No Limiar do Amanhã: um desafio no espaço.
Sempre Jesus. Iniciaremos o programa de hoje com um soneto de Constâncio Alves recebido por Chico Xavier na Federação Espírita Brasileira em dezembro último, quando do lançamento da edição comemorativa do quadragésimo aniversário do livro “Parnaso de Além Túmulo”. Essa edição comemorativa foi enriquecida com amplo trabalho de análise estilística realizado pelo Prof. Dr. Elias Barbosa.
Ouçamos o soneto de Constâncio Alves: “Sempre Jesus”.
E tudo passará nos domínios do mundo. Do grânulo de pó ao espaço irrestrito, as civilizações e as eras em conflito fogem de passo em passo, segundo em segundo. Tudo o tempo transforma em silêncio profundo. Da lava comburente ao bloco de granito, e o homem segue além procurando o infinito entre o sonho criador e o cansaço infecundo. Esplendores do Egito, Assíria, Grécia e Roma, a morte tudo altera e a vida se retoma a fim de burilar-se em tudo quanto encerra. Unicamente em Cristo augusto e soberano rebrilha sempre mais sobre o destino humano promovendo a grandeza e a perfeição da Terra. Este soneto de Constâncio Alves nos lembra a necessidade de constância de todas as coisas para que se consiga a consolidação da realidade no mundo. Entretanto, as coisas são inconstantes e isto nos lembra também a introdução de um pequeno poema de Hermes Fontes em que ele diz assim: “Constância das coisas na inconstância”. Hermes Fontes estava neste momento diante da fonte da mata que o inspirou para toda sua poética. Era a fonte que ele frequentava em criança. E ele voltara depois de muitos anos para ver de novo aquela fonte e a primeira coisa que notou foi que na constância do correr das águas mantinha-se a inconstância das coisas. Isto nos lembra diante do soneto de Constâncio Alves que na realidade nós estamos num mundo de coisas efêmeras, passageiras; entretanto, se nós colocarmos a efemeridade destas coisas diante da eternidade, nós compreenderemos que elas apesar de efêmeras têm também uma permanência que nós não conhecemos.
Essa permanência só nos será revelada quando nós compreendermos, por exemplo, a grandeza do Cristo na sua permanência eterna no mundo não só a partir da sua manifestação aqui, da sua encarnação terrena, mas a partir do momento mesmo em que, segundo nos ensina o espiritismo, ele criou, ele plasmou pelo seu poder divino o nosso planeta, e deu a este planeta a estabilidade que ele possui apesar da permanente inconstância de todas as coisas na sua estrutura.
É notável a maneira por que este soneto nos desperta o raciocínio para este problema. Tudo passa incessantemente na Terra, tudo se desfaz no tempo, e nós nos debruçamos quase sempre torturados pela saudade, pela nostalgia, lembrando as coisas que se foram, angustiados como se elas nunca mais voltassem. Entretanto, se nos lembrarmos da permanência do Cristo presente incessantemente em nosso pensamento, em nosso coração, na direção da humanidade, na estruturação do planeta e, além disso, na evolução que ele determina para a Terra e para nossa humanidade, se pensarmos nisso compreenderemos que tudo quanto passa na verdade está contribuindo para uma permanência que nós só veremos quando sairmos do estado relativo em que estamos para atingir o absoluto em que vive o Cristo.
No Limiar do Amanhã: um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emanuel. Transmissão número 101. Segundo ano. Direção e participação do professor Herculano Pires.
Este programa é transmitido todas as semanas neste dia e neste horário pela Rádio Mulher de São Paulo 730kz, pela Rádio Morada do Sol de Araraquara 640kz, e pela Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, Paraná, 780kz. Todas as semanas neste dia e neste horário.
Mensagem de Cid Franco Cid Franco era uma criatura controvertida. Muita gente discordava de suas atitudes, mas por outro lado muita gente amava, e amava profundamente Cid Franco. Cid Franco foi poeta, escritor, jornalista, radialista, crítico, dicionarista, tendo nos deixado pouco antes de falecer um importante dicionário que foi lançado pela editora do Estado. Pois bem, Cid Franco deixou a Terra em 1971, passou para a vida espiritual, e agora Cid Franco volta através de Chico Xavier para nos trazer uma mensagem. Antes disso, porém, nós já tínhamos notícias e também presenciamos algumas comunicações de Cid Franco através de vários médiuns aqui mesmo em São Paulo.
Passando para a vida espiritual, Cid Franco logo se inteirou da sua situação; lúcido, completamente lúcido, passou então a procurar comunicar-se com os amigos, a transmitir-lhes as notícias do outro mundo, e uma das suas constantes expressões têm sido essa: Na verdade somos imortais. Ele, que não foi imortalizado por nenhuma academia, reconhece a imortalidade real, natural do homem. Todas as criaturas são imortais. E Cid Franco ficou bastante conhecido nos meios radiofônicos de São Paulo pelo seu famoso Programa do Livro que manteve com verdadeira dedicação durante anos a fio procurando não apenas divulgar o livro, mas instruir através do programa. Seus programas eram quase sempre didáticos, porque ele era, acima de tudo, poeta e professor. Gostava de ensinar através da poesia, através da ficção literária, através da beleza, porque segundo dizia: Nada mais instrui o homem do que o conhecimento da beleza.
Quando o homem descobre a beleza, quando sente a beleza em si, ele abre a sua inteligência para compreender melhor as coisas e assim aprender e assimilar aquilo que aprendeu. Agora nos chega de Uberaba uma carta amiga de Chico Xavier que nos traz o primeiro poema de Cid Franco recebido por ele. Chico Xavier nos envia este poema que será publicado na secção de Chico Xavier no domingo próximo no Diário de São Paulo com os comentários habituais daquela secção. Entretanto, não podemos nos afastar do desejo que temos de trazer ao público deste programa imediatamente neste sábado o soneto, ou melhor, o poema com que Cid Franco se apresenta a nós de volta do além; mesmo porque este poema – pedimos para ele atenção dos nossos ouvintes; este poema não é apenas um aglomerado de trovas. Bem mais do que isto: é uma verdadeira meditação filosófica sobre o problema essencial das nossas relações com os nossos semelhantes, da ligação entre o homem em si e os outros homens, da ligação entre o eu e o outro. É, portanto, um poema não apenas carregado de poesia e de beleza, mas também de filosofia e pensamento. Ouçamos a mensagem que nos chega de Cid Franco redivivo.
Quem é?
O outro, sabes quem é? Por trás de quanto se vê, é quem nos clareia a fé sem que se saiba com que. É aquele que vai contigo no mesmo carro assentado. É quem segue ao desabrigo e nunca é visto ao teu lado. É o portador de uma prova que te surge de improviso, É o irmão que te renova no reconforto preciso. É o companheiro que indaga, e aquele que te responde. É o pedinte aberto em chaga, que vive não sabes onde. É o grande homem da praça que espalha força e renome. É o peregrino que passa cansado de febre e fome. É aquele que te injuria a verbo de fel e brasa. É quem te perturba o guia por dentro da própria casa. É a mulher, o pequenino e o jovem de sonha em flor. É o doente em desatino, o amigo e o perseguidor. É quem cria amor e paz, quem te bate e te maldiz. É a pessoa que te faz feliz ou menos feliz. O outro é o próximo, alguém que nos revela em ação quanto já temos de bem nas trilhas da evolução. Perguntas a respostas. As perguntas dirigidas a este programa devem ser feitas por escrito de forma breve e precisa, e remetidas ao endereço da Rádio Mulher rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Os ouvintes que desejarem fazer perguntas por telefone, deverão discar os seguintes números durante a semana no horário comercial: 269-4377 e 269-6130. Repetindo: 269-4377 e 269-6130.
Pergunta nº 1: Alma e espírito
Locutor - Continuamos com as perguntas do nosso ouvinte Coronel Frederico Moreira. Diz ele:
Alguns pregadores apressados andam dizendo por aí, num arranjo interessante, que o espírito quando encarnado é alma, anima o corpo, e que depois da morte é espírito. Porém, nós que sabemos segundo o próprio Kardec que depois da morte o espírito passa a envolver um outro corpo que, muito embora seja mais fluido, é matéria formado pelo perispírito e disso nós temos certeza. Então eu pergunto, mestre: se do lado de cá ele anima em corpo mais denso, do lado de lá ele anima um corpo fluídico, porém também matéria; e assim eu pergunto: se é verdade essa afirmativa, quando então que o espírito é espírito?
J. Herculano Pires - Meu prezado amigo Coronel Frederico, não são pregadores apressados que andam dizendo isso. Não. Quem diz isso é “O Livro dos Espíritos”. O senhor pode ler na introdução ao “Livro dos Espíritos” a explicação de Kardec sobre a palavra alma.
Ele explica minuciosamente de maneira bem clara que as confusões feitas entre alma e espírito desaparecem no espiritismo, porque nós entendemos que o espírito é que anima o corpo, consequentemente o espírito encarnado é a alma. Depois que a gente morre, o espírito se retira e não é mais alma porque não está animando o corpo, ele então passa a ser espírito.
Então diz o senhor: mas ele continua animando o corpo espiritual. Aí é bastante diferente a situação. O corpo espiritual é o próprio corpo do espírito. O espírito tem o corpo espiritual com o qual ele se manifesta pra nós. E justamente por isso esse corpo material não é matéria, como o senhor diz. No “Livro dos Espíritos” há também a explicação de que o perispírito é semi-material, não-material. Semi-material.
É um composto de vibrações materiais e vibrações espirituais a fim de permitir a comunicação. Porque se nós não tivermos esta possibilidade de um intermediário, dificilmente podemos unir o espírito à matéria.
Por outro lado, esse perispírito não procede de acordo com o que faz o corpo físico, o corpo material. Ele está junto ao espírito, anexado a ele, por assim dizer, de maneira diferente. Ele é atraído, o seu material é atraído pelo espírito de maneira catalítica, através da catálise, ou seja, espontaneamente quando o espírito mergulha no fluido universal. Então o espírito junta à sua estrutura espiritual este elemento semi-material que o ajuda a se manifestar e a viver nos planos inferiores da espiritualidade.
Mas quando o espírito evolui, ele não se despe propriamente deste perispírito, ele apenas expulsa de si os elementos materiais do perispírito, porque os elementos espirituais já pertencem a ele mesmo, à unidade central que é o espírito.
Pergunta o senhor: quando então o espírito é espírito? Ele sempre é espírito.
Quando nós o chamamos de alma, estamos lhe dando uma designação apropriada à nossa linguagem terrena. E o designamos como a força, o poder que está animando o corpo. Quando nós o chamamos de espírito e ele está se manifestando através do seu perispírito, ele é realmente um espírito servindo-se de um instrumento de manifestação que está ligado intimamente à sua natureza espiritual. Quando este espírito se despe dos elementos semi-materiais do perispírito, ele volta à sua integridade espiritual e contínua sendo espírito. Então em todas as fases da sua evolução ele é sempre espírito. Espero que tenha lhe dado assim uma resposta precisa à sua pergunta, e uma resposta satisfatória.
Diz o senhor aqui se é verdade esta afirmativa: quando então que o espírito é espírito? Parece-me que respondi ao que o senhor pretendia. E estou fazendo esta acentuação porque o senhor me manda um bilhete pelo telefone que eu recebo aqui em que o senhor diz... o senhor me faz a seguinte pergunta: por que motivo o senhor responde determinadas perguntas secamente, sem maiores detalhes? E o senhor diz que seria necessário prolongar mais, com várias respostas, acentuando mais as respostas para que elas de fato levassem maiores explicações. E despedindo-se, o senhor me envia um abraço e parabéns pelo programa.
Eu agradeço o seu abraço e os parabéns. Agora, quanto às respostas secas, ou seja, respostas rápidas, pequenas, sintéticas, isso depende da pergunta. Há perguntas que não comportam maiores explicações. São perguntas simples que podem ser resolvidas com poucas palavras. E nós no rádio, como o senhor sabe, não dispomos de tempo absoluto; nosso tempo é sempre relativo. Então procuramos contrabalançar as coisas, aumentando as respostas nas perguntas mais complexas, e diminuindo-as nas perguntas mais simples.
Download Pergunta nº 2: Invenção do espiritismo
Locutor - Há quem diga também por aí que Kardec é quem descobriu o espiritismo. E nós sabemos que Kardec tomou conhecimento da intervenção dos espíritos nas sessões de mesas girantes por intermédio de um seu amigo senhor Fortier durante o ano de 1854, e que logo no começo do ano seguinte, 1855, por um outro amigo, senhor Carlotti, que também lhe falou sobre a intervenção dos espíritos. Vejam bem, já se falava em espíritos.
E no mesmo ano depois de 1855, Kardec passou a assistir as sessões espíritas que eram realizadas em casa da senhora Blaine Meson onde conheceu a família Boudin que o convidou para assistir as sessões espíritas que já eram realizadas regularente em casa. Kardec aceitou e daí em diante ele foi um assíduo frequentador. E partiu então para o estudo e a codificação da doutrina espírita, que já existia há muito tempo, completamente sem método. Estou certo professor?
J. Herculano Pires - Em parte sim. Em parte o senhor está certo pelo seguinte: porque Kardec jamais disse que ele descobriu o espiritismo, jamais se apresentou como inventor também do espiritismo. Ele mesmo acentua, ele mesmo explica, nas suas obras, que o espiritismo sempre existiu. Por quê? Porque o espiritismo se baseia em fenômenos naturais que são os fenômenos de comunicação de espíritos. Entretanto, é preciso compreendermos que quando Kardec fala isso, ele mesmo diz: as pegadas do espiritismo podem ser encontradas ao longo de toda a história da humanidade. Mas ele está se referindo aqui aos elementos fundamentais do espiritismo que são os fenômenos, a fenomenologia espírita, porque ele mesmo sabe e ele mesmo disse, ele mesmo escreveu que somente a partir da codificação, realizada por ele, mas com a intervenção, e mais do que isto, com a orientação dos espíritos, só depois da codificação, nós tivemos realmente a doutrina espírita. E espiritismo não é apenas, como Kardec acentua, não é apenas fenômeno; o espiritismo é, sobretudo, uma doutrina.
Assim, nós temos de separar bem as coisas para melhor compreendê-las. No tempo de Kardec, quando ele, convidado por estes amigos, o senhor Fortier, o senhor Carlotti e, particularmente, um muito importante que o senhor esqueceu de mencionar, que é o senhor Pâtier, porque foi o senhor Pâtier quem realmente despertou em Kardec a vontade de estudar os fenômenos, uma vez que os anteriores haviam falado para ele com muito entusiasmo dos fenômenos, e Kardec duvidou da realidade destes fatos. Kardec só aceitou que os fatos realmente existiam quando o senhor Pâtier, que não era um entusiasta, que era um homem calmo, ponderado, lhe assegurou que realmente os fenômenos existiam. Então ele foi estudá-los.
Ora, assim sendo, Kardec desenvolveu um trabalho de pesquisa, da mesma forma que os cientistas, por exemplo, para construírem, para criarem uma ciência tem de pesquisar determinados fenômenos. Nós podemos lembrar o seguinte: a física, do ponto de vista de sua estrutura fenomênica, ela sempre existiu. Os fenômenos físicos sempre ocorreram em todas as partes do mundo, em todas as épocas e, podemos hoje dizer mesmo, em todo universo. A física, portanto, está presente em toda parte e em todas as épocas. Mas a física como ciência só apareceu no momento em que os cientistas, investigando os fenômenos, descobriram as suas leis, classificaram estes fenômenos e partiram assim para uma investigação continuada e profunda da própria estrutura material da natureza.
Ora, todas as ciências começaram assim e assim se desenvolveram. Acontece o mesmo com o espiritismo. Os fenômenos espíritas sempre existiram. As sessões espíritas foram feitas muito antes destas que se faziam na França no tempo de Kardec. Foram feitas entre todos os povos, inclusive os povos primitivos.
Por exemplo, o professor Ernesto Bozzano tem um livro muito importante que se chama “Popoli primitivi e manifestazioni supernormali”, ou seja, “Povos Primitivos e Fenômenos Supranormais”. Eu falei o título em italiano porque esta obra não está traduzida em português. Neste livro, o professor Bozzano estuda a realização de sessões até mesmo de efeitos físicos, de voz direta, de materialização nas tribos selvagens da Austrália, e isto é demonstrado por pesquisadores qualificados que andaram por lá, como Andrew Lang e Max Freedom Long, por exemplo. Grandes pesquisadores, antropólogos que investigaram estes fatos.
Dessa maneira, nós então compreendemos que os fenômenos sempre existiram e que as sessões espíritas sempre se realizaram. Mas sem a orientação, como o senhor diz, sem a orientação necessária que só foi estabelecida pela codificação da doutrina espírita.
Download Pergunta nº 3: Idade do espiritismo
Locutor - Por aí se vê claramente que o espiritismo já era conhecido e praticado em toda antiguidade muito embora com outro nome e variando do modo de ser realizado, e que era feito às vezes até mesmo como divertimento e passatempo. Não é verdade professor?
Os médiuns também variavam de nome conforme sua classificação ocasional na sociedade dominante. E assim é que os da alta classe ou categoria eram chamados de sábios, filósofos, iluminados e livre pensador. Descendo mais um pouco, vamos encontrar os oráculos, visionários, videntes, profetas, magos, adivinhos, homens do caminho; e as mulheres nas mesmas condições eram chamadas de sibilas, cartomantes, pitonisas, benzedeiras, buena-dicha e bruxas. Enquanto que os baixos níveis e condições sociais eram – ou ainda são – chamados de macumbeiros, feiticeiros, curandeiros, pai de santo e trapaceiro. Concorda professor?
J. Herculano Pires - Em parte também. Não concordo plenamente com o senhor, mesmo porque quando o senhor colocou aqui os filósofos iluminados, livres pensadores como médiuns? Não. Eles não exerciam funções mediúnicas. O filósofo é aquele que pensa por si mesmo, que indaga, que investiga. Pode ser que ele tenha inspiração, que receba inspiração, e geralmente recebe, mas isso não é uma função mediúnica típica. Não. Isso pelo contrário, esta gente, portanto, não pode ser incluída.
Os outros que o senhor incluiu aqui, há algumas categorias que pertencem aos tempos modernos, como a buena-dicha, a ledeira de cartas. Outros que pertencem, por exemplo, ao nosso meio aqui, como as benzedeiras, os macumbeiros e assim por diante.
Então nós teríamos de ver a designação dos médiuns através do tempo, através da classificação histórica. Por exemplo, os oráculos, as sibilas, as pitonisas: esses eram médiuns. Os profetas eram médiuns. Todos eles eram médiuns. Mas não quer dizer que nós vamos agora incluir nessa lista pessoas que funcionavam noutro plano, como no caso da filosofia. E o que nós podemos acentuar é que na verdade o espiritismo, como demonstramos anteriormente e o senhor também já falou a respeito, ele sempre existiu porque os fenômenos espíritas são fenômenos naturais.
Download Faça suas perguntas por carta ao Programa No Limiar do Amanhã escrevendo para Rádio M,ulher Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Se quiser fazê-las por telefone disque os seguintes números: 269-4377 ou 269-6130. E ouça as respostas pela Rádio Mulher de São Paulo 730kz, pela Rádio Morada do Sol de Araraquara 640kz, e pela Rádio Difusora Platinense 780kz, de Santo Antônio da Platina, estado do Paraná. Perguntas e respostas.
Pergunta nº 4: Efeitos nos médiuns
Locutor - O nosso ouvinte Olívio Segatto da Rua Visconde de Cavalcanti, capital, pergunta o seguinte: o médium sofre consequências psíquicas ou físicas em relação à mediunidade? Qual seria o livro indicado para uma orientação?
J. Herculano Pires - O problema das relações da mediunidade é um problema que necessita de ser bem compreendido. O médium está no exercício de uma faculdade humana natural. Todos nós temos mediunidade. Não é preciso ser médium específico para trabalhos mediúnicos para sermos médiuns. Todos nós temos pressentimentos, todos nós temos percepções extrassensoriais, todos nós estamos sujeitos a obsessão e perturbação de espíritos inferiores. A tal ponto que grande número das pessoas perturbadas, obsedadas que comparecem às sessões espíritas devem ser tratadas, mas não desenvolverão mediunidade, porque não são médiuns. Eles não possuem um mediunato que é a missão mediúnica.
Então, quando nós falamos se os médiuns podem ser prejudicados por certas relações das funções mediúnicas, devemos lembrar que este prejuízo, se houver, é geral para toda humanidade, porque todos nós estamos no exercício da nossa mediunidade, embora não seja este exercício uma missão que nos coube exercer para o esclarecimento das pessoas e o auxílio da evolução na Terra. Mas todos nós nos servimos da faculdade mediúnica.
O que é preciso, portanto, compreender é que a mediunidade em si não tem prejuízo para ninguém. Não prejudica ninguém. Da mesma forma que as outras faculdades.
Façamos uma comparação: a inteligência é uma faculdade que todo mundo deseja ter, não é? Todo mundo quer ser inteligente, ao menos um pouco. Pois bem, quando aparece uma pessoa altamente inteligente, preocupada com problemas que não são comuns aos outros homens, geralmente se dizia no passado isso, hoje felizmente isso está mudando, mas ainda nos meios retrógrados ainda atrasados se diz isso: se diz que aquela pessoa é desequilibrada, é louca, porque tem inteligência demais. A inteligência demais enlouqueceu a pessoa.
Ora, sabemos que isto é simples ignorância. Porque se aquela criatura inteligente tem aspirações diferentes dos outros, comportamentos diferentes, é justamente por enxergar mais longe, por ter maior perspicácia, por ler mais fundo nas coisas, porque inteligência quer dizer ler dentro das coisas.
Ora, essa pessoa não pode, portanto, ser louca por isso, nem estar sendo prejudicada pela inteligência. Pelo contrário, ela está sendo beneficiada pela inteligência. Eu fiz esta comparação para nós vermos como as criaturas humanas deturpam as coisas. A mediunidade, por mais aguda que ela seja no sentido de produzir fenômenos com grande intensidade, ela em si não prejudica o médium. O médium será prejudicado se abusar. Como será prejudicado aquele que abusar da inteligência, aquele que abusar da voz, aquele que abusar do olhar, do ouvido, de todas as suas faculdades. De qualquer faculdade que o homem abuse, ele sofrerá prejuízo. Mas o prejuízo não foi produzido pela faculdade e sim pelo abuso.
É preciso separar bem isto para não acusarmos a mediunidade de prejudicial, porque na verdade ela não é. Mas se o médium abusa, emprega mal a sua mediunidade, ou se entrega ao seu exercício sem medida e sem orientação, sem controle, sem conhecimento, ele pode sofrer consequências.
Isto não ocorre apenas com as faculdades humanas, mas com tudo. Um eletricista, por mais hábil que seja, se ele não tomar cuidado no exercício da sua profissão, ele pode morrer fulminado. Então podemos iríamos dizer que a profissão de eletricista é prejudicial ao homem? Que não devem existir eletricistas no mundo? Isto seria absurdo, não é? O mal não estava no eletricista; estava no seu descuido, na sua falta de cuidado, de critério no exercício da sua profissão.
Assim, precisamos compreender bem isto para não fazermos injustiça a uma faculdade humana básica, fundamental e cuja finalidade é arrancar o homem do campo puramente sensorial, do campo da matéria para elevá-lo à espiritualidade superior.
A mediunidade em si é sempre inteiramente benéfica.
Quanto ao livro indicado, eu poderia dizer ao senhor que é naturalmente “O Livro dos Médiuns”. “O Livro dos Médiuns” é o grande livro da mediunidade. É o grande tratado mediúnico do espiritismo. E não foi superado ainda. Muita gente anda dizendo aí que existem livros novos, mais recentes, que ajudam mais a compreender e a desenvolver a mediunidade. Não, não existem. O que existem são contribuições valiosas de alguns espíritos, por exemplo, através da mediunidade de Chico Xavier, para esclarecer pontos da mediunidade que não foram bem compreendidos, e para nos trazer outras contribuições que atualmente já estão podendo ser reveladas uma vez que o homem já se aprimorou mais no conhecimento da mediunidade. Mas isto não quer dizer que “O Livro dos Médiuns” não continue a ser a obra básica essencial. Quanto às obras escritas por criaturas humanas, a maioria delas, na verdade, não só é inferior ao “O Livro dos Médiuns”, mas está cheia de enganos, de conclusões pessoais, de opiniões puramente pessoais que podem contradizer pontos do “O Livro dos Médiuns” e, portanto, da doutrina espírita.
Eu aconselharia o senhor a dar à pessoa que deseja conhecer bem a mediunidade primeiramente o livro “Iniciação Espírita” de Alan Kardec. Este livro não trata exclusivamente de mediunidade, trata primeiro de espiritismo, mas a sua parte final é um resumo do “O Livro dos Médiuns” feito pelo próprio Kardec. Então este livro prepara o indivíduo para estudar e seguir com mais profundidade “O Livro dos Médiuns”. Esses dois livros darão à pessoa que deseja se aprofundar no estudo mediúnico os elementos necessários para isto.
Eu vou oferecer ao senhor, como costumamos fazer aqui neste programa, um presente de irmão: este livro, “Iniciação Espírita”, que o senhor poderá retirar a partir de segunda-feira no horário comercial no escritório da Rádio Mulher, à Rua Barão de Itapetininga, 46, 11º andar, conjunto 1.111. Sempre no horário comercial. O senhor procure lá este livro em seu nome, porque estará lá em seu nome, à sua espera. É um presente de irmão do Programa No Limiar do Amanhã e da editora Edicel.
Download Pergunta nº 5: Centro espiritual
Locutor - Professor, a ouvinte Luiza Gomes Tavares da Rua Pedro Colasso, Freguesia do Ó, São Paulo, pergunta o seguinte:
Aconselhada por ouvintes do seu programa, venho pedir-lhe orientação para levar minha filha de oito anos a um centro espírita. Há dois anos ela vem apresentando sintomas estranhos. Durante este período, submeteu-se a tratamento médico e ainda não conseguiu ouvir dos mesmos um diagnóstico positivo. Foram feitos vários exames, e repetidos alguns, tais como exame de fezes, exame de sangue, eletroencefalograma etc. Consultei especialistas, além do pediatra, um otorrino, um oftalmologista; nada foi constatado. Finalmente o pediatra aconselhou-me tratamento em psicanalista. Como não tenho possibilidades financeiras para fazer tal tratamento, pensei em procurar um centro espírita. Por este motivo, peço-lhe ajuda no sentido de orientar-me para um centro de cunho puramente espiritual, pois nada entendo do assunto e tenho medo de entrar em ambientes pouco recomendáveis como existem por aí.
J. Herculano Pires - É muito louvável que a senhora tenha este cuidado, porque realmente se as pessoas todas pensassem assim, não cairiam na mão, muitas vezes, de indivíduos que não estão à altura do conhecimento necessário, que não têm mesmo esse conhecimento para atenderem a casos tão sérios quanto este da sua filha. Mas eu estou certo de que a senhora encontrará a possibilidade de grande auxílio num centro bem dirigido, orientado de acordo com a doutrina espírita.
Eu lhe indicaria o centro Renovação à Rua Espírita, 116, no Lavapés, ou seja, travessa da Rua Lavapés ali no Cambuci, Rua Espírita, 116. Esse centro tem duas sessões públicas por semana, de segunda-feira e a de sexta-feira. As sessões começam sempre às 20h30, ou seja, às oito e meia da noite em ponto. A senhora deverá chegar uma meia hora antes, às oito oras; levar sua filha e procurar especialmente lá o doutor Caio Ramacioti, doutor Caio Ramaciote, que é médico, é espírita, participa dos trabalhos e poderá então, através do serviço espírita ali e também orientado pelos seus conhecimentos médicos, cuidar com todo carinho que lhe é habitual, de sua filha, procurando ajudá-la e ajudar a senhora também.
Acho que neste centro a senhora estará tranquila, porque na realidade são pessoas que não só conhecem o espiritismo como possuem também outros conhecimentos favoráveis à solução do caso de sua filha. Download Pergunta nº 6: Médium à distância
Locutor - O ouvinte Renato Moretti, da Rua Antoni Foster, Socorro, Santo Amaro, pergunta:
É possível os médicos espirituais realizarem uma operação no interior de um ônibus através de um médium à distância?
J. Herculano Pires - O médium à distância pode servir para o espírito agir em qualquer lugar, até dentro de um avião, não apenas de um ônibus. Depende naturalmente de que haja condições para isso da parte não só do médium, mas também da pessoa que vai ser assistida. E é claro que num caso deste só se realizaria a operação se fosse de urgência, porque do contrário tanto os espíritos que se interessam pelo serviço quanto aqueles que dirigem este campo de atividades mediúnicas, eles prefeririam fazer a operação num lugar mais tranquilo e com maior segurança de ambiente, em lugar mais favorável.
Mas não há dúvida de que em casos especiais, de grande urgência, de grande necessidade, é possível que isso aconteça.
Download Pergunta nº 7: Suicidas
Locutor - Quanto tempo o espírito de um suicida pode permanecer nas trevas? E se este espírito é encaminhado para algum lugar de recuperação?
J. Herculano Pires - Nós sabemos pelo ensino dos espíritos e pelas comunicações de muitos espíritos de suicidas, e até mesmo por livros escritos a respeito com muita atenção para as experiências realizadas, nós sabemos que, em geral, os espíritos dos suicidas permanecem em situação bastante difícil.
E isto por quê? Porque eles violam uma lei natural; eles interrompem o curso de sua própria existência, o curso da vida. E ao produzirem essa interrupção, eles sofrem naturalmente as consequências das mesmas.
Digamos, para fazer assim um exemplo grosseiro a respeito deste assunto, digamos que um indivíduo correndo a alta velocidade numa estrada num automóvel, resolve de repente brecar o seu carro. O que aconteceria? Nós todos sabemos que os resultados seriam fatais. Acontece o mesmo no processo da vida. Eu quero dar este exemplo para tirar da questão dos suicidas a ideia demasiado mística de que a todo momento Deus está punindo as pessoas por transgredirem as suas leis. Não é isso que acontece. As leis de Deus trazem em si mesmas as punições que são aplicáveis aos violadores.
Quando nós levamos as mãos ao fogo, queimamos as mãos. Por quê? Porque Deus determinou que naquele momento a nossa mão fosse queimada? Não. Porque existe uma lei, uma lei física, que é também de Deus, pois todas as leis existentes na natureza são leis de Deus; existe essa lei física que determina que se nós encostarmos a mão no fogo, o fogo nos queimará. Assim também acontece para o suicida. Se ele vem no seu processo existencial, na sua vida, desenvolvendo as suas atividades nos rumos de uma evolução que lhe é necessária e, por isso mesmo, ele está encarnado aqui na Terra, vivendo sua existência, e de repente ele resolve brecar seu carro e pratica o suicídio, é evidente que ele provocou um acidente grave para ele mesmo. É por isso que ele fica em estado de profunda perturbação e sofrerá essa perturbação durante o tempo correspondente ao ato que ele praticou.
Quer dizer, da mesma maneira que um motorista em alta velocidade, por exemplo, a 180 km/h numa estrada, ele brecando o carro, ele sofre um impacto correspondente aos 180 km da sua velocidade, e o outro com 50 km sofreria um impacto muito menor, assim também no caso do suicida. De acordo com as circunstâncias em que ele se suicidou é que a sua pena, por assim dizer, que é o seu sofrimento consequente do ato, será maior ou menor. Nunca podemos precisar com exatidão quanto tempo o suicida sofrerá as consequências do seu ato.
Mas sabemos que isto corresponde à responsabilidade que ele teve, porque no suicídio, como em todos os demais atos humanos, a justiça divina que é infalível, que não é semelhante à justiça dos homens, leva sempre em consideração os atenuantes. Assim esses atenuantes podem diminuir a gravidade das consequências. E se não houver atenuantes, as consequências podem ser mais amplas.
Download Pergunta nº 8: Trabalho espiritual individual
Locutor - Professor, o ouvinte José Alves Ferreira da Rua Ávila Rosa, estrada da Vila Ema, faz as seguintes perguntas. Primeira: é possível alguém fazer um trabalho espiritual individual, digo de transporte, concentrando-se e elevando o pensamento a Deus até que seu espírito saia de sua matéria para ver o seu próprio corpo como se fosse um sonho, e depois fazer um transporte para visitar uma pessoa distante e lembrar-se de tudo que se passou durante este trabalho?
J. Herculano Pires - É claro que as pessoas, desde que disponham dessa capacidade, dessa possibilidade mediúnica, deste dom mediúnico, por assim dizer, podem fazer isto sozinhas como em qualquer reunião. Mas não é aconselhável fazer sozinho, porque fazendo sozinhas estão sujeitas a muitos perigos. Num caso destes, a pessoa que possuindo essa faculdade deve sempre se cercar de todos os cuidados necessários para que o seu trabalho seja realmente proveitoso. Trabalhando num grupo espírita ou num centro espírita, essa pessoa terá a oportunidade de por esta sua faculdade a serviço do bem. Porque se ela começar utilizá-la para sua simples curiosidade, em breve enfrentará dificuldades no seu desprendimento e poderá ser profundamente prejudicada.
Mas eu queria lembrar que este fenômeno não é fenômeno de transporte. Fenômeno de transporte é o fenômeno de transporte de objetos, de movimentação de objetos. Este fenômeno é o fenômeno de desdobramento, desdobramento da personalidade, ou de bi-locação, como também chamam alguns cientistas. Estes fenômenos de bi-locação ou desdobramento são também chamados na igreja de fenômenos de ubiquidade. Por exemplo, a história que nos refere o fato de Santo Antônio haver se desdobrado para atender ao seu pai que ia ser sacrificado é considerado um fenômeno de ubiquidade, ou seja, de possibilidade do indivíduo permanecer ao mesmo tempo em mais de um lugar. Mas no espiritismo é chamado de fenômeno de desdobramento ou de bilocação.
Download Pergunta nº 9: Atendimento dos espíritos
Locutor - Segunda pergunta: quando fazemos um pedido a um espírito em nome de Deus, pedindo que nos auxilie através de determinados guias, a este espírito que está encarnado entre nós, como fica este pedido?
J. Herculano Pires - É claro que se a gente faz um pedido a um espírito que já está reencarnado, este pedido não pode ser atendido por esse espírito. Mas nós sabemos que quando fazemos esse pedido a Deus ou em nome de Deus existem os espíritos superiores que nos atendem; eles estão incumbidos de atender esses pedidos dirigidos a Deus.
Assim não tem importância nenhuma que o espírito a quem nos dirigimos esteja encarnado ou não. Se o nosso pedido for justo, se nós merecermos, se nós o tivermos feito com a necessária fé, o nosso pedido será atendido da mesma maneira.
Download Pergunta nº 10: Juventude de Jesus
Locutor - Terceira pergunta: por que falam de Jesus até os doze anos e depois dos trinta? E nesse meio tempo, o que houve? Depois de sua morte, segundo um orador, comunicou-se por quatro vezes, sendo que sua última comunicação foi através de Allan Kardec que completou o que Jesus tinha anunciado: o Espírito da Verdade, ou seja, a espiritualidade, que não podia falar naquela época.
J. Herculano Pires - As fases da vida de Jesus que não são relatadas no Evangelho são as fases que não estão ligadas diretamente ao problema do Evangelho. O Evangelho foi escrito não para nos contar a vida de Jesus, mas para nos transmitir os seus ensinos. Então a vida de Jesus é ali relacionada apenas no tocante aos problemas que implicam a transmissão de um ensinamento dele.
As fases anteriores da vida de Jesus, em que ele esteve apenas se preparando para o desempenho da sua missão, estas fases ficaram obscuras nos Evangelhos.
Mas no tocante a este problema que o senhor propõe aqui de uma comunicação de Jesus, ou seja, das comunicações de Jesus após a sua morte, eu queria dizer o seguinte: o senhor pode ter entendido mal este orador. É muito possível. Às vezes a gente ouve um orador dizendo uma coisa e interpreta de outra maneira. Mas se o orador falou isso, ele exagerou. Porque primeiro, ele não pode afirmar que Jesus só se manifestou tantas ou quantas vezes. Jesus é um espírito superior que dirige o nosso planeta, dirige a nossa evolução humana, e na verdade ele se manifesta permanentemente a todos os corações que estão voltados de fato para ele. Os corações que se voltam realmente para Jesus recebem de Jesus as manifestações espirituais que ele lhes transmite, independentemente de fenômenos exteriores. As manifestações de Jesus, portanto, são inumeráveis; ele está constantemente em comunicação com os espíritos que realmente procuram sintonizar-se com ele.
Agora, no tocante a dizer que Kardec foi uma manifestação Jesus, ou que Kardec serviu de médium para uma comunicação de Jesus, é uma interpretação também errônea e audaciosa. Kardec serviu, como nós sabemos, de intérprete terreno, não como médium, mas como um homem lúcido a serviço da compreensão espiritual, recebendo as mensagens através de mediunidades diferentes que não a dele, mas de médiuns que o serviam, recebendo tudo isso do Espírito da Verdade. O Espírito da Verdade que é, como nós sabemos, todo espírito que se dirige para a verdade e que integra então a falange chamada do Espírito da Verdade, que tem um chefe. Este chefe, este espírito superior foi aquele que se manifestou a Kardec dizendo: eu sou a verdade. Então Kardec nos trás, sim, o cumprimento de uma promessa de Jesus, com a manifestação do Espírito da Verdade.
Download O Evangelho de cristo em espírito e verdade, não segundo a letra que mata, mas segundo o espírito que vivifica. Abrindo o Evangelho ao acaso, encontramos em Lucas no capítulo 15 versículo 1 e 2. Jesus recebe pecadores. Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir. Os fariseus e os escribas murmuravam: este recebe pecadores e come com eles.
Essa pequena passagem do Evangelho de Lucas coloca diante de nós o problema dos preconceitos religiosos existentes sempre em todo mundo e que existiam de maneira bastante aguda no tempo de Jesus, e particularmente na Palestina, especialmente entre o povo a que Jesus pertencia, que era o povo judeu. Ora, os publicanos e os pecadores eram, como Jesus sempre ensinou, filhos de Deus como todas as demais pessoas. E as demais pessoas que se julgavam puras, porque seguiam os rituais da sua religião, porque se submetiam às exigências das leis do templo de Jerusalém, essas demais pessoas em geral não eram mais puras do que os publicanos e os pecadores.
Os publicanos, como sabiam, tinham apenas o pecado – se nós colocarmos o pecado restrito à sua denominação –, o pecado de executar uma profissão que era considerada má em virtude de atentar contra os interesses do povo judeu. Mas os pecadores em geral eram aqueles que cometiam pecados e viviam, por assim dizer, no pecado, que não ligavam para as determinações dos sacerdotes, que não obedeciam às leis da Torá, ou seja, as leis estabelecidas pelo código bíblico que vigorava naquele tempo. Pois bem, estas pessoas procuravam viver sua vida à maneira que melhor correspondia não somente as suas necessidades imediatas, mas também às condições em que elas se encontravam. Muitos destes pecadores, como ocorria com os publicanos, eram pecadores porque não dispunham de elementos para poderem se conservar na pureza ritual exigida pelo templo e exigida pela religião judaica.
Assim também muitas coisas que nós poderíamos encarar nas pessoas humanas como maldade ou como uma condição de inferioridade espiritual, pode decorrer da sua falta de educação, de recursos, de orientação, de esclarecimento e assim por diante. Jesus compreendendo isto, ele recebia a todos, mesmo porque ele tinha vindo para todos. Como ele disse certa vez: eu vim especialmente para as ovelhas desgarradas da casa de Israel. As ovelhas desgarradas eram precisamente os pecadores. Por isso ele impediu o apedrejamento da mulher adúltera, por isso ele não exigiu de seus discípulos que ao sentar-se à mesa lavassem as mãos, e assim por diante. Ele passava por cima de todos os preconceitos da época para libertar o homem de todos aqueles prejuízos, ajudando-o a realmente encontrar a verdade espiritual.
Tudo quanto era condenado pela igreja da época, era condenado, portanto, pelos sacerdotes, pelo templo de Jerusalém, do seu poderio teológico extraordinário sobre o povo; tudo o que era condenado, Jesus examinava a luz da razão e da compreensão humana, e principalmente à luz do amor. O que caracteriza as atitudes de Jesus, essencialmente, é o amor. Para nós compreendermos os seus atos, temos sempre de nos lembrar de que ele agia sempre por amor. Então nós compreenderemos que ele não podia se sujeitar às prescrições danosas de uma lei que não levava em consideração a fraternidade humana e que fazia distinções entre as criaturas, colocando, por exemplo, os indivíduos que se sujeitavam aos rigores da lei e do templo – muitas vezes de maneira aparente, não seguindo na realidade aquilo que deviam seguir –, estes indivíduos, colocando-se acima dos outros, que lutavam com mil dificuldades para enfrentar os problemas da vida e para caminhar com dignidade entre os homens.
Jesus estabelecia sim o reino da fraternidade humana, mostrando a todas as criaturas que todas mereciam atenção de Deus, atenção do Pai Supremo, que ninguém estava deserdado na Terra e que ninguém ficava desprovido da assistência espiritual de que necessitasse. Toda vez que uma instituição religiosa nega assistência a uma criatura por considerá-la impura ou pecadora, esta instituição fere os princípios fundamentais do cristianismo como vemos nessa passagem do Evangelho. O dever do verdadeiro cristão não é afastar-se daqueles que erram, a se converterem, a se modificarem, a acertarem seu passo na vida. Isto, entretanto, deve ser feito com a prudência com que Jesus fazia, procurando envolver estes espíritos em amor, em compreensão e procurando ver se realmente neles havia se despertado o instinto espiritual necessário para que eles compreendessem aquilo que iam receber.
Por isso Jesus disse também que não se devia se atirar pérolas a porcos. Uma expressão bastante forte, mas que define bem a posição de cautela tomada por Jesus. Se era necessário fazer com que as pessoas que estavam em erro encontrassem o caminho da retificação, entretanto, era necessário também para aqueles que não queriam compreender a necessidade de se emendar, que houvesse a energia na reprimenda a fim de que eles se corrigissem. Daí as expressões fortes de Jesus que nós encontramos no Evangelho como aquela de “raça de víboras”, “sepulcros caiados” e assim por diante. Jesus, na sua sabedoria infinita, ensinava os homens o amor, mas ensinava também a necessidade da correção dos que persistiam no erro.
Encerramos na semana passada a primeira centena de transmissões do programa No Limiar do Amanhã. Com a transmissão de hoje, iniciamos a segunda centena. Amigos ouvintes: agradecemos a Deus essa continuidade e roguemos a sua bênção para que sejamos úteis e eficientes nessa segunda etapa que hoje se iniciou. No Limiar do Amanhã: um convite ao futuro.