles se encontrassem de novo. João quando soube de um pregador que havia sido preso porque estava... quando soube, quer dizer... perdão. João quando soube, na prisão, de um pregador que estava realizando milagres e que estava procurando iniciar as criaturas num novo sentido da religião judaica, João ficou, naturalmente, sem saber se era aquele mesmo que ele havia batizado ou se era outro. E também ele poderia ter duvidado posteriormente de que os fatos ocorridos no batismo de Jesus fossem suficientes para confirmá-lo como o Messias. Isso tudo são problemas muito subjetivos que naturalmente correspondem a coisas que nós não podemos estabelecer com segurança, mas temos de compreender que João Batista, se mandou seus discípulos perguntarem isso a Jesus, é porque ele queria se certificar. De duas uma: ou de que era aquele Jesus que ele reconhecera como messias que realmente estava fazendo as pregações e os milagres que falavam ou porque ele queria ter uma prova segura de que se tratava realmente do messias.

 

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Pergunta nº 8: Matança dos inocentes

 

Locutor - Professor, o ouvinte J. L. M., da Avenida São Luís, pergunta: por que Maria precisou casar-se com José para ter Jesus, se Jesus ia ser gerado pelo Espírito Santo?

 

J. Herculano Pires - É uma pergunta bastante curiosa, mas é preciso nos lembrarmos do seguinte: quando Maria se casou com José, ela não tinha ainda recebido nenhum aviso de que Jesus ia nascer. Ela não sabia que Jesus ia nascer. Assim, o casamento dela não teve nenhuma intenção de prepará-la para o nascimento. Foi um casamento como qualquer outro que ocorria naqueles tempos. Naturalmente, nós podemos dizer que havia por trás disso um desígnio divino, mas esse desígnio divino não estava na mente de Maria, tanto que, segundo os evangelhos, Maria foi avisada pelo anjo, o anjo Gabriel apareceu para ela e anunciou-lhe que ela ia ter um filho e que esse filho era o enviado de Deus, e que esse filho, apesar dela não aceitar que pudesse tê-lo, porque não estava em condições matrimoniais completas para isso, apesar disso esse filho viria nascer como o anjo lhe afirmou. Ora, nós sabemos que o nascimento virginal de Jesus é um problema também bastante envolto em aquilo que podemos chamar as gangas mitológicas do tempo. Esse tempo era o tempo da mitologia. Quando Jesus nasceu, o mundo todo era dominado pela mitologia. Havia mitologia judaica na Judéia e havia a mitologia greco-romana e as várias mitologias dos outros povos no mundo inteiro. A mitologia ligada à magia. Então todos os fatos naturais, mitologicamente são transformados em fatos mágicos, sobrenaturais. Os evangelhos, que foram escritos na época mitológica, sendo os evangelistas influenciados pela cultura do seu tempo, como todos os escritores em todos os tempos, em todas as civilizações, em todas as épocas são influenciados pela cultura em que vivem, é claro que os evangelhos tinham de estar carregados de mitos. Na verdade, o nascimento de Jesus não exigia absolutamente a virgindade física de Maria. Nós aceitamos a virgindade de Maria do ponto de vista espiritual. Ela era um espírito puro e por isso um espírito virgem. Quanto à sua função maternal na Terra, não há razão nenhuma para que ela deixasse de ter o seu filho naturalmente depois de haver casado com José, como sendo realmente um filho de José, o carpinteiro. Por isso Jesus mesmo se incumbiu de dizer: "eu sou o filho do homem". E quando ele falava do pai espiritual que era Deus, então ele dizia assim: "sou filho de Deus". Mas também dizia: "vós sois filhos de Deus". O apóstolo Paulo, por exemplo, na primeira epístola aos Coríntios, ele diz com bastante clareza: Jesus nasceu de mulher, Jesus nasceu sob a lei. Por que o apóstolo Paulo diz isso? Porque já no tempo em que ele, Paulo, se convertera ao cristianismo, as lendas do nascimento original de Jesus estavam espalhadas por toda parte. Então, Paulo combatia essas lendas. Paulo que era um doutor da lei, era um homem dotado de uma extraordinária cultura, ele dominava a cultura do seu tempo, Paulo não podia aceitar essas lendas. Ele então insistia na naturalidade do nascimento de Jesus. Em todas as epístolas de Paulo em momento algum se faz qualquer referência, nem a mais leve referência ao nascimento virginal de Jesus. De maneira que nós precisamos compreender: Jesus não nasceu de uma fecundação artificial feita pelo Espírito Santo. Jesus encarnou-se como homem. Como homem ele teria de nascer naturalmente dentro das condições da lei física, da lei biológica que determina o nascimento das criaturas. Essa visão do nascimento virginal provem do mito. E houve, por exemplo, um escritor francês, Saint-Yves, que publicou um livro muito interessante com o título Os Nascimentos Virginais. Ele nos mostra, então, que durante o tempo de Jesus e durante toda antiguidade mitológica, os nascimentos virginais foram numerosos. Não foi apenas Jesus que nasceu de uma virgem, segundo nós encontramos na interpretação das igrejas cristãs. Também o Buda nasceu de uma virgem, também alguns grandes filósofos antigos nasceram de virgens. O próprio Pitágoras, por exemplo, que foi um grande filósofo grego e pagão, ele não foi cristão, ele foi anterior ao cristianismo, o próprio Pitágoras, de acordo com a lenda grega, nasceu de sua mãe, não como filho de seu pai, mas sim como filho do deus Apolo. Foi o deus Apolo que fecundou a mãe de Pitágoras antes que ela coabitasse com o seu próprio marido. Essas lendas têm, portanto, um longo passado, são lendas antiguíssimas e que afetaram e influenciaram os evangelistas na redação dos evangelhos. É também preciso notar que apenas dois evangelistas se referem ao nascimento virginal de Jesus, aqueles que foram mais influenciados pela mitologia da época.

 

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Pergunta nº 9: Matança de inocentes

 

Locutor - Professor, a ouvinte A. B., da Rua Botucatu, pergunta: por que Herodes mandou matar os inocentes em Belém, se a criança messiânica nascida ali ainda teria de crescer para ameaçar o seu trono? Isso me parece absurdo. O que o senhor pode me dizer? J. Herculano Pires - É interessante como a senhora conseguiu colocar um problema bastante curioso e para o qual muito pouca gente tem atendido. Muito pouca gente volta a sua atenção para esse problema histórico do cristianismo. Realmente, Herodes não precisava temer o crescimento do menino Jesus, porque, quando esse menino estivesse em condições de assumir o trono, ele Herodes, já teria morrido. É evidente que esse é um ponto que demonstra mais uma vez aquilo que os investigadores do cristianismo, do ponto de vista histórico, têm afirmado sempre como sendo as influências mitológicas nos evangelhos. A mitologia do natal inclui esse episódio da matança dos inocentes, mesmo porque esse episódio constava na velha bíblia judaica, era um dos elementos anunciadores da vinda do Messias. Havia de aparecer, portanto, nos evangelhos a matança dos inocentes por Herodes. Na verdade, esse problema da matança dos inocentes é também um elemento mitológico que aparece em toda antiguidade. Em toda antiguidade é sempre uma série de acontecimentos semelhantes. E nós precisamos aprender, se nós queremos conhecer a essência do evangelho, precisamos aprender a separar esses elementos da realidade histórica e da verdade espiritual que Jesus ensinou. Jesus não ensinou mito nenhum. Jesus era contra o mito. Ele veio para destruir o mito, porque o homem envolvido na mitologia, era um homem iludido, era um homem que não estava à altura de compreender a verdade espiritual. Jesus veio ensinar a verdade espiritual. Eu costumo mesmo dizer que a mitificação de Jesus, não confundir com mistificação, a mitificação, quer dizer, mitificaram Jesus, transformaram Jesus num mito; essa transformação de Jesus num mito aparece historicamente como uma verdadeira vingança do mito. Porque Jesus destruiu o mito. Então o mito se vingou dele, transformando-o num mito. Claro que trata-se apenas de uma figura, porque o mito não tinha força para transformar Jesus em mito. Quem transformou foi o próprio homem com a sua mentalidade mitológica, fez de Jesus um mito e fez de Jesus um personagem da tragédia grega. São as influências culturais bem nítidas que se exercem sobre a elaboração dos evangelhos e a criação daquilo que se chamou a mitologia cristã. Na verdade, esse episódio da matança dos inocentes é, portanto, um episódio ahistórico, não histórico, um episódio que figura nos evangelhos apenas com uma intenção: a de dar a Jesus a condição real de Messias, de acordo com as esperanças judaicas daquele tempo.

 

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O evangelho do Cristo em espírito e verdade.

 

Aberto o evangelho ao acaso, temos o seguinte (Lc, 2:41-52):

 

Seus pais iam anualmente a Jerusalém pela festa da páscoa. Quando o menino tinha doze anos, subiram eles conforme o costume da festa. Findos os dias da festa, ao regressarem, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais o soubessem. Mas estes, julgando que ele estivesse entre os companheiros de viagem, andaram o caminho de um dia procurando-o entre os parentes e conhecidos, e não o achando voltaram a Jerusalém em procura dele. Três dias depois, o acharam no templo sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das suas respostas. Logo que seus pais o viram, ficaram surpreendidos. Sua mãe perguntou-lhe: filho, por que procedeste assim conosco? Teu pai e eu te procuramos aflitos. Ele lhes respondeu: por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu pai? Eles, porém, não compreenderam as palavras que ele dizia. Então desceu com eles e foi para Nazaré. E estava-lhes sujeito. Mas sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.

 

Esse trecho pertence ao evangelho de Lucas e, como nós sabemos, é o trecho em que faz a descrição – Lucas logo no início do evangelho descreve os vários fatos referentes ao nascimento, desenvolvimento de Jesus – e inclui também essa passagem e nos dá uma visão daquilo que se chama “a discussão de Jesus com os doutores do templo”. Ora, é preciso observar aqui alguns pontos curiosos. Por exemplo, segundo esse trecho de Lucas (é do capítulo primeiro, vai do versículo quarenta e um ao versículo cinquenta e dois), nesse trecho diz Lucas que Jesus tinha doze anos nessa ocasião. Ora, doze anos, a idade de doze para treze anos, era precisamente a idade da bênção da virilidade. Quando um menino atingia essa idade, era levado à sinagoga ou ao templo para receber a bênção da virilidade e ser considerado, dali por diante, um homem. Assim, há uma contradição entre a explicação evangélica que diz que os pais de Jesus costumavam ir na festa da páscoa a Jerusalém e o levaram para lá nessa ocasião de acordo com esse costume. Mas a idade em que Jesus estava nos mostra que não o levaram apenas por causa do costume e sim para submetê-lo à bênção da virilidade que era um sacramento judeu, um sacramento existente até hoje no judaísmo e que Jesus teria de passar por ele.

 

Por outro lado, é sabido que naquele tempo, como ainda hoje também se dá no judaísmo, a bênção da virilidade dependia não só da idade do menino, mas também uma espécie de sabatina que faziam com ele a respeito da religião. Precisavam saber se este menino, que havia atingido a virilidade do ponto de vista orgânico, estava espiritualmente em condições de enfrentar os problemas da sua própria religião. A religião judaica, como sabemos, era e é de uma importância fundamental para o povo judeu. Nós sabemos que é o único povo que tendo sido expulso da sua pátria, da sua terra, viveu dois mil anos, quase, no mundo sem pátria, mas mantendo a sua coesão racial, e essa coesão racial só não foi dissolvida em virtude de uma coesão mais forte que ligava o povo, que era a coesão religiosa. A religião demonstrou aí o seu poder de aglutinação humana e manteve o povo judeu unido.

 

Então, era muito importante saber se a criança de doze para treze anos estava em condições realmente de enfrentar os problemas da vida como judeu, não judeu por nascer na Judéia, mas judeu por conhecer a religião judaica. Então aquilo que apresentado aqui como um fato excepcional – Jesus discutindo com os doutores do templo – era coisa comum naquele tempo. Apenas deve ter havido de excepcional a atitude de Jesus. Jesus menino respondendo com muita precisão, com excepcional vivacidade, com uma inteligência fora do comum, às perguntas que os rabinos lhe faziam, e certamente já antecipando o seu trabalho missionário na Terra, ele também formulando algumas perguntas aos rabinos. Temos então um fato histórico natural que aparece no evangelho com um sentido místico e um sentido mitológico também. É sempre a influência mitológica na redação do texto evangélico que nós temos de levar em consideração e devemos lembrar que isso é natural; tinha de haver essa influência, porque nenhuma obra literária e escrita em qualquer país do mundo e em qualquer época pode escapar à influência cultural do seu tempo e do seu meio.

 

Ora, então temos de compreender que esse fato aparentemente extraordinário de Jesus estar discutindo com os doutores do templo, o que serviu para muita gente no mundo inteiro combater o evangelho, dizendo que isso era um fato absurdo, porque os rabinos, os doutores do templo não iam aceitar que um menino de doze anos lá entrasse e fosse discutir com eles os problemas do judaísmo. Entretanto, a história judaica nos mostra que esse é um fato legítimo, natural, porque o menino, tendo sido submetido à bênção da virilidade, ele tinha de submeter-se à sabatina dos rabinos. E se os rabinos faziam perguntas, ele também, ao responder, podia fazer perguntas aos rabinos. Mas o mais importante desse trecho é mostrar-nos que Jesus, já pela sua vivacidade mental, já pela sua agudeza espiritual, revelava-se no tempo de criança e no tempo de adolescente – como ele estava entrando na adolescência nessa ocasião –, já revelava as dimensões do seu espírito superior, aquele espírito que iria se impor ao povo judeu e a todos os povos do mundo através dos seus ensinos reformadores.

 

Jesus foi, na realidade, um reformador do judaísmo. Depois dele, como disse o apóstolo Paulo, a Bíblia se tornou apenas um livro histórico. O que passou a imperar, a dominar não foi mais a lei mosaica, a lei bíblica, mas sim a lei cristã, a lei evangélica, a lei do Novo Testamento.

 

Mas é impressionante esse final da redação do evangelho de Lucas. Nós sabemos que cada um dos evangelhos foi redigido num tempo diferente, numa época diferente e num país diferente. Considera-se, por exemplo, que o evangelho de Lucas, ao contrário do de Mateus, que teria sido escrito na Ásia, enquanto o de Marcos foi escrito em Roma, o evangelho de Lucas devia ter sido escrito na própria Palestina. Pois bem, este evangelho de Lucas é considerado pelos investigadores do cristianismo, a partir de Renan na sua investigação sobre os evangelhos, é considerado como uma verdadeira obra prima da literatura cristã. É um evangelho redigido num grego aprimorado e com toda a graça, toda a elegância literária da época. Lucas, como sabemos, era um médico, era um homem de elevada cultura, não foi discípulo de Jesus, mas sim discípulo de Paulo, e realizou o trabalho do evangelho, como diz Renan, como quem lapida uma obra preciosa, transformando-a num verdadeiro monumento de beleza. Assim, há aqui uma expressão final que nos toca de perto a sensibilidade, quando diz que “Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens, e que Maria, observando isso, guardava silenciosamente todas as coisas em seu coração”. Temos aqui expressões verdadeiramente poéticas sobre o nascimento de Jesus e o seu desenvolvimento, o seu crescimento não apenas orgânico, mas também espiritual no meio judaico.

 

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