No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.
Estamos entrando num mês festivo. Mês de grandes efemérides em nosso país. Dia 3 de Maio celebra-se o descobrimento do Brasil. Dia 13, temos a grande data de abolição da escravatura, quando a princesa Isabel, a Redentora, sacrificou o trono de todo império em favor do ideal de liberdade para todos os seus súditos.
Isabel assinou a Lei da Abolição de acordo com o seu pai, que estava na Europa, num gesto de absoluto desprendimento. Dom Pedro II e a princesa Isabel sabiam muito bem o que arriscavam, mas era necessário acabar com a escravidão em nosso país.
A data de 13 de maio tem um significado mais profundo do que geralmente se pensa. Os soberanos brasileiros enfrentavam, há muito, um dilema terrível. O Brasil avançava para uma nova fase de sua história. Era necessário eliminar os resíduos coloniais de sua estrutura política e integrá-lo no quadro das nações democráticas. Coube à Princesa Isabel assinar a lei de redenção dos escravos que era, ao mesmo tempo, a lei de humanização da vida nacional. A Lei da Abolição nos integrou num mundo moderno, orientado pelos princípios do humanismo cristão. O culto católico a Maria Santíssima, a que a Igreja dedica todo este mês, enriqueceu-se com o gesto cristão de Isabel, a Redentora.
No dia 1º de maio, temos a festa universal do Trabalho. Maio é um mês festivo. O segundo mês do outono, em que temos uma espécie de primavera antecipada em nossa terra. Curioso lembrar que para os romanos, o mês de maio era também festivo. Todo ele dedicado as festas públicas em honra de Apolo.
No meio espírita brasileiro, temos a 1º de maio a data de nascimento de Eurípedes Barsanulfo, o fundador da educação espírita no Brasil, que instalou em Sacramento, estado de Minas, o colégio Allan Kardec. Eurípedes foi um grande médium e divulgador do Espiritismo em nosso país. Um apóstolo do Espiritismo.
No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Produção do grupo espírita Emmanuel. Transmissão 158, quarto ano. Locutores: Roberto Nei e Jurema Iara. Sonoplastia: Antônio Brandão. Técnica de som: Valdir Pacheco. Direção e participação do Professor Herculano Pires. Gravação nos estúdios da Rádio Mulher, São Paulo.
Diálogo no Limiar do Amanhã. Perguntas e respostas sobre os problemas fundamentais da vida e da morte.
Pergunta 1: Fenômenos físicos em São Miguel Paulista
Locutor - Professor, o ouvinte Antônio Marte pergunta. Sou vizinho do senhor Antônio Bispo da Silva, rua Quatorze, Parque Santa Rita, em São Miguel Paulista, próximo à igreja Assembléia de Deus, foi tumultuada por uma enorme multidão de curiosos, que diariamente se divertiam à custa dos fenômenos que naquela casa aconteciam. A casa do senhor Antônio Bispo e de sua família, desde o dia primeiro até o dia quinze de janeiro. Começava às seis horas da tarde e terminava às onze, pois a casa ficou arrasada com os vidros e todos os seus objetos quebrados. Panelas voavam pelo ar. Pedradas eram arremessadas, atingindo as pessoas que presenciavam a cena. Algumas foram medicadas como foi o caso de dona Odete Gazeta, que ficou seriamente ferida por uma pedrada no rosto, e muitos outros mais, nesta casa. Não há nenhum espírita, é uma família de católicos praticamente rodeada de crentes evangélicos. Durante o dia quinze, a casa virou um inferno. As camas, as cobertas, os sapatos, as cadeiras, andavam sozinhas pela casa. Dona Eurides não conseguia cozinhar porque, dentro da panela, apareciam sapatos e outros objetos. Esse espetáculo demorou quinze dias, depois cessou. Eu estive no local analisando a possibilidade de fraude, mas o caso era realmente uma verdade. Verdade que pode ser constatada a qualquer momento, pelos testemunhos que viram e assistiram as fenômenos, pois são mais de milhares e todos residem no Parque Santa Rita. Professor, gostaria de ouvir sua opinião a respeito, pois ele contínua sendo motivo de intensa confusão, com pesado sofrimento para onde se deu este fenômeno, pois o senhor Antônio Bispo está sendo motivo de gozação e de deboche dos curiosos.
J. Herculano Pires - Casos desta natureza são muito comuns na bibliografia espírita, ocorreram sempre em todas as partes do mundo. Entretanto, é preciso observarmos bem quando acontecem estes casos, se na realidade eles estão ocorrendo de maneira paranormal, ou, como se dizia antigamente, "sobrenatural", ou se podem ter interferência de pessoas que, na realidade, pratiquem atrocidades contra os moradores da casa. Pela descrição que o senhor apresenta, os fatos só podem ter sido paranormais. Uma vez que objetos andavam sem nenhum impulso dado por pessoas humanas, se sapatos podiam andar como se estivessem calçados, não estando. E se panelas voavam pelo ambiente, sem terem sido atiradas por ninguém. Se os fatos ocorreram assim, dessa maneira límpida, bem visível, bem verificável, como o senhor está dizendo, é evidente que ocorreram fatos paranormais.
Estes fatos são chamados no Espiritismo de fenômenos de efeitos físicos. Fenômenos mediúnicos produzidos por espíritos que se servem da mediunidade de alguma pessoa, ou de várias pessoas, para produzir estes movimentos de objetos. Também são considerados como fatos correspondentes ao fenômeno chamado com uma expressão técnica alemã de poltergeist. Poltergeist quer dizer "espírito batedor". São, então, espíritos que procuram bater, produzir barulhos, atirar objetos, fazer movimentos em casa, que são chamadas de "casas assombradas".
Por mais que os materialistas e os descrentes de todos os matizes achem que estes casos são pura fantasia, a verdade e que não só o Espiritismo nas suas investigações científicas constatou a realidade plena destes fatos, mas também que, durante a pesquisa da metapsíquica, que é uma ciência como sabemos, formada, construída, elaborada por um grande fisiologista que foi o professor Charles Richet, então, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Paris.
Nas investigações metapsíquicas, estes fatos se comprovaram amplamente. Nas pesquisas realizadas pelas instituições de pesquisa científica, tanto da Inglaterra, quanto dos Estados Unidos, também os anais dessas instituições estão cheios de relatos, de fatos verificados cientificamente destas ocorrências. Além disso, na atual parapsicologia, no desenvolvimento atual da parapsicologia, muitos fatos destes foram também observados por parapsicólogos eminentes. E experimentalmente estes fatos podem ser produzidos nas chamadas "sessões de efeitos físicos". Assim, do ponto de vista teórico da Doutrina Espírita, não há dúvida, nenhuma de que estes fatos ocorrem, eles se verificam, e com toda intensidade que o senhor relata.
Pode-se perguntar: por quê? Qual é a razão de ser destes acontecimentos? Há vários motivos para isto. O primeiro motivo é, evidentemente, a existência dos Espíritos ao nosso redor e a sua possibilidade de ação sobre nós e sobre a matéria, através de médiuns. Então, é sempre necessária a presença de médiuns no ambiente. Porque, do contrário, o espírito não estará provido dos elementos vitais necessários para a produção desses fenômenos. Teoricamente, portanto, não se pode duvidar deste acontecimento. Mas, praticamente, nós temos sempre de só aceitar a realidade daquelas ocorrências que são verificadas. E verificadas com rigor, por pessoas que estejam em condições de não se deixar iludir, de não se deixar atemorizar, de não se deixar sugestionar. E vou explicar por quê. Não apenas porque pode haver indivíduos que queiram fraudar, que queiram brincar, ou indivíduos que queiram prejudicar o dono da casa. Que queiram fazer maldosamente certas coisas que podem trazer prejuízos para o dono da casa, para a família. Não somente por isto. Mas porque há pessoas que são dotadas de mediunidade não no sentido de produzirem estes fatos, mas de serem envolvidos por espíritos brincalhões, que delas se servem para produção fantasiosa de fatos desta natureza. Muitas das acusações de fraudes contra médiuns, no mundo, decorrem destes fatos. Médiuns que são envolvidos por entidades brincalhonas ou entidades maldosas, que, não podendo, através da mediunidade, produzir os fenômenos, fazem com que os médiuns os produzam por suas próprias mãos, com extrema habilidade. É por isso que, quando há ocorrências desta natureza, os espíritas que conhecem realmente o Espiritismo, não vão logo aceitando a realidade aparente dos fatos. Eles investigam, procuram verificar. É claro que a verificação se torna fácil quando a movimentação de objetos é evidente, quando os objetos não podem ter sido movidos por nenhuma pessoa. Então, é claro que verifica-se, logo, a existência de forças paranormais ou forças mediúnicas atuando no ambiente.
O senhor poderia naturalmente perguntar, o senhor não pergunta, mas o senhor sugere esta pergunta, dizendo que a família em que isto ocorreu é uma família católica. Que esta família mora perto de uma Igreja das Testemunhas de Jeová. O senhor acrescentou que esta família vive cercada, por assim dizer, de crentes evangélicos. O senhor poderia estranhar que, em tais circunstâncias, tão bem guardada esta família por elementos categorizados do ponto de vista religioso, tenham ocorrido fatos desta espécie. É preciso lembrar que estes fatos são naturais. Eles não são produzidos pelo demônio como, sequer, pelo diabo, por entidades diabólicas. Não. São produzidos por criaturas humanas desencarnadas, livres do corpo material, mas vivendo no seu corpo espiritual, que é um corpo energético. Um corpo que não é visível para nós, no seu estado normal, mas que se torna visível sempre que isto seja necessário. Estes corpos, de que se servem os espírito,s correspondem, na sua aparência e na sua estrutura, perfeitamente ao corpo material. E se constituem, como dizia Allan Kardec, se constituem, de fato, de matéria, mas de matéria rarefeita, de matéria num estado de condensação muito mais rarefeito do que o da matéria densa em que nós vivemos. Por isto, a energia de que se constituem estes corpos não corresponde à densidade material dos nossos órgãos físicos. E por isto mesmo, os espíritos dotados desses corpos energéticos procuram ligar as suas energias com as energias físicas dos corpos materiais, para, através da produção de uma nova forma de fluido, que é um fluido intermediário entre matéria e espírito, poderem agir sobre a matéria.
Tudo isso está amplamente verificado na Doutrina e fora da Doutrina. Mas no caso a que o senhor se refere, nós não podemos dar uma decisão sobre ele porque, embora tenhamos o seu testemunho que consideramos válido, não temos provas claras, suficientes para demonstrar que na realidade ocorreram estes fenômenos.
As provas testemunhais em ciência não tem valor. As provas que se fazem em ciências são provas objetivas, concretas, como a fotografia, a cinematografia, a constatação do fato através de impressões que permaneçam no ambiente. Enfim, de todos aqueles elementos que deem a realidade absoluta e incontestável da ocorrência do fenômeno.
Eu queria dizer ao senhor o seguinte. Não há motivo para que certas pessoas estejam fazendo gozação com o dono da casa. O dono da casa, no caso, só pode ter sido vítima. Porque qual seria o seu interesse em produzir esses fenômenos que perturbaram a sua família e lhe trouxeram prejuízos materiais? O dono da casa, de qualquer maneira, só pode ter sido vítima. E, neste caso, estas pessoas que riem deviam ter mais cautela, deviam naturalmente considerar a necessidade do respeito humano por aqueles que passam por acidentes desagradáveis. Casos desta natureza são sempre desagradáveis e sempre produzidos por espíritos inferiores. Mesmo quando produzidos através de pessoas que são empolgadas por esses espíritos e imitam fenômenos que na verdade não existem. E essas pessoas que riem e que zombam do homem que foi sacrificado com estes fenômenos, não estão livres de também sofrerem coisas semelhantes. É preciso que ponderem isto, que se lembrem disto e que evitem os comentários perniciosos ou agressivos, aqueles que passaram por fatos dessa natureza.
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Pergunta 2: Médium que afirma ser a reencarnação de Allan Kardec.
Locutor – Professor, o ouvinte Renato Moretti da rua Antônio Foster, Socorro, São Paulo, pergunta. Primeiro, o médium que afirma que é uma reencarnação de Allan Kardec não é um caso de obsessão?
J. Herculano Pires - É evidente que todo médium que se propõe a ser reencarnação de alguém, principalmente de figuras importantes do passado, é um médium perturbado. Nós não sabemos as nossas, não conhecemos as nossas encarnações do passado. Nós temos o esquecimento necessário para podermos viver a nossa encarnação presente. Muita gente pergunta por que esquecemos do passado? Esquecemos porque se nós não esquecêssemos o passado continuaria presente na vida atual. Ora, se nós voltamos para uma outra existência na terra a fim de corrigir os erros das vidas passadas ou da vida anterior. Se nós aqui estamos muitas vezes para nos reconciliar com inimigos do passado, pois que nada autoriza uma criatura humana a ser inimiga de outra. Se nós aqui estamos para isto, é evidente que devemos esquecer antes de mais nada o que ocorreu na vida passada, para que os fatos anteriores não venham confundir-nos e suscitar novamente em nós antigas paixões que já foram superadas segundo uma experiência vital. Uma vida, por exemplo em que o indivíduo seja pai do seu inimigo, pai daquele que foi seu inimigo no passado, é uma vida que estabelece ligações novas entre esses dois indivíduos na qualidade de pai e filho.
E assim sendo, os laços do passado são rompidos porque novos laços, agora, laços de amor, de afetividade, de carinho, de compreensão, vão se estabelecer entre eles. É este o motivo do esquecimento do passado. E este esquecimento é tão necessário que muito dificilmente algumas pessoas no mundo se lembram das existências passadas. Em geral quando crianças e na proporção em que vão crescendo, estas lembranças vão se apagando e desaparecem completamente. Graças a permanência destas lembranças em algumas crianças, até, às vezes, por sete ou oito anos de idade e em casos raros até a adolescência, graças a estas lembranças tem sido possível a pesquisa cientifica da reencarnação hoje amplamente desenvolvida no mundo.
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Pergunta 3: Médiuns joguetes dos espíritos: é caso de obsessão?
Locutor - Os médiuns que se tornaram joguetes dos espíritos desencarnados e não possuem conhecimento da sua situação. Isso não são casos de obsessão?
J. Herculano Pires - É evidente que todo médium que serve de joguete para espíritos está sob obsessão. A obsessão é um envolvimento do espírito que suprime por assim dizer as condições de vontade própria do médium, fazendo com que ele aja de acordo com a vontade do espírito. Toda vez que isso ocorre portanto, trata-se de um caso de obsessão.
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Pergunta 4: O médium pode ser levado a posessão?
Locutor - No caso de obsessão do médium, professor, ele pode ser levado a posessão?
J. Herculano Pires - A palavra possessão era empregada principalmente na Idade Média. O Espiritismo não aceita esta expressão, porque não se dá propriamente uma possessão. O que o Espiritismo considera é o seguinte: Existe a obsessão em que o Espírito permanece sempre ao lado do médium atormentando-o com ideias ou com influenciações negativas. Esta obsessão, de certa maneira, é uma espécie de acordo que se realiza entre o médium e o Espírito. Quer dizer, o médium, envolvendo Espírito, suscita nele certas ideias que ele aceita. E como ele aceita essas ideias, então os dois se conjugam e trabalham juntos. O obsedado na verdade também tem compromissos com a obsessão. Mas a obsessão tem dois graus além daquilo que nós chamamos obsessão simples. Um desses graus, logo imediato, é o grau que leva, não a possessão, como o senhor está dizendo, mas à subjugação. O médium subjugado por um espírito, o médium afetado por um processo de envolvimento mais profundo, ele cai naquele estado que na Idade Média se chamava de possessão.
Não há portanto possessão de acordo com o Espiritismo. O indivíduo não é possuído por um espírito estranho porque esse espírito não pode penetrar no seu corpo, como se costumava dizer naquele tempo. O espírito apenas consegue dominar mais poderosamente os pensamentos do médium e a sua vontade.
Subjugá-lo, porque conseguindo subjugá-lo, assim mentalmente, o espírito dirige através de ordens mentais, que a pessoa vai aceitando. Todo médium em estado de obsessão se não cuidar da sua obsessão, se não tratar de rejeitar as ideias que lhe são dadas pelo obsessor, se não conseguir se livrar disso, ele cai na fascinação. Primeiro na subjugação e, depois, na fascinação. E a fascinação é aquele momento em que a influência do espírito, como ensina O Livro dos Médiuns, perturba a faculdade de julgamento, de discernimento do médium. Uma vez perturbada a sua faculdade de discernimento, o médium fascinado entrega-se inteiramente a todas as sugestões do espírito. Aí é caso de internamento.
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Pergunta 5: Regressão de um espírito superior que reencarna.
Locutor - Professor, a ouvinte Ronei Vidigal Lima da rua General Chagas Santos, em São Paulo, pergunta. Que espécie de regressão sofre um espírito superior que reencarna em um corpo que inibe a sua evolução?
J. Herculano Pires - Não existe uma encarnação de espírito superior num corpo que possa inibir a sua evolução. Um espírito superior sempre se encarna na Terra com uma missão, com um objetivo superior também. Talvez a sua pergunta queira se referir a espíritos que passaram para o mundo espiritual como sendo superiores, aqui para nós, na Terra. Por exemplo, um homem bastante inteligente, bastante culto, podemos dizer mesmo um cientista que passou para a vida espiritual. Nós então o consideramos espírito superior, porque ele era dotado de qualidades superiores na vida humana. Tinha amplos conhecimentos terrenos, mas faltava-lhe o principal para ser um espírito superior, faltava o conhecimento espiritual. Faltando este conhecimento espiritual, ele não estava em condições de realmente ser, no mundo espiritual, um espírito superior. Ele lá será sempre um espírito inferior, um espírito que não soube desenvolver a sua inteligência no campo espiritual, que é o principal. Desenvolveu-a apenas aqui na Terra e empregou-a mal. Empregou-a mal porque faltou-lhe a orientação moral no exercício da sua profissão. Um cientista, por exemplo, que se serve da ciência para ganhar dinheiro, para subir na vida, para enriquecer, conquistar posições sociais e políticas, pisando sobre os outros, esmagando aqueles que ele devia proteger, amparar, ajudar. Este espírito é um espírito altamente endividado e por isto mesmo inferior. Ele voltará à Terra, então, num corpo que lhe cria inibições, mas inibições que foram criadas por ele mesmo. Porque ele, nas suas atividades terrenas, ele destruiu, por assim dizer, os tecidos morais da sua inteligência. E esta destruição vai se refletir nos tecidos carnais do cérebro, que ele vai ocupar em vida futura. Ele passará, então, por esta inibição, que não é um atraso para a sua evolução, que não determina uma estagnação no seu processo evolutivo, que é apenas uma encarnação de correção. Ele vem para ser corrigido, para ver quanto custa a inteligência e a expressão da inteligência, e quanto ele deve se dedicar para poder vencer aquelas ambições que o levaram pelo mau caminho.
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Estamos todos em marcha através das vidas sucessivas. Por que todos nascemos, vivemos, morremos e renascemos? Para onde vamos? Qual é o nosso destino? Somos realmente imortais, ou a morte é o nosso fim absoluto? Pergunte, amigo ouvinte, mandando suas perguntas ao programa No Limiar do Amanhã. Rua Granja Julieta, 205, travessa da avenida Santo Amaro. Ouça as respostas e, se não concordar com elas, escreva-nos,contestando-as. Estamos no ar para dialogar.
Pergunta 6: A realidade dos sonhos e ausência psíquica.
Locutor - Professor, o ouvinte Décio Joaquim, rua Tomaz Ramos Jordão, Parque Monteiro Soares, São Paulo, pergunta. Primeiro. Quando sonhamos com chuva e acordamos com o céu estrelado, ou vice-versa, nosso espírito teria se transformado durante o sonho em algum lugar que estivesse como vimos em sonho? Ou é apenas uma criação mental produzida pelo nosso cérebro?
J. Herculano Pires – É claro que nós não podemos interpretar os sonhos apenas como um desprendimento do espírito. O sonho, nós já falamos aqui numerosas vezes, é um problema bastante complexo. Os estudos psicológicos do sonho envolvendo naturalmente as funções fisiológicas e situações as mais diversas em que a criatura se encontra, às vezes, no momento em que sonha. Esses estudos têm mostrado que o problema do sonho é bastante complexo. O que nós dizemos, nós espíritas, é que falta a esses estudos a consideração de um aspecto bastante importante que é o aspecto do desprendimento do espírito. No momento em que dormimos, o nosso espírito se desprende do corpo. Vemos, por exemplo, aquele ditado popular: "O sono é irmão da morte." Ora, a sabedoria popular nos dá, neste momento, alguma coisa que parece corresponder plenamente a verdade. Por quê? Se, na morte, o espírito se desprende definitivamente do corpo, no sono ele se desprende temporariamente. O desprendimento do espírito do corpo, aliás, segundo se verificou, não só nas experiências espíritas, mas também nas experiências realizadas no campo da metapsíquica, da parapsicologia.
E mesmo psicologicamente onde se chama esse desprendimento de ausência psíquica, esse desprendimento é muito comum, muito mais comum do que nós pensamos. Nos estudos sobre hipnotismo, por exemplo, chegou-se à conclusão de que a nossa vida de vigília é sempre, tem sempre a interferência da vida hipnótica. Ora, a vida hipnótica é a vida do sono. Assim sendo, durante a nossa vida de vigília, nós temos momentos de sono. Nós estamos conversando com alguém e, de repente, sofremos aquilo que se chama psicologicamente uma ausência psíquica. Nós nos distanciamos do assunto. Costuma-se dizer: ele foi longe. Realmente foi. O seu espírito desprendeu-se rapidamente da contextura, por assim dizer, orgânica. Ele se afastou daquele momento presente, porque foi atraído por algum outro problema que o chamou a distância. É um momento de cochilo chamado "ausência psíquica, um momento de desprendimento rápido. As experiências feitas, por exemplo, na Itália, pelo professor Ernesto Bozzano, experiências numerosas com as comunicações de espíritos de vivos, mostraram sobejamente que os espíritos de vivos têm a possibilidade de, num desses momentos de ausência psíquica, dar uma comunicação mediúnica à distância ou aparecer para outras criaturas à distância. Os chamados "homens duplos" do passado nada mais são do que isso.
Pessoas que tem a faculdade de desprender-se do seu corpo material em determinados momentos e projetar-se à distância. É o que hoje psicologicamente se chama de "projeção do eu". Mas projetar-se de maneira visível aparecendo para outras pessoas, como se ela estivesse presente naquele lugar.
Assim, nós vemos que a ausência do corpo, ou seja, os momentos em que os espíritos se ausentam do corpo, não são apenas os momentos do sono, são também os momentos do estado de vigília em que a pessoa se distrai, em que cochila, em que sofre de ausência psíquica, em que realmente ele se afasta da realidade imediata em que se encontra. Sendo assim, um sonho como este de que a senhora fala, sonhou com chuva e acordou o céu estava estrelado. Não tem nenhuma relação o céu estrelado, com a chuva do sonho. Na realidade, a realidade presente em que a senhora estava nesse momento, era de fato, esta realidade. O senhor estava, perdão, estou vendo aqui que é um senhor e não uma senhora que me faz a pergunta. Esta realidade com que o senhor se defronta, do céu estrelado, é a realidade concreta. Mas o senhor durante o sono, o senhor podia não se afastar do corpo. O seu espírito estava de tal maneira ligado aos problemas terrenos que o preocupavam, as suas preocupações mentais, que ele ali ficou. E o senhor teve então, não um afastamento do corpo, mas um aflorar de lembranças do seu inconsciente que vieram à tona durante o sono. Então, este aflorar de lembranças inconscientes, partidas da memória profunda, lhe puseram diante de um quadro que não correspondia à realidade presente. Não sei se eu me expliquei bem, mas é o que eu posso te dizer rapidamente diante do nosso microfone no momento.
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Pergunta 7: Sonho com o pai é real ou imagem criada em minha mente?
Locutor - A segunda pergunta do senhor Décio Joaquim, professor. O meu pai já faleceu há cinco anos. Sonho sempre ele, me parece em perfeita saúde. É ele mesmo que vem a mim ou sou eu que crio a imagem dele na minha mente.
J. Herculano Pires – Este problema de criar a imagem na mente, é simplesmente uma maneira de se querer solucionar questões mais profundas com aparências de solução. Se à nossa imaginação fosse dado este poder de se projetar em nossa mente durante o sonho como nós queremos, então meu amigo, nós sonharíamos sempre com aquilo que nós queremos e com aquelas pessoas que desejamos. A verdade é bem outra. O senhor sonha com o seu pai, não porque o senhor quer. O senhor sonha porque o sonho lhe ocorre. E talvez na noite em que o senhor queira, em que o senhor deseje sonhar com ele não conseguirá. O que mostra que o seu poder de imaginação não é o que o senhor pensa. Este poder de imaginação o senhor o está pintando como um poder mágico, um poder de fada, que pode, com uma varinha de condão, produzir coisas extraordinárias. Não existe isto em nossa imaginação. O que existe é que nós nos defrontamos durante o sono e durante o sonho com fenômenos diversos.
Este fenômeno da visita do seu pai, por assim dizer, do seu encontro com seu pai, é um fenômeno bastante estudado no Espiritismo. Na realidade, os espíritos que nos são muito afins, muito ligados a nós, nos esperam na vida espiritual quando nós podemos nos desprender para nos encontrarmos com eles. E nós voamos, por assim dizer, ansiosamente, ao encontro dessas pessoas queridas.
Naturalmente deve haver muita afinidade entre o senhor e o seu pai. E como o seu pai se encontra na vida espiritual em condições favoráveis que lhe permitem estes encontros com o filho, o senhor tem tido realmente contatos espirituais com ele. Posso dizer isto baseado naquilo que nós obtivemos através de mais de um século de pesquisas espíritas. Nós, eu digo, os espíritas. Na realidade, as pesquisas principalmente de Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, sobre o problema do desprendimento do indivíduo durante o sono, mostraram esta verdade, esta realidade. E quando estas imagens são nítidas como o senhor diz aqui, são bem claras, bem precisas, o senhor tem a impressão plena de ter se encontrado com seu pai, elas correspondem a uma realidade extrafísica.
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Pergunta 8: Os povos adiantados da Terra ajudam os outros a progredirem. Não é uma crueldade Deus nos abandonar em nossa ignorância? Locutor - Professor, o ouvinte Jurandir Grabowski da rua Augusta, faz a seguinte pergunta. Primeiro: Aqui na Terra, os povos se ajudam mutuamente, e os mais adiantados fazem os outros progredirem. Se há mundos mais adiantados no infinito, por que Deus nos isola na Terra? Não parece uma crueldade que Deus nos abandone em nossa ignorância e em nossa fraqueza, quando podia nos dar a ajuda de seres mais adiantados?
J. Herculano Pires - Mesmo aqui, na Terra, nós sabemos que, durante muito tempo certos povos atrasados viveram ilhados, isolados em seus continentes. Nós temos um exemplo com o nosso próprio país, o Brasil. Nós sabemos que o Brasil era habitado por índios os mais rudimentares, os mais selvagens da América, de toda América.
Enquanto, por exemplo, no México, no Peru, havia civilizações indígenas importantes, como a civilização dos astecas, dos maias, dos incas. Enquanto isto ocorria nestes países, aqui no Brasil, os nossos selvagens eram realmente selvagens. Eram homens desprovidos de condições culturais que lhes permitissem criar um tipo de civilização. Ora, sendo assim, nós vemos que estes homens viveram isolados durante largos anos até que os europeus puderam chegar aqui e trazer o auxilio da civilização a eles. Mas como eles pagaram caro por essa civilização. Foram praticamente dizimados, destruídos, subjugados. Foram transformados em escravos. Eles pagaram muito caro por esta civilização.
E mesmo nas civilizações indígenas superiores do continente, como as do México e da costa do Pacifico, nós encontramos nelas também esta mesma situação. Elas pagaram muito caro seu encontro com civilizações superiores.
Assim, nós devemos compreender o seguinte. Certas comunidades humanas, destacadas para viver num determinado continente, num determinado território, ou num mundo do espaço, elas têm que seguir um processo evolutivo próprio. Elas têm o seu próprio desenvolvimento cultural a fazer. E este desenvolvimento vai atingindo planos cada vez mais elevados, à custa do esforço e do sacrifício de todos aqueles que vivem nestes mundos. O nosso mundo terreno esteve, até agora, completamente isolado, porque as nossas condições inferiores não permitiam a nossa aproximação de mundos mais elevados. Entretanto, desde o século passado, segundo os espíritos anunciaram a Allan Kardec, o nosso mundo começou a entrar num processo evolutivo mais acelerado e avançar para a possibilidade de ligação com outros mundos. Nós já estamos, hoje, na Era Cósmica, como nós sabemos. Estamos avançando para o Cosmo. E ao mesmo tempo, temos sinais evidentes de que, no Cosmos, outros mundos procuram comunicar-se conosco. Então, podemos compreender que estamos num momento em que o nosso isolamento vai ser rompido. Por quê? Porque o processo evolutivo a que fomos levados já nos permite essa aproximação. Mas essa aproximação deve realizar-se lentamente, de acordo com as leis que regem a comunicação entre os mundos. Porque os mundos são diferentes entre si. Embora a Humanidade seja uma só, assim como, na Terra, as raças diferem, os costumes variam entre os povos, assim também ocorre entre os mundos e naturalmente de maneira muito mais profunda.
Então, é necessário que esta aproximação de outros mundos só se verifique quando houver condições bastantes favoráveis de lado a lado. Quer dizer, do lado da Terra e do lado de qualquer outro mundo que possa aproximar-se da Terra. Assim o senhor vê que Deus não nos esquece no nosso isolamento. Ele está velando por nós, a fim de que não aconteça, nas ligações entre os mundos, aquilo que aconteceu na Terra, na aproximação dos povos dos vários continentes. É preciso que os mundos estejam num grau de evolução onde as pilhagens e a dominação dos outros não seja mais permitida nesta aproximação dos povos.
Por outro lado, é preciso o senhor compreender o seguinte. Se nós não temos aproximação carnal de elementos de outros mundos, na verdade temos aproximação espiritual. Muitos espíritos superiores que nos visitam e muitos que se encarnaram aqui na Terra, pertencem a outros mundos, a mundos superiores do espaço. E vêm nos trazer o seu auxilio, vêm nos trazer a sua ajuda. Até mesmo de acordo com a doutrina espírita, certas comunidades espíritas, de espíritos. Por exemplo, a antiga raça grega, a antiga raça grega, dotada de uma inteligência superior, de uma intuição tão aguda que a sua percepção das coisas até hoje está balizando o desenvolvimento da nossa cultura. A antiga raça egípcia, dotada também de capacidades extraordinárias como atestam as suas construções, ainda hoje, permanentes na Terra. Certas comunidades da Índia e da China antiga, onde houve também o esplendor de civilizações bastantes importantes. Estas raças correspondem a comunidades espirituais que vieram de mundos superiores trazer o seu impulso de evolução para a Terra, auxiliar-nos no desbravamento do futuro.
Não estamos isolados nem abandonados. A misericórdia de Deus nunca abandona os seus filhos.
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Pergunta 9: Essas questões me afastam do Espiritismo. Quem estará com a verdade?
Locutor - Essas questões me afastam do Espiritismo. Quem estará com a verdade?
J. Herculano Pires - A verdade, nós só podemos encontrar quando temos a mente desimpedida de preconceitos. Quando procuramos compreender as coisas na sua realidade. Quando deixamos as ideias feitas de lado e não nos precipitamos a conclusões.
Eu sempre me lembro quando tratamos da busca da verdade, daquilo que Descartes dizia, que a precipitação e o preconceito é que nos impedem de conhecer a verdade. A Doutrina Espírita nos oferece um quadro lógico, harmonioso, perfeito, daquilo que nós consideramos a verdade sobre a vida e a morte. Este quadro não é apenas teórico, porque é comprovado pela pesquisa científica, pela experiência objetiva. O senhor estude essa Doutrina e talvez o senhor, que tem hoje os seus preconceitos contra a Doutrina, veja que esses preconceitos vão ficando de lado pelo esclarecimento que o Espiritismo lhe oferecerá.
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O Evangelho de Jesus em Espírito e Verdade. Não se apegue a letra que mata, busque o espírito que vivifica.
Abrimos o Evangelho ao acaso e saiu o seguinte. Livro de Atos 10:34-36. “Na verdade reconheço que Deus não se deixa levar de respeitos humanos, mas que em toda a nação, aquele que o teme e faz o que é justo, este lhe é aceito. Esta é a mensagem que Deus enviou aos filhos de Israel, evangelizando-lhes à paz por meio de Jesus Cristo. Este é o senhor de todos.”
J. Herculano Pires - Este trecho do livro de Atos dos Apóstolos nos mostra o momento em que o apóstolo Pedro regressava de Cesaréia e da sua experiência sobre a qual tantas vezes falamos aqui, do Porto de Jope. E perante os demais apóstolos ele ia sustentar a tese que realmente sustentou, de que estavam errados todos aqueles, entre os quais ele mesmo, todos aqueles apóstolos que exigiam a judaização de qualquer pessoa que quisesse se tornar cristã. De acordo com a mentalidade dos apóstolos de Jesus, mesmo depois dos ensinos que receberam do Mestre, de acordo com a formação judaica que eles haviam tido, eles consideravam que as criaturas humanas vindas de qualquer outra raça, não podiam tornar-se cristãs sem, primeiro, fazer-se judias. Era preciso aceitar o judaísmo como religião e passar, então, por todas as sagrações determinadas pelo judaísmo. Os homens deviam ser fatalmente circuncidados para poderem tornar-se cristãos. Primeiro, portanto, se faziam judeus pela circuncisão e depois cristãos pelo batismo.
Ora, Pedro tivera aquela fabulosa experiência do Porto de Jope com a toalha que descia do céu diante dele cheia de animais, a que nós já nos referimos aqui, quando ele se recusava a atender ao chamado do centurião Cornélio para ir à casa do centurião. E por que se recusava? Porque o centurião não era judeu. O centurião era um "goin", quer dizer, era um impuro, era um estrangeiro, um homem que podia manchar qualquer judeu que dele se aproximasse. A lei da pureza em Israel era algo de muito sério e muito considerado. Porque, se qualquer judeu cometesse uma impureza, tinha de se dirigir ao templo para se purificar. Assim, Pedro não queria atender ao centurião romano. Ninguém mais impuro para o judeu do que um centurião romano, ou um simples soldado romano. Porque eram homens idólatras, homens que viviam da idolatria e que violavam todas as leis e todos os preceitos do judaísmo. Então, eram impuros.
Ora, Pedro teve a experiência viva de verificar, na casa do centurião, que na verdade, ali, entre pessoas impuras, o Espírito Santo, ou seja, na verdade o
Espírito, o Espírito descia sobre as pessoas, envolvia-as e se comunicava. Aquilo que acontecera no Pentecostes com os apóstolos, acontecia também com os impuros romanos da casa do centurião. Ora, isto mostrava então, que na verdade, a visão que Pedro tivera em Jope correspondia aos ensinos reais de Jesus. Aqueles ensinos que diziam que Deus não faz acepção de pessoas, que todas as pessoas pertencem a Deus, que todos são filhos de Deus. E que não há, portanto, distinção de raça, de religião, de cor, de qualquer espécie que devam separar os homens perante um cristão. É a isto que Pedro se refere neste pequeno trecho, mostrando que Jesus, na verdade, foi apontado e colocado diante dos homens como senhor de todos. Todos encontram em Jesus aquele momento de que falava o apostolo Paulo, em que não haveria mais nenhuma distinção entre os homens. E Paulo chegou mesmo a dizer. Não há mais judeus nem romanos, nem homem, nem mulher, nem senhor, nem escravo, todas as distinções desaparecem em Cristo. Porque Cristo, na verdade, é aquele que nos integra na concepção da Humanidade como um todo. Quando ele nos apresentou Deus como Pai, também nos apresentou os homens como irmãos entre si.
Os espíritas só tem um privilegio, o de ser espírita. Se enxergar as coisas com mais clareza. Não pense que, por ser espírita, você está sob proteção especial, livre de passar por suas provas e expiações. Não seja tolo. Os espíritas têm mais responsabilidades que os outros diante da vida, porque sabem mais que a vida.
Cuide-se amigo, faça tudo direito e, quando chegar a sua hora de provação, lembre-se de que você é espírita para saber enfrentá-la com coragem e com compreensão.
No limiar do amanhã. Avançamos para um mundo melhor.