No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.
Estamos em maio, mês das festas e das flores que deriva o seu nome de Maia, filha de Atlas e mãe de Mercúrio. Os romanos dedicavam neste mês grandes festas a Apolo. A igreja católica o dedica a Maria de Nazaré, mãe de Jesus. Em maio temos o dia do trabalho por motivo da execução dos mártires de Chicago na luta pelas oito horas de trabalho. Temos dia três, a data da descoberta do Brasil pela esquadra de Cabral. Dia treze, a grande data da abolição da escravatura negra em nosso país. E agora temos Sabina, pois neste maio está sendo lançado um livro diferente de Chico Xavier: “Natal de Sabina” pela editora GEEM do Grupo Espírita Emanuel de São Bernardo do Campo. Você agora vai conhecer Sabina e seu natal de rua. Uma vida sem lua, quase sem palavras, entre cores e imagens. Nunca mais como leitor você terá um só natal com desamor. Sabina sofrida, desconsolada, se arrasta na vida com trapos de dor, com força de amor. Luzes sem conta e imagens loucas. Natal sem Sabina nunca mais. Sabina conquista você pelo olhar, pelo coração, pela mão, por não sei mais que. Sabina é sofrer, é ver e também viver. Branco e preto, cores a flux, sombra e luz, e depois Jesus. Tudo é Sabina, e sua sina.
O livro “Natal de Sabina” é uma explosão de amor e de cores, mas é também uma explosão de dor que acaba na apoteose do amor de Jesus. A poetisa espiritual Francisca Clotilde é autora do texto num mínimo de palavras que Chico Xavier recebeu psicografando. Laerte Agnelo responde pela capa. A diagramação e as ilustrações, Rubens Silvio Germiazi é o responsável pela arte e produção gráficas. O poema de apresentação, que foi lido há pouco e figura na orelha do volume, não tem assinatura individual, é do Grupo Espírita Emanuel.
“Natal de Sabina” não é somente um livro, é uma obra de arte. Toda uma equipe de artista reuniu-se em mutirão espiritual para produzir essa obra. É uma obra pioneira que marca um momento decisivo na evolução artística da bibliografia espírita. Nela se conjugam, segundo a técnica mais moderna, a expressividade do texto, da disposição gráfica, da diagramação e das ilustrações, formando um conjunto de beleza e significação espiritual jamais encontrado numa obra espírita. Um livro para ser lido e visto, contemplado e admirado, compreendido e sentido. A razão e a emoção nele se conjugam na mais plena estesia. Verifiquem, amigos, pois ele já deve estar nas livrarias.
No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emanuel. Transmissão número 112. Terceiro ano. Direção e participação do professor Herculano Pires.
Este programa é transmitido todas as semanas neste dia e neste horário pela Rádio Mulher de São Paulo 730 KHZ, pela Rádio Morada do Sol de Araraquara 640 KHZ e pela Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, Paraná, 780 KHZ. Todos os domingos este programa é reprisado pela Rádio Mulher de São Paulo das seis às sete da manhã com sugestões especiais para o seu domingo espiritual. A reprise domingueira é feita somente pela Rádio Mulher.
Chico Xavier na Revista Planeta.
A Editora Três da Revista Planeta comunicou-nos que por motivos de ordem técnica não foi possível a publicação da longa matéria de estudo sobre Chico Xavier e sua mediunidade, neste mês de maio. Essa matéria, que é fartamente ilustrada e que esclarece o problema do eletroencefalograma do médium à luz da psiquiatria e da parapsicologia, será publicada no mês de junho próximo.
É a primeira vez que uma publicação brasileira trata do caso Chico Xavier do ponto de vista científico. Não se trata de reportagem nem de entrevista, embora haja ambas as coisas no texto. Trata-se de estudo científico de Chico Xavier, localizado em seus ângulos mais difíceis, com auxílio dos conhecimentos mais recentes. Respondem por este estudo um parapsicólogo e um psiquiatra, ambos professores universitários.
Chico Xavier esteve hoje em São Paulo autografando seus últimos lançamentos na Casa Transitória da Federação Espírita, sábado. Mas hoje, domingo, Chico Xavier já está regressando para Uberaba. As perguntas a este programa devem ser feitas por carta ou telefone. As cartas devem ser dirigidas à Rádio Mulher programa No Limiar do Amanhã, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Os telefones são os seguintes: 269.4377 ou 269.6130 que estão à disposição dos ouvintes durante a semana no horário comercial. Cada primeira quarta-feira do mês venha ao nosso auditório, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo, às 20h30 para fazer suas perguntas ao microfone e ouvir as respostas na hora.
Perguntas e respostas no auditório. As respostas dadas à última pergunta que fizemos para a conquista da última coleção da “Revista Espírita” de Allan Kardec serão examinadas no próximo programa. Nos programas de auditório, nos limitamos às perguntas feitas na hora e não formulamos nenhuma pergunta aos ouvintes. Vamos passar às perguntas que os ouvintes presentes desejam fazer.
Nome e pergunta, por favor.
Pergunta nº 1: Espíritos em miniatura
Plateia - Neli Nani. Professor Herculano, eu gostaria que o senhor nos falasse alguma coisa, ou melhor, nos explicasse melhor a respeito de um capítulo do “Livro dos Espíritos”, da escala espírita onde ele fala sobre aqueles duendes e gnomos. Eu gostaria de saber por que razão eles se apresentam... são videntes que veem, né, professor?
J. Herculano Pires - Sim.
Plateia - Por que eles se apresentam assim miniaturizados como anõezinhos e tal, e se eles têm alguma relação com o reino vegetal, e por que razão?
J. Herculano Pires - A senhora vê no próprio dos “Livro dos Espíritos” a explicação porque os espíritos são uma das forças da natureza. Consequentemente, os espíritos trabalham na natureza. Para o espiritismo, portanto, há uma visão do mundo que (foi até muito bom a senhora levantar essa questão), uma visão do mundo que muitos espíritas não conhecem ainda. O mundo se apresenta como todo ele trabalhado pelos espíritos, não os espíritos humanos somente, mas também os espíritos ainda em avanço, em progressão para a humanidade. Então aquilo que se chamam duendes, gnomos, fadas e assim por diante são espíritos que em outras doutrinas, como na teosofia, por exemplo, são classificados como espíritos da natureza. Esses espíritos naturalmente não têm ainda uma forma bastante definida no plano humano, na sua relação com a humanidade. Eles estão caminhando para a humanidade, e naturalmente o seu aspecto varia ao infinito, porque eles procedem dos mais diversos ramos das espécies animais na Terra. Acontece, porém, que o problema da miniatura não quer dizer que essa seja a forma permanente, natural deles. Nós sabemos que as próprias criaturas humanas também podem se apresentar em forma de miniatura. Existem mesmo nos fenômenos de materializações as chamadas materializações em miniatura. O professor Ernesto Bozzano, por exemplo, um grande espírita e metapsiquista italiano, publicou um trabalho muito curioso, uma das suas monografias sobre este problema, o problema das materializações em miniatura, mostrando que as criaturas humanas, às vezes, de acordo, naturalmente, com as condições da sessão em que se manifestam, naturalmente essas condições dependendo da quantidade de ectoplasma de que eles podem dispor, ou por um motivo de outras vezes puramente pessoal da entidade manifestante, que quer apresentar, por assim dizer, um fenômeno mais curioso para os assistentes, muitas vezes eles se manifestam em forma de miniatura. De forma que não há, por assim dizer, uma razão específica para que os gnomos e outros espíritos que estão ainda em fase inferior na escala, não há uma razão específica para que eles se apresentem em forma de miniatura.
Plateia - Outros espíritos também poderiam então se apresentar da mesma forma, né?
J. Herculano Pires - E se apresentam realmente.
Plateia - Eu li qualquer coisa a respeito que eles teriam, serviriam de criados aos espíritos superiores, está aqui no “Livro dos Espíritos". E eles teriam alguma relação com este reino vegetal por alguma razão?
J. Herculano Pires - Sim. Nós já falamos aqui no início que os espíritos trabalham na natureza. Existem os espíritos que trabalham nos diversos reinos da natureza. Eles são os agentes da criação. Quer dizer, a criação, na sua estrutura e no seu desenvolvimento conta sempre com a inteligência aplicada diretamente a ela através dos espíritos.
Locutor - Mais alguma pergunta?
Plateia - Não. Muito obrigada.
Download Pergunta nº 2: Espíritos e natureza
Locutor - Nome, por favor, e a pergunta.
Plateia - Meire Camacho. Gostaria, professor, que o senhor desse uma explicação sua sobre levitação.
J. Herculano Pires - Eu gostaria antes de entrar na levitação lembrar ainda mais um aspecto muito curioso deste problema dos espíritos que estão em evolução para o reino humano. Nós sabemos... a senhora levantou um problema aí que é bastante importante para se esclarecer alguns aspectos. Nós sabemos que várias dessas correntes espiritualistas que postulam a existência dos espíritos da natureza como uma criação à parte, várias dessas correntes acusam o espiritismo de se restringir apenas ao plano humano, entendendo que nós só admitimos a existência de espíritos humanos. A verdade não é essa. O espiritismo admite a existência de numerosas correntes, numerosas formas, numerosos aspectos de espíritos como nós já vimos, porque de acordo com a doutrina espírita o universo se constitui de dois elementos fundamentais que são espírito e matéria tendo sobre eles o poder, a inteligência, a orientação do criador que é Deus. Então, no próprio “Livro dos Espíritos” nós encontramos a informação de que existe uma trindade universal que não corresponde absolutamente à trindade das religiões no sentido puramente humano com que as religiões apresentam. A trindade universal se constitui de Deus, espírito e matéria. Por qualquer parte onde nós formos na natureza em qualquer de suas dimensões em que nós pudermos nos localizar, nós encontraremos esses três elementos. Deus, como sabemos, é imanente na natureza. Então Deus está presente em toda parte, em todas as coisas. Existe o aspecto da imanência de Deus, a sua presença em tudo, em toda parte. Mas Deus, como ensina o “Livro dos Espíritos”, é transcendente à natureza. Então há os dois aspectos de Deus, imanente e transcendente. Como transcendente, ele é o criador, ele está acima da natureza, ele é, como diz o “Livro dos Espíritos”, o pintor que fez um quadro, o universo é o quadro, mas ele está presente no quadro pela sua inteligência, pelas suas leis, pela impregnação do seu amor na natureza. Ele está presente em todas as coisas. Vem daí a sua imanência. Assim, o espiritismo considera o universo de uma forma monista; ele não considera o universo fragmentário, dividido em vários aspectos e cada um se dirigindo por um determinado caminho. Não. O universo é, por assim dizer, global, total, ele é por assim dizer uma unidade. E justamente por isso o espiritismo não admite a criação fragmentada. Deus não criou os animais, as plantas, os homens, os anjos, os espíritos superiores como categorias diferentes umas das outras. Deus fez uma criação única, absoluta, que parte desde o princípio inteligente do universo que está imanente no reino natural, no reino mineral, a partir daí todo desenvolvimento do processo inteligente vai se processando por meio das várias formas de espíritos, das várias correntes de espíritos que vão surgindo na natureza. Desde aquilo que nós podemos chamar o espírito que dorme na pedra, segundo aquela bela expressão de Léon Denis, o espírito que dorme na pedra, o espírito que sonha no vegetal, o espírito que se agita no animal e o espírito que acorda no homem. É no homem que o espírito toma consciência de si mesmo e que, portanto, ele supera em muito os reinos inferiores da criação. Mas a escala espírita que se refere apenas ao plano humano, está no “Livro dos Espíritos”, essa escala também já nos mostra uma sequência bem invisível da evolução dos espíritos. Anterior à escala humana existe toda a escala que vem desde o mineral até o animal na mesma sequência. Há, portanto, uma continuidade perfeita. É aquilo que diz incessantemente o “Livro dos Espíritos” com a seguinte expressão: Tudo se encadeia na natureza.
Podemos agora passar à outra pergunta que a senhora tinha feito.
Download Pergunta nº 3: Levitação
Plateia - Professor, eu gostaria que o senhor me explicasse como se processa o fenômeno de levitação.
J. Herculano Pires - O fenômeno de levitação é produzido pelo ectoplasma, ou seja, pela emanação de fluidos do corpo do médium, fluidos que são materiais, orgânicos, emanados do próprio corpo orgânico do médium. Mas essa emanação é provocada pelos espíritos, ou pelo espírito que está produzindo os fenômenos. Então na sua ligação com o perispírito do médium, o espírito consegue fazer com que os fluidos materiais do médium se misturem com os fluidos espirituais dele, ou seja, do seu perispírito, do perispírito do médium, para produzir aquilo que na metapsíquica se chamou ectoplasma. O ectoplasma, como sabemos, pode emanar do corpo do médium em forma fluídica ou puramente vaporosa, em forma líquida, ou em forma assim de uma massa esbranquiçada, como é muito comum se ver nas experiências de materialização. Em forma fluídica o ectoplasma é invisível, então ele pode perfeitamente levitar um objeto, erguer um objeto no ar, e essa movimentação do objeto parece puramente misteriosa sem nenhum contato. Não obstante, há um contato invisível que é o contato do ectoplasma. Por exemplo, o professor [W. J.] Crawford, na Universidade de Belfast [Irlanda], ele fez uma série de experiências. Ele era catedrático em mecânica, justamente por isso ele se dedicou à pesquisa sobre a mecânica do ectoplasma. No Tratado de Metapsíquica do Richet, esse trabalho do Crawford aparece com todos os desenhos referentes às pesquisas que são muito interessantes. Ele mostrou então que existe uma verdadeira mecânica do ectoplasma para levitar o objeto. Uma das acusações que se fazia a este fenômeno era que ele contrariava a lei de gravidade. Crawford, nessas pesquisas, demonstrou cientificamente que ele não contraria a lei da gravidade, porque há uma força, e uma força que é em parte física, porque é a emanação do ectoplasma, e essa força levanta o objeto no ar. Para se ter uma ideia bem precisa disso, vamos dizer mais ou menos como Crawford observou aquilo que Richet chamou depois a alavanca de Crawford. Alavanca de Crawford é a alavanca de ectoplasma que sai do médium para levitar um objeto no ar, e esta alavanca pode ser registrada fotograficamente como pode também ser verificada através de instrumentos. Então Crawford colocava, por exemplo, o médium sobre uma balança, mas uma balança que automaticamente marcava, numa fita especial, a todo momento, o peso do médium, qualquer variação de peso a balança assinalava como numa máquina registradora. Então ele conseguiu ver coisas bastante interessantes, por exemplo: quando uma cadeira era levantada num ambiente, essa cadeira acusava um aumento de peso na balança. A cadeira pesava sobre o médium, aumentava o peso da balança e o peso do médium. Mas quando era levitado um piano, pelo contrário, o peso do médium diminuía espantosamente na balança. Então Crawford aplicou dispositivos especiais para isto e conseguiu colocar o piano sobre um tablado tendo um dispositivo de campainhas embaixo. No momento em que o piano era levitado no ar, a pressão do ectoplasma se fazia sobre o tablado e as campainhas disparavam, anunciando então que realmente estava havendo uma pressão sobre aquela taboa, sobre o tablado. E essa pressão sobre o tablado era a do ectoplasma que projetava o piano no ar. De maneira que as experiências científicas comprovaram a teoria espírita de que na realidade a levitação é produzida por uma emanação que sai do corpo do médium.
Locutor - Mais alguma pergunta?
Plateia - Não. Muito obrigado.
Download Pergunta nº 4: Espíritos obsessores
Locutor - Continuamos com nosso diálogo radiofônico. O nome da senhora e a pergunta.
Plateia - Eu queria perguntar ao professor por que têm pessoas, no caso, na minha família mesmo que quando entra na casa da gente, a gente fica tão perturbada o dia inteiro. Acontecem coisas... tudo acontece mal naquele dia, não dá mais nada certo. Como saber se eles estão perturbados com espíritos? O que pode ser?
J. Herculano Pires - É claro que neste terreno nós precisamos ter muito cuidado, porque às vezes nós nos impressionamos mal com algumas pessoas e tudo que nos acontece naquele dia, atribuímos a essas pessoas. Na verdade existem pessoas também que são acompanhadas por espíritos obsessores. Nós todos estamos sujeitos a isso, não é um privilégio de ninguém – privilégio no mal sentido! Nós todos estamos sujeitos a ter companhias indesejáveis, e essas companhias quando nós as temos, quando nós as carregamos, elas podem realmente perturbar um ambiente aonde nós cheguemos, elas carregam o ambiente, por assim dizer, de forças negativas que agem e perturbam o ambiente. Mas, como disse, é preciso termos muito cuidado para ver muitas vezes não somos nós que estamos criando apenas imaginativamente uma atitude contrária àquelas pessoas, das quais, por um motivo ou outro, não gostamos, ou contra as quais já temos algumas prevenções. Esse é um terreno bastante perigoso, mas podemos afirmar que realmente existem os casos de pessoas que, estando acompanhadas de espíritos inferiores, trazem perturbação para o ambiente em que se encontram. Em casos tais, o que nós temos de fazer é orar por essas pessoas, pedir a Deus, pedir a Jesus, aos bons espíritos a proteção para elas e o afastamento dessas entidades. Não maldizê-las, nem procurar espelhar, por exemplo, entre outras pessoas que aquelas criaturas trazem consigo uma força negativa. Porque na verdade essa força negativa não é permanente, ela é passageira e não atinge as pessoas que não estão sujeitas a elas.
Locutor - Mais alguma pergunta?
Download Pergunta nº 5: Distúrbio psíquico
Plateia - Eu queria saber... bem, é uma pessoa que manda perguntar... o esposo... ele... eu não sei... a mesma coisa: a gente gostaria de saber se uma doença mental, é uma atrapalhação. Ele faz coisas esquisitas, tudo escondido. Ele tem mania de esconder objetos, por exemplo. A faca fica escondida, aparece depois de muito tempo. Estranho muitas coisas quando não estão em casa, né? Ele sempre nega, diz que é mentira, que não fez. Ele é uma pessoa que trabalha e aparentemente ninguém diz que não é doente.
J. Herculano Pires - Sim, aí nesses casos a senhora diz que subtrai objetos, esconde. Plateia - Ele deixa desaparecer, esconde faca, e quando aparece, depois de um mês tento perguntar, aí aparece outra vez na gaveta. Não é nada de mistério, não. É a pessoa mesmo que age como menino irresponsável. E quando eu não estou em casa tem mania de podar as plantas, dar muda para os outros, sem ordem de ninguém, sabe? E quando eu vou falar com ele, ele diz que a gente é que está ficando louco.
J. Herculano Pires - Sim, isso aí é evidentemente é um desequilíbrio psíquico. São desequilíbrios de pessoas que sofrem dessas coisas. Por exemplo, a criptomania, que é muito conhecida, é a mania de esconder as coisas. Roubam as coisas aparentemente, escondem e uns conservam aquilo por muito tempo, outros devolvem depois de um certo tempo. Mas aí são pessoas que necessitam de um tratamento para ver se se consegue tirar delas esse desequilíbrio, restabelecer o equilíbrio espiritual.
Plateia - Tratamento espiritual?
J. Herculano Pires - É um desequilíbrio psíquico. Psíquico é referente ao nosso espírito. Então tanto pode ser um desequilíbrio psíquico próprio do indivíduo, como também pode ser uma atuação espiritual negativa sobre ele. Mas mesmo quando há essa atuação é porque já há a predisposição do espírito para isso.
Locutor - Mais alguma coisa?
Plateia: Não, obrigada.
Download Perguntas e respostas no auditório. Mais uma vez avisamos aos nossos ouvintes que as respostas dadas à última pergunta que fizemos para a conquista da coleção última da “Revista Espírita” de Allan Kardec serão examinadas no próximo programa. Nos programas de auditório, nos limitamos às perguntas feitas na hora e não formulamos nenhuma pergunta aos ouvintes. Vamos passar às perguntas dos nossos ouvintes. Por favor, o nome do senhor e a pergunta.
Pergunta nº 6: Espíritos usando nomes de outras pessoas
Locutor - Por favor, o nome do senhor e a pergunta.
Plateia - Sebastião Estevão. Professor, tem possibilidade de um espírito se comunicar usando o nome de outro espírito, de outra pessoa para atender, às vezes, uma vontade humana de uma pessoa?
J. Herculano Pires - O senhor sabe que eu estou aqui um pouco distante do senhor e ao mesmo tempo houve um barulho de motocicleta que me atrapalhou. Eu não pude ouvir direito a sua pergunta.
Plateia - Tem muitas possibilidades de um espírito se comunicar usando o nome de outra pessoa que viveu aqui na Terra? Às vezes para satisfazer a vontade de uma pessoa que quer se comunicar com um espírito.
J. Herculano Pires - Há muita facilidade para os espíritos de se apresentarem com o nome que quiserem, porque nós não podemos identificar um espírito pela sua aparência. Então ele se manifesta e diz: Eu sou fulano, ou sou ciclano. Por isso Kardec sempre recomendou o maior cuidado na identificação dos espíritos. Nós temos de identificar o espírito. Não basta o espírito dizer: Eu sou fulano. E nós aceitarmos. Se ele diz eu sou fulano, ele tem de provar que é. Ele vai provar como? Com os dados, com aquilo que ele disser, com as informações que ele der. Kardec acentua o seguinte: O espírito não traz ficha de identidade, mas ele traz a sua linguagem, ele traz as suas ideias, traz a sua personalidade que é manifestada através do médium. Se ele não der uma manifestação convincente, uma manifestação que de fato nos mostre a sua presença ali através daquilo que ele diz, das suas ideias, do seu comportamento, da sua maneira de ser, se ele não fizer isso nós não podemos aceitar que seja. Precisamos ter sempre muito cuidado porque há espíritos mistificadores em maior quantidade do que espíritos bons aqui ao nosso redor. Porque a Terra é um mundo inferior. Nós estamos então arrodeados não só de criaturas humanas bastante inferiores, mas também de espíritos inferiores. Precisamos ter cuidado com as mistificações espirituais da mesma maneira por que temos cuidado aqui na Terra com as mistificações humanas.
Download Pergunta nº 7: Schutel
Locutor - Mais alguma pergunta?
Plateia - Sabe por quê? Porque Cairbar Schutel, quando se comunicou, aquele médium que recebeu ele sabia a personalidade do espírito Cairbar, né?
J. Herculano Pires - Sim, o Médium sabia, conhecia a personalidade do Schutel. Mas acontece que esse médium – eu trabalhei com ele, conheci bastante, ele já faleceu –, este médium tinha uma qualidade excepcional: ele, quando recebia um espírito, se o senhor conhecesse o espírito, não precisava pedir identidade, porque ele tinha a mediunidade de transfiguração e ele falava com a própria voz, com a própria maneira de falar do espírito. A sua fisionomia mostrava os traços do espírito e, além disso, Schutel deu, naquele momento, como deu posteriormente em várias comunicações, elementos de que o próprio médium não tinha conhecimento. Quer dizer, a identificação de Schutel não deixou dúvida. E ao mesmo tempo ele se manifestou na Inglaterra através de uma materialização que foi verificada em Londres numa Sociedade de Estudos Psíquicos com a presença do nosso confrade português que residia na Inglaterra e que era o representante da Revista Internacional de Espiritismo lá e que descreveu com toda precisão a manifestação de Schutel, vestido com aquele terno de linho branco com o qual ele costumava andar sempre, e identificando-se perfeitamente lá, nessa manifestação em Londres. De maneira que os próprios fatos aí, não só o fato da manifestação do Schutel no momento era uma comprovação visível, como ainda teve esse adendo vindo do exterior.
Locutor - Mais alguma coisa? Plateia - Muito obrigado.
J. Herculano Pires - De nada.
Locutor - Continuamos com nosso diálogo radiofônico. Nome, por favor, e pergunta.
Download Pergunta nº 8: Passagem da amizade através das encarnações
Plateia - Ana Morsa Portela. Professor, eu ontem ouvi de um tio meu que não é da doutrina espírita, contou assim uma coisa curiosa. Ele esteve há seis anos passados em Portugal. Ele é português, mas teve sessenta anos aqui, mas voltou seis anos atrás a passeio a Portugal. Chegando lá, vizinho de uns primos dele, ele conheceu um senhor. Assim de momento, sentiu muita simpatia por ele e o amigo também, o moço vizinho também. Mas ficaram amigos de repente. Então ele contando ontem eu falei: vocês devem ter sido irmãos na outra encarnação ou mesmo amigos. Ele, como não é da doutrina espírita, ele achou que foi apenas uma simpatia. Então eu gostaria, como o senhor é mais capacitado, que o senhor explicasse se é mesmo isso, que eles devem ter sido irmãos ou amigo noutra encarnação.
J. Herculano Pires - Nós encontramos essa explicação a respeito da doutrina espírita no próprio “Livro dos Espíritos”, no “Evangelho Segundo o Espiritismo” também há informações a respeito disso. Há duas formas pelas quais nós podemos nos sintonizar com uma pessoa a ponto de parecer que a conhecemos no passado. Uma é o próprio conhecimento anterior, a convivência numa vida anterior. Outra é a afinidade. Se nós nos afinamos com aquele espírito pelos sentimentos, pelos pensamentos, pela maneira de ser, se há, por assim dizer, uma posição bastante semelhante, uma posição espiritual bastante semelhante entre mim e essa pessoa, então eu posso até me iludir pensando que numa outra encarnação vivemos juntos, e podemos não ter vivido. Então a lei de afinidade funciona neste momento de maneira impressionante, porque os espíritos se sintonizam, e uma vez sintonizados eles são como se fossem velhos conhecidos. Então não podemos afirmar precisamente que tenham sido irmãos ou parentes na outra encarnação. Pode ser um caso de afinidade espiritual.
Download Pergunta nº 9: Passagem da amizade através das encarnações
Plateia - Além de tudo, ele até queria emprestar dinheiro ao meu tio para que ficasse de novo em Portugal, para que comprasse terra lá e construísse e ficasse morando em Portugal. Tanto assim a amizade tão grande que houve entre eles em tão pouco tempo.
J. Herculano Pires - Pode ser. Quer dizer, como eu estou dizendo à senhora, nós não podemos afirmar uma coisa nem outra, porque mesmo no tocante à afinidade, quando a afinidade é muito grande, a pessoa realmente sente como se fosse um verdadeiro irmão. São espíritos irmãos no ponto de vista da evolução. Espíritos que fizeram caminhos evolutivos semelhantes e atingem um ponto igual e que se sintonizam tão perfeitamente como se fossem irmãos.
Locutor - Mais alguma coisa?
Plateia - Não. Muito obrigado.
Download Pergunta nº 10: Transfigurações
Locutor - Nome, por favor, e a pergunta.
Plateia - Isabel Camacho. Professor, o senhor falou agora há pouco da parte de transfiguração na parte mediúnica. Eu queria uma explicação sobre isso, se é possível.
J. Herculano Pires - Sim. Os médiuns de transfiguração são médiuns que, ao receber o espírito, eles modificam a própria fisionomia tornando-se parecidos com aquele espírito que está se manifestando quando em vida, semelhante à fisionomia da pessoa quando a pessoa estava viva. Mas há também a transfiguração vocal, da voz, o médium pode passar a ter a voz exatamente igual do espírito quando vivo. Então ele fala com a própria voz do espírito. A transfiguração pode se dar de várias maneiras. Ou ela se dá por uma modificação das contrações musculares do rosto da pessoa, dando impressão de que realmente é aquela outra pessoa que está falando; por uma modificação das cordas vocais para que ela dê aquela pronúncia, naturalmente sob a pressão, sob a ação do espírito; ou então há uma transfiguração por meio do ectoplasma. Neste caso tem havido experiências curiosas em que chega a se ver duas máscaras. Quer dizer, na frente do médium aparece a máscara do espírito, o rosto do espírito comunicante, e por trás deste rosto a gente percebe o rosto do médium. Então essa é uma transfiguração ectoplásmica. Por exemplo, com esse médium doutor Urbano de Assis Xavier que eu falei, numa das comunicações ocorridas com Cairbar Schutel na presença do Carlos Imbassahy, aquele grande espírita de Niterói, grande pesquisador, o Imbassahy teve a ocasião de ver o rosto do Schutel inclusive com o cavanhaque que o Urbano não tinha, quer dizer, foi perfeita a transfiguração. É isto a transfiguração: é transfigurar o rosto da criatura, semelhar-se a do espírito que está se manifestando.
Locutor - Mais alguma pergunta?
Download Pergunta nº 11: Aura
Plateia - Qual é o tempo que se apresenta a aura do espírito?
J. Herculano Pires - A aura do espírito?
Plateia - É.
J. Herculano Pires - A senhora diz do espírito encarnado?
Plateia - Encarnado.
J. Herculano Pires - Porque... Não do espírito comunicante?
Plateia - Não.
J. Herculano Pires - Porque a aura do espírito é uma irradiação do próprio perispírito que os médiuns videntes veem. Essa aura é, por assim dizer, uma luz que sai rompendo a estrutura do corpo, rodeando a criatura. É a aura humana das pessoas. É uma irradiação do corpo. A aura está presente constantemente; depende de a pessoa ter capacidade para vê-la. Aliás, o problema da aura é bom explicar melhor no tocante a essa irradiação. Eu terminei dizendo aí que era irradiação do corpo. Não. Quer dizer, através do próprio corpo; a irradiação do próprio perispírito. Nós sabemos que o perispírito é um corpo energético, é um corpo que não se constitui de matéria densa como o nosso corpo humano, mas segundo explica o espiritismo, o perispírito se constitui de matéria e espírito. Ele é, portanto, um corpo semimaterial. Apenas matéria numa condição mais rarefeita, mais sutil do que a matéria do nosso corpo. Ora, justamente por isso este perispírito energético consegue emitir irradiações que transparecem em torno do nosso corpo. Isto forma aquilo que chamamos aura. Sabemos que atualmente a ciência, principalmente lá na Rússia, a ciência soviética, precisamente a ciência materialista, tem feito várias investigações sobre isso. Há mesmo um ramo científico que se chama efluviografia em que se tiram fotografias de irradiações de plantas, de animais, de objetos e da criatura humana. E essas fotografias têm sido feitas e têm sido publicadas e divulgadas. Não faz muito tempo esteve aqui um parapsicólogo aí de Belo Horizonte fazendo explanações num programa de televisão e dizendo que ele apresentava fotografias da alma, mas o que ele apresentava não eram fotografias da alma, eram fotografias de irradiação da aura. Quer dizer, a aura nós não podemos dizer que seja a alma. A fotografia da alma os cientistas soviéticos tiraram quando obtiveram a fotografia do próprio corpo energético do homem, do perispírito, que eles chamaram de corpo bioplástico. Aí sim era a fotografia da alma. Mas essas fotografias que ele mostrou aí são efluviografia, fotografias apenas dos eflúvios que transparecem do corpo humano e que podem ser fotografados.
Download As perguntas a este programa podem ser feitas por carta ou telefone. As cartas podem ser dirigidas à Rádio Mulher, programa No Limiar do Amanhã, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Os telefones são os seguintes: 269-4377 ou 269-6130 que estão à disposição dos ouvintes durante a semana no horário comercial. Cada primeira quarta-feira do mês venha ao nosso auditório, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo, às 20h30 para fazer suas perguntas ao microfone e ouvir as respostas na hora. Não temos a intenção de fazer conversões, não somos pregadores, somos expositores. Queremos apenas manter em debate os problemas fundamentais da vida e da morte. Queremos a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade. E se você provar que está com a verdade, ficaremos com você.
O Evangelho do Cristo em espírito e verdade, não segundo a letra que mata, mas segundo o espírito que vivifica. Aberto o evangelho pela nossa ouvinte, a menina Miriam da Silva Blanco Osório, encontramos em Atos no capítulo 25 do versículo 01 ao 12 a seguinte passagem: Tendo, pois entrado Festo na província depois de três dias subiu de Cesareia a Jerusalém, e os principais sacerdotes e os mais eminentes judeus deram informações contra Paulo, e em detrimento dele pediram a Festo um favor, que o mandassem vir a Jerusalém armando-lhe uma cilada para o matarem no caminho. Festo, porém, respondeu que Paulo estava detido em Cesareia. Portanto, disse ele, os que entre vós tem prestígio, desçam comigo, e se há naquele homem algum crime acusem-no. Tendo-se demorado entre eles cerca de oito ou dez dias desceram a Cesareia e no dia seguinte, sentando-se no tribunal, mandou trazer a Paulo. Comparecendo este, rodearam-no os judeus, que tinham descido de Jerusalém, trazendo contra ele muitas e graves acusações que não podiam provar. Então Paulo defendendo-se disse: Não tenho pecado em coisa alguma, nem contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César. Festo, querendo alcançar o favor dos judeus, perguntou a Paulo: Queres subir a Jerusalém e ser aí julgado por estas coisas perante mim? Mas Paulo respondeu: Estou perante o tribunal de César onde devo ser julgado. Não tenho feito mal algum aos judeus, como tu bem sabes. Se, pois, sou malfeitor e tenho praticado alguma coisa que mereça a morte, não me recuso morrer. Mas se não são verdadeiras as coisas de que me acusam, ninguém pode me acusar-me entre eles. Apelo para César. Então Festo tendo conferenciado com o conselho respondeu: Para César apelaste, a César virás.
J. Herculano Pires - Este episódio do livro de Atos dos apóstolos é bastante significativo, porque nos mostra que o destino das criaturas humanas não é determinado pela vontade dos homens, mas sim pelas decisões do alto. Se o apóstolo Paulo naquele momento, ele que estava preso em Cesareia, fosse entregue aos judeus, o apóstolo Paulo seria morto, porque tudo estava preparado, organizado para matá-lo. E Festo viu que não tinha possibilidade de evitar isso. Entretanto, Paulo apelou para César, e ao apelar para César ele dispunha de um direito que só ele possuía como prisioneiro naquele momento. Porque ele era cidadão romano. Paulo, como sabemos, tendo nascido e crescido em Tarso se fizera, entretanto, cidadão romano. Não era apenas judeu, ele era um cidadão do império, e o cidadão romano não podia ser condenado, quando apelava para César, não podia ser condenado fora de César, longe de César; tinha de ser ouvido, tinha o direito de ser ouvido por César. Apelando para César, Paulo então evitou que fosse entregue aos romanos e com isso escapava do plano, de todas as artimanhas preparadas para realmente extinguirem a sua vida da maneira por que pretendiam. Podemos pensar numa defesa pessoal de Paulo, numa maneira que ele escapou, de que ele encontrou para escapar à sanha dos judeus naquele momento. E podemos então interpretar até mesmo que ele agiu mal como muitos dos seus contemporâneos, e particularmente dos seus concidadãos, os judeus realmente pensaram e o acusaram. Apelar para César naquele momento em que a Judeia estava sob o jugo de Roma e em que os judeus, como sabemos, tinham várias organizações através das quais lutavam para adquirir de novo a sua independência, apelar para César naquele momento era quase uma capitulação ou uma traição. Era uma traição aos interesses do povo romano, do povo judeu. Entretanto, Paulo não vacilou em apelar para César. Por quê? Porque ele tinha diante dele uma causa muito maior do que a simples causa nacional do povo judeu. Essa causa nacional seria resolvida mais tarde. Havia muitos caminhos para ela encontrar a sua verdadeira solução. Paulo apelou para César porque ele tinha na verdade uma grande missão a cumprir, uma grande missão a cumprir em Roma, a cumprir no mundo gentio, a cumprir principalmente perante o império romano. Ele era o emissário de Cristo, aquele emissário que Cristo foi buscar na estrada de Damasco, como sabemos, através de um processo que nos mostra o interesse que Paulo representava para o cristianismo. Na sua fase inicial o cristianismo esteve muitas deturpações. E nós sabemos que apesar da presença de Paulo nesse cristianismo primitivo, as deturpações se processaram. Se não fosse a presença de Paulo, essas deturpações poderiam aniquilar o cristianismo. Por quê? A própria leitura do livro de atos nos mostra que os apóstolos de Jesus na sua simplicidade, na sua pureza de homens voltados mais para o trabalho grosseiro do que de homens ilustrados, intelectuais, preparados para enfrentar as artimanhas legais do tempo, os apóstolos de Jesus na sua maioria não estavam capacitados para enfrentar a luta que se processava entre o judaísmo e o cristianismo. Podemos ver várias vezes no livro de Atos as referências a Paulo acusando os apóstolos judaizantes, os discípulos judaizantes de Jesus. Quer dizer, os discípulos de Jesus que não compreendiam que o cristianismo era uma religião nova; que embora nascido das entranhas do judaísmo, ele trazia uma mensagem mais poderosa e mais fecunda. Ele era um desenvolvimento do judaísmo num sentido muito mais amplo do que o próprio judaísmo poderia sonhar. E justamente por isso ele não poderia ser transformado numa seita judaica como queriam muitos dos apóstolos de Jesus, inclusive o apóstolo Pedro. Há aquele momento dramático no livro de Atos quando vemos o apóstolo Paulo dizer: Eu enfrentei a Pedro na cara. Por que ele enfrentou a Pedro na cara? Porque Pedro, judeu, criado dentro do judaísmo, submetido às leis judaicas, Pedro não entendia absolutamente como poderia um indivíduo pagão, pertencente, portanto, a uma religião estranha que os judeus consideravam impura, podia esse indivíduo entrar para o cristianismo sem ter passado pelo judaísmo. Então Pedro queria, como a maioria dos apóstolos, que o indivíduo ao se tornar cristão, primeiro se fizesse judeu, se submetesse inclusive à circuncisão para poder então encaminhar-se para o cristianismo. Paulo compreendeu que o cristianismo não poderia ser uma seita do judaísmo. O cristianismo tinha uma mensagem universal; ele vinha para renovar o mundo, para transformar a Terra. Ele tinha de abrir um ciclo novo da evolução terrena. E Jesus se reencarnara, Jesus viera à Terra pela primeira vez, é verdade na encarnação terrena, mas se reencarnara no sentido de que além das encarnações que ele já tivera em outros mundos no desenvolvimento espiritual, ele vinha se encarnar abnegadamente aqui na Terra num gesto da mais alta abnegação para poder igualar-se com os homens, e poder nessa encarnação transmitir a própria carne humana, a humanidade terrena encarnada, um impulso de evolução maior que a carne deveria sofrer para que o homem passasse de um ciclo a outro na escalada evolutiva. Ora, sabendo de tudo isso, Paulo compreendia a importância, a grandeza, a extensão do cristianismo, a sua significação profunda que os outros apóstolos não haviam conseguido. Naquele momento em Cesareia os judeus estavam querendo interromper o processo cristão, aniquilando Paulo. E estavam querendo frustrar a providência do Cristo que fora pegar o apóstolo Paulo, como sabemos, na estrada de Damasco quando ele perseguia os cristãos para trazê-los dentro do cristianismo. Era uma tentativa de frustração. A própria providência de Jesus, a própria medida tomada pelo Cristo para salvar o cristianismo naquela hora grave do mundo, seria aniquilada se Paulo morresse. Então compreendemos a grandeza de Paulo. Ele não apelou apenas em defesa pessoal, para salvar-se a si mesmo, pois ele que fora doutor da lei, ele que fora soberano em Jerusalém, ele que tinha às suas ordens todas as forças judaicas na cidade santa, ele que podia, como vimos, entrar em igrejas cristãs e destruí-las a hora que quisesse, ele abandonou tudo isso para ouvir a palavra do Cristo e aceitar seu evangelho. Então, ele não teria naturalmente receio de ser destruído, aniquilado pelos judeus a qualquer momento. Disso ele deu prova posteriormente em Roma quando ao terminar seu trabalho, ele foi condenado à decapitação. E quando, segundo vemos, na bela descrição que Emmanuel nos dá em “Paulo e Estevão”, este livro grandioso que nos traz toda a história de Paulo na sua profundidade espiritual, ele dá um exemplo de desprendimento extraordinário quando ele mesmo diz para o comandante romano que devia cortar-lhe a cabeça: cumpra o seu dever. Ele não tinha medo de morrer. O que ele não queria naquele momento em que apelou a César era sacrificar o cristianismo nascente entregando a uma cilada dos judeus. Ele tinha que superar essa cilada. Por isso ele apelou a César, enfrentando inclusive a acusação de traição que os judeus lhe fariam. Não importava absolutamente a ele naquele momento essa acusação de traição. Por quê? Porque era preferível trair os judeus que pretendiam matá-lo, que não compreendiam o Cristo, que haviam rejeitado o próprio Cristo, do que trair o Cristo. Ele não podia trair o Cristo. E neste momento, para não trair o Cristo, ele só tinha uma saída: apelar a César. O seu apelo foi ouvido, porque Festo absolutamente não podia deixar de ouvir. De acordo com as leis do império, se Festo se recusasse a atender o pedido de Paulo, ele cometeria uma infração. Paulo, como cidadão romano, tinha todos os direitos que os estatutos de Roma asseguravam aos cidadãos do império, e justamente por isso ele saiu por essa tangente. Teve então que ser enviado a Roma. A morte que os judeus queriam dar no caminho de Cesareia a Jerusalém distanciou-se no tempo, atravessou o oceano, foi projetar-se aos arredores de Roma. E só realmente essa morte ocorreu depois que Paulo cumpriu a sua missão, chegou a completar todo seu trabalho, toda sua tarefa de semeadura do cristianismo e de dar ao cristianismo a envergadura extraordinária que as suas epístolas e os seus ensinos, o seu exemplo e a sua palavra vigorosa deram. Na verdade até hoje os historiadores do cristianismo costumam dizer que há o cristianismo do Cristo e o cristianismo de Paulo. Por quê? Porque a maioria desses historiadores também não se encontra à altura da compreensão do processo histórico que então se realizou. Não podendo compreender que o cristianismo de Paulo é o verdadeiro cristianismo do Cristo, eles confundem os falsos aspectos do cristianismo igrejeiro que se propalou pelo mundo num processo de sincretismo religioso misturando as religiões pagãs e a religião judaica aos princípios cristãos para apresentar uma caricatura do cristianismo que dominou o mundo durante todo o tempo em que o mundo não foi capaz de compreender a essência do evangelho. Mas Paulo sempre esteve presente nesse processo. As suas epístolas aí estão, a sua palavra vigorosa permaneceu e o seu exemplo também. E ele Paulo ressurgiria agora na era espírita, no momento da ressurreição do evangelho de Jesus segundo a promessa do consolador, Paulo ressurgiria, como nós vemos, através de muitos dos seus ensinos, particularmente naqueles que fulguram na primeira epístola aos coríntios, onde nós vemos Paulo assumir atitudes de um verdadeiro espírita, muito anterior ao advento do espiritismo, ensinando a necessidade das manifestações espíritas no culto cristão e revelando na sua epístola como, de que maneira os apóstolos naquele tempo faziam as suas sessões espíritas para se comunicarem com o mundo espiritual. É nesse sentido que nós devemos compreender, segundo me parece, esse tópico do livro de Atos que hoje nos caiu aqui pelas mãos desta menina que veio participar do programa. O programa No Limiar do Amanhã é transmitido todas as semanas neste dia e neste horário pela Rádio Mulher de São Paulo, pela Rádio Morada do Sol de Araraquara e pela Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, estado do Paraná.
No Limiar do Amanhã: tragada foi a morte na vitória.
