No limiar do amanhã, um desafio no espaço. Ciência, filosofia e religião se encontram e se fundem num todo nas páginas do livro Provas Científicas da Sobrevivência do Professor Friedrich Zöllnerque reaparece nas livrarias. Há mais de dois anos a edição desse livro em nossa língua estava esgotada. O professor Zöllnerera catedrático de física na Universidade de Leipzig,na Alemanha, e deu ao seu livro na versão original alemã o título de Física Transcendental.
O problema do espírito é tratado por um físico eminente em termos de física. Bastaria isso para mostrar a atualidade dessa obra monumental do professor Zöllner. Neste momento os físicos soviéticos empenhados no esclarecimento do problema da anti-matéria estão embaraçados com a descoberta física do corpo espiritual do homem, a quem deram o nome de corpo bioplasmático. Este nome é suficiente para revelar que o perispírito, como ele é designado no espiritismo, constitui a essência do homem. Zöllnerjá havia provado isso no campo da física desde os fins do século passado.
O avanço dos conhecimentos humanos está provando a legitimidade da tese espírita de que ciência, filosofia e religião não as formas antagônicas do conhecimento. Pelo contrário, são formas que se harmonizam, correspondendo cada uma delas a um campo do saber. Se o saber fosse contraditório em si mesmo, não poderia conter a visão real das coisas. A doutrina espírita restabelece a unidade do saber e, portanto, a unidade do conhecimento que a fragmentação materialista havia destruído. O espírito é o objeto de todas as formas do conhecimento. A ciência o investiga através da pesquisa. A filosofia o examina à luz da cogitação filosófica. A religião o encara através da fé amparada pela razão. A fé sem razão é cega e leva ao fanatismo. Só a fé racional conduz ao conhecimento. Por isso, o espírita pode dizer, como fez o escritor Dennis Bradley, “eu não creio; eu sei”. Crer é apenas crer, mas saber, é crer naquilo que se conhece.
No limiar do amanhã, um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emanuel. Transmissão número 130. Terceiro ano. Direção e participação do professor Herculano Pires.
Este programa é dirigido a todos os que querem saber, a todos os que não se contentam com a fé cega, a todos os que buscam a verdade com a mente arejada, despida de preconceitos. Um programa que desafia os que negam a sobrevivência do homem após a morte e desafios que sustentam os mistérios da morte.
O que morre é apenas o corpo. O espírito é imortal.
O mistério da morte foi desvendado pelas pesquisas espíritas. Morrer não é morrer, é mudar-se, como afirmou Victor Hugo. No fenômeno da morte, o espírito se desprende do corpo material e passa a viver no plano espiritual, com seu corpo apropriado a esse plano, o perispírito ou corpo espiritual.
Os parapsicólogos atuais provaram que o espírito de um morto pode comunicar-se com as pessoas vivas. Agora os físicos e biólogos materialistas acabam de provar que o homem possui um corpo energético e que esse corpo se retira do corpo material no fenômeno da morte. Os professores de parapsicologia que ensinam o contrário disso em seus cursos populares promovidos para ganhar dinheiro e combater o espiritismo estão semeando o erro e a mentira. Não se aprende parapsicologia com pessoas incumbidas de combater o espiritismo, porque o espiritismo é a própria base da parapsicologia. Essa nova ciência é filha da ciência espírita e vem provando sistematicamente, através das pesquisas atuais, tudo quanto o espiritismo já provou a mais de um século.
Não gaste inutilmente o seu dinheiro pagando professores que ensinam mentiras e desfiguram a verdade. Empregue bem o seu dinheiro comprando livros sérios de parapsicologia e lendo-os com atenção. Livros sérios são de autoria de cientistas e não de pregadores religiosos. São livros que ensinam com dados seguros, citando as fontes das pesquisas cientificas as fontes dos dados em que se apoiam. Cuidado, amigo ouvinte! Os falsificadores da parapsicologia dão seus cursos mentirosos por toda parte e soltaram seus livros enganadores em todas as livrarias. São os comerciantes da mentira, os passadores de um novo conto do vigário. Matão, capital espírita.
As comemorações do 65º aniversário de Matão repercutiram bem na imprensa na imprensa paulistana. As mínimas peculiaridades dessa idade foram lembradas. Mas uma das mais importantes e significativas ficou para as calendas gregas. Esquecimento, negligência ou preconceito? Não há dúvida possível. Exclusão deliberada por preconceito religioso.
Quando Matão foi levada à categoria de município, em 1898, o primeiro presidente de sua Câmara Municipal foi Cairbar Schutel, cargo que abrangia no tempo as funções de prefeito. Schutel, católico praticante, anos depois tornou-se espírita e fundou em 1905 o Centro Espírita Amantes da Pobreza. Sendo o farmacêutico da cidade e homem extremamente caridoso, o povo o cognominou de “médico dos pobres”. Sua atuação no campo assistencial repercutiu por toda região e depois pelo estado e pelo Brasil. Tornou-se uma figura humanacomentada em toda parte.
A 15 de agosto de 1905 fundou o jornal O Clarim e a 15 de fevereiro de 1925, auxiliado por Luís Borges, fundou a Revista Internacional de Espiritismo. Esta revista tornaria Matão conhecida no mundo. Figuras de projeção mundial, como o escritor Conan Doyle, o fisiologista e Prêmio Nobel Charles Richet, o físico Sir Oliver Lodge, o filósofo e metapsiquista italiano Ernesto Bozzano passaram a colaborar na revista e tornaram-se correspondentes de Cairbar Schutel.
Logo mais era fundada a casa editora O Clarim que lançou numerosas edições, incluindo traduções do inglês e do francês. Matão se projetava na América e no mundo como um importante centro editorial e sede de uma revista internacional ilustrada de fatura gráfica excelente circulando nos meios científicos da Europa e da América. A revista, o jornal, a editora continuam em pleno desenvolvimento e circulação no Brasil e no exterior. O centro continua em plena atividade.
Todos estes episódios foram esquecidos por tratar-se de espiritismo. Em compensação, deu-se maior destaque à valsa Saudades de Matão, do maestro Pedro Perches, e aos tapetes de flores que ornamentam tradicionalmente a cidade nas festas religiosas. Longe de nós negar o valor desses dois elementos característicos da cidade de Matão. Mas porque a sonegação ao público de todos os episódios históricos acima mencionados? Pode alguém ignorar esses fatos ao tratar de Matão? Pode alguém negar o significado cultural e o conteúdo histórico de tão ativa participação de Cairbar Schutel na vida de Matão?
Não tem esse nosso registro nenhum sentido de protesto. É apenas uma reparação. Queremos dar a Cairbar Schutel e a Luís Borges o lugar que merecem e que lhes foi negado nas celebrações do 65ºaniversário da elevação da cidade a município. A Schutel, que foi o primeiro prefeito de Matão e não cometeu nenhum crime para sofrer a injusta omissão, aLuís Borges, que foi o elemento de ligação da obra de Schutel com os meios científicos de Londres e Paris, e aos que hoje continuam em Matão o extraordinário trabalho de Cairbar Schutel.
Charles Richet, Prêmio Nobel de fisiologia em 1913 e diretor da faculdade de medicina da Universidade de Paris, só em duas cartas definiua sua posição diante dos problemas da sobrevivência do homem após a morte em face das pesquisas metapsíquicas por ele iniciadas e desenvolvidas no mundo. Uma dessas cartas foi dirigida a Ernesto Bozzano, na Itália; a outra, a Cairbar Schutel, em Matão. Negar a importância histórica desse fato, que decorre naturalmente das atividades excepcionais de Schutel, é fraudar a história.
Não negamos a ninguém o direito de se opor aos princípios espíritas e de combater o espiritismo, mas não podemos reconhecer a ninguém o pretenso direito de sonegar ao público, por simples direito de preconceito religioso e na era ecumênica, fatos históricos desse valor, dessa elevada significação cultural e espiritual.
Perguntas e respostas.
Pergunta nº 1: Roustaing, Emmanuel e André Luiz
Locutor - Professor, nosso ouvinte Antônio Lara,da Rua Mungará, na Lapa, pergunta: acabo de ler vossa obra em parceria com Júlio de Abreu Filho,O Verbo e a Carne. É sem dúvida uma obra oportuna. Eu sempre propaguei aos quatro ventos que Roustaing, além de mistificador, foi também um autêntico plagiador de Allan Kardec, de quem foi contemporâneo. Existe por aí outras duas obras do mesmo gênero, O Grande Evangelho de João,que se compõe de diversos volumes, e A Vida de Jesus Escrita por Ele Mesmo. Mas diante dessas mistificações grosseiras, por que Emmanuel e André Luiz não se manifestam? Eles têm autoridade moral para tanto. Viana de Carvalho na obra À Luz do Espiritismo é claríssimo a este respeito.
J. Herculano Pires - Eu compreendo a sua preocupação com uma declaração possível de Emmanuel ou de André Luiz a respeito desses casos de mistificação. Acontece que Emmanuel e André Luiz não falam diretamente a nós. Eles se servem de um instrumento mediúnico, que é Chico Xavier, e este instrumento mediúnico, bastante sensível, ficaria exposto a todas as vibrações contraditórias de uma polêmica que se travasse em torno de qualquer desses dois assuntos, ou em torno de todos os problemas e casos de mistificação existentes no meio espírita ou fora do meio espírita. É justamente por isso, levando em consideração a necessidade de respeitar e preservar o instrumento mediúnico de influências deletérias perigosas – pois quea missão de Chico, como sabemos, como temos visto, é uma das missões mais importantes no meio espírita brasileiro, com repercussões pelo mundo todo –, é com a intenção de preservar isso que tanto Emmanuel como André Luiz, como outros espíritos numerosos, inclusive Bezerra de Menezes, se calam, não dizem nada a respeito.
Entretanto, às vezes o silêncio é mais expressivo do que a palavra. Basta lembrarmos o seguinte: há quarenta anos, Chico Xavier desempenha suas funções mediúnicas, recebendo mensagens de todos estes espíritos elevados e de muitos outros, cerca de quinhentos espíritos já deram suas comunicações, aliás, mais de quinhentos através de Chico Xavier. Nenhum deles, nesses quarenta anos, fez a menor apologia ou a menor referência de aprovação a qualquer dessas obras de mistificação. Pelo contrário, todos estes espíritos insistiram sempre na defesa dos postulados kardecianos. Procuraram valorizar a obra de Kardec, encarecer a necessidade de a estudarmos a fundo, pois que ela representa, na verdade, a base de toda doutrina espírita. O próprio Bezerra de Menezes, apontado como tendo sidoroustainguista em vida, só se comunica através de Chico para nos dizer: é preciso estudar Kardec, ler Kardec, aprender Kardec, memorizar Kardec, viver Kardec. Ele insiste nisto constantemente como quem diz: não é preciso que eu me refira a mais nada; insistindo em Kardec, eu estou mostrando a legitimidade desta obra e a necessidade de se aprofundar no seu conhecimento. Este silêncio é mais expressivo do que as palavras. Ninguém pode contestá-lo: um silêncio de quarenta anos sobre a obra de Roustaing e sobre todas essas outras obras de mistificação; nem uma palavra a favor delas. Precisaríamos, por acaso, de maior prova da posição dos espíritos neste caso? É por este motivo que eles não se manifestam contra. Primeiro,preservando o médium; segundo,evitando polêmicas estéreis desnecessárias no meio espírita, evitando até mesmo de que seus nomes e suas mensagens sejam envolvidos nessas polêmicas. Nós sabemos que temos a necessidade de nos opor a essa onda de mistificações.
As mistificações veem naturalmente do mundo das trevas, dos espíritos que querem confundir a nossa mente e perturbar o nosso raciocínio diante da claridade meridiana da obra de Kardec. É preciso também acentuar que quando falamos “a obra de Kardec” não estamos personalizando essa obra. O próprio Kardec mudou de nome para assiná-la. O nome dele, como sabemos, não era Kardec. Ele adotou o nome de uma encarnação anterior, Allan Kardec, para impessoalizar o seu trabalho espírita, para que não confundissem ele, o professor Denizard Rivail, com a figura apostolar que surgia no momento em que ele começava a codificação e a divulgação dos princípios espíritas no mundo. Ele fez questão de se declarar sempre como secretário dos espíritos. Nunca ele se disse autor, criador do espiritismo. Pelo contrário, ele foi o primeiro a demonstrar que os fatos espíritas vêm desde todos os tempos, mas que somente através das comunicações regidas pelo espírito da verdade, segundo a promessa do próprio Cristo no evangelho, somente a partir dessas comunicações a doutrina espírita se corporificou na Terra através dos volumes da codificação do espiritismo. Assim considerando e assim compreendendo, nós temos de também lembrar que o nosso dever diante da verdade espírita é defendê-la contra as mistificações. Mas esse trabalho é nosso, dos homens, não devemos querer envolver neles os espíritos. Eles permanecem no mundo superior, no mundo em que só se interessam pela verdade e procuram esquecer a mentira para não incentivá-la; procuram esquecer a mentira para que ela não afete aqueles que ingenuamente podem interpretar certas frases, certas expressões, mesmo que eles a rebusquem na sua sensibilidade para nos transmitir uma mensagem que não seja ofensiva aos outros, aqueles que procuram encontrar nessas coisas um apoio qualquer à mentira. É muito melindroso este problema. Para nós espíritas, no meio humano em que vivemos, não apresenta esses melindres, não apresenta essas suscetibilidades que podem ser feridas, e esses pontos nevrálgicos que podem ser tocados. Mas para os espíritos, é um problema muito sério. Eles evitam entrar nessas polêmicas, nesse redemoinho de opiniões e de paixões que podem muitas vezes causar transtornos. Cumpramos a nossa obrigação. Como espíritas encarnados na Terra, sustentemos a verdade, defendamos a verdade dessas mistificações, sempre, naturalmente, pautando a nossa defesa pela linha do esclarecimento e não da polêmica estéril. A linha do esclarecimento de maneira a podermos levar a todos aqueles que têm qualquer dúvida a respeito desse assunto à clareza mais meridiana possível. Foi por isso que em O Verbo e a Carne eu preferi começar com uma análise lógica, puramente lógica do problema de Roustaing, e só não pude continuar nessa análise porque a própria obra, pela sua grosseira forma de mistificação, não permitiu que se analisasse mais nada. Era preciso, então, que se apontassem mesmo erros, os enganos, os absurdos, que não houvesse dúvidas a respeito disso. Mas assim mesmo, procuramos evitar, no máximo, as atitudes que pudessem criar situações difíceis no meio espírita.
Temos o dever inalienável de defender a verdade, e precisamos não nos esquecer disso. Eu agradeço a sua carta, as suas referências ao livro O Verbo e a Carne, e agradeço principalmente por nos dar a notícia feliz de que o senhor já há muito vem no mundo espírita se opondo a todas essas mistificações que realmente o são, tanto O Grande Evangelho de João quanto A Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo, que é um absurdo tão grande quanto Os Quatro Evangelhos, de Roustaing.
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Pergunta nº 2: Corpo no céu
Locutor - Professor, o ouvinte Enéas Galvão da Silva pergunta: durante a pregação proferida por um sacerdote romano, ouvi o mesmo dizer, entre outras coisas, que Maria Santíssima foi levada ao céu em corpo e alma pelos anjos. Como encara o espiritismo esse acontecimento?
J. Herculano Pires - Esse acontecimento não existiu, não houve, nem poderia haver.
O céu, afinal de contas, o que é? Nós sabemos que o céu é espiritual. A menos que interpretemos o céu como infinito que nos rodeia e, portanto, também material. Mas porque o corpo de Maria seria elevado a esse infinito material quando o seu destino natural é aqui na Terra? De maneira que no espiritismo nós não admitimos isso. Isso é um dogma da igreja. Respeitamo-lo diante da crença de todos aqueles que o admitem, mas no espiritismo não podemos aceitá-lo. Consideramos que Maria, nossa senhora, Maria de Nazaré, mãe de Jesus, foi um espírito elevadíssimo, um espírito puro, e quando partiu para a espiritualidade, ela partiu como espírito. A interpretação errônea aí vem naturalmente do dogma que considera a ressurreição de Jesus como uma ressurreição carnal. Nós sabemos, e o próprio apóstolo Paulo é quem disse isto – não somos nós que dizemos, está lá na primeira epístola do apóstolo Paulo aos coríntios –, que o corpo da ressurreição é o corpo espiritual. E para deixar bem claro o apóstolo Paulo diz que se o Cristo ressuscitou, nós também ressuscitaremos, pois todos nós temos esse mesmo corpo, de maneira que o problema já foi definido na era apostólica pelo apóstolo Paulo que, como nós sabemos, era aquele a quem Jesus comunicou o seu evangelho diretamente para que ele corrigisse com sua sabedoria, com a sua elevada inteligência os erros cometidos pelos outros apóstolos na propagação do evangelho. Dessa maneira, não podemos aceitar, no espiritismo, esse dogma da elevação de Maria ao céu com seu próprio corpo material. Porque o lugar do corpo material é na Terra, e a ressurreição se processa pelo corpo espiritual.
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Pergunta nº 3: Espírito e corpo
Locutor - Outra pergunta do ouvinte Enéas Galvão da Silva: ensinava o mesmo pregador que Deus,ao criar o homem, criou primeiro o corpo; por último, criou o espírito para animar o corpo. Qual a sua opinião sobre tão importante caso?
J. Herculano Pires - Essa é outra interpretação errônea porque naturalmente a igreja, neste sentido, não leva em conta aquele princípio espírita de que a criação é una, a criação feita por Deus parte, primeiramente, do espírito, e a seguir da matéria. Porque do espírito e depois da matéria? Porque o espírito é uma própria emanação de Deus, é o seu próprio pensamento, é a sua própria virtude, por assim dizer, emanando sobre o vácuo, sobre o cosmos vazio. Vazio naturalmente para nós, porque o cosmos estava cheio da presença de Deus. Mas, nesta emanação do espírito, nós temos então o primeiro ato da criação. E do espírito é que vai resultar a matéria. Por isso, as próprias ciências hoje estão descobrindo que a matéria não é nada mais do que condensação de energia. Condensa-se a energia e produz a matéria. Consequentemente, primeiro existiu a energia, e a energia provém do espírito porque a matéria não produz energia própria. É o espírito que transmite energia à matéria, que vivifica a matéria, que dá forma à matéria. Portanto, a posição espírita neste assunto é também bem clara, bem definida no próprio Livro dos Espíritos. A criação do homem não foi feita como um boneco que é elaborado numa olaria, numa cerâmica, como uma estátua na qual depois Deus assopraria como consta da Bíblia alegoricamente, o sopro da vida. Não. Isto é apenas uma alegoria, uma imagem para nos dar naquele tempo em que ainda não podíamos entender essas coisas, uma figura da verdade que seria revelada mais tarde. Hoje, que a ciência avançou, que os homens progrediram, que a humanidade caminhou no vasto caminho da evolução em direção a mundos superiores, hoje nós já podemos dizer com toda clareza diante do esclarecimento trazido pelo espírito da verdade: Deus criou o homem realmente, tirando-o do limo da terra, mas não por essa forma, e sim através da evolução do princípio inteligente do universo.
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Pergunta nº 4: Lembrança de lugar sem importância
Locutor - Perguntas e respostas. Continuamos a responder, desta vez o nosso ouvinte Herbert Cremer, da Avenida Indianópolis, que pergunta: acompanho seu programa com maior interesse, pois dá-me esclarecimentos valiosos e tão necessários sobre o meu ser hoje e o que poderei ser futuramente na vida espiritual à qual estou me aproximando, já que tenho setenta e três anos de idade. Recebo de cada programa explicativo o valor da calma e da beleza do futuro. Tive o prazer de encontrar-me pessoalmente com o senhor no auditório da rádio quando cumprimentou-me de Papai Noel. Hoje quero fazer-lhe duas perguntas. Quando ouço seu programa, sem querer e sem concentrar-me para isso, e sempre e somente nessas condições, vejo-me em certo local onde passei ou a sessenta, ou a sessenta e quatro anos atrás na Suíça. O local é uma horta cercada e posso descrever com todos os detalhes. Mas como lá não tive nenhum acidente ou movimento impressionante, mesmo de trabalho, desejo saber se haverá para mim uma futura chamada para este local tão distante e sem valor pessoal para mim.
J. Herculano Pires - O senhor Cremer foi chamado por nós no auditório da Rádio Mulher quando aqui esteve de Papai Noel. Mas por quê? Porque foi precisamente num programa de vésperas de Natal e o senhor Herbert Cremer, ao aparecer aqui, veio muito satisfeito por participar de um programa de Natal e explicou-nos que lá em Indianópolis ele tem representado todos os anos a figura de Papai Noel. Aliás, deve ficar uma figura impressionante, realmente lembrando o velhinho do Natal, porque o senhor Herbert Cremer tem fisicamente as condições mais favoráveis para essa representação de Papei Noel. Foi por isso então que ele se lembrou, aqui na carta, de que nós o chamamos de Papai Noel, porque ele é realmente o Papai Noel de Indianópolis.
Senhor Cremer, esta sua pergunta nos leva a lembrar ao senhor o seguinte: o local que o senhor fala lá na Suíça não teve par a o senhor nesta existência nenhum sentido especial; não houve ali acontecimento importante nenhum da sua vida. Não obstante, este local ficou fixado na sua memória. O senhor pode não ter lembrado dele em outras ocasiões, mas quando, ao ouvir este programa, o senhor naturalmente cai num estado emocional favorável, a lembrança sobe do seu inconsciente, da sua memória profunda, e o senhor revê este lugar, aparentemente sem significação. Mas nós sabemos que nada acontece por acaso. Não quero dizer que o senhor vai ser chamado para uma reencarnação lá nesse lugar. Não. Podem ser outras coisas que ocorram com o senhor no futuro. Por exemplo, o senhor se lembrar de que já viveu nesse lugar anteriormente, de que o senhor tem,talvez, uma ligação simpática com esse local, porque ali o senhor pode ter tido algum acontecimento feliz da sua vida passada. Pelo que o senhor descreve, a lembrança lhe vem de maneira agradável e feliz. Portanto, não há que se preocupar com isto. O seu espírito mais hoje, mais amanhã irá ter a informação necessária daquilo que ocorreu. E se não tiver nessa existência, terá forçosamente quando o senhor entrar no mundo espiritual para onde nós todos iremos. E quem sabe um dia nos encontraremos lá, senhor Cremer, para trocar ideias sobre este assunto?
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Pergunta nº 5: Antroposofia
Locutor - Temos ainda, professor, mais uma pergunta do nosso ouvinte senhor Herbert Cremer, o Papai Noel: desejo saber pela ciência espírita o valor da antroposofia.
J. Herculano Pires - A antroposofia, senhor Cremer, é uma doutrina espiritualista que nasceu na Áustria, em Viena, através de um estudioso, um intelectual austríaco que era muito amigo de Stephan Zweig. Ele criou essa doutrina, essa doutrina é pessoal dele. Uma doutrina espiritualista que naturalmente, partindo da mente de um homem bastante culto, inteligente, capaz, representa realmente uma doutrina importante no campo do espiritualismo. Para o espiritismo, essa doutrina não pode ter, naturalmente, o mesmo valor que a doutrina do Espírito da Verdade,porque ela partiu da elaboração mental de um homem, de um home que, embora muito inteligente, muito capaz, não pode ter o conhecimento que os espíritos superiores transmitiram a Kardec, conhecimento direto do mundo espiritual e que foi confirmado por Kardec através de pesquisas. A diferença que existe entre essas doutrinas pessoais, particulares, e o espiritismo é precisamente essa: elas são elaboradas por uma pessoa inteligente, culta, dotada de grande capacidade de imaginação e de elaboração lógica, de uma elaboração racional de uma doutrina, mas esta pessoa não está fundada nas pesquisas, nas experiências e nas revelações mediúnicas que foram dadas a Kardec para a elaboração da doutrina espírita. Portanto, perante a doutrina espírita, a antroposofia, como qualquer outra corrente espiritualista, tem o seu valor como uma contribuição, uma contribuição dada por alguém em favor da espiritualização do homem. As pessoas que se interessarem pela antroposofia e que sintonizarem o seu pensamento e o seu sentimento com ela, certamente encontrarão nessa corrente espiritualista um caminho de evolução espiritual. O espiritismo não a condena. Mas nós preferimos, naturalmente, a nossa doutrina espírita, pelos seus fundamentos proféticos, históricos e científicos que realmente nos oferecem maior segurança de verdade no esclarecimento dos problemas espirituais.
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Pergunta nº 6: Congelamento humano
Locutor - Professor, nosso ouvinte João Paulo Lorenzon, da Rua Vitória, pergunta: sendo assíduo ouvinte e admirador profundo de seus programas, mas infelizmente por motivos outros não pude acompanhar alguns de seus programas, venho solicitar-lhe explicações quanto ao congelamento de seres humanos face à doutrina espírita. Pergunto: num ser congelado, o espírito desliga-se por completo, continuando seu trabalho de evolução no espaço? Se esse mesmo se for congelado dentro de dez ou vinte anos, o que no momento é impossível, pois ainda não foi descoberto um método eficaz para o descongelamento, nem a cura para a doença, haverá possibilidade de vida? Em caso afirmativo, será reatado a esse corpo o mesmo espírito?
J. Herculano Pires - Este problema do congelamento de corpos de pessoas que foram atacadas por moléstias consideradas incuráveis pela ciência, este problema revela apenas o seguinte: que as pessoas continuam ainda muito apegadas ao conceito de vida considerado orgânico. A vida, para essas pessoas, só existe no corpo, na matéria, e por isso elas querem salvar de qualquer maneira a sua vida atual, querem escapar da morte. O congelamento é uma forma de escapar da morte. A pessoa está condenada à morte pelo câncer, por exemplo, mas como dispõe de dinheiro suficiente, contrata com uma clínica especializada, como as muitas que se formaram nos Estados Unidos ultimamente para esse fim, o congelamento do seu corpo para que ela não morra, para que ela fique mantendo no seu organismo uma vida tênue apenas o suficiente para manter a vida vegetativa do organismo através do congelamento, na esperança de que, amanhã ou depois, descoberto um remédio para o câncer, ela possa ser ressuscitada e curada daquela doença para continuar a viver. Como se vê, é simplesmente uma tentativa de fugir da morte pela porta do congelamento.
Ora, nós sabemos que a nossa vida na Terra tem uma finalidade que é a nossa evolução. Nós enfrentamos aqui em cada existência um carma determinado, quer dizer, uma série de consequências das nossas existências passadas que nós temos de sofrer aqui em benefício do nosso próprio progresso. Mas o nosso corpo não pode durar eternamente. O nosso corpo é feito de matéria e matéria se desgasta, os órgãos perdem a sua vitalidade, a sua flexibilidade, envelhecem, deterioram-se. Tudo na Terra sofre este processo de deterioração, desde o reino mineral até o reino humano. Então, querer lograr a natureza, querer fugir a essa lei natural, inevitável, através de processos artificiais, para o espiritismo, é simplesmente tentar o absurdo. Não se escapa da morte nem pela porta do congelamento, nem pela porta de qualquer outra invencionice científica do nosso tempo. As pessoas congeladas já morreram. Pode-se manter um organismo vivo através da sua vida puramente vegetativa, como um coração que fica batendo num vaso de laboratório durante muito tempo, mas seria tolice pensar que o espírito está ali dentro daquele coração. O espírito já se desligou. O que está ali é apenas o princípio vital sustentado pelos elementos materiais que o alimentam, como um fogo tênue que fosse sustentado pelos elementos que a gente fornece ao fogo para ele não se apagar. Simplesmente isto. Mas o espírito não está presente ali naquele corpo. O corpo congelado nada mais é do que a morte transferida para um processo artificial, porque, na verdade, o espírito se retira deste corpo; ele não pode ficar ali, perdendo inutilmente seu tempo através dos anos, à espera de uma ressurreição absurda. A ressurreição na carne se dá pela reencarnação. Os espíritos voltam à vida terrena depois da morte orgânica, porque no mundo espiritual, eles se preparam para uma nova encarnação que lhes garantirá a continuidade do processo evolutivo de que eles necessitam.
De maneira que essas tentativas científicas que escapam praticamente àquela busca real que a ciência deve fazer no sentido de maior conhecimento dos problemas do corpo orgânico, da vida humana na Terra, para descambar para o terreno da fuga à realidade inevitável da morte, essas tentativas não têm sentido nenhum para o espiritismo. Diante da doutrina espírita, elas nada mais representam de que a ignorância do homem diante do processo da sua própria evolução.
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Pergunta nº 7: Rochester
Locutor - Professor, nossa ouvinte Maria Cristina Brook pergunta: o senhor aceita as obras de Rochester como sendo obras espirituais?
J. Herculano Pires - Sim, não há dúvida. O Conde de Rochester era um espírito que se comunicava através de médiuns, e esse espírito, naturalmente, nos deu uma porção de obras bastante interessante do ponto de vista do romance espírita. Eu discordo, entretanto, de certos aspectos desses romances. Há momentos em que ou houve interferência de outras pessoas nas traduções, ou mesmo na publicação desses romances, ou houve interferência do médium nos momentos em que nós vemos que o Conde de Rochester entra muito para o campo da imaginação e muitas vezes cai até em contradições históricas, o que tira um pouco o valor das suas obras. Mas, apesar disso, nós temos de reconhecer que o Conde de Rochester procurou realizar, como espírito,um trabalho de esclarecimento de vários ângulos dos problemas espirituais do mundo através dos seus romances. Deixando, portanto, de lado essas pequenas falhas que notamos como interferências possíveis, seja do médium, seja de outras pessoas, na verdade, a obra de Rochester é uma obra respeitável.
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Chegamos, amigos ouvintes, à hora do evangelho de Jesus em espírito e verdade. Não para sermões, mas para explicações.
O evangelho, aberto ao acaso, nos deu o seguinte texto, em Ap, 22:08-09, a seguinte passagem:
Eu, João, sou o que ouvi e vi estas coisas. Quando as ouvi e vi, prosternei-me para adorar ante os pés do anjo que mais mostrava. Ele me disse: Vê, não faças tal. Sou servo contigo, com teus irmãos, os profetas, e com todos aqueles que o guardam as palavras deste livro. Adora a Deus.
Estas palavras, estes versículos, estão praticamente no final do livro o Apocalipse que é o último livro do Novo Testamento, como sabemos. O Apocalipse é um dos livros de mais difícil discussão, de mais difícil debate, porque é de mais difícil interpretação. No meio religioso do cristianismo, em suas várias religiões, em seitas e ramificações, nós encontramos interpretações as mais diversas para as passagens, os versículos deste livro que é o Apocalipse de São João. Sabemos que João recebeu este Apocalipse na Ilha de Patmos e que, ao recebê-lo, ele considerou que era o próprio Jesus quem estava lhe transmitindo uma mensagem profética através das alegorias que enchem todo este livro do Apocalipse de um brilho e de uma beleza estranha, cheio de imagens muitas vezes fulgurantes e, às vezes, assustadoras. Entretanto, a verdade é que este livro se insere, por assim dizer, na sequência dos muitos apocalipses que naquele tempo eram publicados na Judéia.
Houve na Judéia uma fase apocalíptica. Essa fase é bem definida pelos historiadores do cristianismo, por aqueles que pesquisaram o processo do advento e propagação do cristianismo em nosso mundo e que continuam estudando até hoje, descobrindo novos materiais de estudo, novas inscrições, novos documentos que possam ir esclarecendo pouco a pouco como nasceu e se propagou o cristianismo. Ora, o que se sabe em definitivo desde Renan, das pesquisas de Renan até as pesquisas atuais [inaudível] e outros, o que se sabe em definitivo é que a era apocalíptica nos deu mais ou menos uns cem ou mais apocalipses que se propagaram por toda Judéia. Todos eles referiam-se a fatos espantosos, a calamidades terríveis que iriam se abater sobre Jerusalém, sobre a cidade santa, sobre a Terra, e iriam transformar o mundo. Entretanto, o apocalipse de João, por ter sido aquele que o recebeu uma figura exponencial do cristianismo nascente, e um apóstolo que nos mostrou principalmente pelo seu evangelho, o evangelho de João, a grandeza do seu espírito e ao mesmo tempo da sua inteligência, por ser, portanto, proveniente de um espírito dessa altura, dessa envergadura, o apocalipse de João foi considerado muito especialmente pelos cristãos como um documento importante da profecia messiânica que começou com o advento de Jesus Cristo. Não obstante, os historiadores do cristianismo acham que esse apocalipse se refere particularmente à época do império romano. Toda destruição que viria, toda modificação que surgiria estava sendo profetizada com referência à queda do império. Porquê? Porque a queda do império era a morte de um mundo, do mundo antigo, de toda uma civilização assentada nos princípios da força, da violência, não obstante as tinturas de racionalismo e de direitos que lhe foram dadas por gregos e romanos. Esse mundo bárbaro, esse mundo de matanças brutais, de lutas fratricidas, iria morrer. Então haveria a destruição total desse mundo e sobre ele, um novo mundo iria nascer – como disse Victor Hugo em seu prefácio de sua peçaCromwell– iria nascer um novo mundo que surgiria do cadáver do mundo antigo. Ora, esse novo mundo que iria surgir é considerado no Apocalipse como a nova terra e o novo céu que vão aparecer. Realmente apareceram uma nova terra e um novo céu com o advento do cristianismo. Mas este pequeno trecho encerra um símbolo bastante importante para nós quando vemos que João queria ajoelhar-se aos pés do anjo revelador, do anjo que diante dele se apresentava e que ele considerava como emissário direto do próprio Cristo, ou como sendo o próprio Cristo. João queria beijar os pés desse anjo e adorá-lo, e o anjo se recusou a toda adoração dizendo a ele que se lembrasse de que eram todos irmãos. Ele, o anjo, era irmão dos profetas, irmão dos pregadores, irmão de todos os que lutavam pela evolução espiritual do homem. E essa frase, essa atitude do anjo tem um sentido muito profundo diante do esclarecimento espírita do problema, porque nos mostra aquilo que o espiritismo mostrou: é preciso considerar Jesus, considerar os espíritos superiores por mais elevados que sejam, não como representando o próprio Deus ou como sendo uma parte de Deus, mas sim como sendo nossos irmãos maiores, nossos irmãos mais evoluídos.
No Limiar do Amanhã é um programa dirigido a todos que desejam saber, aos que não se contentam com as verdades feitas, curtidas no vinagre da rotina, mas querem abrir a mente para as novas dimensões da era do espírito, da conquista do cosmos.
No Limiar do Amanhã: os homens rompem a barreira da ignorância.