No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço. O sentimento religioso é inato no homem, nascemos dos mistérios das células para os mistérios do mundo. Trazemos no íntimo nosso próprio mistério. Nosso trajeto na Terra está balizado pelos marcos definitivos do nascimento e da morte. Por mais que queiramos ser irreverentes, sabemos que poderes superiores estão presentes em nós e ao redor. Conhecemos irremediavelmente os nossos limites.
As religiões procuram ajudar-nos a caminhar entre os mistérios da vida e do mundo. As ciências tentam decifrar o enigma e dar-nos segurança e conforto, mas nós todos sabemos, sim, nós sabemos que a segurança e o conforto são sempre relativos e passageiros. A vida passa na rapidez dos minutos e dos anos que são apenas minutos alongados. Muitos se embriagam com os tóxicos da negação, da descrença, do ateísmo e do materialismo. Mas como é tola e ridícula essa embriaguez. Como pode o homem, esse bicho da terra tão pequeno, como descreveu Camões, afirmar que Deus não existe, ou que tudo é matéria e só matéria? Loucura da vaidade humana! A razão, afirmou Santo Agostinho, é uma luzinha que Deus nos deu para guiar-nos na vida. Querer transformar essa luzinha de pirilampo em luzeiro do infinito é enfileirar-se entre os loucos. A gota d’água, o grão de areia, a folha de relva que esmagamos aos pés possuem estruturas inteligentes. Não há efeito sem causa. Poderia o acaso, que é cego e surdo, produzir as maravilhas da vida, estruturas, sons e luz do universo? Para que serve a razão humana se nem para mostrar essa impossibilidade não puder servir-nos?
Usemos a razão para enfrentar o mistério da vida e o mistério da morte. Não há efeito inteligente sem causa inteligente. A lei de adoração escrita em nossos corações nos obriga a curvar a cabeça diante dos poderes supremos. Não queiramos afirmar ou negar o que não podemos conhecer. A voz da consciência nos indica os caminhos da prudência, do bem, do amor, da esperança e da fé. Tenhamos fé em nós mesmos e fé no poder superior que nos criou e nos pôs no mundo para um objetivo certamente elevado. Se os lírios do campo e as aves do céu, como ensinou Jesus, são amparadas por Deus, porque nós, criaturas humanas dotadas de inteligência criadora, estaríamos abandonados?
No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Produção do grupo espírita Emanuel. Transmissão número 126. Terceiro ano. Direção e participação do professor Herculano Pires.
Pergunta nº 1: Transporte
Locutor - Professor, o ouvinte Emilio L. Bonque nos escreve formulando as seguintes perguntas. Primeiro: os espíritos podem se transportar com a rapidez do pensamento e transpor tudo. Agora, pergunto: podem transpor seus próprios semelhantes? Não há cambalhotas fatais? Como podemos aproximarmos da compreensão se não temos termos e comparação?
J. Herculano Pires - Aí o senhor está naturalmente fazendo uma pequena confusão entre o transporte do espírito, do espírito que é capaz de se dirigir através do espaço, a qualquer distância, e o transporte de objetos e de seres materiais. Quando o espírito se transporta, ele vai sozinho como espírito, ele não está carregando nada consigo. Quando nas sessões de materialização, sessões geralmente experimentais, o espírito produz o transporte de objetos, então trata-se de outra coisa. O espírito está agindo através de um médium. O médium lhe fornece uma matéria que é chamada, como sabemos, pela denominação que lhe foi dada por Charles Richer chamada de ectoplasma. Este ectoplasma é matéria orgânica do médium, embora envolvido em fluidos magnéticos ou espirituais tanto do médium quanto do espírito que age sobre ele. Este ectoplasma, então uma matéria física, que movida, por assim dizer, impulsionada por influências energéticas do espírito consegue produzir movimentos na matéria física por ele tocada, pelo ectoplasma tocada. Assim acontece que um objeto pode ser levantado no espaço, pode girar no espaço, pode ser transportado para outro lugar, pode ser, inclusive, transportado para a sala de sessões, embora todas as portas e janelas estejam fechadas, porque o espírito, através da sua fluidificação do objeto, consegue fazê-lo passar de maneira que nós ainda não compreendemos através das próprias paredes, e neste caso nós temos,então, também a possibilidade de transporte de seres vivos.
Em muitas situações, em sessões de materialização, inicia-se a sessão e o médium é arrancado da sala e transportado para outro aposento da casa, ou muitas vezes levado até para o ar livre. Então pergunta-se: como pôde ser feito isso? Pode ser feito graças à ação daquilo que Richet chamou de ectoplasma e que William Crookeschamou de força psíquica. Uma força psíquica que movimenta matérias orgânicas e pode produzir efeitos materiais. É neste sentido que pode haver o transporte de médiuns. Não há cambalhotas, absolutamente; não há o perigo que nós pensamos, porque quando essa força dirigida naturalmente por entidades espirituais consegue produzir a levitação de uma criatura humana, como aconteceu com o médium Daniel Douglas Home numerosas vezes, como figura na história de numerosos santos da igreja que são levitados durante a prece, são erguidos no ar, quando acontece isto, nunca absolutamente se verificou qualquer espécie de cambalhota ou coisa perigosa. Estes movimentos são todos controlados por entidades espirituais que são no mundo espiritual aquilo que nós aqui chamaríamos técnicos no assunto, e eles sabem como produzir esses movimentos sem nenhum perigo para o médium.
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Pergunta nº 2: Sobre o programa
Locutor - Professor, a segunda pergunta do ouvinte Emílio L. Bonque é a seguinte: Quem foi o autor, onde foi escrita e em que obra literária se encontra, e o que significa a seguinte frase: “se quereis saber o que é a vida, leia o livro dos mortos”? J. Herculano Pires - Às vezes alguns dos nossos ouvintes confundem o sentido do nosso programa. O nosso programa não é enciclopédico, nós não pretendemos saber tudo e responder tudo ao pé da letra. O nosso programa destina-se a divulgar a doutrina espírita e a responder a todas as questões referentes a essa doutrina e suas relações naturalmente com outras doutrinas espiritualistas. O que nos interessa, portanto, não é a precisão com respeito a textos literários, frases e essas coisas todas, mas procurar resolver problemas como da primeira pergunta deste nosso ouvinte.
Pelo que o senhor formula aqui nós entendemos que se trata de alguma frase dita por algum escritor do antigo Egito, porque o livro dos mortos era o livro sagrado da religião egípcia. Entretanto, não podemos passar nada além disso, porque não temos informações a respeito.
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Pergunta nº 3: Construção por transporte
Locutor - Terceira pergunta do mesmo ouvinte é a seguinte: Sou construtor, gosto de edifícios por amor e viver, sempre admirei as pirâmides, os templos antigos, enfim, toda arquitetura, desde os primórdios da humanidade. Pergunto: podemos explicar por meio da mediunidade o que a ciência exata não é capaz como, por exemplo, a lavra, o transporte, o levantamento, a colocação de blocos maciços de pedras brutas. Seriam médiuns esses João de Barro medievais? Teria naquela época o nosso globo pouca gravidade em fase da sua maturação? J. Herculano Pires - O problema da gravidade não caberia neste assunto, porque naturalmente a gravidade, como sabemos, decorre da massa do próprio planeta e essa massa foi sempre mais ou menos a mesma, havendo naturalmente mudanças pelo que nos dizem os entendidos no assunto que não provocariam absolutamente aumento ou diminuição da gravidade em tamanha extensão.
Quanto ao transporte dessas pedras, é um problema que vem sendo debatido há muito tempo. Nós não estamos diante de um problema que pudéssemos solucionar com facilidade, porque as contradições aí são muitas. A pergunta que aqui nos interessa, que interessa o nosso programa é se seria a força mediúnica empregada nisso. Já se apelou também para isso. Por exemplo, o professor Ernesto Bozzano, que eu ainda há pouco citei, tratando desses assuntos, ele lembra que entre os povos selvagens, particularmente nas tribos australianas onde dois antropólogos, André Lang e FreedomLonger, realizaram pesquisas intensivas a respeito, verificou-se que os indígenas se servem de uma força chamada mana. Essa força chamada mana em certas tribos, em outras chamadaorenda, é uma força que produz a movimentação de objetos através de médiuns. Claro está que se trata de ectoplasma segundo a designação metapsíquica que nós no espiritismo aceitamos como válida para explicar o fenômeno. Então seria possível, por exemplo, além das pedras nas pirâmides, existe um fenômeno curioso, o fato ainda bastante curioso da Ilha de Páscoa com suas gigantescas estátuas de pedra, e pergunta-se como aquelas estátuas puderam ser movidas de um local para outro, colocadas aqui, colocadas ali como se encontra na Ilha de Páscoa. A explicação dada pelos investigadores é sempre a da presença desta força orenda que produziria a movimentação. Mas tudo isso são hipóteses. Nós estamos diante de fatos históricos. Os espíritos que se atrevem a fazer revelações nesse campo são sempre espíritos inferiores. Os espíritos superiores se negam a dar essas explicações porque dizem que isso compete à pesquisa humana e não a eles. Realmente é um trabalho do homem, o homem é quem tem de investigar essas coisas, de maneira que não podemos responder a isso com precisão. Apenas dizer que as várias hipóteses podem ser examinadas principalmente pelo senhor que é um construtor e deve conhecer essas dificuldades.
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Pergunta nº 4: Religião
Locutor - A última pergunta é a seguinte: Gostaria que fosse definido o termo “religião”, e como entender ciência religiosa? Oração dominical não é a oração do senhor? Dominum não significa “do senhor”? Tudo isto nos é ensinado na Federação de onde sou aluno de sua escola de médiuns.
J. Herculano Pires - Mas se tudo isso é ensinado na Federação e o senhor é aluno da escola de médiuns, porque o senhor nos pergunta isso? Naturalmente, o senhor deve saber do que se trata. Mas vamos admitir que o senhor não aceite as explicações que têm sido dadas lá na escola de médiuns. Então vamos dar uma pequena resposta ao senhor a respeito. O senhor pergunta primeiro como se definir o termo “religião”e como entender ciência religiosa. Ora, o termo “religião” segundo as definições mais aceitas decorrem do verbo latinoreligare que quer dizer simplesmente religar. Este termo de acordo com a compreensão espírita do problema se refere ao seguinte: todas as coisas criadas por Deus estão ligadas a Deus desde o início da sua criação, da sua formação. O homem também. Mas há um momento em que o homem se desliga de Deus. Todas as demais coisas continuam ligadas a Deus, ou seja, continuam regidas apenas pelas leis naturais. As plantas, o reino mineral, o reino animal, tudo isto está regido pelas forças da natureza. Mas no homem não há apenas o domínio das leis naturais, das leis biológicas, dos instintos da espécie. Há uma abertura para a liberdade que lhe é dada pela inteligência e pela sua capacidade de discernimento e o seu livre arbítrio. Então o livre arbítrio do homem faz com que ele comece a perguntar logo que toma conhecimento das coisas e vai se aprofundando na compreensão da realidade exterior, ele começa perguntar como as coisas nasceram,de onde surgiram, para onde vão, quem é o autor do universo, e nisto surge a separação do homem que se desliga de Deus. O ateísmo, o materialismo, o positivismo, o pragmatismo, são tantas e diversas posições em que o homem se sente desligado de Deus. A função da religião, então, seria restabelecer a ligação racionalmente entre o homem e Deus. Essa é a origem, o sentido do termo religião.
Download Faça suas perguntas por escrito ao programa No Limiar do Amanhã, Rádio Mulher: Rua Granja Julieta, 205, São Paulo.
Este é um programa livre para o livre debate dos problemas fundamentais da vida e da morte. Não queremos adeptos, não queremos converter ninguém. Colocamos a nossa verdade ao alcance de todos, porque estamos convencidos da sua validade e porque este é o nosso dever. Mas se você provar que está com a verdade, ficaremos com você. Não temos compromissos com igrejas, religiões, autoridades espirituais ou mestre de qualquer ordem ou corrente espiritualista. Aceitamos racionalmente a doutrina espírita, mas não pretendemos levar os outros a fazerem o mesmo. Cada qual no seu caminho, pois todos os caminhos levam a Deus quando seguidos com pureza de coração. Participe sem medo do nosso diálogo radiofônico, amigo ouvinte. Nossa autoridade é a consciência que Deus nos deu. Só a ela estamos sujeitos.
Pergunta nº 5: Ciência religiosa e oração dominical
Locutor - Professor, continuando com perguntas e respostas, a quarta pergunta do ouvinte Emilio L. Bonque o senhor já respondeu parcialmente definindo o que é religião. Falta o restante das perguntas que são o seguinte: como entender ciência religiosa? Oração dominical não é oração do senhor? Dominum não significa do senhor? Depois ele conclui dizendo o que o senhor já falou anteriormente que é o que aprende na Federação...
J. Herculano Pires - Sim, realmente ficou faltando essa parte da ciência religiosa: como entender ciência religiosa. Eu acredito que nós não devíamos falar em ciência religiosa. Religião é uma coisa, ciência é outra. O campo do conhecimento, nós falamos assim:“conhecimento”, ou seja, aquilo que o homem consegue conhecer,perceber, captar, conhecer. O campo do conhecimento é muito vasto e se divide em várias províncias. Então nós podíamos imaginar, assim, como um grande país dividido em algumas províncias. Essas províncias são: a ciência, a filosofia, a religião, a ética, a estética e assim por diante, a técnica e tudo isto. Bom, cada um desses campos tem a sua própria estrutura como cada província de um grande país. De maneira que quando nós falamos em ciência religiosa nós estamos fazendo uma mistura indevida. Ciência é ciência, religião é religião. Nós sabemos que quando o espiritismo surgiu, a grande batalha que havia no campo do conhecimento estava travada seriamente entre a ciência e a religião. E Kardec disse mesmo que o espiritismo surgia para liquidar este problema, para acabar com esta batalha. Por quê? Porque a ciência estava esclarecendo todos aqueles fenômenos, todos aqueles problemas que a religião enfrentava de uma maneira misteriosa, interpretando sempre do sentido do sobrenatural. A ciência estava colocando todas as coisas no plano do natural e explicando-as naturalmente. Então, Kardec lembrou que as religiões estavam lutando contra a ciência de maneira imprópria. Elas lutavam apoiadas em seus dogmas, em seus princípios baseados em afirmações decisivas, definitivas, sem possibilidade de pesquisa, de indagação. Então, dizia Kardec, as religiões estão como um exército armado de varapaus, arcos e flechas, lutando contra um exército moderno dotado de armas automáticas. E justamente por isso o espiritismo surgiu para trazer às religiões uma contribuição científica. Ele surgiu como sendo a ciência do espírito.
Consequentemente, nós devemos manter essa distinção e compreender que religião tem um outro sentido: é o desenvolvimento do sentimento religioso do homem, daquilo que Kardec chamou a lei de adoração que existe no coração de todas as criaturas humanas. Esta lei é tão forte que ela se manifesta desde os homens das cavernas até o homem atual. Mesmo nas grandes nações civilizadas e em lugares assim onde se desenvolvem filosofias materialistas como na Rússia Soviética, por exemplo, nós podemos assinalar o desenvolvimento da lei de adoração quando vemos as pessoas que se dedicam mais profundamente ao materialismo científico passarem a adorar certas criaturas humanas que consideram verdadeiros messias, verdadeiros líderes destinados a grandes façanhas sobrenaturais no mundo. E também como acentuou muito bem certa vez um estudioso, há no próprio materialismo científico a adoração de uma classe, uma classe messiânica, que é a classe operária. A lei de adoração, portanto, está em toda parte. O desenvolvimento desta lei de adoração no homem é o que desenvolve a religião, a capacidade do indivíduo se aproximar de Deus para se religar a ele pelo sentimento, mas também pela compreensão, pela razão, daí o fato de Kardec apresentar o espiritismo como ciência do espírito. E uma vez que todas as religiões o repeliram, não o aceitaram, Kardec dizia que os espíritas se viam então obrigados a desenvolver um tipo novo de religião que era a religião racional onde fé e razão se conjugam no esclarecimento dos problemas, dando à ciência a parte da razão os esclarecimentos racionais necessários e dando à religião a parte da fé, o sentimento profundo da convicção nascida da grandeza de Deus e do seu poder sobre as criaturas. Assim, parece que este problema fica mais ou menos colocado em equação que pode levar a uma compreensão da sua parte ou daqueles que nos ouvirem.
No tocante à questão da oração dominical, eu não entendo bem o que o senhor pretende dizer com isso, se o senhor quer dizer que a oração devia chamar-se oração do senhor. Na verdade, pode ser oração do senhor, mas a expressão oração dominical é uma expressão tradicional que foi dada justamente porque nas igrejas cristãs se entendeu e se propôs que essa oração, oPai Nosso,devia ser sempre pronunciada, devia ser pronunciada todos os domingos nas cerimônias religiosas. Então ficou sendo a oração dominical. Mas na verdade essa oração não foi ensinada por Jesus com a finalidade de se proferir apenas uma vez por semana. Ele quis dar com essa oração um exemplo de como podíamos nos dirigir a Deus e como devíamos nos dirigir a Deus, com simplicidade e pureza de coração. Download
Pergunta nº 6: Astrologia
Locutor - Professor, o ouvinte Antônio Nascimento nos escreve uma longa carta na qual faz a seguinte pergunta: como conceituar a crença astrológica dentro da doutrina espírita? Professor, não duvido das inteligências que me são superiores, mas, afinal, em quem acreditar? Diante de tantas opiniões respeitáveis, fico na dúvida, e enquanto caminho, fico imaginando: será que esse algo palpável que procuro na astrologia não existe apenas na minha imaginação e na de tantos outros que nela acreditam? Acho a doutrina espírita maravilhosa, mas todos os livros espíritas que li até hoje nenhum deles mencionou a astrologia, e como minha fome de livros não se limita apenas aos espíritas, leio de vez em quando astrologia, que acho fascinante, pois trata também de coisas da alma. Todas essas leituras me fizeram crer que existe algo de palpável na astrologia. Este é o motivo da minha pergunta.
J. Herculano Pires - De certa maneira o senhor já respondeu sua pergunta, porque o senhor mesmo diz que nenhum dos livros que leu trataram de astrologia. Astrologia não é um assunto do espiritismo. Há uma relação naturalmente entre astrologia e o espiritismo, como há entre astrologia e qualquer outra religião quando a astrologia trata dos problemas da alma humana. Mas esta relação é apenas exterior, não estabelece uma ligação íntima entre qualquer doutrina religiosa e astrologia. O que nós devemos entender é o seguinte: o espiritismo trata de todas as relações necessárias entre o espírito e as coisas materiais e imateriais, mas não se preocupa com a influência dos astros sobre as criaturas humanas e sobre as almas humanas. Porque de acordo com o espiritismo, o que nos interessa é compreender a verdadeira natureza do homem e o seu destino na Terra. Quanto às influências que podem haver sobre ele procedente deste ou daquele planeta, ou desta ou daquela situação cósmica são problemas que pertencem já a outros campos científicos. O espiritismo é a ciência do espírito, ele quer provar que o espírito existe,como é a natureza do espírito, como o espírito se originou, como se desenvolveu e qual é o destino do espírito, bem como as ligações possíveis entre o mundo espiritual e o mundo humano, ou mundo corpóreo, como gostava de dizer Allan Kardec. Ora, a astrologia, segundo nós sabemos, foi uma ciência que dominou o mundo na antiguidade, mas essa astrologia da antiguidade não chegou até nós senão através de fragmentos. Nós não temos a chave astrológica. Naquele tempo, certamente os sábios que então cuidavam de astrologia dispunham de certos processos que nos são ainda desconhecidos. A grande importância da astrologia está precisamente neste prestígio que ela adquiriu através da antiguidade. Mas atualmente a astrologia, como vemos, paira num verdadeiro nevoeiro, numa situação difícil de se definir. Não é fácil esclarecer todo o problema astrológico, e justamente por isso a astrologia tem servido mais para a exploração da credulidade pública do que realmente para prestar serviços aos homens.
O senhor como espírita pode ler qualquer livro que o senhor quiser, se o senhor é espírita, porque o espiritismo não proíbe ninguém a leitura de qualquer livro. Mas o senhor pode estar convencido, pode estar certo de que a astrologia não tem seu lugar no espiritismo. Aliás, Kardec define muito bem este problema quando diz que a astrologia deu origem à astronomia. Hoje nós podemos dizer que a herdeira da astrologia antiga não é a astrologia moderna, é a astronomia da investigação, dos sábios antigos que se limitavam à contemplação dos astros no céu, a investigação atual que vai até ao ponto de levar o homem aos planetas do infinito há uma distância muito grande. E assim Kardec assinala já no seu tempo, da mesma maneira que da alquimia antiga nasceu a química moderna, assim também da antiga astrologia nasceu a astronomia atual. O espiritismo é outra coisa.
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Pergunta nº 7: Guia espiritual
Locutor - Professor, a ouvinte Rosa Inês Gonçalves, Av. dos Bandeirantes, 81, faz uma pergunta dividida em três partes. Diz assim: sou médium e quando realizo meus trabalhos junto aos meus amigos e pessoas da família, sinto-me bem e feliz, mas na semana que não quero receber meu guia espiritual, sinto-me perturbada e com dores no corpo inteiro, e meu guia fica aborrecido comigo. Isso é normal?
J. Herculano Pires - A senhora precisa estudar profundamente o livro dos médiuns, precisa ler o livro dos médiuns, ler com atenção, querendo mesmo aprender, porque não basta ler ligeiramente. A senhora deve também ter mais cuidado com a realização das suas sessões familiares. Se a senhora nessas sessões se sente bem, se as comunicações que ali se processam lhe dão tranquilidade é, entretanto, necessário que a pessoa que dirige estes trabalhos examine bem a natureza dos espíritos manifestantes. O seu guia espiritual, se é realmente o seu guia, tem de ser um espírito superior. Ele não pode ficar aborrecido com a senhora nem prejudicá-la com sensações dolorosas pelo fato de a senhora não querer participar de uma reunião. Mas a senhora, por sua vez, deve se lembrar de que tem uma responsabilidade mediúnica e que essa responsabilidade exige da senhora maior constância e frequência aos trabalhos. Não deve ser o seu guia que a prejudica. Naturalmente a senhora, não comparecendo aos trabalhos, fica sujeita como médium àinfluenciação de espíritos necessitados que poderiam ter sido atendidos na reunião se a senhora ali estivesse presente. A senhora então sofre a influência desses espíritos não como castigo, mas como uma consequência natural do fato de a senhora lhes ter negado a caridade da assistência que podia dar através da sua mediunidade.
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Pergunta nº 8: Gozação do espiritismo
Locutor - Prossegue a ouvinte Rosa Inês Gonçalves. Porque muitas vezes quando falo com certos amigos sobre espiritismo sou motivo de gozação e perguntam-me se eu já vi Deus, se tenho prova disso que faço? Quando falo que não, eles acham graça da minha religião, porque são católicos. Professor, pode um espírito, quando dominado, pedir para o mandarem para a escola a fim de ser doutrinado? J. Herculano Pires - O problema que a senhora coloca aqui de as pessoas caçoarem da senhora, zombarem da senhora pelo fato de a senhora ser espírita, este problema talvez resulte do fato de a senhora falar demais que é espírita. A gente não precisa alardeando aquilo que é, não é verdade? Quando a gente vai dizer para uma pessoa “eu sou espírita”, e essa pessoa não está interessada em espiritismo, ela logo pode levar mesmo para o lado da brincadeira. A gente só deve tratar de espiritismo quando chamado a isso, quando levado a isso por uma necessidade imediata, ou por interesse sério de uma pessoa. Voltemos a Kardec. Kardec dizia: Não devemos querer ensinar espiritismo a todo mundo, mesmo porque o problema do espiritismo não é de fácil divulgação nem de fácil entendimento. A pessoa precisa ter condições, certas condições morais e espirituais e intelectuais, não no sentido de ser mais desenvolvido que os outros, mas de ter uma aptidão espiritual, com dizia Kardec, para compreender isso. De maneira que a senhora se abstenha de conversar muito sobre espiritismo. Só fale em espiritismo com quem se interessa realmente pelo assunto ou com quem já é espírita e queira discutir com a senhora um problema no qual possa lhe auxiliar ou a senhora auxilia-lo. Agora, no tocante ao espírito ser dominado e pedir para ser enviado a uma escola para doutrinação, isto é um problema que a senhora sabe. Quando um espírito não é dominado na sessão, o espírito é doutrinado. A doutrinação é um esclarecimento do espírito através da razão, através da influenciação emocional que nele é despertada no momento da comunicação mediúnica por espíritos amigos que o trazem ali. Então, quando ele se sente esclarecido, quando ele vê que errou, quando ele vê que precisa de uma orientação ele pode naturalmente pedir para ser auxiliado e ser levado a um local onde possa ser esclarecido. Este local pode não ser na Terra e sim no mundo espiritual. Download Pergunta nº 9: Agênere Locutor - Professor, o ouvinte Sebastião Ribeiro do Instituto Butantã pergunta: professor, a aparição de Jesus ao discípulo Tomé não teria sido um caso de agênere? J. Herculano Pires - A aparição de Jesus para o discípulo Tomé se passou precisamente numa reunião, uma grande assembleia. Os apóstolos estavam reunidos no chamado cenáculo, em Jerusalém, o lugar onde eles faziam preces e cantavam, e estavam ali justamente para louvar a Jesus, para dirigir-se a ele. Eles se achavam, por assim dizer, acuados pelas autoridades judaicas e tinham medo. Então reuniam-se secretamente no cenáculo. E ali estavam à espera de que alguma providência do alto os viesse socorrer. Ora, nós sabemos que Jesus apareceu antes no cenáculo, muito antes de aparecer a Tomé, mas Tomé não estava presente e duvidou de que Jesus estivesse estado ali. Então, Jesus esperou a próxima reunião e apareceu de novo.
A sua manifestação não pode incluir-se na classificação das manifestações do agênere porque na verdade Jesus estava realizando uma missão, e uma missão de importância fundamental para a evolução humana. As manifestações de Jesus não são manifestações comuns, corriqueiras;eram manifestações do próprio criador e diretor do nosso planeta, o governador espiritual da Terra. Assim, ele se serviu de um processo de aparição. O agênere é o espírito que aparece numa determinada rua, numa casa, num local qualquer, como se fosse uma criatura viva e não tem outra finalidade senão a de se mostrar às pessoas para dizer que está vivo, ou mesmo, às vezes, sem nem perceber que ele passa por essa transformação do seu perispírito que lhe permite tornar-se visível e tangível. No caso de Jesus, pelo contrário, tratava-se de um processo da mais alta significação espiritual para toda humanidade. Jesus comprovava a ressurreição, ele dava lição de que, na verdade, nós não morremos, de que nós não permanecemos no túmulo, de que nós não somos corpo material e sim espíritos, e que como espíritos continuamos vivos e continuamos podendo manifestar-nos, comunicar-nos com as criaturas amigas que deixamos na Terra, com os discípulos, no caso dele, ou com os familiares a fim de prosseguirnos trabalhos que forem necessários. A demonstração que Jesus dava a Tomé tinha também uma outra finalidade: a de provar ao discípulo descrente, ao discípulo que punha as coisas em dúvida em virtude do seu temperamento analítico, do seu desejo de superar as dúvidas tocando sempre a realidade com os dedos. E foi por isso que Jesus manifestou-se a Tomé, manifestou-se expondo-lhe as mãos com as chagas da crucificação e mandou que Tomé tocasse as suas chagas. Quando Tomé as tocou, ele então se convenceu da realidade da ressurreição. Era importante, era fundamental que Tomé aceitasse a ressurreição, porque Tomé representava ali as pessoas céticas, descrentes, negativas, que em todo mundo mais tarde iriam manifestar-se contra a ressurreição de Jesus. Tomé, então, teria visto, como realmente viu, e esse fato histórico marcado nos próprios evangelhos serviria de orientação e esclarecimento para os “tomés” do futuro. Hoje, felizmente, como nós sabemos, os “tomés” do nosso tempo, que são representados praticamente pelos cientistas materialistas, estão também tocando as chagas de Jesus com os dedos, estão verificando diante da realidade do próprio avanço das ciências que, na verdade, a concepção materialista do mundo não tem razão de ser, porque todos nós ressuscitamos, porque todos nós, como disse o apóstolo Paulo, continuaremos a seguir a nossa vida espiritual de acordo com os princípios do Cristo, ressuscitando na Terra e além da Terra, no espaço, onde vivem os espíritos nós ressuscitaremos porque a continuidade da vida é permanente para as criaturas humanas.
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O evangelho do Cristo em espírito e verdade. Não segundo a letra que mata, mas segundo o espírito que vivifica.
Aberto o evangelho ao acaso, encontramos o seguinte:
Estava doente um homem chamado Lazaro, de Betânia, da aldeia de Maria e sua irmã Marta. Maria, cujo irmão Lázaro se achava doente, era a que ungira o Senhor com perfume e lhe enxugara os pés com os seus cabelos. Mandaram, pois, as irmãs de Lázaro dizer a Jesus: Senhor, aquele que amas, está doente. Ao saber isso, disse Jesus: Essa doença não é para a morte, mas para a glória de Deus a fim de que o filho de Deus seja por ela glorificado. Ora, Jesus estimava a Marta e a sua irmã e a Lázaro. Tendo sabido, pois, que este estava doente, demorou-se ainda dois dias no lugar onde se achava. Então, passado isso, disse aos discípulos: Voltemos para a Judéia. Perguntaram estes: Mestre, agora mesmo os judeus procuravam apedrejar-te e voltas ainda para lá? Respondeu Jesus: Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia não tropeça, porque vê a luz deste mundo, mas se alguém andar de noite tropeça porque a luz não está nele (A ressurreição de Lázaro, capítulo 11, versículos de 01 a 10).
Amigos ouvintes, esta passagem do evangelho de João é realmente uma das passagens mais bonitas passagens dos evangelhos. Nós vemos Jesus convocado pelas irmãs de Lázaro, Marta e Maria, para socorrer o irmão que já havia morrido. Parece estranho que isso pudesse acontecer, mas na verdade nós sabemos que os judeus acreditavam no poder de ressurreição do messias. O messias não era apenas aquele que viria salvar Israel da situação de subalternidade em que se encontrava diante do império romano e das ações do tempo, mas também era aquele que viria mostrar que não existia mais a morte, porque diante da face do messias todas as impurezas desapareceriam. E a impureza suprema, que era a impureza da morte,devia apagar-se desde que o messias estivesse presente. Assim, a ressurreição de Lázaro constava, praticamente, das profecias judaicas e mesmo dos dogmas do judaísmo. O messias, presente ao cadáver de Lázaro, faria forçosamente com que a morte fugisse, desaparecesse da face da Terra e Lázaro voltaria a vida. Entretanto, Jesus coloca o problema de maneira bastante diferente. Ele não encara do ponto de vista do sobrenatural; ele o coloca em termos naturais; ele explica que Lázaro, na verdade, está dormindo. Lázaro não morreu, porque a morte seria o aniquilamento total do corpo humano de Lázaro, do seu organismo material e o afastamento do espírito. Mas Jesus diz: Lázaro dorme, e se propõe a acordá-lo. A morte de Lázaro, portanto, não era propriamente a morte; era um estado cataléptico em que ele se encontrara, um estado em que o espírito se sente perturbado, seja por uma disfunção orgânica ou por qualquer outro acontecimento interior no seu psiquismo e provoca nele este estado de perturbação em que ele se desliga, praticamente, do corpo não no sentido de afastamento, mas no sentido de estabelecer a falta de conexão entre os seus comandos e as partes do organismo humano que devem ser comandadas por ele. Lázaro se encontrava nessa situação. Os judeus pensaram que ele havia morrido; o enterraram de acordo com os rituais do tempo; colocaram, como sabemos, uma pedra enorme diante da porta do túmulo de Lázaro, como era hábito no tempo. Mas Jesus sabia que Lázaro não morrera e por isso ele não teve pressa em voltar até lá. Falou da glória de Deus que se manifestaria em Lázaro. Por quê? Porque ele sabia que com a sua presença, ele agindo sobre Lázaro, sobre o espírito de Lázaro, faria com que este espírito retomasse o comando do corpo e Lázaro se levantasse do túmulo. E que esse fatoiriaser considerado pelos judeus como uma autêntica ressurreição, a ressurreição da carne, a ressurreição carnal do morto. Na verdade essa ressurreição da carne teria um sentido diferente que Jesus explicaria depois na sua conversa célebre com Nicodemos. O espírito renasce da carne, ressuscita na carne através da reencarnação. Não é possível ressuscitar um corpo que já entrou em decomposição, um corpo que vai se dissolver na terra. O que aconteceu com o espírito de Lázaro foi precisamente isso: Lázaro não se desligara totalmente do corpo e ressuscitou, naturalmente, porque foi a sua reintegração no corpo que permitiu revitalizá-lo. Lázaro acordou. Ele dormia e foi acordado por Jesus. Este é o sentido do trecho que acabamos de ouvir.
Amigo ouvinte, não ponha o carro na frente dos bois. Se você quer realmente conhecer espiritismo, leia, primeiro, as obras de Kardec e só depois de bem informado, participe de trabalhos práticos. Não assista a sessões sem primeiro saber o que é o espiritismo.