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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

 

No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.

 

A humanidade se renova. Uma nova raça está surgindo em nosso planeta para a era do espírito.

 

Estamos a caminho da mediunidade social, anuncia o filósofo espírita argentino Humberto Mariotti. Uma raça mediúnica dirigirá o mundo de amanhã nos rumos do espírito.

 

Os sinais do tempo estão no céu. Não são astronômicos, provindos das leis naturais, mas astronáuticos, produzidos pela inteligência humana da Terra e do espaço sideral.

 

No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Transmissão número 139, terceiro ano. Direção e participação do Professor Herculano Pires.

 

Estamos passando rapidamente da mediunidade individual para a mediunidade social. Os médiuns, que antes eram raros, agora se multiplicam por toda parte. Uma raça mediúnica dotada de aguda percepção extra-sensorial está surgindo com as novas gerações. Em seu livro O Homem e a Sociedade Numa Nova Civilização, o filósofo espírita argentino, professor Humberto Mariotti, estuda esse fenômeno da evolução humana e mostra que caminhamos a largos passos para a era do espírito.

 

Não nos deixemos impressionar com as crises atuais do mundo. São crises de crescimento. O mundo avança para uma civilização superior em que predominarão os interesses espirituais sobre os materiais. Estamos assistindo aos estertores do mundo velho no mundo de violências e ganâncias, que morre sufocado pelas suas próprias contradições. Mas um novo mundo se ergue.

 

Sondas e naves espaciais da Terra são lançadas ao espaço sideral. Objetos voadores não identificados descem das profundezas do céu para nos trazerem o anúncio dos novos tempos. Emissoras radiotelegráficas do cosmos, de mundos que fulguram em constelações longínquas, enviam-nos suas mensagens, que são captados por observatórios astronômicos da América, da Europa e da Ásia. Ao mesmo tempo, emissoras espirituais estabelecem sintonias com cientistas terrenos, enviando-lhes mensagens do mundo dos espíritos, que são gravadas silenciosamente em fitas magnéticas.

 

Chega ao fim o isolamento da Terra no espaço. Temos de preparar-nos para as dimensões cósmicas de uma vida nova. Não podemos ficar amarrados a preconceitos inúteis. A humanidade se renova e a morte é o caminho das grandes transformações. Morremos para renascer em melhores condições.

 

Perguntas e respostas. Pergunte para você e para os outros.

 

Pergunta nº 1: Filosofia

 

Locutor - O ouvinte M. F. B., da Rua Lavapés, Cambuci, pergunta: me disseram que o senhor é professor de filosofia. Não me entra na cabeça que um professor de filosofia seja espírita e ensine Espiritismo. Gostaria de saber por onde o senhor é formado e o que pensam do senhor os seus colegas.

 

J. Herculano Pires - Ora, a sua pergunta não deixa de ser um tanto indiscreta, mas como nós, quando estamos no microfone, somos objetos do interesse público, não há dúvida que posso respondê-la. Sou formado pela Universidade de São Paulo. Sou realmente professor de filosofia e também de psicologia, e de história e filosofia da educação. Especializei-me, portanto, nesses assuntos e lecionei em faculdade essas matérias. Entretanto, o que interessa é a pergunta que o senhor faz: como os meus colegas, professores dessas matérias, me encaram? É claro que os professores todos que realmente fazem jus aos conhecimentos que adquiriram, sabem respeitar as posições alheias. Não é porque um professor de filosofia seja materialista, ou seja, tomista, ligado, portanto, à filosofia da igreja, não é por isso que ele vai censurar um seu colega pelo fato de adotar a filosofia espírita. A sua pergunta revela um preconceito muito sério, um preconceito contra o Espiritismo. O senhor me faz essas perguntas na certeza de que o Espiritismo não tem filosofia, de que o Espiritismo não pode ser considerado como filosofia; na certeza de que o Espiritismo é um simples produto do folclore, da cultura popular, sem alcançar jamais o nível intelectual suficiente para ser encarado do ponto de vista filosófico. E eu quero responder, antes de mais nada, ao senhor: consulte o Dicionário Técnico de Filosofia de Lalande, que é um dicionário clássico da Sociedade Francesa de Filosofia, aprovado pelos institutos de filosofia de todo mundo. Consulte ali o verbete “Espiritismo” e o senhor verá que o Espiritismo é considerado no mundo filosófico, nas obras de filosofia, nas universidades, como realmente uma filosofia. A filosofia espírita é admitida entre as demais filosofias, tem cidadania no campo filosófico. Mas se o senhor quiser ver o assunto mais de perto, com ligação aqui mesmo em São Paulo com as nossas instituições filosóficas, a fim de não se perder na impossibilidade de consultar um grande instituto estrangeiro, eu lhe aconselho adquirir em qualquer livraria o livro Panorama da Filosofia em São Paulo, do Professor Luiz Washington Vita. Esse livro, tratando do panorama da filosofia em São Paulo, foi lançado conjuntamente pela Editora da Universidade de São Paulo e pelo Instituto Brasileiro de Filosofia, seção São Paulo. Está, portanto, como se costuma dizer, devidamente sacramentado na área filosófica. E lá, por mais que o senhor estranhe, o senhor vai encontrar bem definida a posição da filosofia espírita no campo filosófico de São Paulo, da nossa cidade, portanto, no nosso meio cultural. O senhor encontrará a presença da filosofia espírita ali bem definido e bem colocado. De maneira que o seu preconceito não tem razão de ser. É um preconceito, o senhor me perdoe, mas é preciso que a gente diga as palavras certas. O seu preconceito decorre da ignorância do que seja o Espiritismo. Não digo esta palavra de maneira ofensiva, porque a ignorância é comum a nós todos. Nós todos sempre ignoramos alguma coisa. E quem quiser dizer que não é ignorante em coisa alguma está mentindo. É vaidoso, simplesmente. Porque nós todos ignoramos muitas e muitas coisas; nós todos somos, em certo sentido e em certo plano, analfabetos; nós todos precisamos do nosso MOBRAL para entrar num novo campo de conhecimentos, um novo campo que nós não frequentamos, que nós não palmilhamos. Assim, o senhor esteve ausente do problema filosófico e ausente do Espiritismo. Por isso, considera o Espiritismo numa posição inteiramente contrária àquele que ele realmente ocupa no campo do conhecimento.

 

Gostaria de esclarecer também que o Espiritismo surgiu na França. Não pense o senhor, como pensa muita gente, que o Espiritismo surgiu no Brasil, e que surgiu do desenvolvimento das religiões primitivas, ameríndias ou africanas aqui se propagam. Não. O Espiritismo surgiu, podemos dizer assim, dentro da própria Universidade de França, porque o seu fundador, Allan Kardec, era diretor de estudos da Universidade de França, era um pedagogo famoso, discípulo de Pestalozzi. E o senhor sabe que pedagogo quer dizer filósofo da educação. Assim, Kardec como professor, como educador, era mais do que simples professor e educador. Ele era, acima dessas coisas, um teórico da educação, um pedagogo, um filósofo da educação. Surgiu, portanto, o Espiritismo dentro do próprio campo filosófico. Não importam as campanhas movidas contra ele. Todas as grandes filosofias quando surgiram foram tenazmente combatidas pelos adversários gratuitos que sempre encontraram pela frente. É o problema das diferenças de opiniões. Cada cabeça uma sentença, diz o povo. As opiniões contraditórias levam ao campo dos debates e das lutas. É por isso, portanto, que muita gente encara hoje ainda o Espiritismo como uma simples superstição, uma simples crença, e muito contribui para isso as campanhas sectaristas contra o Espiritismo, campanhas de seitas religiosas, através de elementos dirigentes dessas seitas ou sacerdotes que servem a essas seitas e procuram combater os Espiritismo, porque também não o conhecem, porque acreditam, pensam que o Espiritismo é contrário às suas crenças. Não, o Espiritismo não é contrário a crença nenhuma. Ele é uma interpretação dos fenômenos espirituais manifestados através da criatura humana, através do homem. É claro que no nosso mundo humano a espiritualidade só pode se apresentar, se manifestar através de um instrumento adequado que é o homem, porque o homem é um espírito encarnado. Então, os fenômenos mediúnicos são aqueles que se tornaram objeto do Espiritismo e através do estudo desse objeto, o Espiritismo criou uma concepção nova no mundo, a concepção espírita. E toda concepção do mundo é uma filosofia.

 

Não sei se há mais alguma coisa na sua pergunta. Vou perguntar aqui à Jurema e à Yara, que me dirão.

 

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Pergunta nº 2: Adeptos

 

Locutor - Tem sim, professor. A segunda pergunta é a seguinte: já ouvi o senhor dizer nesse programa que não pretende convencer ninguém, não quer fazer adeptos. Então, por que faz o programa? Não é essa uma contradição que fere a lógica? Como o senhor se arranja para justificar esta contradição?

 

J. Herculano Pires - Quando nós dizemos que não queremos fazer adeptos, estamos deixando bem claro que o Espiritismo, mesmo no seu aspecto religioso, que ele também possuí, não se constituiu em religião organizada, religião estruturada, com sistema clerical, um sistema litúrgico, seus ritos e sua dogmáticas. Não. As religiões assim constituídas é que precisam de adeptos, que procuram adeptos, não apenas porque precisam aumentar o número de filiados, mas também, e particularmente, porque elas se baseiam no dogma da salvação. Todas essas religiões organizadas entendem que elas, e somente elas, estão com a verdade. Elas, e somente elas, podem salvar o homem. Então, a procura de adeptos por elas não corresponde apenas a um interesse social e econômico das igrejas, mas também a um interesse nobre e humano, que é o interesse de salvar o próximo, salvar a alma daqueles cidadãos que fora da sua igreja estaria perdida. Essa alma precisa ser salva e é por isso eles querem adeptos. No Espiritismo não existe isso. Nós acreditamos que todas as criaturas estão a caminho da evolução. Todas as criaturas são indivíduos em desenvolvimento, indivíduos espirituais, ou espíritos individualizados, que se desenvolvem, desenvolvendo as suas potencialidades internas para atingirem sempre planos superiores da espiritualidade. Cada um se salva por si mesmo. E Deus zela por todos, porque Deus é o poder supremo, inteligência suprema do universo, criadora de todas as coisas. E Deus não criou ninguém para se perder. Deus é pai, como Jesus o denominou, e como pai, ele ama todos seus filhos, ele quer que nós todos caminhemos para o bem, ele quer que nós todos cresçamos e nos desenvolvamos, como nós pais terrenos queremos que nossos filhos cresçam e se desenvolvam. Dessa maneira, ele nos proporciona todas as facilidades para isso, independentemente das organizações humanas.

 

Não há, pois, nenhuma contradição na minha posição. Nós fazemos programas porque toda filosofia, toda ela, seja qual for, tem por finalidade dar aos homens uma compreensão mais exata da realidade. A busca da filosofia é justamente no sentido de encontrar a verdade. Mas esta verdade não pode ficar apenas no pensamento dos filósofos. Ela, uma vez encontrada, tem que se comunicar. É preciso transmitir-se aos demais. A filosofia se oferece quando ela é uma filosofia livre de espírito de sistema, como é o Espiritismo, segundo a própria definição de Kardec. Ela se oferece aos homens da mesma maneira que o sol e a chuva se oferecem aos homens para socorrê-los em suas necessidades. Mas ela não se impõe. Ela apenas se apresenta, se evidencia. Ela se comunica e os homens é que decidem se querem ou não aceitá-la. Mesmo porque cada filosofia que atinge um plano de verdade tem sobre si uma grande responsabilidade, que é a responsabilidade de haver encontrado uma solução para problemas que outras filosofias não encontraram. Assim, o Espiritismo não podia se esconder debaixo do alqueire, segundo a expressão de Jesus no evangelho. Ele é a luz que deve ser colocado em cima da mesa para que ilumine toda a casa, para que transmita a sua luminosidade a todas as criaturas que dela necessitam.

 

Mas eu disse ao senhor que a filosofia espírita tem também um aspecto religioso. O senhor poderá objetar-me: então não é filosofia, é religião. Eu queria deixar bem claro, para que não haja subjeção, deixar bem claro ao senhor que o campo do conhecimento se divide em três áreas bem distintas: a ciência, a filosofia e a religião. Mas estas áreas não são contraditórias entre si; são complementares. A ciência investiga os fenômenos; essa é a função da ciência: descobrir a natureza e as leis que regem os fenômenos. A filosofia serve-se dos dados da ciência para reajustar a sua ideia do mundo, ou aquilo que em filosofia nós chamamos a mundividência. O homem que se apossa de uma filosofia tem uma mundividência, uma vidência do mundo diferente daquela que o homem comum, a homem que não se interessa pelas filosofias deve ter. Ora, desta mundividência, desta concepção do mundo, desta ideia do mundo, surge, naturalmente, a necessidade do homem se adaptar a uma nova forma de vida, uma nova forma de encarar e de enfrentar os problemas do mundo. Está nova posição, está nova exigência determina o aparecimento de uma nova moral. Cada filosofia desemboca fatalmente num sistema de moral. E a moral espírita, como não se liga apenas ao homem terreno, mas também ao homem espiritual, como não cuida apenas das relações humanas, das relações entre os homens, mas das relações entre o homem e Deus também, essa moral espírita toca no campo religioso, e daí resulta o aspecto religioso do Espiritismo. Me parece que assim deixei bem claro a resposta ao senhor. Mas me parece que não sei se respondi toda sua pergunta.

 

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Pergunta nº 3: Autoridades religiosas

 

Locutor - Professor, a ouvinte M. B. R., do Tatuapé, pergunta: a Bíblia, os bispos, os padres e os pastores protestantes condenam o Espiritismo como arte diabólica. Os espíritas dizem que o Espiritismo é uma revelação de Deus. O senhor não acha que os que condenam são maioria, e são homens que se especializaram em questões religiosas através de cursos superiores? Em que se baseiam os espíritas, na sua maioria ignorantes e analfabetos, para contradizerem aquelas autoridades religiosas?

 

J. Herculano Pires - Antes de mais nada, eu quero lembrar a senhora que a maioria ignorante e analfabeta não é privilégio do Espiritismo. Em todas essas religiões que a senhora citou, a maioria é ignorante e analfabeta. De maneira que isto corresponde a uma condição natural da humanidade a que pertencemos, e particularmente em nosso país, onde a cultura somente de uns anos para cá começou realmente a se expandir nas massas. Então, é natural que exista muita gente ignorante e analfabeta em todas as religiões. Mas agora já está por aí o trabalho do MOBRAL e certamente daqui a alguns anos nós não poderemos falar da mesma maneira. Queria deixar assim bem claro que não se trata apenas de um problema espírita este. Mas, no tocante às condenações que a senhora fala, que a senhora cita, eu queria lembrar o seguinte: a Bíblia não condena o Espiritismo. É um ledo engano daqueles que dizem isto. A Bíblia, na verdade, aprova o Espiritismo. A senhora poderia citar, por exemplo, o capítulo 18 do Deuteronômio para dizer Moisés condenou as práticas espíritas. Existem recentemente algumas traduções da Bíblia, traduções adaptadas atualmente às condições novas da nossa situação religiosa, traduções estas que dizem assim: ‘os médiuns condenados por Moisés; as práticas espíritas condenadas’. Mas na verdade não é assim que está no texto bíblico. Basta a senhora pegar uma tradução mais antiga e verá que não é. A senhora consulte os textos originais e verá que não se trata de Espiritismo na Bíblia. Ali se fala de feitiçaria, não com este termo, com esta palavra, que também é nova, mas no sentido de magia, da Goétia ou magia negra do passado. Ali se fala de pitonisas, como no caso da pitonisa de Endor que foi consultada espiridicamente, como nós sabemos, no caso de Samuel e Saul, e que servi de médium para transmitir a mensagem de um espírito. Está lá na Bíblia. E se a senhora deixar o Deuteronômio e ler o Livro de Números, encontrará lá uma passagem muito bonita da Bíblia em que, em meio do acampamento dos judeus no deserto, Moisés convoca os anciãos de Israel para uma reunião na sua tenda, onde se davam fenômenos espíritas extraordinários, como a materialização do espírito de Jeová, que para os judeus era o próprio Deus, mas para o Espiritismo era simplesmente o espírito guia daquele povo. Moisés convoca os anciãos de Israel para isso, e dois moços deixam de comparecer à reunião; ficam no meio do acampamento; não comparecem. Mas lá no meio do acampamento, eles são tomados pelo espírito. Então, vem alguém correndo e fala para Josué, que era o lugar tenente de Moisés: ‘Eldad e Medad, os dois moços, estão recebendo o espírito. Proíbe-os, senhor’. E Moisés responde simplesmente (está lá no texto de Números): ‘que ciúmes são esses? Que zelos são esses? Pois se Eldad e Medad estão recebendo, é porque o espírito realmente está se manifestando. Provera a Deus que o espírito se derramasse sobre toda a carne e todo o povo profetizasse’. A senhora acha que isso é condenar o Espiritismo? A palavra Espiritismo e a palavra médium foram introduzidas recentemente em traduções bíblicas adulteradas pelas religiões que se dizem bíblicas e que querem zelar pela verdade bíblica. Como se pode zelar por uma verdade que se adultera para adaptar às condições de uma guerra contra o Espiritismo? Veja a senhora que eu posso provar, como estou provando, que a Bíblia não condena o Espiritismo. Por sinal, Kardec deixou isso bem claro no seu estudo sobre esse assunto, mostrando que o que Moisés condenou são práticas de magia que o Espiritismo também condena. Portanto, a condenação de Moisés não tem nada a ver com o Espiritismo. A senhora fala dos padres, pastores protestantes, que condenam o Espiritismo como arte diabólica. Ora, é evidente que se trata daquela antiga rixa entre as religiões, daquelas brigas intermináveis entre as várias religiões, umas amaldiçoando as outras. Mas hoje, posso te dizer sem medo de errar, há muitos padres esclarecidos, muitos pastores esclarecidos, muitos teólogos do catolicismo e do protestantismo que já admitem os princípios espíritas e a verdade espírita. Há mesmo, e a senhora precisa saber disso, há mesmo dentro da teologia católica uma revolução de tipo espirítica que foi a revolução iniciada pelo Teilhard de Chardin, tremendamente combatido no início da sua campanha religiosa pela transformação dos pontos fundamentais da teologia, mas depois aceito pelo vigor do seu pensamento e a clareza das suas proposições. Nós costumamos dizer no Espiritismo que o Padre Teilhard de Chardin nos parece uma espécie de decalque de toda obra do famoso discípulo de Allan Kardec que foi Léon Denis. Léon Denis que realmente está presente na obra do Padre Teilhard de Chardin, embora eu acredite que o Padre Teilhard de Chardin não tenha tido oportunidade de tomar conhecimento dessa obra. Mas os pensamentos coincidem quando tratam da mesma realidade. Assim, a senhora não se impressione muito com as campanhas desses homens superiores, de educação superior. Como dizia Kardec muito bem: eu posso consultar, dizia Kardec, um físico a respeito de problemas de física e aceitarei de bom grado as suas informações; consultarei um médico sobre medicina e acreditarei naquilo que ele disse; consultarei um químico, ou um biólogo, de acordo com as suas especialidades. Mas se um desses homens vier me falar sobre um assunto que não conhecem, eu não vou aceitar o que ele diz. É claro, cada pessoa pode ser uma autoridade num determinado assunto, em dois ou três assuntos, mas isso não quer dizer que seja absoluta no seu conhecimento e no seu saber. Muitos desses homens ilustres, dotados de profundos conhecimentos dentro das suas religiões, ignoram inteiramente o que é o Espiritismo, nada sabem a respeito. E, como eu tinha falado precisamente naquele ponto em que falava dos padres e pastores que não conhecem o Espiritismo e o atacam por isso, eu quero lembrar que tive oportunidade de enfrentar certa vez só no Canal 4, durante dois meses consecutivos, numerosos pastores e representantes de várias posições de pensamento filosófico e religioso que combatiam o Espiritismo. Posso dizer que estiveram presentes nesse programa cerca de trinta pastores. Infelizmente, no encerramento do programa, depois de dois meses de debate – Aurélio Campos estando presidindo os debates –, eu declarei que lamentava apenas uma coisa: que todos aqueles homens tinham vindo ali discutir conosco, comigo e meus companheiros, aquilo que não conheciam. Era simplesmente lamentável. Porque nós não podemos discutir uma coisa que não conhecemos. Ora, isto se repetiu numerosas vezes, em diversos encontros em estações de rádio, televisão. Até que me cansei. Fiquei exausto desses debates, porque é inútil conversar com quem não conhece o assunto. É inútil discutir com quem somente acusa, sem estar apoiado em razões sólidas, sem dispor dos dados necessários para a discussão. De maneira que a senhora não se assuste de alguns espíritas, mesmo analfabetos, poderem responder com segurança aos doutores que acusam a doutrina. Porque eles, no seu analfabetismo e na sua ignorância, estão, entretanto, fora do campo da ignorância. Estão ligados à verdade, ao conhecimento da sua própria doutrina, e podem falar em causa própria, porque falam defendendo a verdade que conhecem por sua própria experiência. Então, é possível a essas pessoas enfrentarem os doutores que nada conhecem do assunto.

 

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Pergunta nº 4: Sabedoria de Allan Kardec

 

Locutor - Ainda da ouvinte M. B. R., do Tatuapé, que faz a seguinte pergunta: professor, li numa história das religiões que Allan Kardec era um professor de primeiras letras, e que os espíritas o chamam de sábio. O senhor tem elementos para me provar o contrário? Se não tem, como justifica essa atitude dos espíritas? Já ouvi o senhor mesmo dizer que Allan Kardec era cientista e filósofo. Quer responder-me?

 

J. Herculano Pires - Pois não, dona B. A senhora ainda nesse caso está muito mal informada. Quem era professora de primeiras letras era a senhora Allan Kardec, não Allan Kardec. Allan Kardec era formado em estudos superiores pelo Instituto de Pestalozzi, na Suíça. E Allan Kardec era, como eu já disse anteriormente, aqui numa resposta dada anterior a essa, ele chegou a ser diretor de estudos da Universidade de França. Era um homem que, inclusive, possuía, segundo os seus próprios contemporâneos, conhecimentos dos mais elevados sobre todos os campos da cultura do seu tempo. Era um pedagogo. A senhora deve saber o que é pedagogo. Pois bem, como pedagogo, ele se firmou na sua carreira como um verdadeiro continuador do trabalho, da obra gigantesca de Pestalozzi no campo da pedagogia. Era, portanto, um homem de alta cultura, de grandes conhecimentos, o que, aliás, se prova por seus próprios livros. Se a senhora quer uma prova a respeito disto, por que não lê, por exemplo, Vida e Obra de Allan Kardec, um livro publicado pelo poeta francês Gaston Lucci. Gaston Lucci foi um grande admirador de Kardec, conviveu com ele e escreveu um belo trabalho. Mas, além disso, tem Vida e Obra de Allan Kardec um livro mais recente, publicado na França por André Maureille. André Maureille é atualmente um dos principais espíritas franceses, um pensador atualizado, e nesse seu livro ele estabelece as ligações do pensamento de Kardec com a atualidade cultural da França e do mundo. Esse livro de André Maureille, Vida e Obra de Alan Kardec, está publicado em São Paulo, e está publicado numa tradução com numerosos adendos explicativos que reforçam as comparações de Maureille. A senhora se interesse por isso e ficará conhecendo de fato quem era Allan Kardec.

 

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Pergunta nº 5: Materialização

 

Locutor - Professor, a ouvinte A. D., da Rua Conselheiro Brotero, na Mooca, pergunta: primeiro, existem de fato materializações de espíritos? Confesso que não poso acreditar nisso. O espírito de uma pessoa que morreu vai voltar à matéria para quê?

 

J. Herculano Pires - As materializações de espíritos são fenômenos paranormais, como se chamam hoje em parapsicologia. São fenômenos científicos. Não foram estudados apenas pelos espíritas; foram estudados pelos maiores cientistas do mundo. Por exemplo, o Professor Charles Richet, Prêmio Nobel de Fisiologia em 1913, o maior fisiologista do início do século em todo mundo, o professor Charles Richet fundou toda uma ciência chamada Metapsíquica, baseada no estudo, na investigação dos fenômenos de materialização. Além disso, nós encontramos, por exemplo, na chamada ciência psíquica inglesa o trabalho notável de William Crookes, um físico e químico exponencial no seu tempo no início do século e que se dedicou aos fenômenos de materialização, chegando mesmo obter o famoso fenômeno de materialização de Katie King, que era uma jovem que se manifestava materializada nos trabalhos de Crookes. Na Alemanha, na Universidade de Leipzig, temos a grande investigação, o grande trabalho do Professor Friedrich Zorner sobre materialização. Existe, por sinal, um livro que está aí nas nossas livrarias chamado Provas Científicas da Sobrevivência, escrito pelo Professor Friedrich Zorner que era catedrático de física na Universidade de Leipzig. Ora, atualmente, no campo da parapsicologia, algumas experiências já foram feitas a respeito. Por exemplo, as experiências do Professor [inaudível] na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. São experiências notáveis nesse sentido. E o próprio Professor Soer, da Universidade de Londres, considerado o maior parapsicólogo inglês, também entregou-se a experiências a respeito, tendo verificado a realidade dos fenômenos, embora essas experiências não tenham prosseguido com a devida insistência, porque a parapsicologia atual está ainda, por assim dizer, se aproximando desse campo metapsíquico. Ela ainda está no campo dos fenômenos mais subjetivos do que dos fenômenos objetivos. Mas, não obstante, já há grandes verificações nesse terreno. De maneira que se a senhora não acredita nisto, a senhora deve considerar o seguinte: nós acreditamos numa coisa quando ela nos toca a mente, concorda com a nossa maneira de pensar. Mas em matéria de ciência, não há crença, em matéria de ciência nós não temos de acreditar, nós temos apenas de aceitar aquilo que a experiência demonstra, que a experiência prova, e as materializações de espíritos já estão provadas em todo mundo. Elas realmente existem. Se há dúvidas a respeito, é quanto à interpretação. Por exemplo, o Professor Charles Richet, durante as fases iniciais das suas pesquisas, considerou que as materializações eram fenômenos puramente fisiológicos. Ele era um fisiologista, achava que havia um desdobramento do corpo humano no fenômeno de materialização, um desdobramento cujas leis a ciência não conhecia, daí as suas profundas investigações a respeito. Mas, posteriormente, ele chegou à convicção de que, na realidade, estavam presentes nesses fenômenos entidades espirituais, ou seja, aquilo que nós chamamos espíritos desencarnados. Numa famosa carta em que ele dirigiu ao Professor Ernesto Bozzano, da Universidade de Milão, na Itália, ele declarou e pediu que a carta não fosse divulgada enquanto ele vivesse. Declarou que Bozzano, que era espírita, estava com a razão. Bozzano depois publicou esta carta depois da morte de Richet. Mas, ao mesmo tempo, ele escreveu também uma carta a Cairbar Schutel. Cairbar Schutel é um homem que foi prefeito de Matão, aqui na Zona Araraquarense, perto de Araraquara. Cairbar Schutel foi um grande líder espírita ali e que fundou na cidade de Matão a Revista Internacional de Espiritismo, com colaborações de espíritas de todo o mundo. Richet compareceu nas páginas dessa revista, e Richet enviou a Cairbar Schutel, pouco antes de sua morte, da morte dele, Richet, uma carta muito importante, saudando, felicitando Schutel pelo seu trabalho, e terminou essa carta com esta frase: ‘a morte é a porta da vida’. Mostrando, portanto, que os seus estudos dos fenômenos de materialização o levaram à convicção científica da sobrevivência do homem após a morte. Assim, a senhora precisa encarar este problema não do ponto de vista da crença, mas do ponto de vista da ciência.

 

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O evangelho do Cristo em espírito e verdade.

 

Desperte, amigo ouvinte! Desperte para a era do espírito que está nascendo. Acorde do sono da letra que mata para a alvorada do espírito que vivifica.

 

Abrimos o evangelho ao acaso, e saiu o trecho seguinte (Jo, 7:10-13):

 

Mas quando os seus irmãos já tinham ido à festa, então foi ele também. Não publicamente, mas como em secreto. Procurando-o, então, os judeus na festa, perguntavam: onde está ele? Era grande a murmuração que dele se fazia entre as multidões. Uns diziam: ele é bom. Outros: não, é antes desencaminha o povo. Entretanto, ninguém falava dele abertamente por medo dos judeus.

 

Esse trecho do Evangelho de João, do capítulo 7, vai versículo 10º ao versículo 13º, é um texto bem conhecido que trata de Jesus na Festa dos Tabernáculos. Ora, nós vemos aqui alguns aspectos curiosos dessa passagem do Evangelho de João. Jesus, diz logo no início deste trecho, apareceu na festa quando seus irmãos já tinham ido a ela. Quer dizer, João está confirmando aqui um dos problemas mais sérios na interpretação do evangelho e um dos pontos mais críticos entre a interpretação de várias igrejas e a interpretação espírita. “Seus irmãos”, diz ele, os irmãos de Jesus já tinham ido à Festa dos Tabernáculos, depois foi Jesus. Como sabemos, de acordo com o próprio texto evangélico, o espiritismo interpreta a existência de Jesus não como uma existência solitária de um filho único de Maria de Nazaré, mas sim de um filho pertencente a uma família numerosa, possuindo vários irmãos. Em várias partes do evangelho isso se confirma, mas nesse trecho é evidente a confirmação logo de início. Há aquela passagem, como nós sabemos, em que os irmãos de Jesus vão procurá-lo, juntamente com Maria, para tirá-lo da pregação do evangelho, pensando que essa pregação ia ser prejudicial à família, como realmente foi. E Jesus faz aquela pergunta que ficou célebre na história religiosa: “quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” Porque a família ali estava presente, a mãe e os irmãos de Jesus. Na Festa dos Tabernáculos nós encontramos novamente a presença de Jesus e da sua família. E vemos que os judeus combatiam Jesus, porque não acreditavam, não podiam aceitar que ele fosse realmente o messias anunciado nas escrituras. Então, eles perguntavam às pessoas se acreditavam em Jesus ou não. Umas diziam que sim, outras que não, outras iam além, talvez para satisfazer as opiniões dos judeus mais exacerbados na luta contra aquele Galileu atrevido que vinha a Jerusalém anunciar uma verdadeira reforma do judaísmo, eles afirmavam que Jesus desencaminhava o povo. Entretanto, nós vemos aqui que ninguém falava dele abertamente, ninguém falava de Jesus às claras, e o texto de João é bem preciso: “não faziam isso por medo dos judeus”. Vemos a luta aberta.

 

E logo em seguida, no versículo 14, após este texto, nós vemos a controvérsia entre Jesus e os judeus na própria festa. Tudo isso nos leva a compreender que o cristianismo nasceu, na realidade, como uma tentativa de reformulação dos princípios do judaísmo. É por isso que ele é considerado no espiritismo como a segunda revelação do ciclo das revelações cristãs. A primeira revelação deste ciclo é a de Moisés, a segunda é a de Jesus, a terceira é a do espírito da verdade, e é por isso que o espiritismo é considerado como a terceira revelação. Revelação, assinala Kardec, não apenas do ponto de vista religioso, profético, mas também do ponto de vista científico, porque Kardec esclareceu com precisão o seguinte: da mesma maneira por que um profeta pode revelar uma verdade espiritual que até então era oculta para os homens, assim também um cientista, indagando a natureza, pesquisando os fenômenos, pode revelar leis naturais que até então eram desconhecidas. O espiritismo se enquadra nos dois pontos. A revelação espiritual ou religiosa é dada pelo espírito da verdade, nome este que o espírito que transmitiu a Kardec os ensinos de O Livro dos Espíritos se dava a si mesmo. Espírito da verdade: o espírito prometido por Jesus para vir restabelecer a verdade do seu ensino evangélico na Terra. E a outra revelação, a revelação científica, com o estudo dos fenômenos mediúnicos para provar a interferência espiritual na vida material do homem.

 

No Limiar do Amanhã: um programa da era do espírito.

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