No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço. Cresce cada vez mais o interesse geral pela doutrina espírita. Jornais e revistas alheios ao espiritismo publicam reportagens a respeito, divulgam mensagens mediúnicas e criam novas seções espíritas por toda parte. A maioria das reportagens e artigos escritos por leigos no assunto oferece uma visão deformada do espiritismo, dos fatos históricos da sua formação e até mesmo dos dados biográficos de Kardec e dos médiuns mais significativos.
A expansão do espiritismo e sua divulgação crescente exigem dos espíritas uma tomada enérgica de posição. Mas para que isso se torne possível, é necessário maior interesse pelo estudo sério da doutrina. Todos os espíritas conscientes de sua responsabilidade doutrinária precisam compreender de uma vez por todas que espiritismo exige estudos constantes e apurados.
A repulsa às obras de mistificação, como as de Roustaing, Ramatís e tantas outras é um dever de todo espírita consciente. Chegou a hora das definições corajosas. Os espíritas que se deixam levar por emoções e não pela razão tornam-se cúmplices da deformação da doutrina que se espalha por todo país. É hora de lembrarmos o ensino de Cristo: seja o teu falar sim, sim, não, não.
Muitos espíritas confundem tolerância com aceitação de erros e mentiras. A tolerância tem um limite preciso que é a cumplicidade. Quando por conveniências e interesses pessoais aceitamos as deformações doutrinárias, alegando tolerância, estamos nos tornando cúmplices das trevas. Nosso dever de espírita é rejeitar e denunciar as mistificações e as distorções da verdade. Não podemos buscar a verdade acoitando mistificadores, aceitando a mentira e auxiliando a sua divulgação em nome da tolerância. No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Produção do grupo espírita Emanuel. Transmissão número 127. Terceiro ano. Direção e participação do professor Herculano Pires.
Como estudar espiritismo
O estudo do espiritismo, como ensina Kardec, exige esforço continuado e metódico. A doutrina espírita, aparentemente muito simples, é na verdade complexa e profunda. O seu estudo sério como de qualquer ciência, filosofia ou religião, não pode ser feito em cursos rápidos e superficiais. O interessado precisa de anos de leitura, consultas frequentes às obras básicas, prática experimental e profunda reflexão para adquirir um conhecimento válido.
As obras básicas do espiritismo se constituem de vinte volumes. Deve se começar pelos livros de introdução escritos pelo próprio Kardec. A seguir, é necessário penetrar a fundo e com persistência nos cinco volumes da codificação. Paralelamente a isso, é indispensável a consulta aos doze volumes da Revista Espírita,segundo as identificações que surgem nos próprios volumes da codificação. Sem isso ninguém pode dizer-se conhecedor da doutrina.
A coleção da Revista Espírita é o complemento da codificação. Os livros básicos são sintéticos e muitos dos seus temas só encontram maior desenvolvimento nas páginas da Revista Espírita. A maioria dos pregadores e expositores espíritas ainda não compreendeu isso. Pregar e sustentar erros doutrinários por falta de estudo e excesso de vaidade é incorrer em grande responsabilidade espiritual. Misturar na exposição da doutrina princípios que lhe são estranhos é desfigurar a obra do Espírito da Verdade. Atenção, espíritas! Todos os que se encontram nas fileiras doutrinárias estão sob a bandeira de renovação do Espírito da Verdade, e a verdade não pode misturar-se com a mentira. Este é um momento bastante grave do espiritismo aqui no Brasil e no mundo. Temos de compreender que não existe outra fonte para o estudo da doutrina. A fonte única é Kardec. Nas obras de Kardec está o pensamento e o ensino dos espíritos superiores. Estudar espiritismo é estudar Kardec.
Perguntas e respostas. Pergunte para você e para os outros.
Pergunta nº 1: Elementos fundamentais
Locutor - Professor, o ouvinte Francisco P. Aragão pergunta: o dogma católico da santíssima trindade tem explicação racional à luz da doutrina kardeciana? “Pai, filho e espírito santo” significam no espiritismo “Deus, espírito e matéria”, sendo o quarto elemento o elo de ligação entre espírito e matéria, o perispírito?
J. Herculano Pires - Eu compreendo o senhor Aragão que o senhor tem uma dúvida sobre o seguinte: se são três os elementos fundamentais do universo e se esses elementos correspondem não só à trindade católica, mas à trindade fundamental de todas as grandes religiões do mundo, porque em todas elas aparece o princípio da trindade. Então, o senhor perguntaria: como existe um quarto elemento? Mas o quarto elemento não é um elemento, isto está bem explicado no Livro dos Espíritos. Os elementos fundamentais do universo são “Deus, espírito e matéria”. Deus é o criador, espírito e matéria representam a criação.
Entretanto, o processo da criação não pára apenas na produção destes dois elementos fundamentais. Se só existissem no universo espírito e matéria, não existiriam as coisas e os seres, não existiriam os espíritos, não existiriam aquelas entidades que povoam o universo. Então, nós temos de compreender o seguinte: a criação é progressiva, a criação é constante. Jesus disse no evangelho que Deus tinha trabalhado não apenas na criação do universo, mas que continuava trabalhando até aquele momento em que ele, Jesus, falava, e que ele também,Jesus, estava trabalhando. Porque Deus trabalha constantemente, produzindo e criando. A criação, portanto, é constante, é permanente.
Mas para que isso se processe, para que a criação seja assim ininterrupta, é necessário que ela siga as leis estabelecidas por Deus. Essas leis fundamentam-se nos dois princípios que dependem de Deus: espírito e matéria. De acordo com a doutrina espírita, espírito e matéria estão em permanente interação, um agindo sobre o outro em todo o universo. E desta interação de espírito e matéria resulta um elemento intermediário que é o fluido universal do qual é constituído o perispírito ou corpo espiritual. Assim, o fluido universal, que o senhor representa aqui como sendo o perispírito, este fluido universal não é propriamente um quarto elemento, ele é simplesmente o resultado da interação entre espírito e matéria. Vamos tornar isso bem claro lembrando um ensinamento e um exemplo do próprio Livro dos Espíritos. Os espíritos disseram a Kardec: quando uma roda de madeira gira em torno de um eixo, ela produz calor. Então nós temos a roda, o eixo e o calor. Mas o calor é transitório, não é permanente, não é uma substância. O calor só existe em função da fricção da roda no eixo. Assim, disseram os espíritos, espírito e matéria são substâncias permanentes no universo. Mas o fluido universal é um elemento transitório, passageiro, que só existe em função do atrito, da relação, da interação entre espírito e matéria. Assim, a trindade universal teria forçosamente de produzir outros elementos. O fluido universal vai ser o elemento de que nascerão todas as coisas no universo. A trindade básica,“Deus, espírito e matéria”, mantém-se na sua permanência constante. Mas espírito e matéria em interação respondem por todo o processo criador subsequente. O universo se desenrola, por assim dizer, multiplicando as coisas e os seres por toda parte como consequência permanente dessa constante interação entre espírito e matéria.
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Pergunta nº 2: Curas
Locutor - Mais uma pergunta. Professor, a ouvinte Corina Antunes Gonzaga pergunta: preciso de orientação sobre a organização de uma sessão de efeitos físicos essencialmente para as curas de enfermos com médium para esse tipo de mediunidade.
J. Herculano Pires - Eu vou responder à senhora com absoluta franqueza que eu não concordo com essas sessões de efeitos físicos para finalidade de cura. Existem os médiuns curadores, existem as sessões em que se dão passes e se procuram através das manifestações de espíritos esclarecidos assistir àqueles que necessitam de ajuda no caso de estarem doentes. Mas quando nós pensamos em sessão de efeitos físicos para a produção de curas, nós estamos querendo entrar para um campo que doutrinariamente não está bem doutrinado e que não é aconselhado nas próprias obras da codificação.
As sessões de efeitos físicos são sessões que pertencem ao campo científico do espiritismo e não ao campo religioso. Quando nós queremos dar assistência religiosa às criaturas e auxiliar inclusive aqueles que estão doentes, nós não estamos interferindo no campo da medicina propriamente dita e não estamos invadindo áreas que não competem a nós. Por quê? Nas sessões religiosas de espiritismo nós usamos a prece, o passe, a manifestação de espíritos bondosos que procuram auxiliar as criaturas como santos nas igrejas, nas diversas religiões também assistem aos que necessitam.
Ora, quando nós fazemos, entretanto, uma sessão de efeitos físicos especialmente para interferir em problemas de cura, nós estamos invadindo uma área para a qual não estamos capacitados. Quer dizer, quando nós vamos tratar com problemas de efeitos físicos, nós precisamos conhecer a ciência espírita. E o espiritismo que nós conhecemos geralmente em nosso país e no meio popular é evidente que não pode ser o espiritismo científico, é o espiritismo religioso. Ora, as sessões de efeitos físicos exigem, portanto, a participação, a orientação, o esclarecimento e a vigilância de pessoas que conheçam o problema com que estão lidando. Nessas sessões, está em jogo o problema da ciência espírita em sua relação com as demais ciências, porque, como nós sabemos, uma manifestação física implica problemas não só da manifestação espiritual propriamente dita, mas também problemas mediúnicos que envolvem questões de fisiologia e também problemas físicos de natureza ligada profundamente aos problemas científicos da própria física e da química.
Assim, nós não podemos absolutamente estar nos arriscando a realizações sessões com essa pretensão que vai muito além das nossas possibilidades. Sejamos mais humildes e mais confiantes em Deus. Procuremos fazer sessões que realmente sejam levadas no sentido religioso, orientadas neste sentido que é o que está ao nosso alcance. Quanto às sessões científicas, deixemos para aqueles que estejam em condições, que possuam cultura científica suficiente para enfrentar os problemas que nelas possam surgir.
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Pergunta nº 3: 666
Locutor - Professor, o ouvinte Antônio Jacinto pergunta: no evangelho de Cristo, filho de Deus, está escrito as seguintes palavras: só vai comprar e vender aquele que tiver o sinal, marca ou número da besta que é o mesmo número do homem. Número 666. Como é que vamos saber se determinadas pessoas têm esse número, sinal ou marca? Qual é a fórmula, segundo o espiritismo, para saber o valor das letras?
J. Herculano Pires - Quando falamos de evangelho é preciso compreender que o evangelho, a palavra evangelho quer dizer a boa nova, quer dizer a nova da salvação em Cristo, quer dizer que o evangelho é uma mensagem de salvação. Esta mensagem de salvação está no ensino moral do Cristo.
O ensino moral do Cristo foi estudado minuciosamente no Evangelho Segundo o Espiritismo. Ora, o senhor não está se referindo ao evangelho propriamente dito. Este trecho que o senhor cita aqui para perguntar pertence ao Apocalipse. O Apocalipse, o último livro do Novo Testamento, não faz parte integrante do evangelho. É um livro profético. Não é um livro de ensinamento moral, de ensinamento espiritual. É um livro de profecias. E neste livro que, como nós sabemos,é atribuído ao evangelista João, nós sabemos que neste livro figuram muitos símbolos, muitas alegorias que precisam ser interpretadas para que nós compreendamos o seu sentido. Há muita discussão em torno do Apocalipse e nós não podemos querer interpretá-lo ao pé da letra de maneira alguma, porque nem é possível essa interpretação. Quando tratamos de profecias simbólicas, como a deste livro, é necessário que conheçamos as regras necessárias para a sua interpretação e que conheçamos também a história do livro, como ele foi escrito, quando foi, para que se dirigia, qual o seu significado histórico. Nada disso é fácil de conhecer por pessoas que não tenham um bom estudo, um aprofundado estudo do nascimento e desenvolvimento do cristianismo, da história, enfim, do cristianismo na Terra. Este é um assunto para especialistas em história cristã. Este é um assunto que vem sendo tratado desde as obras de Renan até as obras atuais dos pesquisadores universitários em todo mundo, vem sendo tratado como um problema difícil de ser interpretado e esclarecido. O Apocalipse, segundo os maiores especialistas, era uma profecia dirigida principalmente aos judeus, especialmente a eles, e referia-se à queda do império romano. Não obstante, como é uma profecia bastante profunda no seu simbolismo, ela continua figurando nos evangelhos e muita gente procura aplicá-la aos nossos dias. Essa aplicação aos nossos dias, como em quase todas profecias simbólicas, é possível, mas não é exata. De maneira que o senhor deve pôr de lado o Apocalipse. É um livro que o senhor pode ler, mas não queira aplicá-lo às suas expressões, à atualidade, nem interpretá-lo como um ensinamento dirigido àqueles que seguem o evangelho de Cristo. O evangelho de Cristo está nos evangelhos, nos quatro evangelhos. No texto desses evangelhos, sim, o senhor encontra os ensinos morais e espirituais necessários ao seu comportamento, à sua conduta cristã na Terra. Mas no Apocalipse não se trata disso; trata-se de profecias que precisam ser decifradas e esclarecidas por pessoas que disponham de conhecimentos para isso.
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Pergunta nº 4: Ernesto Bozzano
Locutor - Professor, a ouvinte Ana Maria Pereira pergunta: onde posso encontrar o livro do Desdobramento de Ernesto Bozzano? J. Herculano Pires - A senhora pergunta pelo livro do Desdobramento do Ernesto Bozzano. Eu não sei se a senhora interpretou mal alguma coisa que eu tenha dito aqui. Não conheço nenhum livro neste sentido de Bozzano, com este título. Bozzano escreveu cerca de sessenta livros sobre espiritismo, foi um grande professor universitário italiano e durante toda sua vida dedicou-se profundamente à investigação espírita. Suas obras são de ciência espírita. Não sei se a senhora quer falar sobre o problema de bi-locação, talvez seja isto, porque desdobramento corresponde àbi-locação. Então este livro a senhora pode encontrar numa livraria espírita, Bozzano tratando dos casos de bi-locação em que o médium se desdobra, se projeta à distância enquanto o corpo dele permanece no lugar ele se manifesta espiritualmente em outro lugar.
As investigações de Bozzano neste sentido são puramente científicas. Ele procura colocar os problemas de maneira a esclarecer como o fenômeno se passa, citar os exemplos numerosos que correspondem ao esclarecimento deste problema e mostra que ele realmente existe. Mas para encontrar este livro, a senhora naturalmente precisa se dirigir a livrarias espíritas, e eu não sei se a senhora encontrará porque, segundo me parece, nem sequer temos ainda tradução desse livro para o português. Em todo caso,é possível que eu esteja enganado. A senhora dirija-se a uma livraria espírita de São Paulo e procure ver se existe o livro de Bozzano sobre fenômenos de bi-locação; não com esse título de livro de Desdobramento, que isto a senhora não encontra em lugar nenhum.
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Pergunta nº 5: Animismo
Locutor - Professor, a ouvinte Irma Pinheiro Machado telefonou e pergunta: se fomos médicos em outra existência e na atual não o sendo, haverá possibilidade de num transe mediúnico aquela personalidade médica manifestar-se, atuando em receituários e operações? Como saber se o espírito manifestante é o nosso ou outro?
J. Herculano Pires - A senhora está colocando aqui um problema do animismo. Como nós sabemos, no espiritismo existem essas duas séries de fenômenos: os fenômenos anímicos e os fenômenos espíritas propriamente ditos. Os fenômenos anímicos correspondem a manifestações da própria alma do médium. Quando o médium cai em transe, ele pode manifestar-se, ele mesmo, através da sua mediunidade. Isto pode parecer estranho para quem não conhece o problema, mas o problema está ligado a questões de psicologia, principalmente no campo da psicanálise. Nós sabemos que, quando queremos nos libertar de um trauma psíquico segundo a linha de orientação psicanalítica, nós passamos por um processo de catarse, quer dizer, procuramos os meios, através da indicação do especialista competente, um meio de fazer com que do nosso inconsciente surjam os elementos de memória, de lembranças que lá estão enterrados e que estão agindo subterraneamente na nossa personalidade, prejudicando a nossa conduta, o nosso comportamento. No espiritismo, esta catarse, quer dizer, essa manifestação de alguma coisa que sai das profundezas da nossa memória, é mais profunda porque no processo anímico é a própria alma do médium que volta ao passado, e justamente por isso toma a forma, o aspecto, a personalidade de uma criatura que viveu anteriormente, de uma criatura que ele representou no palco da vida numa existência anterior. Ora, neste caso em que a senhora fala da personalidade médica, é preciso compreender o seguinte: se nós fomos médicos numa encarnação e noutra encarnação não viemos como médicos, é porque as nossas atividades agora, o nosso trabalho nessa nova encarnação, a missão que nós temos de cumprir é outra, é de outra natureza. A finalidade principal que nós temos em cada encarnação é desenvolver certas habilidades, certas capacidades, desenvolver aquilo que nós chamamos de as “potencialidades ocultas do espírito”. Toda a nossa finalidade na vida é este desenvolvimento constante.
Ora, então uma pessoa que foi médica na outra encarnação pode, através de um fenômeno anímico, manifestar a personalidade do médico, mas não para operar e curar, e sim para, através desta manifestação, livrar-se das consequências de coisas erradas que no desenvolvimento da profissão ela tenha feito anteriormente.
Dessa maneira, nós devemos ter muito cuidado com essas chamadas manifestações anímicas de médicos que se transformam atualmente em curandeiros. Precisamos ter cuidado com isso. Na verdade, as curas espirituais podem ser feitas por médicos desencarnados que se servem de médiuns curadores, médiuns especiais através dos quais ele se manifesta. Mas admitirmos a manifestação anímica de uma personalidade anterior do próprio médium para realizar este trabalho é irmos além dos limites que a doutrina comporta. Como dizia Kardec, Espiritismo é, sobretudo, uma questão de bom senso. E precisamos ter muito cuidado com certos exageros da imaginação. Quem foi cientista numa encarnação anterior, hoje pode estar aqui como um ignorante. E por quê? Porque ele usou mal a sua inteligência, usou mal o seu conhecimento científico, não serviu a humanidade, pelo contrário, desserviu, prejudicando centenas ou milhares de pessoas, então ele vem pagar, por assim dizer, numa vida de sacrifícios, de ignorância, aquilo que fez de errado, e vem aprender também a se tornar humilde. É uma lição de humildade que ele recebe. Ora, não poderíamos admitir que essa pessoa hoje retardada mentalmente, como às vezes acontece em virtude das lesões que ele causou na sua própria consciência em vida anterior, agora venha manifestar-se novamente como cientista para realizar façanhas científicas entre nós. Isto não é espiritismo. É interpretação estranha à doutrina espírita.
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Pergunta nº 6: Anões, levitação e sonambulismo
Locutor - Professor, a ouvinte Vera Regina Nisticópergunta para o senhor: gostaria de saber porque os espíritos se apresentam na forma de anões. Esses espíritos são inferiores? Qual a finalidade de uma criança de cinco anos e meio se ver em um quarto de dormir sentindo sua cama ser levantada do solo por estes espíritos nessas condições já citadas. Como devemos agir com uma criança de oito anos que levanta-se durante a noite, anda pela casa, acende as luzes, senta-se em outros aposentos da casa? Aparentemente está acordada, mas não nos ouve nem responde normalmente a quem lhe chama. Em que momento, após a morte do corpo físico, é cortado o cordão que une o espírito e o perispírito a este corpo?
J. Herculano Pires - As perguntas dessa ouvinte são numerosas, não são apenas uma pergunta, e são realmente perguntas complexas, porque referem-se a assuntos os mais variados.
Quando a senhora fala assim porque os espíritos se apresentam com formas de anões, e se esses espíritos são inferiores, a resposta tem que ser a seguinte: espíritos de anões costumam apresentar-se como anões. Os espíritos passam para o mundo espiritual na forma por que eles viveram aqui na Terra, a não ser que sejam espíritos de grande elevação e que ao deixar a Terra, retomam então a sua posição espiritual, porque cumpriram aqui apenas uma rápida missão. Mas os espíritos que estão em processo evolutivo e que ainda não têm condições para superação própria, eles se manifestam como foram, daí as manifestações de espíritos de índios, de negros, de anões, de pessoas das mais variadas condições sociais e também das mais diferentes raças apresentando-se como eram aqui na Terra, porque elas continuam, ao deixar o corpo material, envoltas no seu perispírito, ou seja, no seu corpo espiritual que é o modelo energético sobre o qual se desenvolveu sua encarnação na Terra. Este modelo continua vivo e contínua acondicionara manifestação do espírito. Assim, os espíritos de anões são realmente espíritos de pessoas que foram anões na Terra e que ainda não se libertaram dessa condição.
Agora, pergunta a senhora qual a finalidade de uma criança de cinco anos e meio se ver num quarto de dormir sentindo sua cama ser levantada do solo por estes espíritos nestas condições citadas. A senhora tem certeza de que estes fatos estão ocorrendo? A senhora, se tiver certeza disto, pode estar certa também de que a senhora está diante de um fenômeno de grande importância, porque é um fenômeno de efeito físico, um fenômeno que deve ser submetido à indagação e à observação de pessoas que tenham conhecimento científico do espiritismo. Mas a senhora fala que são espíritos de anões que estão fazendo isto. É preciso realmente ver, primeiro, se o fenômeno de levitação do berço da criança existe, se não é apenas uma ilusão provocada por espíritos perturbadores que, atuando sobre as criaturas presentes que devem ter visto isto, dá-lhes a ilusão de ter produzido semelhante fenômeno. É preciso verificar isto para depois se chegar a uma conclusão. Mas se na verdade manifestações dessa espécie estão ocorrendo, seja em sua casa ou em casa de quem quer que seja, é porque ali existem médiuns de efeitos físicos. Médiuns que servem para produção de fenômenos materiais, como o fenômeno de levitação, o materialização, o fenômeno de transporte de objetos e assim por diante. Neste caso, não é a criança que está em jogo; são naturalmente manifestações produzidas por espíritos que trabalham com fenômenos desta natureza através de médiuns apropriados. Seria então o caso de desenvolvimento mediúnico. A senhora tem de levar este caso a um centro espírita onde ele possa realmente ser estudado. Eu aconselharia a senhora a dirigir-se ao Centro Espírita Renovação, à Rua Espírita, 116, travessa da Rua Lavapés, no bairro do Cambuci. Ali a senhora pode ir assegundas ou sextas-feiras, às 20h30,e procurar as pessoas que dirigem os trabalhos, conversar com elas a respeito, para ver o que elas podem fazer no sentido de esclarecer este problema.
Depois, a senhora pergunta aqui: como devemos agir com uma criança de oito anos que se levanta a noite. Ora, este caso, pelo que a senhora relata aqui, é simplesmente um caso de sonambulismo. Essa criança é sonâmbula, e toda criança sonâmbula deve ser tratada com cuidado quando está nesse estado para que não se produza um choque que possa prejudicá-la. Há muitas lendas a respeito, muitas pessoas que pensam que podem provocar até a morte da criança. Não é verdade. É preciso apenas ter cuidado para não perturbá-la, não excitá-la mais, não prejudicá-la. Mas também o caso de sonambulismo é um caso de mediunidade. A senhora lá no próprio centro espírita Renovação que eu indiquei, à Rua Espírita, 116, travessa da Rua Lavapés, no bairro do Cambuci, a senhora tratará também deste problema e encontrará quem lhe dê explicações satisfatórias a respeito e a necessária orientação para o tratamento dessa criança.
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Pergunta nº 7: Perispírito e ressurreição
Locutor - Professor, a ouvinte Maria José Dias, da Lapa, pergunta: primeiro, o que é perispírito?
J. Herculano Pires - Vamos responder então a essa primeira pergunta. O perispírito é o corpo espiritual. A senhora lê, por exemplo, na primeira epístola de Paulo aos coríntios no Novo Testamento, a senhora lê as referências dele ao corpo espiritual. Ele trata deste assunto com muita clareza e muita precisão. Diz ele assim: Temos corpo material e corpo espiritual. Ou, segundo outras traduções, temos corpo animal e corpo espiritual. Morre o corpo animal, enterra-se este corpo e ressuscita o corpo espiritual. Paulo faz, então, a distinção perfeita entre essas duas formas de manifestação do espírito. O corpo material que é perecível, o corpo espiritual que atravessa as fronteiras da morte. E referindo-se à ressurreição de Jesus, o apóstolo Paulo lembra que Jesus não ressuscitou como um caso excepcional. É um engano das religiões quererem fazer da ressurreição de Jesus um milagre extraordinário. O próprio Jesus disse, e está nos evangelhos como sabemos, que tudo aquilo que ele fazia nós também poderíamos fazer e até mais do que aquilo, se naturalmente nos desenvolvêssemos espiritualmente para isso. Ora, a ressurreição de Jesus foi uma lição que Jesus quis dar à humanidade no sentido de mostrar que nós não morremos. Nós ressuscitamos. Mas por isso mesmo ele sempre se colocou na posição de nosso irmão. Quando na ressurreição ele encontrou-se com Madalena na porta do túmulo, ele disse: vai dizer aos meus discípulos, vai dizer a eles que eu ainda não fui para meu Pai e Nosso Pai. Ele se colocou na condição de irmão dos discípulos, irmão de Madalena, irmão de nós todos. E ele desejava que as pessoas compreendessem isto. Então a sua lição da ressurreição é depois relembrada pelo apóstolo Paulo. Como nós sabemos, o apóstolo Paulo recebeu de Jesus, como ele diz, do próprio Jesus o evangelho. Ele não recebeu de outros apóstolos. Foi na manifestação na estrada de Damasco que ele recebeu o evangelho de Jesus. Ninguém melhor do que ele para esclarecer estes problemas.
Então o apóstolo Paulo diz: se Cristo não ressuscitou, também nós não ressuscitamos. E diz: se o Cristo não ressuscitou então é vã a nossa fé. Ele coloca, portanto, o problema da ressurreição como uma necessidade que nós temos de compreender, porque todos morremos e ressuscitamos, mas ao mesmo tempo mostra que o corpo espiritual é aquele que ele chama mesmo na epístola citada de corpo da ressurreição. Algumas pessoas dizem: mas há a ressurreição da carne e esperam o juízo final em que todos nós devíamos levantar do túmulo revestidos do corpo que usamos aqui na Terra. Essa, como sabemos, é uma concepção absurda porque seria colocar a impossibilidade da reabilitação de milhões e milhões de corpos desfeitos na Terra há muitos milhares de anos.
Mas a ressurreição da carne, segundo a interpretação espírita, é a reencarnação. Realmente nós ressuscitamos no espírito e ressuscitamos na carne. Ressuscitamos no espírito usando o perispírito que é o corpo espiritual. Ressuscitamos na carne reencarnando-nos, nascendo de novo,segundo Jesus ensinou a Nicodemos: é preciso nascer de novo. Nascendo de novo, não espiritualmente apenas, mas nascendo de novo da água e do espírito, como Jesus disse. A água era naquele tempo, como nós sabemos, e foi durante toda antiguidade, o símbolo da matéria. Dizer da água e do espírito quer dizer da carne e do espírito. Assim, eu creio que a senhora pode entender bem o que é o perispírito. Perispírito é uma expressão que quer dizer o seguinte: envoltório do espírito. Ora, o envoltório do espírito, o corpo espiritual de que ele se serve, é que tem o nome no espiritismo de perispírito.
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O evangelho do Cristo em espírito e verdade. Não segundo a letra que mata, mas segundo o espírito que vivifica.
Aberto o evangelho ao acaso, encontramos o seguinte: Evangelho de Jo, 19:23-27.
Os soldados deitaram sortes. Os soldados, depois de terem crucificado a Jesus, tomaram-lhe as vestes, dividiram-nas em quatro partes, uma para cada um, e também a túnica. Ora, a túnica não tinha costura porque era toda tecida de alto a baixo. Disseram, pois uns aos outros. Não a rasguemos, mas deitemos sorte sobre ela para ver quem tocará para ver se cumprir a escritura. Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sorte sobre a minha vestidura. Assim, pois, fizeram os soldados. Perto da cruz de Jesus estavam sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleopas, e Maria Madalena. Jesus vendo a sua mãe e perto dela o discípulo a quem ele amava, disse a sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante o discípulo a tornou para sua casa.
Esta passagem do evangelho de João tem referência direta com as escrituras sagradas do judaísmo, como nós já vimos no próprio texto. Foi para se cumprirem as profecias que houve então essa divisão das vestes de Jesus e o jogo de dados sobre a túnica para ver a quem essa túnica iria caber. Ora, quando se fala: “foi para se cumprir as profecias”, quer dizer que este fato, este episódio estava nas profecias de Israel, estava na Bíblia, na velha Torá dos Judeus. Essas referências do evangelho têm por finalidade mostrar que Jesus era o messias prometido de Israel. Embora ele tivesse sido crucificado e tivessem os soldados disputado as suas vestes, como acontecia com qualquer malfeitor do tempo, isto já estava previsto, e isto assegurava então a ele a qualidade de messias que os judeus lhe negavam. Os judeus, naturalmente, na sua maioria, porque os seus próprios discípulos, como nós sabemos, eram judeus, e os seus apóstolos também eram judeus. Ora, dessa maneira, nós não queremos fazer aqui nenhuma referência agressiva aos judeus em geral, apenas lembrar o fato histórico e lembrar também que Jesus, sua mãe, seu pai eram todos judeus. Não há, portanto, nenhuma acusação aos judeus por terem crucificado Jesus, mesmo porque quem o crucificou não foi o judaísmo e sim foi o poder romano dominante na palestina no tempo. Mas seja lá comofor, o que nos importa é compreender o sentido deste texto. E vemos que o sentido deste texto não é apenas referendar as escrituras, não é apenas provar a natureza messiânica de Jesus. É, sobretudo, mostrar que, passando por todas as humilhações e sofrimentos, ele se colocava, entretanto, ainda assim na própria cruz, numa posição de espírito superior cuidando dos interesses daqueles que iam ficar na Terra. Lembrando-se de que as perseguições iam avassalar os seus discípulos, iam perturbar a sua própria família, de que todos seriam atingidos pela terrível condenação que o levara a cruz, Jesus teve um pensamento supremo voltado para a sua mãe. Sua mãe que ali se achava e que poderia ficar abandonada e só no mundo, na Terra. Então, ele como homem, não na sua qualidade, naquele instante,de um espírito superior que poderia, saberia velar pela mãe do lado de lá da vida, mas sim na sua condição de homem. Homem que estava sofrendo uma condenação injusta e que estava morrendo de maneira brutal na cruz, ele pede a João Evangelista, o discípulo amado, que ampare sua mãe, que a proteja. E nós sabemos pela história e a tradição cristã – e sabemos também por informações amplamente dadas através de comunicações mediúnicas no mundo todo, e particularmente pelo livro Paulo e Estevão de Emmanuel, recebido por Chico Xavier– e pelas investigações históricas a respeito do cristianismo antigo, sabemos que depois da crucificação João Evangelista mudou-se da Palestina para a Ásia, foi morar na cidade de Êfeso onde instalou a sua escola do evangelho e para lá levou com ele Maria de Nazaré, mãe de Jesus, que realmente ficara sozinha na Terra depois da morte do filho. Ora, vemos, então, que neste momento Jesus se coloca acima das suas condições puramente divinas, no sentido de um espírito altamente evoluído, para se condicionar e se nivelar aos homens a fim de atender antes de tudo e antes de mais nada as necessidades da sua mãe. Dar-lhe a proteção que realmente lhe deu do seu espírito amado que era João Evangelista.
Amigo ouvinte, não procure conhecer o espiritismo através de intérpretes. Vá direto à fonte: a obra de Allan Kardec. Essas obras são bastante didáticas, bastante claras e precisas; dispensam intérpretes. Aprenda espiritismo através das lições do espírito da verdade.
No Limiar do Amanhã: a verdade nos libertará.