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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

 

 

No limiar do amanhã, um desafio no espaço.

Este programa é feito para os que desejam encontrar a verdade. Os que estão satisfeitos com as suas ilusões devem continuar embalados por elas. Os que creem estar com a verdade não têm com o que preocupar-se. Mas nós queremos a verdade.

Pergunta1: Que provas o senhor tem das verdades do Espiritismo?

Rosa Maria Bassit da avenida Indianópolis manda-nos uma carta de que destacamos os seguintes trechos:

Gosto muito, bastante mesmo, de ouvir esse programa por causa das perguntas. Nem sempre concordo com as respostas, mas elas também são interessantes. Só não gosto de uma coisa. É que o programa diz buscar a verdade. Mas o professor Herculano Pires tem sempre a verdade na ponta da língua. Deus meu, até parece um oráculo!

Isso é uma contradição que às vezes até me irrita. A voz feminina da locutora pergunta e a voz masculina do mestre responde com jeito de machão, resolvendo tudo e dando conselhos. Que diabo de busca é essa?

Fiz um curso de filosofia e aprendi que todas as filosofias buscam a verdade, mas nenhuma encontrou. Se uma delas, uma só a tivesse encontrado, ninguém mais poderia filosofar, pois a questão estaria resolvida. O ilustre professor parece estar certo de que deu um quinal em todos os filósofos. Encontrou a verdade e é capaz de dar até mesmo a resposta que Jesus não soube dar a Pilatos. Que autossuficiência! Deus do céu!

Perdoe-me, caro professor. Acho-o muito simpático e gosto de ouvi-lo, mas, por isso mesmo, acho penso que devo dar-lhe uma sacudidela para acordá-lo.

O senhor ficaria muito mais simpático se não mostrasse tanta sabedoria. Que certeza pode ter o senhor ou qualquer outro pesquisador de que o espírito sobrevive à morte e pode comunicar-se? Que provas o senhor tem de que as comunicações espíritas são reais? Quem lhe provou que temos de fato um corpo espiritual? Não quero ser impertinente nem quero lhe causar amolações. Se não gostasse do seu programa não escreveria nada. Pode me responder por carta. Eu ficaria muito honrada.

 

JHP – Não, Rosa Maria. Vou responder agora mesmo. A resposta está aqui na ponta da língua. Espere um pouquinho só.

 

***

No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emmanuel. Transmissão 180, quarto ano.

Apresentação de Branca Amaral e José Pires. A sonoplastia é de Paulo Portela. Técnica de som: Edivaldo Silva. Direção e participação do professor Herculano Pires. Uma busca radiofônica da verdade.

Gravação dos estúdios da Rádio Mulher, São Paulo, Brasil.

Transmissão da Rádio Mulher 730kh, São Paulo. Da Rádio Morada do Sol 640kh, Araraquara. Da Rádio Difusora Platinense 780kh, Santo Antônio da Platina/PR. Todas as semanas neste dia e neste horário.

Diálogo no limiar do amanhã. Uma busca da verdade sobre o homem e seu destino.

JHP - Resposta à Rosa Maria: Rosa Maria, respondendo à sua cartinha, que eu agradeço muito. Fiquei aliás entusiasmado com as suas referências ao meu programa, às minhas respostas e, inclusive, até mesmo à minha autossuficiência.

Mas eu queria dizer a você o seguinte, Rosa Maria. Nós estamos de fato buscando a verdade. O fato de eu estar respondendo com naturalidade, com espontaneidade, às perguntas que me são feitas, decorre de uma coisa que você, como estudante de filosofia, deve conhecer muito bem. Estudante ou já formada. Me parece que você, pela sua carta, me dá impressão de que você já se formou. Então, você que estudou filosofia deve entender muito bem que quem estuda um assunto sabe responder sobre ele. Não é verdade?

O problema que se coloca aqui na rádio é o problema do Espiritismo e, consequentemente, da filosofia espírita. E assim como você estudou filosofia, eu também fiz exatamente esse curso. Tenho curso de filosofia, sou professor de filosofia. Então, eu tenho uma certa facilidade em dar as respostas.

Mas se você notar, se você prestar atenção, se você não se impressionar com o tom da minha voz, que naturalmente você acha a voz de um “machão”, voz forte, o que não é verdade... É uma voz, apenas uma voz grave. Se você não se impressionar com isso, você verá que eu não estou querendo impor nada a ninguém. Estou respondendo àquilo que sei. E costumo dizer constantemente que o que eu respondo não é meu, é da Doutrina Espírita.

Existe uma Doutrina Espírita. Existe a filosofia espírita. E consequentemente a filosofia espírita tem suas respostas para muitas coisas. Não tenho, portanto, a intenção de impor, de dogmatizar, nem de bancar catedrático aqui no programa. Vou respondendo o que posso.

Muitas vezes eu deixo certas respostas mais ou menos em suspenso, respondo àquilo que sei e aconselho o ouvinte a ler com mais atenção os livros, buscando encontrar realmente a explicação que ele deseja. De maneira que a sua impressão de autossuficiência de minha parte, me parece que é um engano de sua parte. Entretanto, você vai examinar isso melhor. Quanto ao fato de eu, aqui no meu programa demonstrar uma certeza absoluta da realidade de certos princípios espíritas, isto também decorre de uma coisa chamada experiência. Aí, nós passamos do campo da filosofia para o campo da ciência. Eu já expliquei numerosas vezes, neste programa, que a doutrina espírita é uma doutrina tríplice. É uma doutrina que se assenta na pesquisa científica. Quando se fala em revelação espírita não se está falando num tipo de revelação religiosa que veio por um profeta, por um iniciador de religião. Por uma criatura divina descida à Terra especialmente para nos revelar verdades espirituais. Não. Quando nós falamos de revelação espírita, e isto está em Kardec, você pode encontrar isto facilmente no Livro dos Espíritos, e particularmente eu aconselharia você a ler particularmente, o primeiro capítulo do livro A Gênese, de Allan Kardec, em que ele explica isto muito bem.

Quando se fala de revelação espírita nós estamos na verdade falando de dois tipos de revelação. A revelação divina em que se baseiam todas as religiões e que vieram através de profetas, de messias ou messiânicos, pessoas messiânicas fundadoras de religião. E, para nós, todas essas pessoas eram médiuns. Médiuns que recebiam revelações do alto. Revelações espirituais. Agora, veja você. O mundo não se constitui para o Espiritismo apenas de espírito, nem apenas de matéria. Constitui-se de espírito e matéria em inter-relação. Você que conhece filosofia sabe muito bem que este é um processo dialético. O espírito age sobre a matéria. A matéria reage sobre o espírito. Desta ação e reação de dois princípios fundamentais do Universo, nasce tudo quanto existe, inclusive nós. Consequentemente, quando nós falamos aqui da revelação espírita nós temos de falar de dois tipos de revelação. A revelação divina, que é dada pelos espíritos. Lendo O Livro dos Espíritos você vê isto. Mas quem faz a revelação não é o homem, não é um profeta, não é um messias. Quem faz a revelação são os espíritos. Os espíritos falam através de médiuns.

Kardec dispunha de duas médiuns para o seu trabalho de pesquisa neste sentido. Uma era uma menina de quatorze anos, a outra, uma mocinha de dezesseis anos. As duas funcionavam como médiuns recebendo as respostas dos espíritos à Kardec. Você deve saber que Kardec era um pedagogo. E um pedagogo, você deve saber também, como estudante de filosofia ou como já formada, que o pedagogo é um filósofo da educação. E consequentemente, como a filosofia da educação abrange todo o conjunto das necessidades humanas, Kardec era um filósofo, discípulo de Pestalozzi, e um filósofo na sua mais lata extensão. Ou na mais lata extensão da palavra.

Assim, Kardec fazia perguntas muito sérias, muito graves, aos espíritos. E as duas meninas não tinham cultura, nem amadurecimento necessário para responder. De maneira que este é um aspecto, já de si, muito importante e significativo da pesquisa espírita. As respostas dadas a Kardec, ele não as aceitava totalmente, no sentido dogmático, como se os espíritos tivessem um poder superior. Não. Kardec tinha uma vocação científica que é inegável. Por exemplo, Charles Richet, que foi o maior fisiologista do século passado e princípios deste século, prêmio Nobel de fisiologia, Charles Richet no seu Tratado de Metapsíquica, reconhece o valor de Kardec como pesquisador científico, a sua vocação indiscutível para a pesquisa científica. Kardec usou métodos científicos de investigação para tratar deste assunto. Então, os espíritos respondiam às perguntas de Kardec. A revelação já não vinha espontânea. Não era uma revelação dada de cátedra, por um profeta. Era uma revelação pedida, suscitada, provocada por um homem, que era Kardec. Então, já na própria revelação, que é a revelação dada pelos espíritos, nós temos também a intervenção do homem.

A seguir temos a revelação científica. Kardec diz o seguinte. Revelar é mostrar apenas aquilo que estava oculto, que nós não sabemos. Então não é apenas um espírito ou um profeta que revela coisas espirituais. Existem também os reveladores humanos comuns, aqui na Terra, que são os cientistas. Um cientista investiga um fenômeno. Ele faz a Natureza falar, por assim dizer. A Natureza responde às suas perguntas. Ele descobre o segredo das leis de um fenômeno. Ao descobrir estes segredos, ele naturalmente vai revelar alguma coisa que estava oculta na matéria: as leis do fenômeno. Ele é um revelador.

Então, diz Kardec: Nós temos duas revelações. A revelação espiritual e a revelação hominal, ou a revelação do homem, do pesquisador, dos cientistas. É neste sentido que o Espiritismo é revelação. A dupla revelação das comunicações espíritas, controladas pelo homem e a revelação científica das pesquisas, dos fenômenos hoje chamados paranormais. Assim, nós não temos uma doutrina dogmática no Espiritismo. Uma doutrina que obriga a gente a crer, quer queira ou não queira, com pena de ir para o inferno se não crer. Não. Nós não temos isto. No espiritismo, nós temos um campo filosófico de indagações.

O Espiritismo nos oferece princípios que estruturam a sua filosofia. São os princípios básicos. São os dogmas de razão, não os dogmas de fé. São axiomas, quer dizer, são princípios que são colocados como estruturais de uma forma de pensamento que é a filosofia espírita. Mas estes princípios, todos eles, sem nenhuma exceção, estão sujeitos a debates, a novas investigações, a exame de quem quiser examiná-los. A posição, portanto, da doutrina espírita, não é dogmática. Essa posição não é impositiva, não quer fazer ninguém aceitar “de cabeça baixa” (como se costuma dizer), aceitar fechando os olhos àquilo que ele ensina. Não. O Espiritismo quer o estudo, quer a aceitação e a investigação racional dos seus princípios por àqueles que estudam e investigam.

Colocado este problema, você vai agora ouvir o que eu responderei àquele ponto, em que você disse que eu chego a responder até mesmo aquilo que Jesus não respondeu a Pilatos, porque não sabia. Você se lembra bem. Pilatos perguntou a Jesus: “O que é verdade?” E Jesus não respondeu. Você acha que Jesus não sabia o que é a verdade? Eu respondo o que é a verdade, neste programa. E não respondo por mim. A explicação da verdade não é minha, não fui eu quem descobriu. A explicação da verdade, você que estudou filosofia sabe que está na filosofia, e sabe que está na psicologia. Nós temos uma resposta psicológica muito certa, ao menos dentro das nossas limitações humanas para a verdade.

A verdade é a relação direta e real do pensamento com o objeto. Você pensa uma coisa. Se o seu pensamento estiver em relação direta com este objeto em que você pensou, e se essa relação for real, sendo direta, ela tem de ser real, mas pode ser também ilusoriamente direta. Vamos colocar isso em termos mais objetivos, para tornar mais compreensível. Você pensa numa cadeira que está lá dentro da sua casa. A cadeira em que você gosta de sentar-se. Então o seu pensamento tem uma relação direta com o objeto da sua experiência, com o objeto que você conhece. Quando você pensa nesta cadeira, o seu pensamento é verdadeiro. Você está no campo da verdade, você não está no campo da ilusão. Você não está no campo da sugestão. Então, isto é a verdade.

Quando nós pensamos em Deus e supomos que Deus é uma pedra, é um monte, por exemplo. Nós sabemos que, no passado, os homens primitivos, as civilizações agrárias, primitivas e, mesmo nas civilizações mitológicas do mundo clássico greco-romano, os homens tinham ideias falsas de Deus. Por exemplo, o grego pensava em Zeus como sendo Deus. Mas quem era Zeus? Zeus era um mito, era uma figura da mitologia grega e esta figura era uma elaboração do pensamento humano, sem nenhuma relação com a verdade chamada Deus. Então não existia verdade neste pensamento. Existia apenas uma simbologia. Existia um símbolo, nada mais de que isso. O romano pensava em Júpiter e, para ele, Júpiter era o Deus supremo, embora houvesse muitos deuses no panteão mitológico de gregos e romanos. Ora, então este pensamento de Deus era errado. Quando, por exemplo, os antigos egípcios pensavam em Deus como sendo Osíris e interpretavam Osíris como sendo o rio Nilo, eles incorporavam Deus ou encarnavam Deus nas águas do rio Nilo. E isto não era uma verdade. Isto estava errado. Mas quando nós pensamos em Deus do ponto de vista espírita, não lhe dando a figura humana de um velho barbudo que está sentado num trono eterno lá no “céu”, mas compreendendo que Deus é apenas uma consciência – apenas, hein?! – estou dizendo apenas no sentido das nossas limitações. Deus é uma consciência, mas é a consciência suprema. É aquilo que o Espiritismo define como sendo a inteligência suprema do Universo, criadora de todas as coisas.

Você pode dizer: “mas como podemos ter certeza disso?” Não podemos ter a certeza. Nós aí, buscamos a verdade. Estamos buscando a verdade. E por que interpretamos assim? Porque há um princípio no Espiritismo que coincide com o princípio das ciências comuns. Nas ciências comuns nós dizemos: há causa e efeito em toda Natureza. E não há efeito sem causa. Não é verdade? Pois bem, no Espiritismo nós dizemos assim: não há efeito inteligente sem causa inteligente. E a grandeza do efeito nos mostra a grandeza da causa. O Universo é uma estrutura inteligente. Quanto mais os astrônomos e, hoje, os astronautas pesquisam e invadem o Cosmos, quanto mais longe eles alcançarem, quanto mais eles vão penetrando, eles estão revelando sempre uma ordem universal absoluta. Tudo no Universo é regido por leis. Um foguete que parte, lá do Cabo Canaveral para atingir a Lua, ou para se dirigir a Marte, ele não chega a subir, não chega a transpor a atmosfera da Terra, se ele não obedecer rigorosamente as leis que deve seguir para poder fazer o trajeto espacial. Essas leis foram pesquisadas antes pelos cientistas, descobertas, e agora o foguete é feito de acordo com estas leis para poder vencer o espaço. Senão, ele arrebenta, ele estoura no meio do caminho e não chega lá. Então quer dizer, existem leis no Universo inteiro. Estas leis nos revelam uma estrutura tão inteligente que nos assombra. Você sabe que um grão de areia tem a sua estrutura. Um fio de cabelo tem a sua estrutura. As coisas menores, as mínimas coisas, as coisas que nós não enxergamos, que precisamos usar um microscópio, e até um microscópio eletrônico, para ver, têm a sua estrutura interna. Há leis, leis inteligentes, e a inteligência está presente em tudo.

Ora, não se pode dizer que tudo isto nasceu do acaso. Se dissermos isso, nós temos que reconhecer que o acaso é inteligente. E se ele é inteligente, não é acaso. Então, você compreende que quando eu dou a resposta que Jesus não deu a Pilatos, não é que eu pretenda saber mais de que Jesus. E nem que eu pretenda saber por mim mesmo. Eu estou respondendo dentro do conhecimento atual, da cultura atual em que nós vivemos. Mas eu sei, eu entendo, eu penso e eu sei intimamente, naquela certeza íntima que a gente tem, através da intuição, que Jesus não respondeu a Pilatos, não porque ele não sabia, mas porque Pilatos não estava em condições de entender o que era verdade. Pilatos vivia no mundo da mentira. Ele era o representante de César na Palestina. Ele governava a Palestina pela força, para tirar dinheiro daquele povo em favor do Império Romano. Ele vivia no mundo da política mentirosa de Roma, da Roma toda poderosa daquele tempo. Ele não estava em condições de compreender um problema de filosofia dessa altura: o que é a verdade. E Jesus sabia que não adiantava nada responder para ele. Porque ele, Jesus, já estava condenado previamente pelos judeus. Havia um conluio entre as autoridades romanas de Jerusalém e as autoridades do templo de Jerusalém. As autoridades judaicas.

Os romanos não queriam ferir a susceptibilidade dos judeus, perturbá-los, porque eles não gostavam. Uma vez conquistado um país, eles não gostavam de subversões, de lutas internas. O que interessava aos romanos era o imposto que o povo pagava, era o dinheiro que podia tirar do povo para enriquecer Roma. Então eles cediam muitas coisas, concordavam com muitas coisas. Pilatos estava concordando com a crucificação de Jesus, embora sabendo que Jesus era justo. De maneira que Jesus não ia perder tempo de dar uma explicação filosófica a Pilatos sobre o que é a verdade. É neste sentido que eu respondo aqui o que é a verdade, como respondi a você, e posso responder a muitos outros, até que surja uma nova concepção da verdade. Porque a concepção atual da verdade que eu acabo de dar é a única que hoje prevalece no mundo inteiro. Assim Rosa Maria, você continue ouvindo nosso programa e esteja certa de que pode me mandar as cartas com críticas que você quiser. Eu responderei. Não responderei por carta porque gosto que as perguntas venham ao programa e porque este programa foi feito para diálogo. Responderei aqui ao microfone. Você terá o trabalho de ligar o rádio para ouvir a minha resposta. Mas a resposta será sempre dada e eu agradeço a você as perguntas que você fizer.

 

Pergunta 2: Existe comunicação mediúnica de extraterrestres?

Locutor - Professor, o ouvinte Getúlio Mendes Leal da rua Maria Zélia, na Lapa, envia-nos recorte do Diário da Noite que passamos a ler pedindo a sua opinião a respeito.

Espíritas falam com habitantes de Órion. Um ser extraterrestre que se identificou como habitante do planeta Órion, comunicou-se alguns dias com um grupo de espiritualistas bolivianos que faziam sua sessão habitual na cidade de Santa Cruz, 490 quilômetros ao norte de La Paz. O intermediário foi um jovem médium de pouca cultura que, depois de adormecido, conversou com seus interlocutores e respondeu a muitas perguntas. O desenvolvimento da sessão foi registrado em gravador e transmitido a milhares de ouvintes pela rádio Nova América de La Paz. O ser do outro planeta falou em espanhol correto, como se estivesse comunicando-se através de um transmissor de um ponto muito distante e com ruído de interferência. Segundo a sessão qualificada da série pela emissora, o mensageiro disse ser essa a segunda vez que se comunicava com seres da Terra e afirmou estar em um lugar da Antártida, sem poder sair da sua nave devido ao degelo que se processa agora nessa região. ‘Somos seres vivos, habitantes de um planeta não muito distante da constelação de Órion’, disse a voz rouca ouvida três vezes em La Paz, através da rádio Nova América. O ser extraterrestre disse que a interferência que se podia ouvir era devido ao seu aparelho tradutor de idiomas, que estava um pouco avariado, e que a conexão que tinha conseguido com os espiritualistas foi possível, graças às ondas telepáticas que chegam a um transceptor que se amplia e sintoniza na frequência mental dos terrestres”.

JHP - Este recorte, esta notícia, está bastante confusa para a gente opinar a respeito. Nós sabemos, por exemplo, que estão se verificando agora na Europa, e tem aí um livro publicado muito interessante do pesquisador Jüergenson: Telefone para o Além [1] em que ele descreve várias captações de mensagens vindas do plano, vamos dizer assim, extraterrestre. E mensagens que são gravadas em gravadores comuns ou que são dadas através de aparelhos de rádio. Mas essas transmissões estão ainda em estudo no campo da parapsicologia, não obstante as gravações de fitas diretamente feitas por alguns espíritos já sejam reconhecidas por grandes parapsicólogos como reais. Mas essa transmissão de que fala o recorte do jornal, lá em Santa Cruz, ao norte de La Paz, está muito confusa. Porque primeiro, é através de um médium. O médium cai em estado de transe (porque diz aqui que o médium, depois de adormecido, que começou a transmitir). Se é o médium que transmite, ele transmite pela voz, ele transmite falando. Se a transmissão é telepática, ele recebe apenas o pensamento da entidade que está transmitindo.

Então eu não sei como explicar a interferência, como explicar que na voz do médium apareçam as interferências radiofônicas.

O médium não funciona como aparelho de rádio. Ele funciona como um ser humano falando. De maneira que está muito confusa essa notícia e a gente não chega a captar o que possa ter acontecido. Se a rádio Nova América de La Paz divulgou isso, afirmando ser uma verdade, isso é um problema lá da rádio. Mas um fato deste precisa ser examinado nas minúcias do seu contexto, saber como ele aconteceu. Ou se ele tivesse recebido isso através de um aparelho de rádio, então seria uma transmissão aceitável. Mas assim mesmo, perguntamos o seguinte: Por que este ser extraterrestre, descendo na Antártida teve lá o seu aparelho, a sua nave encalhada no degelo, como qualquer nave comum da Terra? Ele seria, então, um ser que desceria numa nave material, igual a nossa? Se é assim, ele não precisaria de transmissão telepática. Por que foi ele descer em Antártida e não lá, em La Paz ou em Santa Cruz, perto de La Paz, na Bolívia?

Quer dizer, o que está acontecendo no mundo neste momento é uma grave, séria confusão a respeito dos assuntos espirituais e das comunicações interplanetárias. Não há dúvida de que nós avançamos para este momento da ligação com os outros planetas habitados do infinito. Mas esta ligação se fará de maneira natural e não assim, através de meios miraculosos ou misteriosos, como este que está aqui sendo para nós apresentado neste recorte. Eu ponho inteiramente em dúvida essa notícia. Acho que ela seja real no tocante à divulgação pela rádio de um fato que foi considerado importante, mas não dou nenhuma importância à esse fato. Acho que os dados, do ponto de vista espírita, há muitas falhas aí a serem examinadas e nada comprova, a não ser que as respostas dadas sejam de uma elevação tal que nos assuste e nos leve a reexaminar a questão. Mas não acredito nisso. Devem ser respostas banais, como têm sido dadas em toda parte. O fato é que há uma verdadeira crise no mundo no campo do psiquismo, e muita gente está ansiosa por falar com seres de outros planetas. Então certos médiuns servem muito bem para isso. Eles caem em transe, são assediados por espíritos mistificadores (espíritos muitas vezes bastante inteligentes, mas mistificadores), que se divertem com a crendice dos assistentes. Nada mais do que isso.

Mande suas perguntas ao programa No Limiar do Amanhã. Rádio Mulher, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Ouça as respostas nos próximos programas e conteste-as, se for o caso. Mande-nos suas críticas e suas sugestões. Estamos no ar para dialogar.

 

Diálogo no limiar do Amanhã.

O que é a verdade? Quem estará com ela, nós ou você?

 

Pergunta 3: O que o senhor entende por ‘formação espírita’?

Locutor - A ouvinte Marisete Gonçalves, rua Bueno de Andrade, no Cambuci, faz as seguintes perguntas. O que o senhor entende por ‘formação espírita’?

JHP - Formação espírita é uma formação do indivíduo através de um processo de educação. Por exemplo, o indivíduo que quer ser católico. Ele nasceu no catolicismo, ele recebeu as primeiras lições de catecismo, ele se iniciou naquela religião, mas ele não tem ainda uma formação católica. Para ele ter uma formação católica, ele precisa fazer um curso mais intensivo da religião, conhecer a teologia católica e todos os demais acessórios culturais da religião. Então, ele será um católico de formação. Terá realmente uma formação cultural católica. O mesmo acontece no Espiritismo. Há muitas criaturas que nasceram numa família espírita. Aprenderam as primeiras noções de Espiritismo em casa. Leram um ou outro livro e depois começaram a fazer sessões, a freqüentar sessões e acham que realmente são espíritas, que conhecem bem a sua doutrina, quando na verdade mal conhecem alguns elementos apenas. Essas pessoas não têm formação espírita.

Nós nos batemos, naturalmente, pela formação espírita daqueles que querem estudar a doutrina, que querem penetrar nela e que querem viver como espíritas. O Espiritismo realiza uma verdadeira revolução no mundo. Ele nos dá uma nova forma de ver a vida, de ver o homem, de ver as criaturas humanas, de confiar na vida e na morte. Porque o espírita não confia apenas na vida, confia na morte também. A morte que parece o fim de tudo para os outros. Ou que parece o fim de toda vida terrena para os religiosos de quase todas as demais religiões. A morte para nós espíritas é simplesmente àquilo que os judeus chamavam uma páscoa. Quer dizer, uma passagem. Nós ao morrer passamos de um plano para outro da vida. A morte nada mais é que um fenômeno biológico. Assim como um fenômeno biológico do nascimento, um novo ser nasce no mundo através do fenômeno biológico da fecundação e do desenvolvimento do embrião. Assim também na morte, um ser desaparece do mundo pelo fenômeno biológico da extinção das suas forças orgânicas ou do aniquilamento do seu corpo físico através de uma doença, ou de um desastre, ou de coisa qualquer assim superveniente.

Assim, a visão do mundo que o Espiritismo nos oferece é muito diversa da visão comum. Nós acreditamos nas vidas sucessivas. O indivíduo morre e renasce. E não acreditamos apenas, nós temos provas disso. Provas que hoje estão sendo comprovadas pela pesquisa parapsicológica no mundo inteiro. Então, se nós nos reencarnamos, nós vivemos muitas vidas, nós não temos apenas uma vida, o mundo se modifica muito para nós. Ora, para que o indivíduo esteja integrado nesta nova visão do mundo, nesta nova mundividência como se costuma dizer em filosofia. Para que isto aconteça é necessário que ele tenha uma formação espírita, um conhecimento profundo da doutrina espírita.

 

Pergunta 4: O que o senhor acha da “mediunidade de gravação”?

Locutor - Muito bem. Nós vamos agora para a segunda pergunta da ouvinte Marizete Gonçalves. O que o senhor acha da mediunidade de gravação? Kardec não sabia que isso seria possível? Por que não tocou no assunto no Livro dos Médiuns?

JHP - Kardec sabia que isto era possível. Ele apenas não sabia que iriam existir gravadores de fitas magnéticas no mundo. E se ele sabia disto, ele não revelou. Porque nós sabemos, por exemplo, que Júlio Verne, que era contemporâneo de Kardec, sabia que iam existir submarinos, que iam existir aviões, muitas coisas novas que não existiam no mundo. E Kardec, que era um homem, vamos dizer assim ‘pra frente’ naquele tempo, porque ele enxergava muito longe, ele podia também supor que houvesse possibilidade de gravações de vozes no futuro, como há hoje nos gravadores comuns. Ele tratou desta mediunidade, só que dentro das condições do seu tempo. Hoje os espíritos conseguem gravar suas vozes diretamente em fitas magnéticas de gravadores comuns. Gravar suas vozes e não as vozes do médium. Eles gravam diretamente a sua voz, de espírito.

Ora, naquele tempo eles não gravavam a voz, mas eles faziam escrita direta. Por exemplo, as grandes pesquisas do professor Frederico Zöllner na Universidade de Leipzig, na Alemanha, nos fins do século passado, foram quase todas neste campo. O campo da escrita direta. Escrita direta é o seguinte. Nós temos o que chamamos de psicografia. São as coisas escritas por um médium com o lápis na mão, tomado pelo espírito. Então o espírito está escrevendo através do médium. Esta é a psicografia, não é a escrita direta, porque é o médium que escreve. Mas, a escrita direta é o espírito que escreve. E escreve de que maneira? Escreve diretamente sem usar nem mesmo papel, tinta ou lápis, nada disso.

Por exemplo, o professor Frederico Zöllner fazia suas experiências com lousas. Essas lousas escolares comuns. Ele colava uma lousa na outra e cercava essa lousa de todos os recursos necessários para não permitir que ela fosse aberta sem que deixasse sinal. Punha esta lousa numa mesa ou numa gaveta de uma mesa. Fazia reunião mediúnica em redor. Os espíritos escreviam dentro da lousa. Quer dizer, lá no interior das lousas que estavam fechadas uma sobre a outra, lá dentro eles escreviam com giz. E certa vez puseram mesmo um papel escrito dentro da lousa fechada. A lousa era lacrada ao seu redor todo, de maneira que não podia entrar um papel ali. Eles punham papel escrito lá dentro.

Kardec fez uma experiência muito interessante com o editor Didier. O editor parisiense Didier. Didier era médium. Kardec fez uma experiência com ele, de escrita direta. Aconteceu o seguinte: Os espíritos gravaram recados para Kardec em papéis da caderneta do senhor Didier, mas gravaram em forma de impressão tipográfica. Como se aquele papelzinho tivesse sido impresso numa máquina tipográfica, inclusive, deixando revelar o rebaixo do tipo no papel. Então Kardec repetiu a experiência para ver se ela realmente era válida e a experiência foi repetida provando que, na realidade, os espíritos podiam imprimir um trecho num papel, como se tivesse uma máquina de impressão tipográfica.

Ora, o que acontece hoje na gravação comum nada mais é do que isso. É uma gravação direta pelo espírito na fita, como no tempo de Kardec eles faziam gravação direta da escrita no papel, na lousa, ou em qualquer outro lugar. É um fenômeno bastante conhecido no Espiritismo e que hoje a parapsicologia está estudando seriamente. Principalmente por causa das gravações de vozes, que é o grande problema do momento no campo parapsicológico.

 

Pergunta 5: Como entender que o que tem princípio acaba, mas o Espírito não acaba?

Locutor – Nós vamos então para a terceira pergunta da ouvinte Marisete Gonçalves. Como posso entender que o que tem princípio acaba, mas o espírito não acaba? Já tentei decifrar isso no Livro dos Espíritos, mas não consegui.

JHP - Se você conseguisse ler no Livro dos Espíritos e é fácil ler, procure no índice do livro. Você encontra. O problema da trindade universal. A trindade universal no Livro dos Espíritos constitui-se dos elementos fundamentais do Universo. Ora, quando nós falamos de trindade universal, nós nos lembramos imediatamente da trindades existente em todas as religiões. Por exemplo, os egípcios tinham como base na sua religião, uma trindade de deuses que eram: Osíris, Hórus e Ísis. Esses três deuses representavam a trindade fundamental da religião egípcia. No catolicismo, como nós sabemos, e nas igrejas cristãs em geral, temos a trindade de Pai, Filho e Espírito Santo. O Espiritismo entende que esta trindade é uma interpretação antropomórfica da trindade universal, dos elementos fundamentais do Universo.

Quer dizer, nas religiões antigas tudo era simbólico, tudo era interpretado através de símbolos, porque o homem não dispunha ainda de cultura suficiente para compreender certos problemas mais profundos, que só no futuro, com o desenvolvimento cultural, com a pesquisa científica, iriam realmente se tornar claros e precisos para a mente humana.

Então, as religiões se baseavam em interpretações simbólicas da realidade. Ora, a trindade universal para o Espiritismo, é Deus, Espírito e Matéria. Deus é o que nós sabemos, o criador. O criador de tudo quanto existe, a mente criadora, a inteligência criadora. Ora, Deus então emite o seu pensamento e o seu pensamento é espírito, porque é substância espiritual. Não é o espírito individualizado, é uma substância espiritual. Substância fundamental da estrutura do Universo. Este pensamento de Deus expandindo-se no espaço gera a matéria. A matéria fluídica, invisível, impalpável, não é a matéria condensada que nós conhecemos. Ora, a relação espírito e matéria que então se estabelece, produz a possibilidade da criação de todas as coisas no Universo. Tudo quanto existe contém espírito e matéria. O espírito é o elemento estruturador da matéria. Assim, o espírito humano provém do próprio pensamento de Deus.

É o pensamento de Deus que, através das formas sucessivas dos reinos da Natureza – o reino mineral, o reino vegetal, o reino animal e o reino hominal – através dessas formas todas, vai produzir o homem, a criatura humana, o espírito humano. Por isso diz a Bíblia que Deus fez o homem do barro da terra. Por quê? Não é que Deus pegou um punhado de barro e fez um boneco de barro, como se diz lá alegoricamente. Não. É que o espírito humano foi gerado pelo pensamento de Deus e desenvolveu-se através das relações do espírito com a matéria, como a semente plantada na terra se desenvolve para germinar e para desenvolver a planta que vai nascer. Assim, pensando assim e examinando este problema no Livro dos Espíritos, você entenderá por quê.

O espírito tem começo, mas não tem fim. O começo do espírito é o começo da sua manifestação individualizada. O livro está falando do espírito humano. O espírito humano é um espírito definido. Se define pela sua consciência e pela sua afetividade, pelo seu psiquismo, enfim. Este é o espírito humano como um elemento definido, como um ser espiritual. Este ser espiritual teve um começo. Mas o espírito em si não tem começo para nós, porque ele vem do pensamento de Deus. Portanto, o espírito que teve começo para nós, aqui na Terra. Entretanto não tem fim, porque ele é imortal. Ele é imortal, ele vai se desenvolver progredindo indefinidamente. Desenvolvendo as potencialidades divinas que todos nós trazemos conosco. E neste processo de desenvolvimento, é que então nós encontramos aquilo que, para nós, é um mistério, mas que os espíritos explicam de maneira bem clara.

Eu penso que consegui explicar aqui, também colocando as coisas em termos claros. O espírito não tem princípio, porque ele vem do pensamento de Deus e o pensamento de Deus é eterno. Nunca teve princípio. Isto é um axioma. É por assim dizer, um dogma. Um dogma racional. Não é um dogma de fé no Espiritismo. Nós aceitamos que Deus não teve começo porque, para nós, não é possível encontrar o começo de Deus. Nós o aceitamos como uma realidade que está diante de nós. Como, por exemplo, o cientista que estuda botânica. Estudando botânica, ele vai tratar com os vegetais. Os vegetais existem desde que a terra é terra e desde que o mundo é mundo. Para ele, os vegetais só têm começo e fim em cada existência de uma espécie vegetal. Mas na realidade como um gênero, o vegetal não tem começo, porque ele não pode saber o começo do vegetal, embora investigue e tenha suas teorias a respeito. Assim também nós não podemos saber o começo de Deus. Não sabemos se houve um começo para esta mente suprema. Não sabemos o mistério da sua possível origem ou não origem. Então, nós temos de nos limitar àquilo que é possível conhecer. O espírito como pensamento de Deus não tem começo. Com a sua individualização, ele tem um começo aparente para nós, criaturas humanas. Para com a sua morte, ele tem também um fim aparente para nós. No momento da morte parece que não só o corpo morreu, que o próprio espírito desapareceu. Mas apenas parece, porque o espírito continua, sobrevive, ele é imortal. Não sei se expliquei bem. Se não expliquei, você volta a perguntar.

 

Pergunta 6: Por que Deus permite a encarnação de Espíritos assaltantes, desalmados e cruéis?

Locutor - O ouvinte Lauro Caldeira Lima, da Avenida Ipiranga, pergunta. A Terra já tem uma certa evolução, não é um mundo inferior. Por que Deus permite a encarnação, entre nós, de espíritos bandoleiros, assaltantes, desalmados e cruéis?

JHP - O problema da evolução da Humanidade é um problema que nós precisamos encarar com uma dimensão bastante larga do nosso pensamento. Diz o nosso ouvinte que a Terra já é mais ou menos evoluída. Não há dúvida. Mas esta evolução está ainda muito distante daquilo que seria necessário para ela se tornar um mundo superior do espaço. Ou mesmo, um mundo que nós chamamos no Espiritismo de mundo de regeneração. Vou fazer apenas uma explicação que me parece importante nesse assunto. De acordo com a Doutrina Espírita, nós podemos classificar, assim a grosso modo. Não é uma escala definitiva, como diz Kardec, mas apenas uma orientação para o nosso pensamento. Podemos classificar os mundos existentes no Universo, em uma escala crescente que vai dos mundos primitivos. Ou seja, mundos ainda em desenvolvimento, com uma humanidade selvagem, como foi a Terra no passado. De mundos primitivos aos mundos de provas e expiações, que é a Terra no momento. E depois dela aos mundos de regeneração, que são mundos mais felizes, mais livres de cargas pesadas como estas, que quase nos esmagam aqui na vida terrena. E além dos mundos de regeneração nós temos os mundos superiores ou felizes. E depois os mundos celestes, que são mundos constituídos de uma matéria muito mais sutil, muito mais rarefeita que a grosseira matéria da Terra.

Ora, sendo assim, nós já vimos que a nossa Terra está no segundo ponto da escala. Primeiro mundos primitivos, depois mundo de provas e expiações. Os mundos primitivos são povoados por Humanidades selvagens que vão se desenvolvendo lentamente, através de experiências. E vão criando uma cultura rudimentar que, depois, se desenvolve para atingir um ponto mais elevado. Quando atinge um ponto mais elevado, esse mundo primitivo se transfere para o plano de mundo de provas e expiações. Mundo de provas e expiações. Por quê? Porque nós temos o livre-arbítrio. Nós, criaturas humanas temos a liberdade de agir de acordo com nossa capacidade de discernimento, com a nossa capacidade de pensar e de julgar as coisas. Como nós temos o livre-arbítrio, nós então agimos desligados, por assim dizer, das leis da natureza. O animal só age de acordo com suas leis. As leis do seu instinto, as leis orgânicas que o dirigem. Ele, só nas classes superiores do reino animal, é que começa a caminhar no sentido mais livre, aproximando-se da liberdade humana que, como espírito, a essência do animal irá atingir mais tarde.

Assim, a Terra em que nós estamos é um mundo de provas e de expiações. Provas, por quê? Porque nós, como espíritos em evolução, necessitamos de provas para desenvolver as nossas potencialidades espirituais. E expiações porque nós cometemos atrocidades e crimes inumeráveis no passado. Basta ler a história da Humanidade, para vermos como ela está cheia de sangue e de crimes bárbaros, em todas as suas épocas. Então, nós estamos submetidos a expiações dessas provas. Estamos purgando essas provas. Kardec dizia que a Terra é o purgatório. Ele dizia: existe o Céu na nossa consciência e o Inferno na nossa consciência, não como lugares fixos, determinados no espaço, mas como condições da evolução humana. E existe o purgatório como lugar fixo: é a Terra. Na Terra, nós purgamos as nossas culpas do passado. É por isso que temos aqui, a encarnação de tantos espíritos cruéis, de criaturas vingativas, brutais, que convivem conosco, porque foram nossos companheiros em vidas passadas.

Mande suas perguntas ao Programa No Limiar do Amanhã. Rádio Mulher, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Ouça as respostas nos próximos programas e conteste-as, se for o caso. Mande-nos suas críticas e sugestões. Estamos no ar para dialogar.

***

O evangelho de Jesus em Espírito e Verdade.

 

Aberto o evangelho ao acaso, encontramos o seguinte. Filipenses, 3: 17-19.

Tornai-vos todos meus imitadores, irmãos, e observai àqueles que assim andam conforme nos tendes por modelo. Pois muitos andam entre nós, dos quais repetidas vezes eu voz dizia, e agora vos digo até chorando, que eles são inimigos da cruz de Cristo. O seu fim é a perdição. O seu Deus é o ventre e a sua glória assenta no que é vergonhoso e só cuidam das coisas terrenas”.

Este trecho da Epístola de Paulo aos Filipenses nos revela um aspecto bastante curioso do Cristianismo primitivo. O Cristianismo desenvolvia-se num mundo pagão, num mundo da idolatria e da violência no mundo antigo. Então, não foi possível ao Cristianismo imediatamente impor, por assim dizer, a sua orientação espiritual aos povos e as pessoas aderiam ao cristianismo com vontade de receber benefícios. Por quê? Porque os apóstolos, os pregadores do Evangelho curavam. Eles realmente usavam do passe, que nós hoje usamos no Espiritismo. É o que no Evangelho se chama “imposição das mãos” que Jesus ensinou e, através do passe, eles conseguiam realizar curas. Então, muita gente entrava no Cristianismo primitivo com a intenção de obter melhora de vida. Curar-se de doenças e poder viver uma vida mais tranquila e feliz.

Por isso diz o apóstolo Paulo que eles negavam a cruz de Cristo. Por que negavam a cruz? Porque a cruz representava, no Cristianismo primitivo, o sacrifício, o sofrimento, as dificuldades que o homem tem de enfrentar na vida, suportar com resignação, para poder vencer espiritualmente. Mas essas pessoas entravam no Cristianismo querendo cura e não queriam saber de sofrimento, não queriam saber de dores, não queriam saber da cruz de Cristo. O que eles queriam eram os gozos do mundo. Queriam viver a vida no sentido de uma vida quase animal, muito pouco humana e muito menos espiritual. É neste sentido então, que Paulo adverte dizendo que ele até chorava por eles. Chorava por essas criaturas que não compreendiam a mensagem do Cristo e que estavam sendo perdidas. Essas criaturas se perdiam, não pela eternidade, mas se perdiam no caminho do seu desenvolvimento espiritual. E só mais tarde poderia naturalmente encontrar o verdadeiro caminho através da compreensão da mensagem evangélica de Jesus.

 

Um recado para você amigo ouvinte. Ouça-o com atenção e nos mande a sua resposta.

Resolvemos suspender a distribuição de livros neste programa, pois foram muitos, os inconvenientes surgidos. As respostas mais interessantes que forem enviadas aos nossos recados serão lidas ao microfone. O recado de hoje é este, preste atenção.

O Espiritismo é um só. É uma doutrina completa, bem estruturada, nas obras da Codificação de Alan Kardec. Fora dessas obras, não há Espiritismo. Há sincretismo religioso, como das formas africanas e indígenas, e certas correntes espiritualistas fundadas por pessoas que nem sequer conhecem o Espiritismo. A própria palavra ‘Espiritismo’ foi criada por Kardec para designar a Doutrina por ele edificada, segundo os ensinamentos dos Espíritos Superiores. Porque a Doutrina é dos Espíritos, Kardec lhe deu o nome de Espiritismo. Fora de Kardec, não há Espiritismo.

No limiar do amanhã, uma busca da verdade.

 

[1] Herculano se refere à obra Telefone para o Além, de Friedrich Jüergenson. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1972.

 


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