No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.
Entramos em 1973, sustentando o nosso desafio. Vai para dois anos que ele está no espaço, suspenso sobre as inquietações humanas. Não é um desafio arrogante, porque é um convite à compreensão e ao amor. Não confiamos em nós, mas na verdade. Chegamos pela razão e a pesquisa a convicção de havermos tocando a fimbria da verdade sobre os problemas fundamentais da vida e da morte. Antes de desafiar, portanto, fomos desafiados e aceitamos o desafio dos mistérios que aturdem os homens.
Muitos ouvintes aceitaram nosso desafio e por sua vez nos lançaram os seus desafios. Conseguimos assim estabelecer em forma permanente o diálogo radiofônico No Limiar do Amanhã. Deus nos permitiu sustentá-lo com regularidade nos anos de 1971 e 1972. Certamente permitirá que o prossigamos nesse ano.
E você amigo ouvinte, é o convidado permanente do diálogo livre, onde não se usam as armas agressivas do autoritarismo e do dogmatismo, mas os floretes leves e vibrantes do raciocínio e do debate sem segundas intenções.
Hoje é o dia do nosso encontro face a face no auditório da Rádio Mulher. Aqui estamos para um debate ao vivo. Olhamo-nos cara a cara e não trememos, porque sabemos nada ter a temer um do outro. Espadachins da verdade, travamos o duelo dialético dos gregos. Ninguém pretende ferir, pelo contrário, todos nós queremos curar as feridas das nossas angústias e das nossas incertezas, buscando um no outro o pedaço da verdade que nos falta. Nenhum de nós quer impor ao outro a sua verdade particular que é sempre orgulhosa e ilusória, mas encontrar a verdade impessoal que provem de Deus para todos. A verdade é humilde, simples, porque é natural. Os orgulhosos e arrogantes não a veem, porque não aceitam a simplicidade. A verdade da vida e a verdade da morte foram enleadas em teias ilusórias de símbolos, ritos e palavras. A maioria das criaturas ainda se perde na complicação dos mistérios do sobrenatural. Este programa é uma oportunidade para devolvermos a verdade a sua nudez natural. Se estivermos enganados, que nos esclareçam os mais esclarecidos. Não queremos ensinar, mas aprender, como aprendemos com os sábios, os filósofos e os santos as verdades evidentes que nos apresentaram na palma de suas mãos. São essas as verdades que expomos aqui.
No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emmanuel, transmissão número 95, segundo ano. Direção e participação do professor Herculano Pires.
Este programa é transmitido nesse dia e nesse horário, todas as semanas pela Rádio Mulher de São Paulo 730kz, pela Rádio Morada do Sol de Araraquara 640kz, e pela Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, Paraná, 780kz. Todas as semanas neste dia e neste horário.
Perguntas e respostas no auditório. Antes de iniciarmos as nossas perguntas e respostas de hoje, queremos lembrar aos ouvintes de casa que suas perguntas para os programas do mês devem ser feitas por carta, endereçadas ao programa No Limiar do Amanhã, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Durante cada semana poderão também fazer suas perguntas no horário comercial, pelos telefones 269-4377 ou 269-6130.
Iniciamos agora o nosso diálogo radiofônico com os nossos ouvintes. Entrevistando um de nossos frequentadores que todas as primeiras quartas-feiras do mês aqui está presente, prestigiando dessa maneira o espiritismo e o programa No Limiar do Amanhã. O nome e a pergunta.
Pergunta nº 1: Força da prece
Plateia - Luís Buriti. Moro aqui em Santo Amaro, na Rua São Genaro.
Professor, sabemos que através do espiritismo, temos conhecimento de que os espíritos ainda agarrados aos vícios e paixões da Terra costumam satisfazê-los absorvendo junto com os encarnados os vapores de bebidas e comidas. Gostaríamos de saber de que maneira os espíritos absorvem as oferendas que lhes são feitas, ou seja, os chamados despachos, uma vez que essas ofertas são feitas em garrafas fechadas, charutos apagados e velas apagadas também, e os animais não são preparados, nem limpos.
J. Herculano Pires - A pergunta é realmente interessante, tem a sua razão de ser. Entretanto eu gostaria de estabelecer, antes de mais nada, uma diferença que é muito necessária entre o espiritismo e essas práticas. Essas práticas não são espíritas; elas pertencem a práticas de religiões primitivas de povos selvagens, são muito usadas entre os povos selvagens.
No Brasil elas se propagaram, se difundiram, porque vieram da África através do tráfico negreiro. As populações negras da África, caçadas nas selvas, como selvagens que eram, e trazidas para cá, vieram impregnadas de suas religiões primitivas. Essas religiões aqui se espalharam, misturaram-se com as religiões existentes no nosso meio, até mesmo com as crenças indígenas e as crendices populares, e deram em resultado as conhecidas formas de sincretismo religioso afro-brasileiro que hoje existem muito no Brasil, como existem em outros países da América com nomes diferentes. Então, quando nós falamos de macumba, despacho, essa coisa toda, nós não estamos falando de espiritismo. Estamos evidentemente falando de problemas mediúnicos. Mas é preciso também compreender que a mediunidade é a fonte natural dos fenômenos, chamados hoje paranormais, fenômenos estes que são estudados pelo espiritismo.
O espiritismo foi a primeira doutrina a estudar esses fenômenos a sério e foi dele, do espiritismo, que nasceram todas as demais ciências hoje chamadas em geral como ciências psíquicas, quer dizer, a antiga parapsicologia alemã, antiga ciência psíquica inglesa, a meta psíquica francesa e a parapsicologia moderna, todas elas são descendentes do espiritismo. Todas elas decorrem das pesquisas espíritas sobre estes fenômenos.
Não estamos, portanto, falando de problemas propriamente espiríticos no sentido doutrinário da palavra, mas de problemas mediúnicos. Muita gente poderá dizer: mas problemas mediúnicos são espíritas. Não, não são espíritas quando não se enquadram na sistemática doutrinária.
Vamos dar mais um exemplo concreto para que isto possa ficar em claro. Uma queda d’água, uma cachoeira tem, como nós sabemos, um potencial hidroelétrico que pode ser bastante poderoso ou mais ou menos poderoso. Este potencial hidroelétrico captado por uma usina, submetido aos processos da técnica, dirigidos, portanto, pela ciência que cuida da eletricidade, este potencial vai produzir a luz, vai iluminar as cidades. Mas se esse potencial não for aproveitado pelos homens, ele apenas produzirá os resultados naturais da sua queda de água na cachoeira sem dar outros resultados. Poderá, por exemplo, mover um monjolo, uma roda d’água, produzir benefícios rudimentares, mas não atingir aqueles benefícios superiores que vai atingir com a eletricidade.
Ora, a mediunidade é precisamente o fenômeno natural como a queda d’água. Nós todos somos médiuns, nós todos possuímos mediunidade. Nós todos, portanto, estamos sujeitos a fenômenos mediúnicos. Quando temos um sonho profético, quando temos um pressentimento, quando temos até mesmo, podem rir se quiser, um palpite para jogar no bicho ou na loteria, se esse palpite está dando certo, isto é um fenômeno mediúnico porque é uma percepção extrassensorial, como diz hoje a parapsicologia. O indivíduo que tem um palpite certo num jogo determinado, ele tem uma antevisão do resultado que vai ser dado no jogo. Portanto, é uma percepção extrassensorial, quer dizer, uma percepção captada sem ser por intermédio dos sentidos. Tudo isto é mediunidade; portanto, nós todos temos mediunidade. Entretanto, como todas as faculdades humanas, uns possuem maior quantidade, por assim dizer, de mediunidade e outros menor. Os que possuem maior são os chamados médiuns, e os médiuns são, na verdade, não só os que têm maior quantidade de mediunidade, mas também os que têm a missão mediúnica para trabalhar na Terra como intermediários do mundo espiritual. Estes são aquelas criaturas que eram chamadas no passado de agraciadas por Deus, de privilegiadas pela divindade. Nós sabemos hoje que não é nada disso.
O médium é uma pessoa comum, como nós mesmos, com os seus defeitos, com as suas imperfeições humanas como nós todos possuímos, mas dotado de uma possibilidade mais aguda, de uma sensibilidade mais aguda no campo da percepção extrassensorial. E muitas vezes investido de uma missão mediúnica que não é para ele uma graça, mas quase uma desgraça, porque o submete muitas vezes a situações bastante difíceis que ele tem de enfrentar no mundo. Embora na realidade não seja uma desgraça porque no final a mediunidade é sempre uma bênção, porque é um auxílio para ele se desenvolver espiritualmente. Bom, colocado esse problema que me parece importante, porque do contrário vão dizer por aí que nós estamos tratando de macumba aqui no nosso programa e que nós somos umbandistas, ou coisa semelhante. Não, não somos nada disso. Mas temos de enfrentar a pergunta do nosso amigo Luís. Na realidade, os despachos são feitos nos terreiros de macumba, das diversas formas de sincretismo religioso afro-brasileiro, são feitas através da mediunidade. Os selvagens africanos, quer os selvagens brasileiros, quer os selvagens da Austrália ou de qualquer outra parte do mundo, eles sempre usaram esses processos porque a mediunidade é natural, ela existe naturalmente. Então eles vivendo na vida natural, na selva, aprenderam a se utilizar da mediunidade.
Nós sabemos que havia as lutas entre as tribos. Nessas lutas entre as tribos eram aplicadas como arma de luta os fenômenos mediúnicos. A religião que nós mesmos, os brancos civilizados, também utilizamos quando existe guerra entre países nossos – nós sabemos, por exemplo, é muito conhecido o fato de sacerdotes de uma determinada religião estarem orando aqui, por exemplo, num determinado país que está em guerra com outro, para que Deus conceda a vitória para esse país –, conhecemos o problema dos sacerdotes abençoarem as armas de guerra, os canhões, as metralhadoras, os navios, os tanques e assim por diante, para que eles obtenham a vitória contra o outro. Mas do lado de lá, no outro país, também os sacerdotes estão abençoando as armas dos inimigos que vêm lutar contra os outros. Quer dizer, não podemos censurar isso nos selvagens porque nós também praticamos isso.
Então, os selvagens usavam na sua religião primitiva, meios mais eficientes. Eles não apenas abençoavam. Eles se utilizavam das próprias manifestações dos espíritos para atacar os seus adversários. Se eles tinham uma batalha ou uma luta em perspectiva, então eles faziam aqui no seu trabalho, que é chamado de terreiro, porque eles faziam isso na terra batida no meio do mato, eles ali onde preparavam os terreiros para isso, então eles ali faziam um despacho contra aquela outra tribo, contra o cacique, contra o pajé, contra os guerreiros mais fortes, para inutilizá-los. E como faziam esses despachos? Oferecendo aos deuses das selvas – deuses para eles eram os espíritos que habitavam as selvas –, estes espíritos se manifestavam através do pajé que era sempre um médium. Ou se manifestavam mesmo através de processos mediúnicos, inclusive de materialização – como ficou provado nas pesquisas antropológicas e etnológicas feitas sobre os povos selvagens –, esses espíritos se manifestavam e se punham à disposição da tribo. Cada tribo tinha os seus espíritos simpáticos, os seus espíritos familiares, amigos, que queriam defender aquela tribo. Mas além desses, havia outros espíritos das matas, espíritos de guerreiros mortos, de tribos desaparecidas que viviam por ali.
Então aqueles espíritos familiares traziam esses outros espíritos mais bravos, mais valentes, para ajudarem a tribo, e a tribo tinha de oferecer alguma coisa para eles: ofereciam caças, bebidas, ofereciam todos os presentes que pudessem interessar aqueles espíritos.
Como eram espíritos ainda grosseiros, bastante impregnados de matéria, não desapegados ainda suficientemente da vida material, esses espíritos entendiam que aquelas ofertas eles podiam receber e aproveitar. Então estabelecia-se o seguinte: essas ofertas iam ser depositadas num determinado lugar da floresta, onde esses espíritos iriam buscar depois. Mas primeiro eles iam verificar se aquelas ofertas estavam ali, para depois ir atacar os inimigos.
Então eles iam e atacavam realmente os inimigos quando eles podiam, porque aqueles lá também tinham as suas defesas espirituais, tinham os espíritos que também colaboravam com eles. Então o despacho às vezes atingia o resultado, às vezes não.
O despacho, na verdade, não é o despacho desses objetos, como se costuma pensar, da garrafa de pinga, da galinha morta preparada ou não, porque também existe a galinha preparada, feitinha, que eles oferecem. O despacho é o envio dos espíritos vingadores, dos espíritos que vão atacar, dos espíritos inferiores que vão obsedar, perturbar e produzir doenças, se possível nas pessoas a que eles se dirigem.
Então, esse despacho é feito em sentido ilusório, porque aqueles espíritos não sabem que não vão poder aproveitar aqueles presentes. Eles acham que vão poder. E eles vão realizar o trabalho. Só depois, ao verem que não podem aproveitar aqueles presentes, eles sentem que naturalmente deviam ter exigido mais e realmente depois eles exigem. Nós sabemos que os espíritos quando não conseguem se servir desses elementos, eles vão exigir das pessoas, que produzam coisas diferentes, que preparem os alimentos e que os comam para eles poderem saborear através das emanações, como o senhor falou muito bem.
Quer dizer, é nesse sentido que nós temos que entender. Eles na verdade não podem aproveitar aquele elemento que é colocado em garrafas ali ao lado da estrada, porque eles não têm elementos para absorverem aquilo, tanto que fica ali é geralmente aproveitado por outras pessoas. Mas quando um indivíduo da tribo bebe aquela bebida ou come aquele alimento, esses fluídos, que decorrem da alimentação natural das criaturas, é absorvido pelos espíritos que geralmente chamamos de vampirescos, que ficam vampirizando aquelas pessoas para sugarem os fluídos dos elementos que eles queriam comer ou beber.
Era isso o que o senhor queria saber?
Download Pergunta nº 2: Lei da fraternidade
Locutor - Vamos passar a palavra para um companheiro nosso que se encontra no auditório que acredito seja hoje a primeira vez que vem ao nosso programa. E nós pediríamos que ele se identificasse, por favor.
Plateia - Chakil Cames, moro em Guarulhos. Professor, dois médiuns, os seus guias e uma sessão podem ter afinidade? Ou isso é prejudicial, vindo a prejudicar a sua missão?
J. Herculano Pires - Dois médiuns numa mesma sessão, tendo os mesmos guias?
Plateia - Não, cada um com seu guia.
J. Herculano Pires - Cada um com seu guia.
Plateia - Tem afinidade entre os dois.
J. Herculano Pires - Entre os dois médiuns?
Plateia - É. Entre os dois guias. É prejudicial para os médiuns e para os guias?
J. Herculano Pires - Não vejo motivo nenhum de ser prejudicial, porque se há afinidade seja entre os médiuns, seja entre os guias, há simpatia. Há, portanto, uma relação simpática, favorável para o próprio desenvolvimento dos trabalhos.
Não sei se é isso o que o senhor está perguntando. É isso mesmo?
Plateia - É que aventou-se a hipótese de que quando há afinidade entre dois guias e dois médiuns, enfraquece um, enfraquece o outro.
J. Herculano Pires - Absolutamente. Não há razão nenhuma para isso. Pelo contrário, nós sabemos que a lei do universo é a lei da solidariedade, é a lei da fraternidade. Entre os espíritos, essa lei de solidariedade se apresenta de maneira muito mais forte, muito mais poderosa. Se nós tivermos numa sessão, evidentemente, dois médiuns com dois guias que não sejam afins um ao outro, que sejam contraditórios, né, então sim, teremos prejuízo. Inclusive teremos que compreender que esses guias não são elevados, são inferiores. Quer dizer, a regra normal, a regra geral é haver afinidade entre os espíritos elevados, entre os guias espirituais.
Download Pergunta nº 3: Umbanda
Plateia - Professor, quero deixar clara a minha situação: eu, de espiritismo, pouco entendo.
J. Herculano Pires - Pois não...
Plateia - É que a gente vai tateando aqui, ali, até um dia achar...
J. Herculano Pires - Pois não...
Plateia - ... o lugar certo para dar vazão e encaminhar a vida espiritual.
J. Herculano Pires - Perfeitamente.
Plateia - Então eu e a patroa frequentamos um centro que dizem que é umbanda.
J. Herculano Pires - Sim.
Plateia - Eu já ouvi dizer que umbanda não existe ou se existe é um outro negócio...
J. Herculano Pires - Não. Existe, mas não é espiritismo. É umbanda. Quer dizer, umbanda é uma coisa, espiritismo é outra.
Plateia - Me explicaram que umbanda não é kardequiano não é kardecismo.
J. Herculano Pires - Sim, porque kardequiano é o espiritismo.
Plateia - É, mas é um negócio que até hoje eu estou para entender, e...
J. Herculano Pires - Então eu vou tentar lhe explicar rapidamente.
Plateia - Bom, mas não é essa a pergunta.
J. Herculano Pires - Sim. Mas eu vou te explicar isso porque estamos na onda, né? Quer dizer, Allan Kardec é um professor francês que codificou o espiritismo. Ele é praticamente, podemos dizer assim, embora não seja essa a expressão certa, o criador do espiritismo. Ele criou o espiritismo como doutrina – se bem que não foi ele que criou, porque os espíritos ditaram a ele, essa coisa toda; ele é o coordenador. Então quando falamos de espiritismo e kardecismo, estamos falando da mesma coisa. Quer dizer, Allan Kardec é aquele homem que codificou toda a doutrina espírita e no-la ofereceu. Então espiritismo e kardecismo é uma coisa só.
Mas quando falamos de umbanda, nós estamos falando de um tipo diferente de espiritualismo, não de espiritismo. Estamos falando de uma religião primitiva da África, que foi transplantada para o Brasil e aqui se desenvolveu.
Download Pergunta nº 4: Linhas
Plateia - Agora eu vou fazer uma pergunta para o senhor, que é... vamos ver se dá para o senhor me entender.
J. Herculano Pires - Pois não.
Plateia - Uma frequentadora de umbanda, tendo recebido manifestações espíritas, constatando-se ser médium, a que linha vem a pertencer seu guia? Desde que foi notada uma diferença entre ele e os outros. O senhor me entendeu?
J. Herculano Pires - A diferença do guia dessa...
Plateia - O guia da pessoa, por exemplo, a patroa.
J. Herculano Pires - Dessa frequentadora?
Plateia - Falaram lá que ela é médium.
J. Herculano Pires - Sim.
Plateia - Então se o guia dela pertence à mesma linha daquele pessoal que trabalha, que é preto velho...
J. Herculano Pires - Sim.
Plateia - ... preta velha, todo esse negócio aí...
J. Herculano Pires - Sim.
Plateia - Mas houve uma manifestação do guia dela de um nível superior. Não falaram, não transmitiram, não deram recado... Em sentir e ver. Mas vamos admitir...
A que linha vem a pertencer o seu guia, se o guia dela é diferente daquele um homem mandou um centro que frequentava...
J. Herculano Pires - O problema de linhas também não é um problema do espiritismo. É na umbanda que existem as linhas. No espiritismo não.
Então quer dizer o seguinte: se esse guia se manifestou de maneira diferente daqueles guias de lá, se manifestou com uma linguagem superior, com ideias mais elevadas, quer dizer, pura e simplesmente que essa mulher deve trabalhar no espiritismo e não na umbanda.
Plateia - É isso o que eu queria saber.
Download Pergunta nº 5: Adivinhações
Locutor - Vamos continuar formulando a terceira pergunta, por favor.
Plateia - Professor, pode a dirigente espiritual, sem ter tido o ambiente preparado, ter manifestações dos seus guias, alegando na porta que fulano ou beltrano está com problemas de ordem física ou espiritual? Agora, diga-se de passagem, que já sabia de antecedência, na entrada, do problema de certa consulente.
J. Herculano Pires - Bom, isso é um problema que evidentemente nós temos de considerar, o senhor está falando de um centro, não é propriamente de um centro espírita, e sim de umbanda. Então, nós no espiritismo, não podemos permitir que essas coisas se passem no centro.
Agora num centro de uma outra corrente de pensamento espiritualista, nós não podemos interferir nem mesmo com a nossa opinião. Cada um tem a sua liberdade.
Nós achamos que, nesse caso, como eu disse já ao senhor, o que interessa é o senhor encaminhar a sua senhora a um centro espírita, onde ela possa desenvolver a sua mediunidade de acordo com as suas próprias capacidades mediúnicas. Ela já revelou, não só por isso, mas pelas próprias dúvidas que o senhor levanta aqui no momento, pelas perguntas que o senhor formula, a gente sente que nem ela e nem o senhor estão adaptados a esse meio.
Os senhores têm de procurar então centro espírita onde talvez se adaptem melhor. Naturalmente a sensibilidade mediúnica de sua mulher corresponde mais ao processo espírita e não ao sistema umbandista. Eu acho que o senhor devia se dirigir, por exemplo, a um centro espírita. O senhor mora em que bairro?
Plateia - Em Guarulhos.
J. Herculano Pires - Em Guarulhos... Lá em Guarulhos eu não me lembro de momento qual seria o centro que poderia lhe ser indicado, mas o senhor conversando com pessoas de lá, pessoas espíritas, facilmente descobrirá um bom centro espírita para que o senhor possa ir assistir a uma sessão, participar do assunto e, particularmente, começar a ler espiritismo! Leia o livro “Iniciação Espírita” de Allan Kardec. Com esse livro o senhor consegue realmente ter uma visão geral do espiritismo e compreender melhor os problemas da sua própria esposa. Porque nesse livro, “Iniciação Espírita”, além das partes teóricas do espiritismo que estão ali apresentadas, existe também o último volume desse livro – quer dizer, é um livro só, mas são três livros dentro dele –, o último volume se refere especificamente à mediunidade, manifestações mediúnicas.
Então o senhor ficaria bem informado. Tanto o senhor quanto ela precisam ler. E também “O Evangelho segundo o Espiritismo” de Allan Kardec.
Eu vou mesmo fazer o seguinte: aqui no programa, nós costumamos fazer um presente de irmão às pessoas que têm necessidade de algum livro assim. E eu vou lhe oferecer um presente de irmão. É o livro “Iniciação Espírita” de Allan Kardec. Esse livro o senhor pode retirar ou mandar alguém retirar em seu nome no escritório da Rádio Mulher, na Avenida Barão de Itapetininga, 46, 11º andar, conjunto 1.111, a partir de segunda-feira, sempre no horário comercial – pode ser no meio da semana, em qualquer momento, que o livro estará em seu nome.
Download Faça suas perguntas por carta ao programa No Limiar do Amanhã, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Durante a semana faça suas perguntas pelos telefones: 269.4377 ou 269.6130 e ouça as respostas pela Rádio Mulher de São Paulo 730khz, pela Rádio Morada do Sol em Araraquara 640khz e pela Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, Paraná, 780khz. Todas as semanas neste dia e neste horário.
Pergunta nº 6: Sexo do perispírito
Locutor - E continuamos com o nosso diálogo radiofônico como acontece toda primeira quarta-feira no auditório da Rádio Mulher. Entrevistando uma jovem, você pertence a algum grupo espírita? Plateia - [inaudível], Santo Amaro.
Locutor - Pode fazer a sua pergunta e o nome, por favor.
Plateia - Como?
Locutor - Diga o seu nome e faça a pergunta.
Plateia - Valentina Bechara, moro em Santo Amaro. Kardec nos foi bem claro quando disse que espírito não tem sexo, certo? Agora, sendo nosso corpo uma cópia exata do perispírito e o corpo ter órgãos genitais, logicamente o perispírito também o terá. Como deveríamos encarar esse fato?
J. Herculano Pires - Eu disse ainda há pouco tratando do perispírito, que quando nós falamos cópia exata, não é precisamente nesse sentido de exatidão física, mesmo porque o perispírito não é físico. Ele é, como diz Kardec, semi-material. Por outro lado, o corpo espiritual não é o espírito. O espírito é independente do perispírito. O espírito possui o corpo material e o corpo espiritual. Quando nós morremos, ele continua provido do corpo espiritual, mas ele mesmo não tem corpo. A senhora pode encontrar isso no próprio “Livro dos Espíritos”. Quando Kardec perguntou, por exemplo, a um espírito superior como ele poderia ver um espírito superior, o espírito respondeu que talvez aparecesse para ele como uma centelha, uma centelha etérea, porque os espíritos não têm forma. Entretanto, eles acrescentaram assim: não tem forma para vós; quer dizer, não têm forma para nós os homens, mas lá para eles tem, entre eles. Quer dizer, é um plano completamente diferente o plano do espírito. Quanto ao sexo, por exemplo, corresponderia no perispírito a um plexo. Plexo quer dizer um centro de força, um centro energético. Cada órgão do nosso corpo material corresponde a um plexo do perispírito. A um centro de forças do perispírito. É esta a correspondência que existe. Entretanto, nos espíritos em estado inferior, quando eles terminam de morrer, passam para o plano espiritual sem compreenderem o que houve com eles, eles continuam – graças à sua imaginação e às suas sensações que permanecem ligadas a vida material –, eles continuam se vendo como se estivessem num corpo material. Eles têm toda ilusão de um corpo físico.
Isso é muito comum de se verificar nas sessões espíritas onde se manifestam espíritos que morreram e não sabem que morreram. Porque eles estão se sentindo no seu corpo, estão se sentindo vivos. E como eles tinham aqui na Terra uma ideia errada da morte, pensando que a morte era a destruição total do ser, eles não podem acreditar que estão mortos, que morreram.
Nós temos também não apenas no espiritismo, mas em outras religiões e particularmente no judaísmo, temos uma série de informações bastante curiosas a respeito. Os livros dos rabinos judeus, não só da antiguidade, mas também dos modernos, nos contam fatos, episódios muito curiosos. Por exemplo, existe a Coleção Judaica, publicada aqui pela Difusão Europeia do Livro com a tradução de vários livros de rabinos judeus da Europa, particularmente da Europa Oriental, onde se acentuaram mais as produções de livro nesse sentido. Então nós encontramos ali alguns rabinos que contam fenômenos, fatos puramente espíritas nas suas lembranças, nas suas memórias, de espíritos que vinham falar com eles, rabinos, pedindo auxílio como se estivessem vivos ainda. Então eles costumavam dizer assim: você está no mundo da ilusão, você está pensando que está vivo, mas não está. Você já morreu.
De maneira que esse aspecto do espiritismo, de que muita gente acha que deve e pode zombar, porque acha que é absurdo uma pessoa que morreu não saber que morreu, aparece também em outras religiões do mundo, seguidas por longa tradição de manifestações nesse terreno. E realmente agora as próprias investigações parapsicológicas também estão confirmando essa verdade.
Então posso lhe responder assim: aquilo que “O Livro dos Espíritos” diz que “os espíritos não tem sexo”, é uma verdade absoluta no tocante ao espírito puro, não ao espírito dotado de um corpo espiritual.
Quando o espírito está no corpo espiritual, ele não tem o sexo do corpo físico, os órgãos físicos, mas ele tem a correspondência energética desses órgãos, entende?
Agora, quando o espírito não está nem no corpo material, nem no corpo espiritual, mas está independente, livre na sua posição de espírito, ele não tem sexo, porque entre os espíritos não há a divisão sexual. Todos os espíritos, sejam eles de homens ou de mulheres, são espíritos apenas. Por isso Jesus no Evangelho, quando perguntaram sobre a situação do judeu que tendo se casado com sete irmãs, não, da judia que ia se casar com sete irmãos, porque de acordo com a lei, a mulher do irmão mais velho quando o irmão morria se casava com o irmão seguinte e assim por diante, então ela teria se casado com sete irmãos. Mulher de que ela será no mundo espiritual? Jesus respondeu: os espíritos são como os anjos, de maneira que não há nem homem e nem mulher entre eles, não há esse problema.
Download Pergunta nº 7: Neandertal
Locutor - Estamos transmitindo diretamente do auditório da Rádio Mulher, entrevistando diretamente os nossos ouvintes que nesta noite nos brindam com as suas presenças.
Plateia - Boa noite professor Herculano, eu sou Valdo dos Santos Bezerra, moro a Rua Rui Barbosa, 1041, Campo Belo.
A minha pergunta, inicialmente não se prende tanto ao espiritismo. Eu sou interessado assim em literatura, assuntos arqueológicos e tudo relacionado a isso. E lendo há tempos um livro “Antes dos Tempos Conhecidos” de Peter Kolosimo, eu deparo numa das primeiras páginas, uma fotografia, uma fotografia que me deixou bastante surpreso, pois não julgava que pudesse ainda existir. É um ser que ele tem mais ou menos a capacidade intelectual que teria o homem de Neandertal, já uma raça extinta há bastante. Foi descoberto na África, mais precisamente perto do Marrocos. É uma tribo, talvez isolada. J. Herculano Pires - Sim.
Plateia - Agora logicamente me deixou surpreso. E não encontrei, sendo espírita, uma explicação para tal. Pensei até, inicialmente, que a experiência talvez tivesse falhado de alguma forma, algo relacionado à genética, né? Tivesse falhado e tivesse produzido quase que um monstro, para nós, século XX, com a inteligência que temos, né? Depararmos com um cérebro que não tem a capacidade de mil centímetros cúbicos. Agora nessa última revista Planeta apareceu um artigo na qual certos cientistas julgam que ao invés do homem descender do macaco, algo se processa ao contrário. É o macaco que descende... quer dizer, é o contrário.
J. Herculano Pires - É o homem que degenerou em macaco?
Plateia - É... isso devido a mitos...
J. Herculano Pires - Bom, essa fotografia que o senhor diz que aparece no livro, é uma fotografia de um espécime vivo, de um indivíduo que foi encontrado nessa situação primitiva?
Plateia - Exatamente.
J. Herculano Pires - Mas eles conseguiram verificar a existência de uma tribo ou de um clã, ou não conseguiram nada?
Plateia - Essa tribo existe. De acordo com o que o autor narra, essa tribo existe, e infelizmente eu não tinha a intenção de fazer a pergunta, eu poderia ter colhido dados mais assim precisos desse livro. Mas é muito fácil, qualquer pessoa que tenha lido esse livro “Antes dos Tempos Conhecidos”, de Peter Kolosimo...
J. Herculano Pires - Eu já vi esse livro, mas não li.
Plateia - Vai deparar logo nas primeiras páginas com a tal fotografia. Minha esposa, ela também viu e ficou bastante impressionada com isso.
J. Herculano Pires - Sim, mas aí do ponto de vista espírita, que é o que nos interessa, não importa, portanto, o fato em minúcias, apenas o ponto de vista espírita. Do ponto de vista espírita, não vejo motivo nenhum para susto, porque do ponto de vista espírita a evolução é um processo contínuo e ela traz consigo os seus resíduos.
Nós podemos ver na Terra mesmo, a diferença enorme que existe entre os homens civilizados e tribos africanas, por exemplo, como aquelas tribos existentes na África e já bastante conhecidas do mundo civilizado, de povos ainda rudimentares, de povos que ficaram, por assim dizer, atrasados no processo evolutivo.
Existem também entre os animais numerosos fatos semelhantes. Nós sabemos que na evolução das espécies, encontramos certas espécies antediluvianas, no sentido de classificação, que ainda estão vivas na Terra. A tartaruga mesmo é um desses elementos, continuam a viver. E esses fatos têm dado argumentos aos antievolucionistas para dizerem que não existe evolução. Mas na teoria ampla da evolução, nós sabemos que essas espécies constituem aquilo que chamamos os resíduos da evolução, tanto que eles vão ficando nos mundos em que a evolução avança e desenvolve formas novas, num crescendo contínuo, elas vão ficando como uma espécie de resíduo mesmo, reduzido sempre a uma produção pequena, determinada a certos lugares e não têm a amplitude das demais espécies que florescem e se desenvolvem nesses mundos. De maneira que não é nada demais que na espécie humana tenha sido possível a permanência ainda na Terra de alguns elementos de raças que já foram extintas.
Eu não sei até onde podemos dar veracidade a essa pesquisa desse homem, porque sabemos que nos livros publicados a respeito ultimamente, há muitos livros fantasiosos, porque uma vez que esses problemas despertaram muito a curiosidade humana, se fez realmente uma indústria de livros fantasiosos sobre problemas desta natureza.
Entretanto, vamos aceitar como bom esse livro e como verdadeiro. Eu não acho aí nenhum motivo de contradição. É possível que existam nessas raças extintas, dessas raças extintas alguns remanescentes em regiões bastante distantes do mundo, onde foi possível permanecerem elementos dessas raças. É possível porque esses elementos irão se desenvolvendo lentamente de acordo com o processo evolutivo, e a evolução se serve sempre das formas que ainda têm utilidade.
Por exemplo, nós sabemos que as formas funcionam no processo evolutivo como verdadeiros filtros. O princípio inteligente ou a essência espiritual atravessa as formas de encarnação em encarnação. Mas enquanto ele não atinge a condição suficiente para passar para uma forma superior, ele continua a encarnar-se em formas inferiores. E como existem atrasos naturais na evolução, porque há condições diversas do processo evolutivo que às vezes não permitem o aceleramento evolutivo do indivíduo que está passando por aquilo ou da unidade evolutiva, se assim podemos dizer, então existem também esses resíduos que permanecem principalmente nos mundos inferiores.
O nosso mundo, como o senhor sabe, é um mundo de provas e expiações. É um mundo inferior. Está sujeito a ter, como tem, as mais diferentes condições, os mais diferentes graus de evolução. Se nós estivéssemos num mundo superior, não teríamos a variedade de tipos humanos que temos aqui, indo desde o idiota até o gênio, desde o criminoso nato até o santo.
Nós vemos que a escala é muito variável da evolução em nosso planeta. Então aqui no nosso planeta pode haver muitas dessas surpresas, mas está perfeitamente dentro da doutrina espírita.
Download Pergunta nº 8: Ação sobre a natureza
Locutor - Continuamos então com mais uma pergunta.
Plateia - Eu gostaria de fazer outra pergunta. É o seguinte: sabemos que os espíritos agem sobre a natureza. Isto posto, eu faço uma pergunta em duas partes: primeira, qual o grau evolutivo dos espíritos que realizam essas ações? Segundo: se essas ações obedecem a leis mutáveis ou se estão sobre a decisão e responsabilidade dos espíritos que as comandam?
J. Herculano Pires - “O Livro dos Espíritos” tratando desse assunto diz, aliás, de maneira bem clara, que os espíritos incumbidos de trabalhar os elementos da natureza, os elementos naturais são sempre espíritos inferiores.
Há mesmo um trecho em que Kardec diz assim: “primeiro eles trabalham, eles trabalham obedecendo puramente aos seus instintos naturais que levam a funcionar naquele determinado plano da natureza em que se encontram. Depois eles se esclarecem, eles aprendem, e então eles passam a trabalhar em plano mais elevado”.
Os espíritos, segundo o espiritismo, são considerados como uma das forças da natureza. Assim como nós temos os animais que trabalham em toda natureza, quando, por exemplo, Pasteur descobriu o mundo dos micróbios e disse que havia animaizinhos pequeninos trabalhando dentro da natureza, em todas as coisas, e que podiam inclusive infiltrar-se no corpo humano, houve um escândalo científico no tempo – como nós sabemos, Pasteur foi perseguido e teve até de fugir, teve de se recolher numa província lá da França onde sem querer ele foi encontrar a vitória das suas teorias. Ora, então é meio difícil para muitas pessoas entenderem isto. Mas assim como existem os micróbios, os vírus, os elementos pequeninos da microbiologia, que vivem e trabalham na natureza, assim como existem os corais marinhos que conseguem construir ilhas no oceano, e os animais que trabalham nos rios, nas matas, por toda parte, produzindo elementos diferentes, assim existem dentro da terra, nas entranhas da terra, animais que também estão trabalhando o próprio elemento terreno.
Nós sabemos disso porque isso hoje já é conhecido cientificamente, mas o espiritismo traz uma nova dimensão para isso. O espiritismo mostra os espíritos agindo na natureza em toda parte. Espíritos ainda em estado inferior trabalhando dentro da terra, trabalhando nas águas, trabalhando no meio do mato, nas árvores, nas florestas, espíritos que são incumbidos de trabalhos na natureza. Assim, quando Kardec disse que os espíritos são as forças da natureza, ele coloca os espíritos na mesma posição desses elementos materiais que trabalham a natureza do ponto de vista visível.
Os espíritos existem, portanto, numa escala infinita de evolução. Desde o espírito mais primitivo, que não tem ainda nenhuma consciência, até o espírito superior.
Eu lembro sempre uma pergunta, uma resposta do “Livro dos Espíritos”, a resposta à pergunta 540. No final dessa resposta, o espírito disse a Kardec: “admirável lei de harmonia que o vosso limitado espírito ainda não pode compreender. Tudo se encadeia no universo, desde o átomo até o arcanjo que por sua vez já foi átomo”. Compreendendo-se bem isso, nós vemos a escala infinita dos seres. Dentro do átomo, na sua vibração contínua, existe uma energia viva, uma energia espiritual que ali está presente e que vai evoluir, que vai se desenvolver através das formas subsequentes da natureza até atingir o plano do arcanjo, até se individualizar, desenvolver as suas potencialidades internas e atingir o plano do arcanjo que é infinitamente superior à condição humana. Não é?
Então, quer dizer, em todo esse processo evolutivo, nós sabemos que os espíritos estão sempre trabalhando de acordo com a sua condição dentro da evolução, dentro da escala evolutiva.
Download O Evangelho do Cristo em espírito e verdade, não segundo a letra que mata, mas segundo o espírito que vivifica. O nosso ouvinte, o menino Carlos Eduardo Scaffi, abriu o Evangelho ao acaso, oferece-nos hoje a seguinte passagem: em Gálatas do capítulo terceiro, do versículo primeiro ao oitavo.
“Ó insensatos Gálatas, quem vos fascinou a vós ante cujos olhos foi representado Jesus Cristo como crucificado? Só isto quero saber de vós. Recebestes o espírito por obras da lei ou pela mensagem da fé? Sois tão insensatos. Tendo começado no espírito, estás agora vos aperfeiçoando na carne. Sofreste tantas cousas em vão? Se é que na verdade foram em vão. Aquele que vos subministra o espírito e opera milagres entre vós, acaso falou ele por obras da lei ou pela mensagem da fé? Justamente como Abraão creu a Deus e foi lhe imputado para justiça, sabei, pois, que os que são da fé, esses são filhos de Abraão."
O problema que Paulo enfrentava ao se referir aos Gálatas, enviando-lhes essa carta, era um problema de orientação religiosa, de orientação cristã, dentro do Evangelho. Paulo pretendia orientar com segurança as igrejas nascentes naquela época, quando o cristianismo estava se expandindo pelo mundo, começando a se desenvolver, ele queria dar toda segurança possível dentro dos princípios do cristianismo, porque as igrejas quase sempre eram logo de início influenciadas pelas religiões pagãs dominantes nas regiões em que elas nasciam. Nós conhecemos bem o poder de influenciar das religiões tradicionais, em todos os tempos, onde elas existem, dominando populações inteiras e quando surge uma inovação religiosa, uma renovação religiosa, elas naturalmente procuram defender-se e influenciam aquelas coletividades que se afastam do seio dessas religiões. Paulo lutava contra as infiltrações do paganismo, das religiões pagãs no meio cristão, da mesma forma que na Judeia ele lutava contra as infiltrações do judaísmo.
Nós sabemos que o cristianismo nasceu como uma verdadeira reforma do judaísmo. Jesus era judeu, foi criado, portanto, no meio judeu, recebeu educação judaica, formou-se na lei judaica. Entretanto, ele não ficou adstrito a essa condição; ele procurou superar os conhecimentos e as determinações legais da igreja do seu tempo e partiu para uma renovação conceptual da religião judaica. Nós sabemos que ele vinha já com essa missão, era esse o seu trabalho, era essa a sua razão de ser na encarnação entre os homens; ele vinha para remodelar o mundo, para dar um impulso novo à evolução do planeta em que nos encontramos, para fazer com que nossa humanidade progredisse. No seu tempo, nós sabemos que era prevalecente a chamada lei mosaica. Dentro dessa lei, que pertence às escrituras sagradas e que está na Bíblia, dentro dessa lei tudo era determinado de acordo com as regras da tradição judaica. E a lei devia ser obedecida em tudo e por tudo. Quando nós vemos nas escrituras a expressão “obras da lei”, nós estamos diante das práticas rituais do judaísmo.
Eram essas as obras da lei. Hoje nós confundimos isto. Muitas vezes criaturas que pertencem a ramos diferentes do cristianismo, acusam o espiritismo de querer a salvação pelas obras e dizem que o apóstolo Paulo afirmou que a salvação vem pela fé e não pelas obras. Sim, mas o apóstolo Paulo não disse apenas obras, ele disse obras da lei, e quando ele se referiu as obras da lei, ele que era um doutor da lei no templo de Jerusalém, ele estava se referindo aos ritualismos do culto judaico. Os judeus eram obrigados a submeter-se a esses rituais e a praticar as obras referentes a eles. Mas essas obras não consistiam naquilo que nós hoje chamamos as obras de caridade, de assistência social, as obras que realmente nos ligam à humanidade e ao cumprimento dos nossos deveres humanos. Não! Constituíam apenas obras no sentido simbólico referentes às práticas judaicas. Assim não há nenhuma razão para, por exemplo, dizermos que o espírita não se salva pela fé, mas sim pelas obras, pela prática da caridade através das obras.
Não. Paulo chamava atenção dos Gálatas, como chamou de outros cristãos primitivos, para o problema da fé, da fé em Cristo, a fé que não nascia das obras da lei, que não provinha dos ensinos do judaísmo, mas sim do cumprimento da profecia messiânica que se realizou em Jesus. Ora, esta fé está presente no coração de todos aqueles que são espíritas, porque o espiritismo, como desenvolvimento histórico, natural e profético do cristianismo, o espiritismo é a continuidade, portanto, do próprio cristianismo, o cumprimento da promessa do consolador do espírito da verdade. E dentro do espiritismo, todos aqueles que o praticam, realizando obras de assistência, obras de socorro ao próximo, entretanto se fazem essas obras é por impulso da fé que trazem em seus corações, a fé em Jesus Cristo nosso senhor.
Chegamos ao final do nosso programa de hoje e agradecemos aos ouvintes do auditório e de casa a colaboração que nos deram em busca da verdade. Esperamos que nos enviem suas perguntas por carta e telefone para os demais programas do mês. Por carta, à Rádio Mulher, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Por telefone, os seguintes números: 269.4377 e 269.6130 em São Paulo. Ouçam as respostas pela Rádio Mulher 730khz, pela Rádio Morada do Sol de Araraquara 640khz e pela Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, Paraná, 780khz. Todas as semanas, neste dia e neste horário.
No Limiar do Amanhã, um convite ao futuro.