No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.
Agosto é o mês do bom gosto. Estamos ainda no meio do inverno, mas o nosso inverno é benigno e o nosso inverno nos oferece manhãs e tardes agradáveis. Não interior, agosto era o mês das queimadas. Foi por isso talvez que o chamaram de mês do desgosto, mês agoureiro. Hoje, as queimadas estão reduzidas e as superstições de agosto morreram nas cinzas do passado. Vivemos em novos tempos e sabemos que cada mês do ano deve ser encarado como uma nova etapa de nossa luta na construção do futuro. Façamos desse mês de agosto a nossa etapa do bom gosto, o nosso mês de preparação para um final de ano feliz.
Ninguém mais duvida da imortalidade do espírito. Só mesmo os espíritos inconscientes de sua própria natureza ainda pensam que a morte os destruirá. Nada morre, tudo se transforma. As ciências de hoje provaram a imortalidade de todas as coisas. Só o homem teria de morrer? Só o espírito humano desaparece na morte? Que estranho privilégio é este? Hoje conhecemos a plenitude da vida, que conhecemos a vida em abundância anunciada por Jesus, não podemos continuar a alimentar as superstições do passado. Renovemos as nossas ideias e avancemos para o futuro.
Nada de desgosto neste mês de agosto. Vamos viver com gosto os seus dias e as suas noites. Se enfrentarmos dificuldades, sofrimentos, perturbações, lembrem-nos de que não somos os únicos a sofrer e que o sofrimento não escolhe mês nem dia para nos surpreender. Os sofrimentos da vida são passageiros como a própria vida. Além da morte, a vida nos abre a paisagem de um novo mundo, de uma vida mais bela.
Que neste mês de agosto aprendamos a encarar a vida com alegria e confiança. Se aproveitarmos cada mês para nos melhorarmos, chegaremos melhores ao fim do ano. Muita gente sabe economizar dinheiro guardando centavo a centavo, mas não sabe economizar felicidade. Aprendemos neste mês de agosto a afugentar as sombras do desgosto. Mudemos a máscara sombria do nosso rosto em máscara de alegria. Quem não agradece os bens da vida não é digno de viver. Vivamos com gosto neste mês de agosto.
No Limiar do Amanhã um programa desafio. Produção do grupo espírita Emanuel. Transmissão número 124. Terceiro ano. Direção e participação do professor Herculano Pires.
Perguntas e respostas no auditório. Pergunte para você e para os outros.
Hoje é a primeira quarta-feira do mês de agosto e nós estamos no auditório da Rádio Mulher e vamos começar com os ouvintes aqui presentes as perguntas. Boa noite.
Por favor, o seu nome, endereço e a pergunta.
Pergunta nº 1: Umbanda
Plateia - Josué Rodrigues da Silva. Endereço: Rua Conde Moreira Lima, 754, Cidade Ademar.
Locutor - Então a pergunta ao professor, por favor.
Plateia - A umbanda pode ser considerada uma religião? Ou é considerada uma religião?
J. Herculano Pires - A umbanda é uma religião
Plateia - É uma religião espírita?
J. Herculano Pires -É uma religião primitiva, uma religião dos povos selvagens da África. Como todas as religiões primitivas, ela é uma religião mediúnica, porque todas as religiões segundo as pesquisas não somente espíritas, mas também antropológicas, e particularmente as pesquisas realizadas através de cientistas que tinham conhecimento dos problemas mediúnicos, todas as religiões nasceram da mediunidade. A umbanda é uma religião em desenvolvimento. Naturalmente, como todas as religiões que se iniciam elas vão se desenvolvendo não tempo, assim a umbanda também está se desenvolvendo. Entretanto, essa religião, como todas as religiões não seu desenvolvimento, segue um processo de sincretismo, quer dizer, de mistura com outras religiões. A umbanda, religião africana, veio ao Brasil através do tráfico negreiro, e aqui no Brasil ela se misturou particularmente com o catolicismo que era a religião dominante. Mas da própria África ela já trouxe a mistura com o catolicismo e com o islamismo, porque, como sabemos os mulçumanos, invadiram a África e catequizaram numerosas tribos. A seguir, houve a catequese católica na África também. Então, quando a umbanda veio ao Brasil com o tráfico negreiro, e isto a partir do século XVI, logo, pouco depois da descoberta do Brasil quando começou o tráfico negreiro, quando a umbanda veio para cá ela já trazia mistura de catolicismo e de islamismo. Aqui no Brasil a mistura com o catolicismo se acentuou e houve também a mistura com crenças dos nossos indígenas e crenças populares do nosso povo. Assim, a umbanda está em desenvolvimento como uma religião que nasce entre nós. Nós podemos acompanhar esse processo de desenvolvimento da umbanda como um verdadeiro exemplo nacional que nós temos do desenvolvimento das grandes religiões no mundo. O próprio catolicismo, como nós sabemos, também se desenvolveu desta forma sincrética, uma mistura do cristianismo primitivo com as religiões pagãs do império romano.
Locutor - Satisfeito com a resposta, senhor José?
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Pergunta nº 2: Umbanda é espiritismo
Plateia - Sem dúvida. Só mais uma perguntinha. É considerada espiritismo ou elevação espiritual?
J. Herculano Pires - A umbanda não é espiritismo. A umbanda tem a sua própria doutrina. Cada religião, naturalmente, tem a sua doutrina própria. O catolicismo tem a dele. As várias cisões provocadas pela reforma protestante têm também a sua doutrina, e todas as grandes religiões do mundo também têm as doutrinas estabelecidas por seus princípios fundamentais e os seus princípios acessórios. A umbanda, portanto, tem uma doutrina que ainda não está bem definida, porque ela vai se elaborando na proporção em que a religião se desenvolve. Futuramente, esta doutrina se definirá com precisão. Ainda hoje há muita contradição no tocante à interpretação da umbanda pelos próprios umbandistas.
O espiritismo não é propriamente uma religião neste sentido do nascimento de uma religião primitiva que depois vai se desenvolvendo, e nem mesmo uma religião que parte de uma revelação específica, como no caso do cristianismo, do islamismo, do budismo e assim por diante. A posição do espiritismo é uma posição bem diferente, porque ele se coloca como um divisor de águas no processo da evolução espiritual da humanidade. O espiritismo surgiu na era científica e não surgiu como religião, surgiu como ciência, porque o espírito do tempo era um espírito científico. Kardec começou a investigação dos fenômenos espíritas como um investigador científico, e a revelação só veio através da própria investigação dos próprios fenômenos. Assim, o espiritismo se apresenta primeiramente como ciência do espírito para completar o desenvolvimento das ciências que até então só se dedicavam aos aspectos do mundo material. Até hoje, como sabemos, as ciências pertencem na sua maioria, na sua maior extensão, à pesquisa no campo da matéria. Somente com o desenvolvimento da psicologia experimental ela começou a sair do campo material para o plano espiritual. Mas o espiritismo foi que realmente despertou um novo sentido e um novo campo de investigação na ciência: o campo da investigação dos fenômenos espíritas. E Kardec estabeleceu as normas de desenvolvimento do espiritismo como uma ciência do espírito. Kardec partiu deste princípio: a realidade não se constitui apenas de matéria, mas sim de matéria e de espírito. Consequentemente, as ciências não podem investigar apenas a realidade material; devem investigar também a realidade espiritual. Mas da ciência espírita surgiu a filosofia espírita. Por quê? Porque a ciência espírita nos deu uma concepção nova da realidade. Toda a concepção do mundo é uma filosofia. Surgiu então a filosofia espírita, e da filosofia espírita tinha forçosamente que decorrer uma moral, uma série de normas, de conduta para o homem. Mas como essa moral espírita não se restringe apenas à conduta do homem na vida mundana, mas também determina a vida do homem, a sua conduta no mundo espiritual, essa moral levou naturalmente o espiritismo para o campo religioso. Foi então que surgiu aquilo que chamamos hoje de religião espírita. Mas mesmo assim é preciso considerar que a religião espírita está bem distante de todas as demais religiões existentes, porque ela não é formalista, ela não admite rituais, ela não admite liturgia, ela não admite dogmatismo estabelecido, assim, em forma de absoluto rigor, sem a permissão de exame dos seus princípios. Todos os princípios do espiritismo são princípios filosóficos abertos à investigação, ao debate, à contradição, à oposição. Não há nenhum princípio que seja considerado como absoluto e que não possa ser debatido e discutido. Dessa maneira, a posição do espiritismo é sui generis no campo religioso, mas nem por isso ele deixa de ter o seu aspecto religioso bem acentuado. E Kardec, como sabemos, estabeleceu a partir da comunicação do livro “O evangelho segundo o espiritismo”, estabeleceu o princípio de que o espiritismo é a continuação do cristianismo. É o próprio cristianismo que se desenvolve no espiritismo, de acordo com a promessa que Jesus fez de que no momento necessário, quando os homens tivessem em condições de compreender a realidade espiritual, ele pediria a Deus que enviasse à Terra o Espírito da Verdade. E o Espírito da Verdade,como sabemos, é o espírito que presidiu o aparecimento e preside o desenvolvimento do espiritismo no mundo.
Plateia: Satisfeito.
Locutor - Continuamos com nosso diálogo radiofônico. O nome e pergunta, por favor.
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Pergunta nº 3: Fluido vital
Plateia- Dimas Garcia. Lendo no “Livro dos espíritos”, a quantidade de fluido vital se esgota, pode tornar-se insuficiente para a conservação da vida se não for renovada pela absorção e assimilação das substâncias que a contém. Minha pergunta, aliás, são três perguntas saindo desse assunto. Porque se esgota o fluido vital? Qual a razão? E como recuperar-se?
J. Herculano Pires - O fluido vital, como nós sabemos, é de ordem material, embora tenha sempre um impulso espiritual que o dirige. O fluido vital sendo de ordem material se esgota, se gasta como todas as coisas na matéria. A matéria, como sabemos, caracteriza-se principalmente por essa possibilidade de desgaste. Todas as energias materiais, por mais poderosas que sejam, elas sofrem desgastes. Vou dar um exemplo científico recente para mostrar a razão de ser deste desgaste.
Quando, na investigação atual da parapsicologia, se verificou que as transmissões telepáticas não sofrem desgaste nenhum, uma transmissão telepática pode ser feita aqui do Brasil para o Japão e neste trajeto todo ela se desenvolve com a mesma naturalidade com que se realiza uma transmissão telepática dentro de uma sala, ela mantém sempre o mesmo conteúdo, a mesma força, a mesma potência e a mesma clareza, não há desgaste nenhum, quando se provou isso, o professor Joseph Banks Rhine, que foi um dos fundadores da parapsicologia moderna, examinando isso chegou à conclusão de que o pensamento não é material. Por quê? Porque não está sujeito ao desgaste físico e também porque ele não se detém em nenhuma barreira física, ele vence todas as barreiras físicas de tempo e de espaço. Consequentemente não é material. Ora, assim nós compreendemos que toda energia física tem de estar condicionada pelo espaço e pelo tempo sofrendo o desgaste e sujeitando-se à lei da gravidade, o que não acontece com o pensamento. O fluido vital, estando sujeito a tudo isso, ele é uma energia física e está sujeito ao desgaste. Por isso a vida do homem é limitada. Nós nascemos dotados de uma certa quantidade de fluido vital que vai se desgastando na proporção em que nós vivemos. Mas nós podemos renová-lo, e o renovamos pela respiração, pela alimentação, pela capacidade que tem o nosso corpo de captar energias da atmosfera, do sol e produzir, assim, a renovação constante do nosso fluido vital.
Mas há momentos em que essa capacidade também, em virtude do desgaste físico do próprio corpo, ela diminui, então o fluido vital sofre desgastes mais profundos, sendo necessária a sua renovação. Essa renovação do fluido vital, principalmente nos doentes, pode ser feita não só pelos recursos da ciência, embora a ciência não considere esse fluido como o espiritismo o considera, mas a ciência considera a essência da vitalidade e procura renovar a vitalidade dos organismos desgastados, essa renovação pode ser feita também através dos passes mediúnicos ou também dos passes magnéticos. Um magnetizador dotado de grande potência vital, de grande quantidade de fluido vital pode transmitir,através dos passes, uma quantidade desse fluido para o doente e ajudá-lo a recuperar-se. Locutor - Mais alguma pergunta?
Plateia - Estou satisfeito com a resposta, porque a segunda pergunta seria mais ou menos o final que o senhor acabou de falar.
Obrigado.
Locutor - Professor, nós temos um jovem aqui do nosso lado. Desculpe dar palpite, mas é que eu acho sensacional um rapaz assim tão jovem se deslocar de sua residência para vir a uma palestra com o senhor e fazer-lhe uma pergunta.
J. Herculano Pires - Principalmente nessa noite fria!
Locutor - Pois é...
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Pergunta nº 4: Fome futura
Locutor - Seu nome e a pergunta, por favor.
Plateia- Moacir Batista de Paula, Rua XXVII, Jardim Nove de Julho,São Paulo. Professor,eu antes de mais nada gostaria de agradecer à vossa senhoria e a comissão do programa por essa excelente iniciativa em ter um programa como este no ar que muito nos auxilia, nos exortando, nos aconselhando e mostrando para nós o princípio da doutrina, o que Kardec nos trouxe. A pergunta... são duas. Professor, o espiritismo afirma que a população futura será maior que a atual. Pensadores modernos, ou seja, a ciência prevê fome e miséria geral nas casas; superpopulação; não encontram uma solução para o futuro. Como o espiritismo encara este problema? J. Herculano Pires - O espiritismo encara este problema do ponto de vista de uma consideração mais ampla do que do momento atual na Terra. Naturalmente, todos estes cientistas, estes pensadores modernos encaram o problema do ponto de vista imediato. Eles encaram diante dos recursos atuais, das possibilidades que lhes parecem ser as únicas existentes na Terra para a produção de alimentos. Nós podemos dizer que estamos diante de um neomalthusianismo, de uma ressurreição da teoria de Malthus que considerou, como nós sabemos, a impossibilidade do desenvolvimento da produção de alimentos na Terra na mesma proporção em que se desenvolve a humanidade. Mas este neomalthusianismoé combatido, e combatido de maneira muito séria por numerosos outros cientistas e pensadores que não admitem essa tese de esgotamento progressivo e rápido da capacidade de produção de alimentos. Pelo contrário, nós sabemos que o próprio desenvolvimento da técnica na exploração do planeta já é uma garantia para o futuro de uma capacidade maior de produção. Por outro lado, há também um debate muito importante no tocante ao seguinte: o que existe na Terra não é falta de produção, é falta de meios de produção e, principalmente, particularmente, falta de uma distribuição adequada da produção existente.
Em muitas regiões do mundo os alimentos estão perecendo por falta de transporte, por falta de possibilidade de ser transportados. Por outro lado,há também uma deficiência no tocante à maneira econômica de se fazer a distribuição dos alimentos. O transporte, às vezes, é demasiado caro e por isso a produção fica abandonada no campo.
Há, por outro lado, riquezas ainda inexploradas no próprio mar, nos rios, e em várias regiões da Terra onde o homem não conseguiu produzir a extração de alimentos. A extração de alimentos está sempre condicionada por fatores econômicos que precisam ser bastante estudados para uma distribuição precisa.
Tudo isso milita contra essa opinião negativa das criaturas que temem a fome, o aumento da fome no mundo. Realmente, se os homens não procurarem desenvolver a sua produção de alimentos e a sua distribuição de alimentos de maneira adequada poderá haver fome em várias regiões do mundo. Mas isso sempre houve, e isso vai desaparecendo na proporção em que os homens encontram uma técnica suficiente de distribuição alimentar. De maneira que o espiritismo não tem nada que temer no tocante a isso. A sua posição, estabelecida desde o início das manifestações espíritas, desde a publicação de “O livro dos espíritos”, em 1857, não tem motivo nenhum para se abalar até o momento.
Realmente, as possibilidades de produção de alimentos na Terra são incalculáveis ainda do ponto de vista daquelas pessoas que encaram o problema com maior elevação e maior compreensão do que daquelas que se apegam apenas às condições imediatas. Acredito que não haverá este problema. Por outro lado, precisamos considerar que a natureza sempre estabeleceu o controle das coisas no universo. Não é o homem quem controla isso. O homem é um auxiliar, o homem desenvolve as suas atividades no sentido de atender às necessidades imediatas, mas a capacidade de produção da Terra ainda não é suficientemente, não foi suficientemente calculada pelo homem para que ele possa afirmar com arrogância com que muitos pensadores hoje querem fazer que essa capacidade colabore para o aumento da população terrena. Os espíritos vêm afirmando desde o tempo de Kardec até hoje que a Terra está longe ainda de possuir a população a que ela se destina.
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Pergunta nº 5: Alma humana
Plateia - Satisfeitíssimo com a resposta. A segunda pergunta se difere completamente da primeira. A alma humana é evolução da alma animal ou ambas serão sempre distintas? Animal será sempre animal?
J. Herculano Pires - Há um grande preconceito neste terreno que embaraça a compreensão do assunto. O homem geralmente pela sua vaidade não quer descender do animal, mas nós sabemos que cientificamente, no plano científico mesmo, nós temos de admitir que nós somos animais, nós pertencemos à escala zoológica e estamos muito bem classificados, de maneira que não podemos ser tirados dessa classificação, classificados como animais vertebrados e mamíferos. Nós pertencemos a essa escala e o nosso corpo se liga indiscutivelmente ao processo, à cadeia da evolução animal na Terra. Isto quando nós analisamos do ponto de vista científico a evolução que vem não só do reino animal, que vem mesmo do mineral, desde o reino mineral passando pelo reino vegetal até chegar ao animal, há uma escala evolutiva que está hoje bem clara no campo da investigaçãocientífica. Essa escala tem mesmo as suas fases de transição. Quando, por exemplo, nós sentimos que há uma transição, percebemos que há uma transição entre o reino mineral e o reino vegetal, isto se define numa área, numa zona em que as plantas se confundem com as pedras e os minérios se confundem com as plantas. Há plantas que na classificação científica é difícil de sedizer se elas pertencem ao reino mineral ou a reino vegetal. Hoje, como sabemos, existe o problema dos vírus que também está preocupando os cientistas no tocante à sua classificação, porque eles não sabem se os vírus são minerais ou se são realmente animais. Há um debate muito grande nesse sentido. Parece ser também um elemento de transição. Entre o reino vegetal e o reino animal, como nós sabemos, há também uma zona limítrofe, uma zona em que o vegetal se apresenta numa fase de transição passando pelo animal. Então, há plantas que têm qualidades de animais, e há animais que se assemelham a plantas. O mesmo acontece no tocante à transição do reino animal para o homem. Nós sabemos que existem os primatas e que os primatas são animais que parecem bastante com o homem. Eles possuem, inclusive, a mão na mesma situação do homem com o dedão, como dizemos assim, o polegar numa posição contrária aos outros dedos, para permitir a maiorgarantia nasegurança das coisas, e ao mesmo tempo possuem unhas chatas, não as unhas redondas dos demais animais; e eles se aproximam do homem pela sua estrutura corpórea, física, pelas suas atitudes, pelas suas expressões, inclusive fisionômicas. Eles representam forçosamente um liame, um momento de transição do animal para o homem.
Entretanto, o espiritismo afirma que essa transição se dá nos dois planos, o anímico e o material. Não é apenas o corpo animal que vem a espécie humana; é também o espírito, não no sentido do espírito do animal, mas no sentido do princípio inteligente. Este é um tema um tanto difícil de a gente tratar, porque os preconceitos aí nesse terreno ainda são muito grandes. O indivíduo não quer admitir de forma alguma que ele tenha espiritualmente se desenvolvido nos planos inferiores da criação. Mas quando a própria Bíblia nos diz que Deus fez o homem do barro da terra, é preciso que nós nos lembremos de que as expressões bíblicas são alegóricas, são figuradas e contém, em si, verdades que seriam reveladas mais tarde, como realmente estão sendo.
De acordo com o espiritismo essa expressão é muito bem explicada. O mundo se constitui de dois elementos fundamentais, o universo, por assim dizer, se constitui de dois elementos fundamentais que são espírito e matéria. A matéria está em relação constante com o espírito, e o espírito produz na matéria os elementos dos seus vários reinos. Consequentemente, nós podemos dizer que na própria pedra, no reino mineral, está presente o princípio espiritual. Isto quando o espiritismo afirmou parecia um absurdo do ponto de vista científico. Hoje nós sabemos que a própria física nos mostra que a pedra não é um elemento inanimado, como nós sabemos. Dentro dela existe toda agitação, toda vida não biológica, mas num sentido diferente produzida pelos átomos, pelas vibrações atômicas. Não há nada morto, nada parado, tudo quanto nos parece estagnado no universo é apenas aparência. Uma aparência ilusória porque, na verdade, em toda parte há a vibração da vida, e essa vida não é apenas aquela que se mostra biologicamente nas formas vitais que nós conhecemos no reino vegetal e no reino animal. É a vida do espírito no sentido de vibrações, que muitas vezes podem parecer para nós puramente físicas, mas que na verdade contém um impulso espiritual dirigindo essa vibração e produzindo-a. Locutor - Continuamos com o nosso diálogo com o ouvinte André Patunas.
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Pergunta nº 6: Carrasco espiritual
Plateia - Professor Herculano, será que nós podemos concluir que existem, no astral, os carrascos espirituais, por assim dizer, encarregados de executar a justiça divina no momento exato?
J. Herculano Pires - Carrascos espirituais?
Plateia - É!
J. Herculano Pires - Eu acredito que não, porque os espíritos dizem que ninguém é destinado a uma função maléfica. O que existe no tocante à justiça divina é o cumprimento desta justiça pela própria lei de ação e reação de maneira que os indivíduos que cometeram crimes, que praticaram o mal, eles sofrem a reação das suas ações. Esta reação pode manifestar-se sobre eles de maneiras diversas. Então, aquilo que nós poderíamos chamar “carrasco”é a vítima do passado que vem cobrar aqui do seu agressor aquilo que se considera, assim, alegoricamente,como uma dívida, não é? Isto, então, podemos considerar como um carrasco, mas não é um carrasco. Ele está apenas querendo vingar-se daquilo que ele sofreu. A condição de ambos é inferior. Quando a vítima é uma criatura já mais elevada espiritualmente, ela não se interessa pela vingança, ela não vem cobrar, mas a lei do carma, como se costuma dizer, esta lei cobra por si mesmo. O indivíduo paga, porque há a reação natural que vai atingi-lo.
Então, não é um carrasco, mas sim, como se diz no “Livro dos espíritos”,às vezes um indivíduo inferior em condição desesperada pratica um crime contra uma pessoa que ele nunca viu,que ele nunca soube, ele não está sendo propriamente um carrasco. É que naquela eventualidade, a ação da lei, tocando nele, serviu-se dele como instrumento para a execução daquela justiça que tinha de ser praticada.
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Pergunta nº 7: Morte inocente
Plateia - Sem nenhuma preparação, sem nenhuma, vamos supor, hierarquia, automaticamente, assim, por livre e espontânea vontade é que ele é devedor? J. Herculano Pires- Não. Suponhamos o seguinte: o indivíduo que matou o outro com um tiro, né? Ele tem uma dívida para com este indivíduo, mas este indivíduo não vai cobrar essa dívida. Ele não é um indivíduo inferior. Ele superou a condição que leva os homens a querer se vingar um dos outros, ele não quer saber disso. Ele não liga para isso. Esse indivíduo que matou, ele pode, por exemplo, estar no meio de uma multidão e de repente vir alguém e disparar uma arma e atingi-lo. Ou foi ocasional, do ponto de vista humano. Entretanto, do ponto de vista da lei, não se trata de nada ocasional. Aquilo se processou dentro das condições de ação e reação.
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Pergunta nº 8: Cobrar vingança
Plateia- Justamente. Eu me lembro de um dos comentários que o senhor fez de um dia em que acontece qualquer, assim, um crime, vamos supor, e dizemos: “coitado do homem. Não tinha nada que ver com o caso; ele morreu assim à toa no bar porque um outro disparou”. O senhor comentando, estava dizendo justamente que não existe nada ao acaso e que aquele ali justamente pagou uma dívida dele também, mesmo ao nosso ver completamente inocente.
J. Herculano Pires - Aparentemente inocente, mas na verdade havia uma consequência quer atingiu ele. Quer dizer, não acontece nada por acaso dentro do destino de uma pessoa no sentido assim definitivo. O problema do nascimento e da morte, como nós sabemos, pertence ao campo do determinismo. Agora, o problema do livre arbítrio é que se desenvolve na vida do homem, na sua capacidade de escolher, de optar, de decidir o que ele vai fazer ou não vai fazer. Mas um acidente fatal é geralmente quase sempre um acidente que já está previsto no próprio destino do indivíduo.
Plateia- Então, como o senhor disse,propriamente dito, eu poderia rasgar a promissória, sendo elevado maior espiritual e não cobrar aquela vingança, não é?
J. Herculano Pires - Geralmente o espírito superior que evoluiu ele não cobra.
Plateia - Então como que fica o ciclo cármico nesse caso?
J. Herculano Pires - O ciclo cármicoatinge ele através desses aparentes acidentes, desses acidentes aparentes, né?
Plateia - Não, eu digo do ponto de vista do cobrador, que ele já não que mais cobrar... J. Herculano Pires - Mas o indivíduo não tem que cobrar. A justiça divina age independentemente dos indivíduos. Então, o indivíduo que foi atacado por outro, que foi espezinhado por outro, quando ele tem elevação espiritual, ele não procura se vingar; ele deixa aquilo por conta da justiça divina. E a justiça divina cobrará aquilo se for necessário, porque o indivíduo às vezes que cometeu aquelas atrocidades, ele pode pagar também voluntariamente. Suponhamos, assim, um indivíduo que cometeu muitas atrocidades, porque ele estava inda num estado de ignorância no tocante às leis morais, quando ele tomou conhecimento dessas leis, arrependeu-se – e como diz muito bem o Kardec, o arrependimento é o primeiro passo para a liquidação desses débitos –, ele arrependendo-se, ele procura agora refazer aquilo que ele fez, ele procura reparar o mal feito, e depois da reparação, ele expia ainda a sua falta pelo sofrimento que o acompanha, pesando na sua consciência. Ora, o objetivo da dor não é esmagar ninguém. O objetivo da dor é fazer o espírito evoluir. Como esse espírito já evoluiu, naturalmente, ele não está sujeito à cobrança de ninguém; ele atingiu o seu objetivo, procurando ele mesmo, voluntariamente, reparar as suas faltas.
Pergunta nº 9: Educação infantil espírita
Locutor - Nosso ouvinte LuísBragantin pergunta.
Plateia - Professor, eu gostaria de saber o seguinte: nas aulas de moral cristã, nós devemos dosar a matéria ou as crianças teriam a possibilidade de entender as explicações do “Livro dos espíritos”e outras explicações?
J. Herculano Pires - Eu entendo que as aulas de moral cristã são uma espécie de revelação, de temor departe dos espíritas no tocante à sua própria doutrina. Eu acho que nós devemos ensinar as crianças espiritismo. O espiritismo é uma doutrina como qualquer outra e não há motivo nenhum para termos receio de ensinar espiritismo às crianças. É claro que os problemas do espiritismo podem ter gravidades do ponto de vista de impressionar a mente – existem também no catolicismo, no protestantismo, em toda parte. E, no entanto, nenhuma dessas doutrinas deixa de ser ensinada às crianças. Existem alguns manuais de espiritismo para crianças, alguns catecismos que são fáceis de se dar, mas eu não vejo motivo para que num centro espírita, numa federaçãose instalem aulas de moral cristã esquecidos de que os princípios doutrinários são precisamente aqueles que dão base a essa moral, que racionalizam essa moral e dão à criança os elementos para ela compreender porque existe essa moral.
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Pergunta nº 10: Educação infantil espírita – jardim de infância
Plateia- Professor, se me permite, pois eu também sou evangelizador, no programa da Federação, a doutrina entra a partir de determinada idade. Apenas no jardim da infância é que é dada apenas a moral cristã. J. Herculano Pires - Sim. Aí é um problema de disciplina escolar, de se ver como realizar o processo. De fato, as crianças em condições de frequentar o jardim da infância ainda não estão em condições de entender as coisas. É preciso o desenvolvimento da razão para andar. Aí o processo está certo.
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O evangelho do Cristo em espírito e verdade. Não segundo a letra que mata, mas segundo o espírito que vivifica.
Aberto ao acaso o evangelho pelo nosso ouvinte LuísBragantin, encontramos na 2Tm, 1:08-14 a seguinte passagem:
Não te envergonhes do testemunho de nosso senhor nem de mim que sou prisioneiro seu. Antes sofre comigo pelo evangelho segundo o poder de Deus que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu propósito e segundo a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos, e que agora se manifestou pela vinda do nosso salvador Cristo Jesus que destruiu a morte e tirou a luz, a vida e a imortalidade pelo evangelho no qual eu fui constituído pregador, apóstolo e mestre. Por essa razão, sofro também essas cousas, mas não me envergonho, porque sei a quem tenho crido e estou persuadido de que ele pode guardar o meu depósito até aquele dia. Conserva o modelo de sãs palavras que de mim ouviste na fé e no amor que há em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito como auxílio do espírito santo que habita em nós.
Nesta segunda epístola de Paulo a Timóteo, o que nós verificamos é a colocação, pelo apóstolo, dos problemas do evangelho naquele tempo de maneira bem clara, bem precisa. Quando ele fala de não se envergonhar do testemunho de Nosso Senhor, ele está se referindo à crucificação do Cristo. Nós sabemos que a crucificação era uma condenação ignominiosa, era a pior condenação que havia no mundo romano, no império romano. Indivíduo crucificado era atingido não só ele, pela ignomínia da cruz, mas toda sua família e todos seus amigos, todos aqueles que se relacionavam com ele. Assim, a crucificação do Cristo lançava a ignomínia sobre os seus próprios discípulos. Ser discípulo de alguém que foi crucificado era como ser discípulo de alguém que era renegado pelo povo, renegado pela justiça e renegado até mesmo por Deus. Precisamos não nos esquecer de que no mundo romano, no mundo greco-romano, a concepção de Deus era bem diferente da nossa concepção. Aquele indivíduo que sofria, por exemplo, de um aleijão, de uma doença grave, de uma infelicidade qualquer, era considerado como desprotegido de Deus, ou desprotegido dos deuses. Os deuses não podiam, naturalmente, deixar que acontecessem essas coisas graves para os seus protegidos. Ora, Jesus se apresentava como filho de Deus. Ele vinha pregar uma transformação do mundo, uma elevação do homem. Ele vinha cumprir uma verdadeira missão de transformação da Terra para um mundo melhor. Entretanto, ele foi preso, espancado, torturado, crucificado, e isso tudo era ignominioso para os homens daquele tempo. Entretanto, para os cristãos não era, porque os cristãos reconheciam que o sofrimento a que o espírito superior se submete por vontade própria, por abnegação, é um sofrimento que enobrece. Justamente por isso, a cruz, que era o símbolo da ignomínia para gregos e romanos, foi transformada em símbolo de libertação e de santificação para os cristãos, porque foi na cruz, submetendo-se ao sacrifício, ao sofrimento, à própria ignomínia, que Jesus realizou o seu trabalho de libertação da humanidade. Isto não quer dizer absolutamente que o dogma do sangue de Cristo, dogma fundamental das religiões formalistas do cristianismo, seja aceita pelo espiritismo. Não foi o sangue de Cristo que salvou o mundo. O que salva o mundo é o ensino do Cristo, é o seu exemplo, é tudo quanto ele nos deu não só através da sua palavra, mas da sua vivência na Terra. E então, Paulo clama pela necessidade de os cristãos primitivos, os cristãos do seu tempo que estavam sujeitos ao julgamento desse mundo pagão, que não considerava os problemas espirituais da maneira por que o cristianismo considera, a necessidade de eles não se entregarem ao desânimo, de eles não se envergonharem de ser cristãos. Por quê? O que mais se atirava contra os cristãos era precisamente o fato de Jesus ter morrido na cruz. E também, como sabemos, naquele tempo os cristãos eram considerados como necrófilos, como criaturas que evocavam os mortos e que, portanto, praticavam a necromancia e viviam apegados a verdadeiras práticas perigosas do ponto de vista da realização religiosa, porque essas práticas não eram religiosas, eram práticas de feitiçaria, de magia. Tudo isso, naturalmente, de maneira imprópria, porque não era isso que os cristãos faziam. Os cristãos primitivos aprenderam com Jesus que a morte não existe. Daí Paulo afirmar nesse trecho que Jesus destruiu a morte. Realmente ele destruiu, porque mostrou que o homem não morre. E ele não destruiu apenas pelo ensino; ele destruiu também pelo exemplo. Não cansamos de notar essa co-relação entre o cristianismo primitivo e o espiritismo. O espiritismo nega a morte e mostra que a vida continua, mas mostra realmente através de provas, não ensina apenas. Assim também fazia Jesus. Jesus ensinava que nós sobrevivemos à morte e provava isto. De que forma? Lembremo-nos da maneira por que ele retirava os espíritos maus que atacavam as pessoas que as envolviam, da maneira como ele falava aos espíritos como se falasse a criaturas humanas, e isso diante do povo para que o povo visse que ali havia um espírito que estava envolvendo aquela criatura, prejudicando-a. Lembremo-nos de que ele foi mais longe; ele deu demonstrações evidentes do espírito fora do corpo, inclusive com a sua própria pessoa quando ele andou sobre as águas, por exemplo; quando ele surgia para um discípulo ou outro à distância, mostrando que podia deixar o seu corpo e manifestar-se em espírito. Ele provou mais do que isto. Ele mostrou, através daquilo que nós chamamos hoje não espiritismo de fenômeno de materialização, ele mostrou a possibilidade de fazer pelo seu poder mediúnico, servindo-se das condições também mediúnicas dos apóstolos, fazer com que espíritos elevados se manifestassem ao seu redor. É o caso, por exemplo, da transfiguração no Monte Tabor, quando nós vemos que Moisés e Elias aparecem materializados ao seu lado e que os discípulos tombam ao solo, caem no chão diante da aparição dessas criaturas. Caem por quê? Não só pelo susto, pelo espanto, mas porque também estavam fornecendo os elementos que mais tarde se chamaria na metapsíquica de ectoplásmicos, ou seja, os elementos orgânicos necessários para o aparecimento material daqueles espíritos transformados em materializações evidentes ao lado do Cristo. Depois da sua morte, Jesus provou que ele continuava vivo graças à ressurreição e, além disso, pelas suas manifestações, quando ele se manifesta aos discípulos na Estrada de Emaús, quando ele aparece ao cenáculo e depois volta ao cenáculo novamente para provar a Tomé a realidade da sua sobrevivência após a morte, ele não aparece como homem que bate à porta, abrem a porta e ele entra, mas como um espírito que se materializa no meio da multidão e que faz com que todos o troquem e depois desaparece com a mesma facilidade com que apareceu. Jesus demonstrava aquilo que ele ensinava, provava, e esta prova o espiritismo continua fazer em nossos dias. Então, Jesus, como diz Paulo nesse trecho da carta a Timóteo, destruiu a morte. A morte não existe mais depois de Jesus. E Paulo viria mais tarde nos dizer na primeira epístola aos coríntios de maneira bem didática, bem clara: nós temos corpo material, mas temos também corpo espiritual. Enterra-se o corpo material e ressuscita o corpo espiritual. E acrescentaria ainda esta frase importante para o espiritismo: o corpo espiritual é o corpo da ressurreição. Foi assim que Jesus destruiu a morte e, por isso, Paulo apela a Timóteo e a todos os seus companheiros que não se envergonhem de servir o Cristo.
Participe do diálogo radiofônico do programa No Limiar do Amanhã sobre os problemas fundamentais da vida e da morte.
No Limiar do Amanhã: a verdade nos libertará.