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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

 

No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.

 

Glória a Deus nas alturas e paz na Terra entre os homens de boa vontade.

 

Primavera no Brasil, inverno na Europa, e na Ásia. O mundo antigo estava morto e frio quando Jesus nasceu. Mas no Brasil, as florestas ardiam ao sol primaveril. A natureza em flor anunciava a nova aurora do mundo. Compadecido da velha civilização que morria, Jesus nasceu como um sol espiritual que deveria triunfar da morte. Com ele, uma nova civilização alvorecia no horizonte do mundo, e o Brasil se preparava para recebê-la e desenvolvê-la.

 

Agora amigos, estamos no limiar do amanhã, a árvore do Evangelho açoitada pela ambição e pela loucura do velho mundo, estraçalhada no furor das guerras, esmagada pela brutalidade dos bombardeios fratricidas, foi transplantada para o coração do mundo. O consolador, prometido por Jesus, fixou-se na nova pátria do Evangelho. A árvore do Natal se acende em frutos de luz para saciar a fome espiritual da Terra.

 

Por todo Brasil, nessas vésperas de Natal, as instituições espíritas se desdobraram no atendimento das famílias necessitadas levando alimento, roupa e agasalho aos barracos e as choupanas dos que nada possuem. Mas o Natal espírita é permanente, porque permanente é a necessidade humana. Durante cada ano, do primeiro ao derradeiro dia, as instituições assistenciais socorrem aos pobres atendendo suas necessidades corporais e espirituais.

 

O Natal espírita não é feito de banquetes egoístas. Só podemos homenagear o Cristo cumprindo seus preceitos de amor e caridade. A esmola não resolve, dizem os céticos, mas não se pode abandonar o próximo na penúria a pretextos de soluções futuras. É preciso socorrer com urgência a necessidade urgente. Se alguém se afoga num rio temos que tirar das águas. Ou deveríamos esperar que as águas baixassem por si mesmas? Enquanto a justiça social não se estabelece no mundo é necessário que o amor do bom samaritano espalhe as bênçãos da caridade entre os homens. A justiça virá a seu tempo, mas só será eficaz se for socorrida pelo amor e se realmente se fizer por amor.

 

No Limiar do Amanhã: um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emmanuel. Transmissão número 93. Segundo ano. Direção e participação do professor Herculano Pires.

 

Este programa é transmitido todas as semanas neste dia e neste horário pela Rádio Mulher de São Paulo 730kz, pela Rádio Morada do Sol de Araraquara 640kz, e pela Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, Paraná, 780kz. Todas as semanas neste dia e neste horário.

 

Um presente de Natal.

 

O grupo espírita de estudos pedagógicos formado de professores espíritas oferece neste ano um presente de Natal aos espíritas de todo o Brasil: um número de Natal da Revista Educação Espírita que já se encontra nas livrarias. A Revista Educação Espírita não se destina apenas a professores, mas a todas as pessoas interessadas em problemas espíritas, até mesmo para as crianças, há uma sessão de poesias do famoso poeta das crianças Valter Niedel de Freitas.

 

Amigos ouvintes ajudem-nos a divulgar a Revista Educação Espírita, uma publicação única no mundo, passo avançado do Brasil nos rumos de um mundo melhor. Nas páginas deste número de Natal da Revista Educação Espírita você encontrará a descrição de como Jesus foi educado; um longo e maravilhoso poema de Guerra Junqueiro sobre a infância de Jesus; uma explicação do Natal à luz do espiritismo; a lenda da poética das roseiras que nasceram no caminho de Jesus para o Egito; um relato de como nasceu e se desenvolveu a educação cristã; um estudo minucioso e curioso da didática de Allan Kardec, e muitos outros artigos de interesse geral.

 

Adquira para você e para presentear os seus amigos os exemplares da Revista Educação Espírita na livraria da Federação Espírita ou na livraria Edicel que fica bem em frente à Federação. Ajude os professores espíritas a cuidarem das gerações futuras. É pela educação que reformaremos o mundo, escreveu Kardec. Pedagogos e professores não espíritas estão colaborando com a Revista Educação Espírita por reconhecerem o seu valor. Não negue você, que é espírita, a sua colaboração.

 

Faça suas perguntas por carta ao programa no limiar do amanhã, Rua Granja Julieta, 205, travessa da Avenida Santo Amaro em São Paulo. Faça perguntas, não relatórios. Durante a semana no horário comercial faça suas perguntas pelos telefones: 269-4377 ou 269-6130. Aguarde as respostas pela Rádio Mulher em São Paulo 730kz, pela Rádio Morada do Sol em Araraquara 640kz, e pela Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, Estado do Paraná, 780kz. Neste dia e neste horário todas as semanas.

 

Perguntas e respostas.

 

Pergunta nº 1: Mito e lenda

 

Locutora - Professor, pergunta o ouvinte Mário Ornelas da Rua Loefgreen, Vila Mariana. Primeira: o nascimento de Jesus na manjedoura não é uma lenda?

 

J. Herculano Pires - A lenda é um mito e o mito é a característica de toda civilização greco-romana e judaica em que Jesus nasceu. De maneira que é fácil nós separarmos no Evangelho aquilo que é lenda daquilo que não o é.

 

A lenda está sempre ligada ao contexto mitológico daqueles tempos. Quando não há essa conotação com a mitologia, nós temos que verificar se o fato relatado se entrosaria, por exemplo, no sistema histórico vigente, no processo histórico daquele tempo. E se isso se der, nós não estamos diante de uma lenda. É o que podemos ver na questão da manjedoura. O nascimento de Jesus numa manjedoura está perfeitamente dentro das condições da época, dos costumes vigentes, daquilo que a história nos mostra a respeito da Palestina daquele tempo. Sabemos que o inverno na Palestina sempre foi e é bastante rigoroso. Então em toda Ásia, não apenas na Palestina, há o costume de se construir os estábulos pegados à casa, os chamados estábulos de inverno. Estes estábulos, quando possível, são feitos mesmo numa gruta, como se diz que foi o caso de Jesus.

 

Acontece que, recolheram-se ali os animais domésticos naquele estábulo para que eles não sejam castigados pelo rigor do frio, esses animais, que exsudam e transmitem um calor bastante forte, conseguem aquecer o ambiente. Ora, numa terra em que pela pobreza, pela falta de recursos, os meios de aquecimentos internos eram difíceis, era muito usado aproveitar-se o aquecimento natural produzido pelo calor dos animais domésticos. Assim, as pessoas que não dispunham de condições dentro da casa para se livrarem dos rigores do inverno, iam dormir no estábulo.

 

Podemos ver mesmo em certas figuras representativas hoje em dia do que foi o nascimento de Jesus na manjedoura que há uma divisão entre o lugar em que estão os animais domésticos – os bois, as vacas – e aquele lugar em que está a manjedoura onde nasceu Jesus. Ora, essa divisão era natural por dois motivos: primeiro, para facilitar a alimentação dos animais, como se costuma fazer nos estábulos até hoje mesmo; e segundo, porque essa divisão facilitava o uso do resto do estábulo pelas pessoas que deviam ali dormir.

 

Assim, nós não temos motivo nenhum, não temos nenhuma razão para considerar que o nascimento de Jesus num estábulo, a sua colocação por Maria na manjedoura como se fosse num berço fosse uma lenda. Não temos nenhuma razão para isso. Este fato se enquadra perfeitamente nos costumes da época.

 

Download Pergunta nº 2: Emmanuel ou Jesus

 

Locutora - Segunda pergunta: por que lhe deram o nome de Jesus, se Isaías havia profetizado que ele se chamaria Emanuel?

 

J. Herculano Pires - Sim, realmente nós vemos na própria escritura judaica que o profeta Isaias deu o nome de Emanuel ao messias que devia nascer. Entretanto, no evangelho de Mateus, nós encontramos uma razão muito forte para que o nome de Jesus fosse mudado.

 

Nós podemos considerar que devia ter alguma alteração semântica no nome, na palavra – essas alterações que ocorrem nas palavras com o tempo –, porque no tempo de Isaias até o tempo de Jesus vai o espaço temporal necessário para que muitas palavras se modifiquem e para que outros nomes próprios percam a sua usança e passem outros a substituí-los. Parece ter havido isso no caso dos nomes Emanuel e Jesus, porque, segundo o próprio Mateus explica no Evangelho, o nome Emanuel quer dizer Deus conosco, mas o nome Jesus quer dizer salvador do fogo ou salvação do fogo.

 

Alguns filólogos explicam mesmo que este nome Jesus e Exu em hebraico queria dizer simplesmente Iavé salva, quer dizer, Deus salva. De qualquer maneira, há uma conotação perfeita de substância entre os dois nome: Emanuel e Jesus.

 

Mas o fato mais significativo que consta do próprio evangelho de Mateus é que José, São José, o pai carnal de Jesus teve um sonho, e foi neste sonho em que lhe apareceu um anjo prevendo o advento de Jesus, anunciando seu nascimento próximo e dizendo a ele que deveria por no menino o nome de Jesus, porque ele vinha salvar o fogo.

 

Assim, de qualquer maneira, mesmo que não levássemos em conta as possíveis transformações semânticas ou transformações do sentido das palavras, modificações mesmo da usança de nomes, nós teríamos este fato bastante importante, bastante significativo que seria, por assim dizer, uma mudança de orientação na profecia de Isaias, porque um anjo do senhor, ou seja, um espírito superior, apareceu a José e lhe ordenou que desse o nome de Jesus e não o nome de Emanuel.

 

Download Pergunta nº 3: Reis magos

 

Locutor - A ouvinte Maria Angelina Guerreiro, da Rua Treze de Outubro, na Lapa, pergunta: de que nações do oriente os magos eram reis?

 

J. Herculano Pires - Essa pergunta é realmente interessante. A tradição popular estabeleceu que os magos que visitaram Jesus eram reis. Reis de nações do oriente. Reis magos. E que vieram carregados de tesouros, de joias para oferecer a Jesus.

 

Isto consta da tradição popular, mas não consta de nenhum texto escrito. No evangelho de Mateus, por exemplo, nós verificamos que ele diz apenas: “Vieram uns magos do oriente”. A tradição popular resolveu dizer que estes magos eram em número de três e deu-lhes os nomes, como sabemos, os nomes respectivos a cada um deles.

 

Entretanto, tudo isso é pura tradição popular. Vem, portanto, no campo da lenda, no campo das hipóteses, das criações populares, tão ao gosto de todos os povos.

 

A verdade, portanto, que nós podemos tomar como exata, a que consta do evangelho de Mateus e não foi contestada historicamente por ninguém, é a de que os magos vieram do oriente para visitar Jesus, mas se eles eram reis ou não, isso não podemos saber.

 

E na verdade, se nós seguirmos a orientação que vem historicamente daquele tempo, mostrando que os magos eram pessoas muito importantes na época, fossem eles reis ou não, porque eles eram os sábios da época, então nós compreenderemos que pouco importa a designação de reis.

 

Acompanhando a tradição popular, não há motivo nenhum para nós rejeitarmos o nome de reis para eles. Se não eram reis terrenos, eram reis do saber, eram reis da inteligência, eram reis da cultura, e, de certa maneira, reis espirituais porque tiveram o aviso da presença do nascimento de Jesus e foram guiados até a manjedoura onde Jesus se encontrava.

 

Download Pergunta nº 4: Oferta do reis magos

 

Locutor - O que significa a oferta do ouro, incenso e mirra que eles fizeram ao menino Jesus?

 

J. Herculano Pires - Esta oferta de ouro, incenso e mirra, e é precisamente essa ordem em que as ofertas aparecem no texto do evangelho de são Mateus, esta oferta vem de certa maneira desmentir a tradição popular quando fala dos tesouros que os magos teriam trazido com eles.

 

Pelo que nós vemos aqui, o único tesouro possível seria o da primeira oferta, que seria o ouro. Mas ninguém disse que quantidade de ouro foi dada, que quantidade foi trazida pelo mago que ofereceu o ouro. Quanto ao incenso e a mirra são coisas de pouco valor, e eram mesmo nesse tempo de valor reduzido porque não tinham absolutamente a mesma significação comercial que tem o ouro.

 

Pois bem, entretanto, existe nisso tudo uma simbologia bastante significativa, bastante importante que nós temos de considerar com muita atenção. Diz-se em geral que essa visita dos magos foi também uma lenda. Nada mais do que lenda. Mas seria mesmo lenda? Porque naquele tempo os magos eram os indivíduos que possuíam a mais elevada cultura da época. Eles conheciam a ciência oculta da astrologia, por isso mesmo eram chamados magos. Não são magos no sentido atual da palavra, mágicos ou pessoas que fazem certas habilidades manuais. Não. São magos no sentido mesmo de intérpretes da magia natural das coisas. Conhecedores, portanto, dos segredos da natureza.

 

Ora, estes magos, vindo visitar Jesus, eles trouxeram essas ofertas e deram a elas, de acordo com o que nós vemos no texto de Mateus, um sentido, uma significação que ressalta aos nossos olhos.

 

Podemos dizer que eles interpretaram em três elementos, em três formas de oferta, toda vida, todo destino do menino que estava nascendo.

 

Primeiro temos o ouro. O ouro que é o símbolo da riqueza e do poder na Terra. Sabemos que o ouro até hoje é o fundo sobre o qual repousam todos os valores das moedas de todo mundo. Pois bem, ao ofertar o ouro, os magos estavam mostrando que aquele menino, nascido na pobreza, na miséria, inocentemente, aquele menino que parecia desprovido de qualquer poder temporal, ia ser tentado pelo ouro do tempo. Sim, as riquezas do mundo lhe seriam oferecidas em troca dos seus poderes espirituais.

 

Mas, em seguida vem o incenso. E o incenso simboliza a adoração, a reverência a Deus, aos poderes superiores do espírito. O incenso simbolizava, portanto, a resistência de Jesus às fascinações do ouro, a sua dedicação ao pai, a Deus, a sua pregação do Evangelho, o seu trabalho de espiritualização do mundo incansavelmente percorrendo a Palestina e enfrentando todos os perigos do domínio romano e também todos os perigos da ameaça que lhe vinha do templo de Jerusalém para manter a sua dedicação, a sua fidelidade a Deus.

 

E por fim a mirra. Por que a mirra? Porque a mirra é o símbolo da amargura, do sofrimento, da dor, do sacrifício. O menino Jesus haveria, portanto, de enfrentar o ouro do mundo. Desenvolver em si a adoração a Deus na simbologia do incenso, e, por fim, sofrer o sacrifício supremo na simbologia da mirra.

 

É este o sentido que nós vemos na oferta dos magos.

 

Download Pergunta nº 5: Herodes matar Jesus

 

Locutor – Por que Herodes queria matar Jesus?

 

J. Herculano Pires - Realmente este problema de Herodes querer matar Jesus é bastante interessante e nem sempre bem compreendido.

 

Herodes, como sabemos, era rei da Judeia já há quarenta anos quando Jesus nasceu. Como rei, ele tinha o domínio absoluto da Judeia. Não devemos confundir esse Herodes, que chamava Herodes, o Grande, com o Herodes Tetrarca da Galileia, que mandou matar João Batista. Herodes Tetrarca era filho de Herodes, o Grande, mas Herodes Tetrarca era simplesmente um governador provinciano, ele governava apenas a província da Galileia, ao passo que Herodes, o Grande, era o imperador, era o rei geral de toda Judeia. O seu poder vinha de uma dinastia, a dinastia herodiana que mantinha este poder através dos tempos.

 

Ora, quando Herodes ouviu falar que nascera Jesus de Nazaré, que este Jesus ia nascer em Bethlem, que era a cidade de David, e que descendia, este Jesus, da descendência, da linha hereditária do rei David. Portanto, pertencia a uma outra dinastia, a uma dinastia que já estava passada historicamente, suplantada historicamente.

 

Quando Herodes ouviu falar isso, ele temeu pelo seu poder, pelo seu trono e, principalmente, pela sua dinastia. Como todo rei, ele desejava que seus filhos continuassem no trono, que após a sua morte, o seu filho mais velho continuasse no trono. Mas se havia pela frente um perigo, o perigo do rei messias que estava nascendo, então o seu trono estava também ameaçado.

 

Herodes não temeu por ele próprio, porque Jesus menino ia ter ainda que crescer, que se desenvolver, que se tornar grande para depois poder ameaçar o trono de Herodes. Mas acontece que Herodes conhecia bem o seu povo, um povo místico, profundamente religioso, criado numa civilização teológica toda ela voltada para Deus e para os problemas do espírito. Esse povo esperava ansiosamente o messias.

 

Ora, o messias que ali havia nascido, segundo diziam os magos, este messias podia certamente se transformar, quando jovem, no temível conquistador da Judeia e ameaçar o trono de Herodes.

 

Foi esta razão por que ele não teve medo, não teve receio, não titubeou em mandar matar todas as crianças nascidas naquela idade, naquele momento, usando desse poder absoluto que os reis do tempo possuíam para querer assim eliminar o menino Jesus e se ver livre de problemas futuros contra o poder da sua dinastia.

 

Download Pergunta nº 6: Estrela Dalva

 

Locutora - Professor, pergunta o ouvinte Antônio Lemos Júnior, da Rua Pires da Mota, Paraíso. Primeiro: o que era a estrela que guiou os magos até Belém? Seria um cometa ou um espírito de luz que voava na frente deles?

 

J. Herculano Pires - Este problema da estrela que guiou os magos é mais complexo do que pode parecer à primeira vista.

 

Nós sabemos, por exemplo, que quando os israelitas atravessaram o deserto, tendo Moisés como chefe, em busca da terra de Canaã, eles eram guiados por uma coluna de luz ou de fogo que caminhava à sua frente. Essa coluna de luz ou de fogo, nós já tivemos ocasião até de comentar aqui no nosso programa, essa coluna era produzida mediunicamente. Era um fenômeno mediúnico. Porque Moisés era médium e porque Moisés tinha na sua tenda a reunião com os anciãos de Israel que eram setenta médiuns. A palavra “ancião” não quer dizer propriamente que se tratassem apenas de velhos. O ancião era como nós dizemos hoje o senador, o senador da república. Por que que existe a palavra senador? Porque vem precisamente da palavra latina que quer dizer senectude, quer dizer velhice. O senador é um homem experiente, um homem que amadureceu nas lidas políticas. Assim era o ancião. O ancião era o homem experiente. O homem maduro. O homem que tinha capacidade para dirigir, para orientar os israelitas.

 

Tanto assim que nós vemos na própria bíblia quando Moisés reunia os setenta anciãos na sua tenda, havia jovens entre eles.

 

Certo dia Moisés reuniu os anciãos, mas dois deles ficaram fora. E esses dois, que eram Eldade e Medade. Longe da tenda de Moisés, no meio do deserto, eles começaram a receber o espírito, porque eles eram médiuns. Então Josué veio correndo e disse para Moisés: Eldade e Medade estão recebendo o espírito no campo. Proíbe-os. E Moisés disse: Que ciúmes são esses? Que zelos são esses? Eldade e Medade estão recebendo o espírito, e Deus quisera que todo povo pudesse recebê-lo. Quer dizer, Moisés que é apontado como inimigo da mediunidade, aquele que condenou a mediunidade na Bíblia, Moisés na verdade ansiava pela mediunidade, desejava que todo seu povo fosse médium.

 

Ele condenava os abusos da mediunidade, mas quando viu Eldade e Medade, dois jovens que pertenciam aos anciãos de Israel receberem o espírito longe da tenda, ele sabia que esses dois, por não terem conseguido chegar a tempo na tenda, e sabendo que não podiam entrar depois que todos estavam reunidos, eles ficaram parados à distância naturalmente pensando no que fazer, e enquanto isso os espíritos se manifestaram através deles.

 

Ora, sendo assim nós vemos que a interpretação da estrela que guiou os magos podia ser feita também na base dos fenômenos mediúnicos. Poderia ser, por exemplo, a manifestação de um espírito guia que orientasse os magos até lá.

 

Mas o relato de Mateus é mais complicado, ele disse que os magos foram guiados até Jerusalém, e guiados pelo quê? Pela estrela que eles viram no oriente. Isto está no texto de Mateus: “Pela estrela que eles viram no oriente”. E chegando a Jerusalém, os magos procuraram Herodes, o Grande, para se informarem de onde deveria ter nascido o messias. E disseram a Herodes: “Vimos a estrela do messias no oriente e viemos até aqui”. Quer dizer que eles não foram guiados assim por uma estrela que viesse à sua frente conduzindo-os até Jerusalém.

 

Ora, essa parte do relato de Mateus nos faz lembrar precisamente os conhecimentos astrológicos dos magos. Eles viram a conjugação astronômica que se formou nas constelações à noite indicando o nascimento de uma grande personalidade espiritual na Terra. Isto era muito conhecido naquele tempo e era costume consultar-se o céu para se ver qual o advento importante que ia ocorrer entre as criaturas humanas. Os magos viram isto por isso eles disseram: “Vimos a sua estrela no oriente e viemos até aqui”.

 

Eles não foram guiados pela estrela. Eles foram guiados pela certeza de que aquele sinal no céu, aquela conjugação de estrelas que se formou representando, talvez, uma estrela única pelo seu esplendor, representava o sinal do nascimento do messias na Judeia. E consequentemente eles foram à capital da Judeia, que era Jerusalém, porque eles não sabiam precisamente onde o messias devia ter nascido. Então podemos supor que nessa parte da caminhada dos magos, a estrela nada mais é do que um sinal astrológico no céu, uma conjugação de estrelas formando uma constelação.

 

Pois bem, mas depois que chegam e conversam com Herodes, e Herodes lhes diz que o messias, segundo as profecias, devia nascer em Bethlem da Judeia que era, portanto, a cidade de David, eles então querem ir para lá. E neste momento, segundo o relato de Mateus, eles se põem a caminho guiados por uma estrela que vai á sua frente. Temos então um fenômeno diferente. Essa estrela caminha à frente dos magos até Bethlem, e chegando lá, de acordo com o relato de Mateus, ela pousa sobre o estábulo em cuja manjedoura estava a criança.

 

Ora, isso quer dizer, portanto, que essa estrela que guiou desde Jerusalém até Bethlem pode ser interpretada do ponto de vista mediúnico. Espiriticamente podemos considerá-la como o espírito que, recebendo os magos em Jerusalém, resolveu guiá-los até Bethlem, mesmo porque eles precisavam escapar de Herodes, porque Herodes, o Grande, os incumbira de informar depois onde se encontrava o menino a fim de que tomasse as providências para assassiná-lo.

 

Dessa maneira, podemos interpretar a estrela em dois sentidos: o primeiro como um sinal astrológico, guiando os magos até Jerusalém; depois como um fato mediúnico semelhante à coluna de luz no deserto, guiando os magos até Bethlem.

 

Download Pergunta nº 7: Local do nascimento de Jesus

 

Locutora - A segunda pergunta: por que Jesus nasceu numa estrebaria, se ele era da família do rei David e estava na cidade de David? Não havia um parente que pudesse receber José e Maria em casa?

 

J. Herculano Pires - Nós temos, neste ponto, de nos conformar com o relato evangélico. Evidentemente não dispomos de informações para dizer se existiam parentes próximos de Jesus em Bethlem.

 

O fato de ser Bethlem a cidade em que havia nascido a dinastia, por assim dizer, a estirpe do rei David, não quer dizer absolutamente que esta cidade estivesse povoada na época de parentes próximos de José e Maria. Podia mesmo acontecer que José e Maria não tivessem a possibilidade de encontrar ali nenhum parente.

 

A verdade é que o relato evangélico nos conta que era uma época de censo, de recenseamento da população. O império romano interessava-se pelo recenseamento, a fim de poder cobrar os impostos do povo, que era o tributo do povo judeu para Roma. Assim, ele obrigava que todas as criaturas se dirigissem para as cidades troncos de cada família. Ora, o acúmulo de pessoas em Bethlem é suficiente para mostrar que não havia mesmo lugares ali para todo mundo. E José e Maria que eram pobres, que vieram a pé de Nazaré até lá, que levaram, portanto, demasiado tempo para chegar, chegaram atrasados, encontraram a cidade muito cheia, e não tiveram outro recurso senão ir para o estábulo. Mas como nós sabemos, isso não era humilhante, absolutamente. Isso era um costume perfeitamente adequado aos tempos.

 

Download Faça as suas perguntas por carta ao programa No Limiar do Amanhã, Rua Granja Julieta, 205, travessa da Avenida Santo Amaro, em São Paulo. Faça perguntas, não relatórios. Durante a semana, no horário comercial, faça as suas perguntas pelos telefones 269-4377 ou 269-6130. Aguarde as respostas pela Rádio Mulher em São Paulo 730khz, pela Rádio Morada do Sol em Araraquara 640khz, e pela Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, estado do Paraná, 780khz. Neste dia e neste horário, todas as semanas.

 

Perguntas e respostas. Locutora - O ouvinte Carlos Alberto Espaldano, da Avenida Barão de Limeira, quer saber o seguinte. Primeiro: qual é a grafia certa, presepi ou presépio?

 

J. Herculano Pires - Embora a pergunta se relacione com o assunto de hoje, na verdade é uma pergunta de português (risos). Felizmente eu estou apto a responder (risos). Podia não estar. O problema é o seguinte: tanto faz presepi ou presépio. Os dois têm origem latina. Presepi ou presepium são do latim, de maneira que tanto faz escrever presepi ou presépio, de acordo com que a pessoa gostar mais, com que achar mais bonito, mais eufônico. Eu, por exemplo, confesso que gosto mais de presépio.

 

Pergunta nº 8: Invenção do presépio

 

Locutora - Segunda pergunta: ouvi num programa anterior que o presepi foi inventado por Francisco de Assis, mas aprendi que foi por São Francisco Xavier. Quem estará certo?

 

J. Herculano Pires - Nesse caso eu estou certo, a balança pendeu para o meu lado, dessa vez. Poderia pender para o lado do senhor, dessa vez pendeu para o meu lado. Foi Francisco de Assis mesmo quem criou o presépio. Ele montou o primeiro presépio. Nós sabemos que Francisco de Assis foi uma dessas figuras da espiritualidade que representava um verdadeiro clarão celeste na Terra. A sua passagem pela Terra foi maravilhosa. Ele foi um espírito de grande elevação a serviço da mais pura das causas que era a revivescência do ensino de Jesus em sua pureza primitiva.

 

Nós encontramos mesmo no livrinho de Emmanuel chamado “A Caminho da Luz”, que é uma espécie de escorço de toda a história da evolução da Terra, encontramos uma referência muito elogiosa a Francisco de Assis, que é considerado um enviado de Jesus, que veio à Terra na hora em que Roma se desmandava no campo religioso, da mesma forma porque Roma havia se desmandado no passado como império político. E Francisco de Assis vinha com uma missão muito importante: a missão de oferecer à igreja de Roma naquela ocasião um exemplo vivo de humildade, de dignidade cristã, de paciência, de mansidão, de brandura, de amor pelo próximo, pelos semelhantes.

 

Então nós encontramos ali na Úmbria, que é a paisagem onde viveu Francisco de Assis, encontramos até hoje a ressonância da sua vida, dos seus ideais, dos seus sonhos de fazer com que o cristianismo voltasse à suas origens, que ele retomasse a pureza primitiva, despojando-se de todos os adereços que lhe foram dados pelas contribuições do paganismo e do judaísmo.

 

Francisco de Assis, na sua adoração profunda por Jesus, resolveu certa vez homenagear o senhor, procurando reconstituir o cenário em que ele nascera, a maneira por que ele viera ao mundo. Ele queria dar assim uma imagem clara, didática, que ensinasse aqueles que olhassem para essa imagem, ensinasse a grande lição de humildade de Jesus no seu nascimento.

 

Foi isso que o levou a fazer um presépio, um presépio que representava a manjedoura, Jesus deitado, cercado pelos animais domésticos que o bafejavam simbolicamente, transmitindo-lhes assim o calor humano de que necessitava no inverno rigoroso da Palestina.

 

E Francisco de Assis conseguiu, com este presépio, uma ressonância inesperada. Por toda parte se falava dessa representação feita por Francisco de Assis e por toda parte se procurou imitar. Então o presépio se estendeu pelo mundo.

 

Para que não haja dúvida entre os dois Franciscos, Francisco de Assis e Francisco Xavier, é bom assinalar o seguinte: Francisco de Assis nasceu no século XI e viveu até o século XII. Mas Francisco Xavier, que era um jesuíta espanhol, Francisco Xavier nasceu no século XVI, no século da descoberta do Brasil, foi quando ele nasceu e viveu, nesse século.

 

Há, portanto, uma distância bastante grande entre os dois. Quando Francisco Xavier nasceu e quando ele desenvolveu suas atividades religiosas, já o presépio de Francisco de Assis era adotado em todo mundo.

 

Tendo partido das mãos angélicas desse santo da igreja católica, que na verdade não é apenas um santo da igreja, é um espírito sublime que a igreja acolheu em seu seio e que realmente representa para todas as pessoas espiritualizadas uma figura angélica, que passou pela Terra trazendo a benção do céu.

 

Download Pergunta nº 9: Data do Natal

 

Locutora - A terceira pergunta: quem estabeleceu, e quando, a data do Natal?

 

J. Herculano Pires - Esse problema da data do Natal é de fato um dos problemas mais curiosos que existem. Nós sabemos que a data do Natal deu muito trabalho para a igreja. Houve muitas discussões, muitos debates a respeito. Uns queriam que Jesus tivesse nascido em janeiro, outros queriam que Jesus tivesse nascido, se não me engano, em abril ou fevereiro, e outros queriam adotar o vinte e cinco de dezembro, que era dedicado às festas solares na antiguidade. Jesus então era considerado como o sol espiritual que vinha trazer ao mundo as claridades da nova era. E justamente por isso, não sendo exatamente possível fixar a data do nascimento de Jesus, estabeleceu-se que o vinte e cinco de dezembro seria considerado oficialmente pela igreja católica como a data do nascimento do mestre. Pois bem, quem fez os cálculos para estabelecer o nascimento mais ou menos certo do nascimento de Jesus foi um monge chamado Dionísio, o Curvo. Os franceses costumam chamá-lo Denille Pettit, quer dizer, Dionísio, o Pequeno. Temos assim, nestas duas denominações, uma imagem que podemos fazer dele: um mongezinho pequeno, curvo, baixinho, dedicado profundamente aos problemas da pesquisa histórica, e que se incumbiu de fazer os cálculos do nascimento de Jesus, fixando-o no tempo.

 

Entretanto, por mais que se esforçasse, Dionísio, o Curvo, ou Dionísio, o Pequeno, enganou-se de quatro anos, segundo consideram hoje todos os pesquisadores autorizados; enganou-se de quatro anos na questão da data. Jesus nasceu, segundo é hoje admitido pela pesquisa histórica, quatro anos antes da era determinada pela igreja. Houve um engano nessa fixação. Mas quem decretou a oficialização dessa data, quem oficializou essa data foi o Papa Júlio I, no quarto século da nossa, no quarto século da nossa era, que devia ser, portanto, de acordo com as pesquisas históricas atualmente válidas, o oitavo século. Mas foi considerado nas base nas pesquisas de Dionísio, foi considerado como o quarto século.

 

Então nós temos essa explicação clara e precisa. Dionísio, o Curvo, ou Dionísio, o Pequeno, estabeleceu a data de acordo com as pesquisas por ele realizadas. Marcou o vinte e cinco de dezembro naquele que devia ser o ano primeiro na era cristã. E o Papa Júlio I oficializou essa data na igreja.

 

Download Pergunta nº 10: Natal espírita

 

Locutora - A ouvinte Lazara Domingos Bifoni, da Rua das Rosas, na Vila Mariana, pergunta: Primeiro: como o espiritismo interpreta o Natal? Qual o seu significado para os espíritos?

 

J. Herculano Pires - Ela pergunta para os espíritos ou para os espíritas?

 

Locutora - Para os espíritas.

 

J. Herculano Pires - Ah, bem! Para os espíritas, realmente...

 

O significado do Natal para os espíritas eu resumiria nesta frase: o Natal é a simbologia da encarnação. O Natal simboliza o momento em que o espírito se encarna na Terra. Na verdade, nós estamos diante de um fato histórico que é o nascimento de Jesus. Mas isso não importa que se trate também do seu simbolismo. O fato histórico tem dentro de si mesmo também uma simbologia. O Natal simboliza, portanto, o momento da encarnação do espírito. Isto nós podemos ver em todos os elementos que constituem a cena do Natal. Nós podemos ver isso claramente.

 

Jesus nascendo e sendo colocado imediatamente nas palhas de uma manjedoura. Nós temos aí aquilo que podemos chamar a simbologia da centelha divina, da mónoda divina que desce do céu e que se projeta na matéria transformando-se em carne. Essa mónoda divina, que se encarna na criatura humana, é entretanto colocada no meio da matéria mais rudimentar para dali se desenvolver. Jesus deitado na manjedoura é ainda uma criança incapaz de falar, incapaz de raciocinar, mas dentro dele está toda a potencialidade do espírito que vai se desenvolver na proporção em que ele crescer.

 

Ao mesmo tempo em que ele está ali, como uma mónoda divina lançando no seio da matéria, ele tem ao seu redor os animais domésticos que cercam a manjedoura e que o ajudam com seu calor a se manter na vida material. Estes animais representam os instintos humanos, os instintos da natureza animal do homem.

 

Todo espírito ao se encarnar, está sujeito à pressão desses espíritos. Mas quando o espírito é elevado, esta pressão dos instintos se transforma numa espécie de acolhimento envolvendo a mónoda divina, o espírito, a centelha etérea, a centelha divina que vem do céu, envolvendo-o nas carícias da concepção humana para que ela possa se desenvolver.

 

Ao mesmo tempo, vemos Maria, a mãe de Jesus, debruçada sobre ele. É a ternura materna. A ternura materna que representa o cuidado da deusa mãe. A deusa mãe é uma figura de todas as grandes religiões antigas. É, por assim dizer, um arquétipo das religiões que existe em todas as tradições populares do mundo.

 

Maria representa neste caso a deusa mãe, ela cuida da centelha divina para que a centelha se desenvolva, para que a centelha não se perca nas atrações da matéria, para que ela evolua. Então a sua ternura, o seu amor, o seu olhar de bondade contrastam com o calor dos instintos e chamam a centelha divina para cima, para o alto.

 

Temos aí ao mesmo tempo na sequência do desenvolvimento do Natal, a vinda, por exemplo, dos reis magos trazendo as ofertas a Jesus. É o momento em que a sabedoria do mundo, os poderes do mundo, veem se curvar diante do poder celeste, do poder espiritual que desce do céu. Os magos vêm homenagear Jesus, não porque Jesus fosse descendente de David, não porque ele representasse uma estirpe guerreira ou uma estirpe heroica na Terra, mas vem reverenciá-lo porque eles são homens de cultura, eles são homens de espírito, eles estudam os astros, estudam as estrelas, estudam o universo, a natureza humana. E então nesses estudos eles se aprofundam no conhecimento do espírito. E ao verem o nascimento do Senhor, eles trazem então para o Senhor as suas ofertas simbólicas que, como nós já vimos numa pergunta anterior, tem sua significação profunda.

 

Ao mesmo tempo nós vemos a revolta de Herodes, o Grande, em Jerusalém, e com ele toda Jerusalém,, segundo nos diz o evangelho de Mateus. Há uma revolta humana na Terra. É como se, por exemplo, numa tribo selvagem aparecesse de repente um homem branco trazendo a civilização, anunciando novas possibilidades de vidas, modificações benéficas para aquele povo. Mas o cacique da tribo não admite que este homem branco venha pregar, venha trazer os seus ensinos àquele povo, um povo selvagem que quer continuar nas suas tradições. E o cacique se subleva contra aquele homem branco e o manda matar. Assim aconteceu também, quando Herodes, o Grande, soube da presença de Jesus tendo nascido na Terra para trazer o reinado espiritual, para estabelecer no mundo o reino de Deus, Herodes procedeu como o cacique da taba que procura reunir imediatamente seus guerreiros e mandar atacar o homem branco para destrui-lo.

 

Jesus então representa neste momento um desafio ao mundo, o grande desafio do espírito a toda humanidade. A humanidade que ainda se mostra tão animalizada, tão apegada às coisas da matéria, aos interesses puramente passageiros do mundo. O desafio lhe vem daquele nascimento humilde nas palhas de uma manjedoura.

 

Assim nós temos na simbologia do Natal todos esses aspectos bastante interessantes e que representam uma verdadeira didáxis, quer dizer, uma verdadeira lição espiritual que nos é dada. Jesus era um mestre por excelência. Ao nascer, ele nos deu a lição do Natal. Ao morrer, ele nos deu a lição da cruz.

 

Na lição do Natal ele nos ensina que os poderosos do céu são pequeninos na Terra, são humildes, que os poderes do espírito não se compadecem com os poderes da matéria, que a simplicidade e a pureza dos espíritos é que lhes dão realmente os graus superiores e não os poderes temporais estabelecidos pelos homens.

 

Quando Jesus morreu, ele nos deu duas lições: primeiro, a lição de que a injustiça exalta o justo; e depois, a lição de que a morte não existe, porque morremos para ressuscitar, como disse Francisco de Assis na sua famosa prece.

 

Download Pergunta nº 11: Contagem dos anos

 

Locutora – E a segunda pergunta: por que se conta o tempo a partir do nascimento de Jesus e não do começo do mundo, como fazem os judeus?

 

J. Herculano Pires - Contar o tempo do nascimento do mundo, do princípio do mundo seria muito difícil, porque até hoje a ciência, como nós sabemos, luta para descobrir a possível idade do nosso planeta. Nós não poderíamos falar de outro mundo. Nós teríamos de falar do planeta em que vivemos. Se quiséssemos fixar a idade do universo, isso seria absurdo para nós.

 

Os judeus puderam fazer isso, porque eles partiram de um pressuposto de fé. Eles partiram do seguinte: a Bíblia diz que o mundo começou há tantos anos. Então está certa. A palavra da Bíblia é a palavra de Deus, está exata e vamos contar o tempo a partir desta época em que o mundo nasceu.

 

Mas não tempo em que se divulgou a civilização cristã, em que ela se consolidou e se espalhou no mundo, a cultura já havia avançado bastante e ninguém poderia aceitar isso.

 

Ao mesmo tempo acontece o seguinte: o nascimento de Jesus marcou uma nova era na humanidade, uma nova fase da história humana. Então foi justo, certo, muito certo que se começasse a contar de novo o tempo. Todo o tempo passado ficou, por assim dizer, nos arquivos do tempo, e um novo tempo nasceu: é o tempo do cristianismo. E a sua contagem devia, portanto, partir do nascimento de Jesus.

 

Download Faça suas perguntas por carta ao programa No Limiar do Amanhã, Rua Granja Julieta, 205, última travessa da Avenida Santo Amaro, em São Paulo. Faça perguntas, não relatórios. Durante a semana no horário comercial faça suas perguntas pelos telefones: 269-4377 ou 269-6130. Aguarde as respostas pela Rádio Mulher em São Paulo 730kz, pela Rádio Morada do Sol de Araraquara 640kz, e pela Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, estado do Paraná, 780kz neste dia e neste horário todas as semanas.

 

O Evangelho de Cristo em verdade. Não se pague a letra que mata, mas sim ao espírito que vivifica.

 

Leremos hoje a descrição de Lucas sobre o nascimento de Jesus que figura no capítulo dois do evangelho de Lucas, versículos 1 a 19. Naqueles dias foi expedido um decreto de César Augusto para que todo o mundo fosse recenseado. Este foi o primeiro recenseamento que se fez no tempo em que Quirinio era governador da Síria. Todos iriam alistar-se, cada um à sua própria cidade. José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, a cidade de Davi, chamada Bethlem, por ser ele da casa e família de Davi para se alistar acompanhado de Maria sua esposa que estava grávida. Estando eles ali, completaram-se os dias de dar ela a luz. Teve o seu filho primogênito e o encaixou, e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

 

Naquela região, havia pastores que viviam nos campos e guardavam seu rebanho durante as vigílias da noite. Um anjo do senhor apareceu-lhes e a glória do senhor brilhou ao redor deles, e encheram-se de grande temor. Disse-lhes o anjo: “não temais, pois eu vos trago uma boa nova de grande gozo que o será para todo o povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, um salvador, que é Cristo senhor Eis para vós o sinal. Encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura”. De repente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial louvando a Deus e dizendo: “glória a Deus nas maiores alturas e paz na Terra entre os homens a quem ele quer bem”.

 

Quando os anjos se haviam retirado deles para o céu, diziam os pastores uns aos outros: “vamos já até Bethlem e vejamos o que aconteceu, o que o senhor nos deu a conhecer”. Foram a toda pressa e acharam Maria e José e a criança deitada na manjedoura. E vendo isto, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino. Todos os que o souberam, se admiraram das coisas que lhe referiam os pastores. Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no seu coração. Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo quanto tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado.

 

A escolha desse relato de Lucas foi feita pelo seguinte: dos evangelhos conhecidos, os evangelhos canônicos, os evangelhos que realmente são válidos, o de Lucas foi escrito, segundo todas as informações existentes não somente na tradição, mas também na pesquisa a respeito do assunto, o de Lucas foi escrito não baseado somente nas informações dos outros evangelhos ou naquilo que se dizia no meio cristão, mas particularmente nas informações diretas que ele, Lucas, foi obter de Maria, em Êfeso. Maria, mãe de Jesus, como nós sabemos, depois da crucificação e da morte do senhor, ela ficou aos cuidados do apóstolo João.

 

Todos nós sabemos daquele episódio do Evangelho em que Jesus entrega Maria aos cuidados de João. João foi morar em Êfeso, e em Êfeso, na Ásia, ele se estabeleceu com uma escola, que como nós sabemos, foi de grande importância para o cristianismo, uma escola em que se desenvolviam ensino evangélico e preparava as criaturas para o exercício da pregação, ou seja, para o ministério da palavra, como se diria mais tarde. João levou Maria consigo, e Maria, de acordo com as informações, por exemplo, de Emmanuel – nós podemos ver nessas informações em “Paulo e Estevão” –, Maria passou a morar (esta é uma informação até bastante poética) numa casinha a beira mar, voltada para o mar. E nesta casinha modesta, a esta casinha modesta foi que Lucas se dirigiu para se informar com Maria de certos pormenores do nascimento de Jesus.

 

E vemos então a naturalidade com que Lucas nos oferece o quadro do nascimento do mestre. O aparecimento do anjo no campo para anunciar aos pastores o nascimento de Jesus, é bastante significativo. Essa informação aparece em Lucas como uma das informações dadas diretamente por Maria. E por que apareceu esse anjo no campo? Porque Jesus, como sabemos, nascendo na mais completa humildade, ele se ligava diretamente ao povo. Os pastores no campo, na noite gélida do Natal, enfrentando o frio para guardar os seus rebanhos, os pastores se assombraram com o aparecimento do anjo. O anjo, como sabemos hoje, graças aos estudos espíritas, era um espírito elevado.

 

Todo espírito elevado quando se manifesta para as criaturas humanas, aparece resplendente, e justamente por isso deu-se-lhe a característica, o nome de anjo. E, como sabemos, criaram até mesmo as asas para o anjo. Asas por quê? Porque os anjos levitam, os anjos sobem no espaço com facilidade, voam de um lugar para outro como se fossem aves, sem entretanto possuírem asas, as asas são símbolos da levitação, da capacidade de leveza do anjo. O anjo apareceu ali para convocar os pastores e indicar-lhes o lugar onde Jesus havia nascido. Reunindo esse dado com o dado do evangelho de Mateus, referente aos reis magos, nós vemos que o nascimento de Jesus foi comunicado, ao mesmo tempo, a duas classes de pessoas: às criaturas humildes que viviam do seu trabalho, dedicando-se ao cumprimento dos seus deveres na terra, distantes de todas as ilusões e tolices da política mundana e de todas as disputas inúteis dos homens, ganhando o pão humildemente com o suor do seu rosto, enfrentando as noites gélidas de inverno para o sustento de suas famílias; e a outra categoria é a dos sábios, a daqueles homens que se fechavam nos seus estudos, nos seus laboratórios, nas pesquisas do tempo, procurando conhecer os mistérios de Deus nos mistérios da natureza.

 

Estas duas pessoas foram as que receberam, estes dois tipos de criatura foram o que receberam imediatamente o aviso do nascimento de Jesus. O próprio céu se incumbiu de levar-lhes este aviso. E isso por quê? Porque Jesus não vinha para os grandes da terra como ele mesmo disse; ele vinha para os humildes, para os pequeninos, porque ele vinha lançar na Terra as sementes do reino do céu, do reino de Deus. E o reino de Deus, como ele mesmo anunciou, deve nascer primeiro no coração dos homens; o coração dos ricos, o coração dos poderosos, o coração dos grandes da terra não estavam preparados para isso; eram corações orgulhosos, arrogantes, que não cediam facilmente às impulsões do alto; mas os corações pequeninos, os corações humildes se abriam naturalmente, como se abrem as terras do campo para receber a semente, eles se abriam com facilidade, com docilidade às palavras do alto.

 

Então Jesus viera para lançar os fundamentos do reino no espírito do simples, no coração da gente humilde, e foi por isso que ele viveu, como sabemos, na condição de um homem humilde, palmilhando a terra com seus próprios pés, andando de um lado para outro para pregar a palavra divina e anunciando em toda parte a verdade da imortalidade da alma, da comunicação, da comunicabilidade dos espíritos com as criaturas humanas, e da reencarnação, da necessidade de nascermos de novo, não apenas nascermos no sentido moral, espiritual, mas nascermos também, como ele disse a Nicodemos, da água e do espírito, ou seja, da matéria e do espírito, porque é preciso nascer de novo para nos tornarmos dignos de entrar no reino de Deus.

 

O espírito da verdade está conosco e ficará conosco para sempre, segundo a promessa de Jesus. Estamos na era do espírito e o Natal de Jesus deve ser compreendido em espírito e verdade. Amigo ouvinte, leia na Revista Educação Espírita a explicação da simbologia do Natal à luz do espiritismo. Compreenda o verdadeiro sentido do Natal, que nos convida a pensar e sentir em dimensões espirituais. Aprendamos a viver em espírito, preparando-nos para um novo mundo que está nascendo.

 

O programa No Limiar do Amanhã deseja um feliz Natal e um novo ano de espiritualidade a todos os seus ouvintes. Esse programa é um esforço radiofônico para nos ajudar na compreensão cada vez maior e mais ampla da realidade da vida. Todos aprendemos com ele: nós que o fazemos e levamos ao ar e vós que os ouvis. Somos todos alunos de uma escola espírita do éter, graças ao maravilhoso poder das ondas hertezianas, respeitamos todas as crenças e descrenças, todas as religiões, mas colocamos a verdade ao alcance de todos.

 

Queremos a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade, e se você provar que está com a verdade, ficaremos com você.

 

No Limiar do Amanhã, glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade.

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