No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.
Nosso ouvinte Alberto Araújo enviou-nos a mensagem que vamos ler:
"Eu sou Alberto Araújo, torneiro de profissão, amigo da Rádio Mulher e com muita honra, ouvinte do programa No Limiar do Amanhã. Tenho uma mensagem especial para vocês, amigos ouvintes, neste mês de maio, que é também o mês das flores, o mês dos cânticos e das festas à Nossa Senhora, Maria Santíssima, Maria de Nazaré, mãe de Jesus. Nasci e cresci como todos vocês, no ambiente católico do nosso país, participando das festas litúrgicas do mês de Maria.
Por isso, e também porque sou cristão, este mês sempre me comove. Nasci no Piauí, com muita honra, e agora estou triste, apesar da entrada festiva de maio, porque o meu estado natal está sofrendo com as consequências de terríveis inundações. Minha família sofre, lá longe, e eu sofro aqui por ela. Mas não estou aqui para falar das minhas mágoas. Quero apenas pedir a todos vocês que se lembrem das famílias flageladas do Piauí. Façam alguma coisa por elas, peço-lhes que orem à Nossa Senhora, pedindo ajuda para o meu povo do Piauí e de todo o Nordeste flagelado. Façam isso e tudo o mais que vocês puderem, pois a coisa por lá foi de arrasar. Nem é bom falar disso, deixo o pedido nas suas mãos e vamos agora tratar do meu recado especial.
É o seguinte. Aqui neste programa, descobri que (eles) adoram a mãe de Jesus, que a veneram de coração, que invocam a sua proteção, em suas preces. É verdade que não a consideram como mãe de Deus e, sim, como mãe de Jesus, e explicam isso muito bem. Dizem que Deus não tem mãe, pois se nunca teve princípio, como pode ter mãe? Consideram Jesus como um enviado de Deus, um preposto de Deus, mas não como o próprio Deus. Os espíritas acham que Deus não pode ser considerado como uma criatura, não pode ser considerado como tendo a forma humana. Lembram que Jesus mesmo chamava Deus de pai, o que mostra que ele era filho de Deus e não o próprio Deus. Estou com eles e me curvo diante de Jesus, que para mim é como um Deus, mas não pode ser o Deus supremo e único. Os espíritas dizem que Deus só pode ser definido por estas palavras: "Inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas". Não é uma beleza? Bacana, estou com eles. O homem tem corpo animal. Como podemos admitir que Deus também precise de um corpo assim?
Mas o meu recado é este. Vim descobrir neste programa No Limiar do Amanhã que os católicos também admitem e usam a psicografia. E que através de uma médium psicográfica, a venerável madre sóror Maria de Agreda, Nossa Senhora escreveu, num convento da Espanha, a história de sua própria vida. Fiquei muito alegre com isso, porque nesta era de ecumenismo, isto vem ajudar a compreensão entre católicos e espíritas. Essa a razão porque eu queria dar esse recado neste mês de maio, mês de Maria, Nossa Senhora. O livro de Nossa Senhora, psicografado por sóror Maria de Agreda, tem este título: Maria Santíssima, mística cidade de Deus, e foi publicado no Brasil com o imprimatur do bispo de Niterói, Dom Jose Pereira Alves, pela Editora Vozes de Petrópolis, que possui livraria aqui em São Paulo. Esse, o recado especial para vocês, amigos ouvintes. Que nossa senhora vos abençoe a todos e a mim também.
No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emmanuel, transmissão 159, quarto ano. Locutora: Jurema Iara. Sonoplastia: Antonio Brandão. Técnica de som: Paulo Portela. Direção e participação do professor Herculano Pires. Gravação dos estúdios da Rádio Mulher, São Paulo.
Diálogo No Limiar do Amanhã. Uma busca da verdade através do rádio.
Pergunta 1: O que é a verdade?
Locutor - Professor, vamos iniciar o diálogo de hoje com uma pergunta da ouvinte Adelina Martucci, da rua Domingos de Moraes, Vila Mariana. É uma pergunta que ficou do programa anterior. Me parece embaraçosa, professor. Diz a ouvinte que nem mesmo Jesus foi capaz de respondê-la. O que é a verdade?
J. Herculano Pires - O problema de Jesus, ao responder esta pergunta, não estava naturalmente na sua incapacidade. Ninguém melhor do que Jesus, que, segundo a definição de tantas pessoas espiritualmente elevadas, pode ser tomado como a própria encarnação da verdade, ninguém melhor do que ele para responder o que era a verdade. Mas acontece que a sua concepção da verdade estava muito além das possibilidades de compreensão de quem lhe perguntou. Quem lhe fez a pergunta foi Pilatos, um homem do mundo, um representante na Palestina do Império Romano. Um homem a serviço de César, e um homem que se defrontava naquele momento com uma situação muito difícil, pois tinha de julgar o próprio Jesus. Ora, Jesus compreendeu que Pilatos não podia de maneira alguma ter o entendimento necessário para entender o que ele ia dizer sobre a verdade. É claro que a concepção da verdade em Jesus vai muito além de tudo aquilo que nós podemos compreender, aqui na Terra. Mas como nós aqui estamos sempre dizendo que buscamos a verdade, que queremos a verdade, que só nos importa a verdade, é justo que procuremos responder a pergunta da nossa ouvinte dando a definição possível da verdade, de acordo com as nossas possibilidades humanas. Nós encontramos várias posições através das quais filósofos, grandes pensadores do mundo, procuraram definir a verdade. E podemos dizer que, de certa maneira, esses homens de elevado pensamento conseguiram atingir definições bastante significativas, bastante importantes. Hoje admite-se geralmente, no campo da filosofia, e também no campo psicológico, que a verdade não é nada mais nada menos de que a relação exata, a relação certa do pensamento com o objeto por ele visado.
Assim, por exemplo, se nós pensamos numa cadeira, nós dizemos a verdade se descrevermos a cadeira na sua estrutura exata, precisa, que define esse objeto. Se nós pensarmos numa pedra e formos capazes de dizer o que é aquela pedra, nós estamos dizendo a verdade. Há sempre uma relação direta e precisa, exata e certa do pensamento com a realidade. A mentira é a relação errada. A relação incorreta. Nós vemos uma cadeira e pensamos que é, por exemplo, um banco. Então definimos a cadeira de maneira errada. Os erros na interpretação da realidade concreta diante da qual nos encontramos correspondem filosoficamente à mentira. Pode ser uma mentira involuntária, mas é sempre uma mentira. A verdade é aquilo que nos dá a exatidão da nossa situação diante das coisas e a exatidão na nossa interpretação da realidade. Quando nós vemos o mundo, o mundo com todas as suas variações de aspectos, com a multiplicidade das suas aparências, nós estamos sujeitos a muitas ilusões. E o nosso pensamento se esforça e é esse todo esforço no campo filosófico. A filosofia existe como um processo de adequação do pensamento à realidade, procurando afastar as nossas ilusões no campo do conhecimento. Quando nós, então, interpretamos o mundo procurando a sua essência, a sua realidade verdadeira, e não ficando apenas nas aparências, nós estamos buscando a verdade. A verdade é, portanto, aquilo que é, aquilo que existe por si, aquilo que se impõe à nossa percepção, à nossa sensação e ao nosso conhecimento como uma realidade.
Assim muita gente pergunta. Por quê? Nós encontramos nas várias religiões da Terra quase sempre os mesmos princípios fundamentais. Ora, isso já nos traz uma prova daquilo que chamamos a verdade no campo espiritual. Quando vários estudiosos, vários investigadores estudam, por exemplo, uma determinada região da Terra, cada um deles pode ter uma interpretação própria a respeito. Mas, no tocante aos problemas fundamentais, aos aspectos fundamentais dessa região, todos concordam. Porque esses aspectos se impõem como uma verdade inegável e indisfarçável. Se existe uma montanha, existe um rio, existe um vale, existe um prado nessa região, é evidente que estas coisas se impõem como a realidade inevitável, diante da qual o observador não pode procurar uma interpretação alheia àquilo que se apresenta para ele. Assim também, as grandes religiões têm sempre os mesmos princípios fundamentais, porque essas religiões são aquilo que o homem sente, que o homem percebe, que o homem capta numa realidade extrafísica, a realidade metafísica do mundo espiritual, com o qual nos relacionamos através da nossa alma ou, melhor dizendo, do nosso espírito. É por isso que os grandes mestres religiosos, espíritos elevados que passaram pela Terra procurando esclarecer-nos a respeito dos problemas fundamentais do espírito, eles tiveram naturalmente de concordar, nos princípios fundamentais que estabeleceram para todas as religiões. Porque esses princípios correspondem a realidade do mundo espiritual com que sempre se defrontam todos aqueles que sinceramente tentarem buscar essas realidades. Quando buscamos, portanto, a verdade no campo da religião, no campo das coisas espirituais, nós procuramos acima de tudo estabelecer uma ligação direta do nosso pensamento, uma ligação certa, precisa, exata, do nosso pensamento com as verdades espirituais que são indisfarçáveis, que estão presentes em nós mesmos, no nosso próprio interior, e estão presentes lá fora, fora de nós, na realidade exterior de um mundo para o qual nós todos caminhamos, através das existências sucessivas na Terra. Isso, portanto, é a verdade. A relação exata do pensamento com a realidade.
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Pergunta 2: Estamos aqui apenas para resgatar dívidas do passado?
Locutor - Professor, o ouvinte Antonio Lupiani, da rua Rosa D'Ângelo, Vila Iara, Osasco, pergunta: Primeiro, sendo a Terra um planeta de prova e expiação, todos aqui estão para resgatar dívidas do passado? Ou há alguns espíritos encarnados com possibilidades de acumular créditos para as futuras encarnações? Em outro mundo habitado, como se processa?
J. Herculano Pires - É claro que a Terra sendo um mundo de provas e expiações, a maioria das criaturas aqui encarnadas estão enfrentando essas duas coisas. A prova é aquilo que nós podemos chamar de realmente um obstáculo, colocado diante da criatura para que ela vença. É como um obstáculo nas provas atléticas, ou um obstáculo colocado diante do aluno nas provas de exames, nas escolas. Através das provas, nós temos a avaliação dos resultados da aprendizagem. Assim também, nas existências sucessivas na Terra, o espírito é submetido às provas que, não só desenvolvem as suas possibilidades de aprendizagem, mas que também dão o resultado dessa aprendizagem. As expiações decorrem dos erros, dos crimes, dos males, dos abusos cometidos pelo espírito, no uso do seu livre-arbítrio. Todos nós, quando atingimos a fase do livre-arbítrio, nos desligamos, por assim dizer, das leis de Deus que nos dirigem, que nos tutelam, aqui na Terra. Vem daí aquele mito de Adão e Eva, na Bíblia. Uma alegoria bastante significativa que nos mostra que o homem primitivo representado aí pelo casal primitivo Adão e Eva. Este homem primitivo vivendo inocente, ignorante de suas responsabilidades. Vivendo ainda em plena ignorância, ele não tem consciência de nada e vive como vivem os animais, desfrutando apenas das belezas e dos favores da Natureza em que se encontra. Mas, no dia em que Adão e Eva, são levados pela serpente que representa no caso, a tentação, levados pela serpente a comerem da árvore do Paraíso, comerem o fruto da árvore da sabedoria, neste dia, então, Adão e Eva tomam consciência de si mesmos. E justamente com isso, eles já se libertam, por assim dizer, da tutela das leis naturais de Deus e recebem o livre-arbítrio. O conhecimento dota a criatura humana de capacidade para agir. Por isso, Jesus, nos Evangelhos, adverte muitas vezes os fariseus. Vocês podiam não ter pecado, mas desde o momento em que vocês dizem "nós sabemos" e fazem o contrário, vocês estão pecando. Por que Jesus dizia isso? Porque o conhecimento traz a responsabilidade. Aquele que sabe o que faz, deve fazer com precisão o que é certo e, não, o que é errado. O que sabe o certo e pratica o errado, este está errando mais uma vez.
Então, é necessário compreendermos que aqueles erros cometidos no passado constituem as expiações pelas quais nós temos de passar. Quem comete um crime, vai ter que expiar a sua falta. A falta é expiada nas existências sucessivas, aqui na Terra. Por isso Kardec chega mesmo a dizer que o purgatório, o purgatório que foi introduzido na Igreja, já depois de vários séculos, que não figurou como o dogma fundamental nos primeiros tempos e que só apareceu como uma espécie de arranjo para uma solução da Justiça Divina, uma solução intermediária entre a condenação eterna e a eterna felicidade. O purgatório, diz Kardec, na realidade existe. Mas não é numa região do espaço, não é no mundo espiritual, o purgatório existe aqui na Terra, é a própria Terra. É aqui que nós purgamos os nossos erros, os nossos pecados, para podermos nos libertar das nossas dívidas do passado, e assim caminharmos para a libertação espiritual. Assim sendo é evidente que a maioria das criaturas que vivem na Terra estão sujeitas a provas e expiações. Mas todos nós, por mais que tenhamos provas a passar, por mais que tenhamos expiações a vencer, todos nós podemos ao mesmo tempo que resgatamos nosso passado, acumular créditos para o futuro. Não são apenas espíritos privilegiados, espíritos que descem a Terra numa situação de orientadores, abnegando-se, consagrando-se a humanidade para orientá-la, para salvá-la, para ensiná-la. Não são apenas esses espíritos privilegiados não por um privilégio absurdo, mas pela sua própria abnegação, pelo seu próprio mérito. Não são apenas eles que podem acumular créditos para o futuro. Nós também, por mais pecadores, por mais inferiores que sejamos, e por mais que estejamos submetidos a pesadas expiações. Se soubermos enfrentar as expiações com coragem, com resignação, com humildade e soubermos, ao mesmo tempo, desenvolver o nosso amor pelos nossos semelhantes. Nós estaremos, nesta própria vida de expiações, acumulando créditos para o passado, ao invés de acumularmos débitos, acumulando créditos para o futuro, ao invés de acumularmos débitos, como fizemos no passado.
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Pergunta 3: O espírito desencarnado usa suas cordas vocais ou as do médium nas comunicações?
Locutor – A segunda pergunta, professor: Um espírito desencarnado, ao falar com uma pessoa encarnada através do médium, por que usa as cordas vocais de seu último desencarne ao invés da do médium? Qual o processo?
J. Herculano Pires - Esse espírito não tem propriamente cordas vocais. As cordas vocais pertencem ao corpo material, ao corpo físico. As suas cordas vocais, portanto, se dissolveram na Terra, com o cadáver. O espírito não usa as cordas vocais, portanto, que ele possuía aqui na Terra. Ele apenas transmite a sua mensagem de acordo com as suas vibrações espirituais, relembrando, por assim dizer, dando eco à voz que ele possuía na sua vida anterior. Porque o espírito carrega toda sua realidade no seu próprio pensamento, na sua mente. A mente, que é a controladora da nossa vida terrena, ela é também, por assim dizer, um arquivo permanente de tudo aquilo que fomos. Por isso, os espíritos podem identificar-se facilmente nas suas comunicações, não só pela voz, mas também pelos gestos, pelas atitudes corporais que muitas vezes transmitem aos médiuns. Eles possuem, como sabemos, o corpo espiritual. Este corpo espiritual é um modelo energético sobre o qual se desenvolveu, aqui na Terra, o corpo material. Portanto, este corpo espiritual tem consigo os modismos, os aspectos, todas as características do corpo material que eles deixaram na Terra. Ao usar o médium como transmissor das suas mensagens, o espírito serve-se das cordas vocais do médium. Mas como nós sabemos, as cordas vocais de qualquer pessoa estão sujeitas a alterações no seu funcionamento, de acordo com as circunstâncias. Num momento de emoção, a pessoa modifica o timbre da sua voz. Qualquer afecção pode também modificar esse timbre. Ora, no momento em que o médium, sendo um médium bastante sensível, recebe um espírito, ele ao sentir a presença do espírito, e ao ser influenciado por esse espírito, ele sente uma modificação nas suas próprias cordas vocais. Uma alteração que aproxima sua voz do timbre da tonalidade da voz do espírito comunicante. É isto que acontece, e não, absolutamente, o emprego pelo espírito de cordas vocais inexistentes nele. Ele usa as cordas vocais do médium, mas a sua transmissão toma naturalmente o aspecto correspondente à sua própria manifestação.
É curioso lembrar, neste caso, porque muita gente se impressiona com esse problema e chega mesmo a levantar a impossibilidade de a voz humana de uma pessoa desaparecida ser repetida, através da mediunidade. Acontece que, nas próprias sessões de voz direta, onde os espíritos não falam através do médium, mas sim, diretamente, vibrando no espaço a sua voz, nestas próprias sessões reconhece-se o espírito comunicante pela sua própria voz. A voz dele se conserva através do tempo e além da morte. Mas para compreendermos bem isto, devemos lembrar que nas próprias experiências telepáticas, atualmente realizadas no campo da parapsicologia, também se verifica este fenômeno. O indivíduo transmitindo o seu pensamento ao outro, à distância, ele transmite também sem querer a sua própria voz. De tal maneira isto tem se manifestado no campo das experiências parapsicológicas, que hoje é inegável, indiscutível este fato. O individuo transmite não só seu pensamento, mas a sua própria voz. O receptor telepático não recebe apenas o pensamento. Em muitas ocasiões, de acordo com as circunstâncias e a diversificação dos fenômenos, ele ouve a voz daquele que está lhe transmitindo o pensamento na tonalidade precisa daquele que está emitindo, como se aquela pessoa estivesse presente a ele. Isto mostra que as nossas expressões não estão ligadas apenas ao nosso corpo material, elas têm a sua fonte no espírito, na mente. E a mente carrega consigo estas tonalidades, estas características individuais para o mundo espiritual. Daí, a possibilidade da identificação dos espíritos comunicantes.
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Pergunta 4: Os médiuns não ouvem nada do que dizem e não sabem o que falam?
Locutor - Professor, o ouvinte Valter Borges pergunta: Primeiro, é verdade que os médiuns não ouvem nada do que dizem e não sabem o que falam?
J. Herculano Pires - Não, não é verdade. Os médiuns que não ouvem nada e que não sabem o que falam, são apenas os médiuns inconscientes. Mas os médiuns, em geral, não estão inconscientes. A maioria dos médiuns são perfeitamente conscientes daquilo que recebem e transmitem. De maneira que, quando o médium está recebendo uma mensagem, ele está na sua própria consciência. Ele recebe a transmissão das ideias do espírito, deixa-se envolver pelo espírito e, então, começa a falar de acordo com aquilo que está recebendo, ele vai transmitindo aquilo. Conforme a intensidade da influência do espírito sobre ele, ele pode transformar-se até mesmo fisionomicamente, nos seus gestos, nas suas expressões, e dar a impressão plena de estar ali presente aquela pessoa, se nós a conhecemos, aquela pessoa que se comunica. Mas ele não está inconsciente.
Existem três tipos de médiuns. O médium inconsciente, que é propriamente o médium sonambúlico, aquele que é tomado pelo espírito e perde a sua consciência nesse momento. E existe o médium semiconsciente que fica num estado mais ou menos de sonambulismo também, mas tem ainda uma certa consciência daquilo que está dizendo. Ele pode não ter a consciência plena, mas percebe o que está dizendo, percebe o sentido do que está falando. E o médium consciente que é o tipo mais comum de mediunidade, principalmente de mediunidade psicofônica, ou essa a chamada "incorporação". Este médium, no geral, é consciente. E, de certa maneira, a consciência que o médium tem da transmissão da sua mensagem é muito importante. Muita gente prefere os médiuns inconscientes, porque teme as interferências do médium nas mensagens e, principalmente, as manifestações anímicas, através da eclosão de ideias ou de pensamentos do inconsciente do médium. Pois bem. Essas pessoas se enganam ao preferir os médiums inconscientes, que são precisamente os mais sujeitos a essas interferências. Na verdade, o médium consciente, ele é o guarda da sua própria transmissão. Ele tem consciência do que está fazendo, do que recebe e do que transmite. E por isso mesmo, ele pode vigiar o seu processo de transmissão mediúnica facilitando a perfeição da mensagem a ser dada. O médium necessita de educação mediúnica. Uma vez tendo a educação mediúnica, ele como médium inconsciente exerce a sua função de maneira muito eficiente.
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Pergunta 5: Pessoa descrente e efeito da bebida sobre a mediunidade.
Locutor - A segunda pergunta professor. Eu bebia um pouco e sentia arrepios. Depois comecei a falar como índio ou caboclo. Isso me levou a frequentar sessões. Eu era descrente, agora sou um médium, mas ouço o que falo e penso que sou eu mesmo. Só alguns gestos me tiram fora do normal. Recebo um guia, mas tenho a impressão de que sou eu mesmo que penso e falo. Deixei de beber e só recebo nas sessões. J. Herculano Pires – Veja o senhor, que, diante mesmo do seu relato, o senhor já nos oferece alguns dados bastante importantes, significativos, para mostrar que a sua mediunidade é uma mediunidade legítima. Se o senhor sente a presença do espírito, recebe o que o espírito lhe transmite e o senhor diz, mas fica em dúvida, o senhor fica em dúvida porque desejava ser inconsciente. O senhor devia falar, transmitir a mensagem. O senhor queria falar, transmitir a mensagem do espírito, sem ter consciência disto, para não se sentir possivelmente autor daqueles pensamentos. Mas os pensamentos não são seus, porque eles lhe vêm à mente. Se o senhor prestar atenção nisso, o senhor vê que os pensamentos lhe estão sendo transmitidos. Além disso, o senhor está sob influência estranha, esta influência estranha modifica o seu comportamento. O senhor mesmo reconhece que tem gestos fora do normal nesses momentos, modifica o seu comportamento. Consequentemente, o senhor está sob uma influência estranha. Essa influência que vem de fora, transmite uma mensagem. O senhor já prestou atenção nessas mensagens? O senhor já prestou bem atenção naquilo que disse e viu? Se o senhor mesmo seria capaz de dizer tudo aquilo?
Geralmente os médiuns conscientes têm essa dificuldade. Mas na proporção em que desenvolvem o seu trabalho mediúnico, eles vão percebendo que na realidade não podem. Aquilo que vem para eles dizer não pode vir deles, porque eles não têm conhecimento daquelas coisas. Eles passam a tratar de problemas que não entendem e podem então verificar perfeitamente, além dos sintomas que já acentuamos. Como a presença do espírito, a influenciação recebida, a sensação que o médium sente, ao receber a mensagem, de que aquilo vem de fora e não dele. Além de tudo isto, ele passa a ter a prova de que não é dele, quando vê que, na verdade, está dizendo coisas que não pode dizer. Quantas vezes o médium fala contra si mesmo, contra as suas próprias ideias, expondo ideias diferentes, completamente contrárias ao seu pensamento! Outra prova que o senhor tem. em que o senhor diz aqui que já não recebe mais estas influenciações, a não ser nas sessões, porque a sua mediunidade está sendo disciplinada com a sua frequência ao centro. E mais importante: o senhor diz aqui, eu deixei de beber. Ora, então o senhor vê que ao passar a frequentar o centro houve uma modificação bastante em sua vida. O senhor deixou de sofrer influenciações fora das sessões, de sofrer influenciações na rua, em casa, onde quer que estivesse, de ser perturbado por influências espirituais. O senhor deixou de ser arrastado à bebida, o que naturalmente o senhor o era, por espíritos viciados. O senhor se libertou desses espíritos porque encontrou no centro espírita, nas sessões que frequenta, um ambiente espiritual satisfatório capaz de protegê-lo e de encaminhar essas entidades à sua libertação também. Então, meu caro amigo, as suas dúvidas a respeito da sua mediunidade não têm razão de ser. O senhor deve continuar nos seus trabalhos mediúnicos e prestar bem atenção nos benefícios que está recebendo, através desses trabalhos.
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Locutor – E a terceira pergunta ele diz: Devo continuar nas reuniões, Professor?
J. Herculano Pires – Já está respondida.
Pergunta 6: O espírito de um homem pode reencarnar no espírito de uma mulher e vice-versa?
Locutor - A ouvinte Maria das Dores Santini, da rua Loefgren, Vila Mariana, pergunta: Professor, primeiro, um espírito de homem pode reencarnar em espírito de mulher e vice-versa?
J. Herculano Pires - Sim. É justamente um principio da Doutrina Espírita. Os espíritos não têm sexo, no sentido daquilo que nós consideramos aqui na Terra como sexo. Os espíritos têm posições, tem atitudes, tem situações. Mas eles na realidade não são dotados espiritualmente dos elementos que correspondem ao corpo material, nas suas exigências terrenas. O sexo existe na Terra, como o quê? Como órgão de reprodução da espécie. Os espíritos não se reproduzem. Os órgãos de reprodução correspondem, portanto, ao corpo material. Têm a sua função nesse plano material, onde a reprodução da espécie é necessária. A reprodução corporal, a reprodução física. Os espíritos, como não se reproduzem, eles são criados eternos, têm a natureza eterna, imortal. Então eles não possuem os órgãos sexuais.
Consequentemente o espírito é essencialmente um elemento independente daquelas condições que ele vai, de que ele vai se revestir na vida material, na Terra. O espírito tanto pode ser de homem, como de mulher, ele é essencialmente a mesma coisa. Entretanto, acontece o seguinte: As potencialidades do espírito são enormes, são imensas. O espírito se destina a ser uma criatura superior na sua evolução. Então ele vai ser dotado de todas as capacidades e de todas as possibilidades de ação, que as criaturas humanas possuem na Terra e muito mais do que essas possibilidades. Mas justamente para equilibrar o desenvolvimento do espírito, ele precisa, às vezes, passar por uma encarnação masculina, e de outras por uma reencarnação feminina. Porque nas experiências terrenas, cada uma destas posições, a masculina e a feminina, oferecem experiências diferentes para o espírito.
Assim, por exemplo, nós poderíamos dizer, o espírito masculino desenvolve as suas potencialidades viris, as suas potencialidades de energia, de coragem, de bravura, de ação permanente no campo humano. A sua encarnação feminina desenvolverá a sua capacidade de ternura, de amor, de cuidado para com as criaturas nascentes. O instinto maternal se desenvolve no espírito, aprimorando aquilo que de melhor ele possui no campo da sensibilidade afetiva. É assim, através de encarnações sucessivas nos dois campos, daquilo que geralmente se chama a linha masculina ou a linha feminina de evolução. É nas suas reencarnações sucessivas, nesses dois campos, que o espírito vai se aprimorando, desenvolvendo as suas potencialidades e aperfeiçoando a sua personalidade. Portanto, não obstante, muitas vezes, os espíritos teham várias encarnações no campo masculino, ou várias encarnações sucessivas no campo feminino. Não obstante isto, a verdade é que o espírito humano tanto pode animar um corpo de mulher como um corpo de homem. Este é um principio da Doutrina.
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Pergunta 7: Número de encarnações na Terra. E depois?
Locutor - A segunda pergunta, professor. Quantas encarnações temos que viver na Terra e, depois, para que mundo iremos?
J. Herculano Pires - Nunca se pode dizer quantas encarnações um espírito tem de levar num determinado mundo, para completar o seu trabalho evolutivo nesse plano. Nós sabemos que os espíritos nascem por exemplo na Terra ou em qualquer outro planeta do infinito. Eles nascem nesse planeta determinado porque ali é o local mais apropriado ao seu estado evolutivo. Eles têm, então, de desenvolver-se naquela Humanidade. Integrados na Humanidade terrena, ou, vamos dizer assim, na Humanidade de qualquer outro planeta do infinito. Eles têm de se desenvolver adquirindo os conhecimentos e aperfeiçoando-se de acordo com as possibilidades que essa Humanidade oferece a eles. Quando o espírito consegue ultrapassar os limites da evolução desse mundo em que ele está, só então ele é removido para outro mundo. Ele vai passar para um mundo superior, porque ele superou a condição de vida no mundo em que ele estava evoluindo.
Mas não é possível calcular-se, não há nenhum dado sobre isto, nem temos condições atualmente na Terra para pensar nestas coisas. Mesmo porque, cada espírito difere do outro. Um espírito pode passar muito rapidamente pela Terra e superar as condições da evoluçao terrena. Outro espírito pode demorar-se muito tempo aqui, muitos séculos, aqui na Terra, repetindo quase sempre as mesmas experiências, porque ele é, por assim dizer, um espírito preguiçoso que não procura avançar, que se contenta com a sua vida de rotina. E ele terminará passando por duros sofrimentos, duras expiações, para poder se libertar do estado rotineiro em que se encontra. Então não é possível determinar-se o número de encarnações de que um espírito necessita, neste ou naquele mundo, para poder superá-lo.
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O Evangelho do Cristo em espírito e verdade. Não espere sermão, vamos apenas dar uma explicação.
Aberto o Evangelho ao acaso, encontramos o seguinte. Aos Romanos, 8: 31-33.
“Que diremos pois à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou ao seu próprio filho, mas por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem formará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem nos justifica.”
J. Herculano Pires - Paulo ao escrever a sua carta aos Romanos, ele analisou naturalmente vários problemas referentes ao desenvolvimento do cristianismo nascente. E ao mesmo tempo tratou, como sempre tratava nas suas cartas, de dar uma orientação segura para as igrejas cristãs que então estavam se formando em todo mundo. E quando falamos de igrejas cristãs, é bom lembrar que a palavra "igreja" significa simplesmente assembleia, reunião de pessoas conjugadas no mesmo interesse religioso. Não se fundavam igrejas naquele tempo, com o sentido e a estrutura que têm as igrejas cristãs de hoje. As igrejas primitivas eram reuniões simples, de pessoas que humildemente se aglutinavam, por assim dizer, numa sociedade, e escolhiam um local determinado para realizarem os seus cultos. Ora, sendo assim, Paulo procurava incentivar o desenvolvimento destas comunidades cristãs, a fim de que o cristianismo pudesse semear-se no mundo, esparramar-se na Terra, levando a mensagem do Evangelho a todos os corações e transformando aquele mundo bárbaro em que o Cristo nasceu. Um mundo dominado pela violência, pela ambição desmedida, pela vaidade, pelo orgulho dos homens. Transformar este mundo num mundo melhor, um mundo mais humano, em que a gente pudesse viver de acordo com os princípios evangélicos. E por isso Paulo, neste trecho, como vemos, ele acentua a importância de considerarmos que Deus nos concedeu tudo o que é necessário para que nós façamos essa transformação da Terra. Chegando mesmo a nos mandar o seu filho, que no caso é Jesus. O seu filho que havia atingido os mais altos planos da evolução. Porque \,na verdade, como o próprio Paulo nos explica em outras epístolas, nós todos somos filhos de Deus. Jesus não era, por assim dizer, um filho privilegiado. A expressão, por exemplo, o filho unigênito de Deus que nós encontramos nas Escrituras e em certos textos antigos, é uma expressão que não corresponde à verdade do ensino do próprio Cristo e do próprio apóstolo Paulo. "Unigênito" seria o filho único de Deus. Não. Ele é apenas o filho que no processo evolutivo atingiu um plano superior e tornou-se capaz de vir auxiliar aos demais filhos de Deus na terra.
Ora, Paulo então acentua o interesse de Deus pela nossa evolução espiritual, mostrando que ele enviou o seu filho mais evoluído aqui na Terra para nos enfrentar e sofrer conosco as maiores injustiças. Passar pelos suplícios mais terríveis e ignominiosos, a fim de nos trazer um impulso decisivo para a nossa evolução. A fim de nos auxiliar a realmente nos modificarmos, nos melhorarmos. Lembrando isto, Paulo acentua então, que Deus está com todos aqueles que se esforçam para progredir. Com todos aqueles que querem melhorar-se. E o espírito, como diz ele, o espírito, que é a nossa própria essência, tem, dentro de si mesmo, o impulso evolutivo que deverá levá-lo para Deus.
Então, não devemos nos importar com aqueles que nos censurem, que nos acusem, que nos julguem através das suas medidas. Dos seus processos de julgamento, ainda bastante restritos, porque apegados ao juízo terreno. Não devemos nos incomodar com aqueles que querem nos condenar, porque nós não aceitamos as suas crenças, nós não concordamos com seus princípios religiosos. O que devemos fazer é confiar em Deus e prosseguir na nossa evolução. Pouco importam os murmúrios, pouco importam as alegações contrárias a nós, feitas pelos homens. O que nós temos de fazer é confiar naquele Deus, que se nos concedeu a própria vinda de Jesus à Terra, sacrificando-se em nosso favor, também nos concederá tudo o mais que necessitarmos para a nossa evolução espiritual. É assim que nós poderemos compreender o ensino permanente de Paulo no sentido de termos fé em Deus. Fé naquele Deus que nos provou o seu interesse por nós, o seu desejo de nos orientar. A sua constância em nos auxiliar sempre nos caminhos do Bem. E assim acreditando, nós poderemos marchar tranquilos, em direção a Deus.
Os casos de obsessão tornam-se mais graves quando a vítima é orgulhosa e não quer aceitar que está obsedada. Na verdade, a obsessão é mais comum do que se pensa. Todos somos mais ou menos obsedados, pois os espíritos influem constantemente em nossos pensamentos. E todos nós pensamos coisas erradas. O obsessor alimenta as nossas preocupações inferiores, sintonizando seu pensamento com o nosso. Não seja vaidoso amigo ouvinte, examine com humildade a sua conduta e trate de afastar a sua obsessão com a leitura diária de O Evangelho Segundo o Espiritismo e com a prece diária. Visite um bom centro espírita e passe a frequentar os seus trabalhos, pelo menos uma vez por semana. Esse o nosso recado de hoje.
No Limiar do Amanhã, uma clarinada espiritual.