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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

 

No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.

 

Há 22 de setembro de 1868, nascia Cairbar Schutel no Rio de Janeiro. Essa data se transformaria numa efeméride

 

espírita, pois Schutel se tornou num pioneiro espírita na região de Araraquara, montando seu quartel general em Matão. Foi também o pioneiro da difusão radiofônica da doutrina no Brasil e no mundo. Suas palestras pronunciadas no microfone da Rádio Cultura de Araraquara, entre 1936 e 1937, foram depois enfeixadas no livro Conferências Radiofônicas, editado em suas próprias oficinas gráficas de Matão.

 

O trabalho e o exemplo de Cairbar Schutel repercutiram no passado e continua repercutir em nossos dias. Seus livros continuam a ser editados pela Editora O Clarim, por ele mesmo fundada. O jornal e a revista espírita, por ele fundados, circulam até hoje e circularão no futuro, sustentando a flama da difusão doutrinária. Nascido em família católica, Cairbar Schutel converteu-se ao espiritismo no começo do século, e a 15 de julho de 1905, fundou em Matão o Centro Espírita Amantes da Pobreza que prossegue nos seus trabalhos espirituais e assistenciais.

 

O grande pioneiro amavaa vizinha que escolhera para a sua nova terra. Foi praticamente o primeiro prefeito de Matão, assumindo quando da criação do município a presidência da câmara de vereadores. Esse cargo correspondia também ao de prefeito. Mas, ao converter-se ao espiritismo, abandonou a política para se dedicar à prática e divulgação da nova revelação. Ao falecer em 1938, sua morte repercutiu na imprensa de todo o Brasil e foi registrada e comentada em várias revistas e jornais do exterior. Schutel fizera de Matão, através do espiritismo, uma cidade mais conhecida na Europa e no mundo do que o Rio e São Paulo.

 

Prestamos a nossa homenagem a Cairbar Schutel neste programa, que coincide em São Paulo com a data do seu nascimento. O Grupo Espírita Cairbar Schutel, de Vila Clementino, também se associa a essa homenagem que prestamos ao seu patrono. Cairbar Schutel foi o sucessor natural de Batuíra, o apóstolo espírita de São Paulo, que fundou o Bairro do Lavapés, hoje parte integrante do Cambuci. Quando em 1909, o velho pioneiro paulistano Antônio Gonçalves da Silva Batuíra falecia em São Paulo, já Cairbar Schutel começava centralizar o movimento espírita do estado na então pequenina cidade de Matão, que se fazia a capital espírita de Piratininga.

 

No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Transmissão 131, terceiro ano, direção e participação do professor Herculano Pires.

 

Esse programa é dirigido a todos os que querem saber, aos que não pensam que já sabem tudo e se acomodam na ilusão das crenças. Os problemas do espírito não são uma questão de crença, mas de saber. O homem não pode crer no que não conhece, pois Deus lhe deu inteligência para pesquisar, compreender, penetrar a fundo na realidade das questões materiais e espirituais. Vai longe o tempo sombrio do “crer ou morre”, do “creia mesmo que absurdo”. Estamos no tempo de só aceitar o que é lógico, racional, compreensível.

 

Conversa ao pé do microfone. Só entre nós e você. É proibido não contar para os outros.

 

- Você sabia que um médium que foge ao seu dever mediúnico é um trânsfuga?

 

- Não. E nem sei o que é isso: um trânsfuga?

 

- Trânsfuga é um desertor, um soldado que passa para as fileiras inimigas. Ora, os médiuns são soldados da batalha da luz contra as trevas. O médium que não trabalha foge das fileiras do bem, abandona o comando dos bons espíritos e passa para o outro lado. - Que horror! O outro lado é o das trevas!

 

- Pois é. O médium desertor se entrega aos espíritos obsessores e vai servir a eles, e quando quer voltar, às vezes nem pode.

 

- Ei, escuta, o microfone está ligado. Será que eles ouviram?

 

- Deus queira! Deus queira que eles tenham ouvido.

 

Perguntas e respostas. Ouça com atenção as nossas respostas, pense sobre elas, analise-as e se discordar de alguma coisa, escreva-nos, refute-nos, discuta o problema conosco.

 

Pergunta nº 1: Nome dos espíritos

 

Locutor - Professor, a ouvinte Zózima Cardoso de Menezes nos escreve e pergunta: tenho um parente que me pede para saber se o senhor conhece algum livro que fale sobre a personalidade do índio Brogotá, como também desejaria saber se o senhor conhece alguma reunião ou sessão espírita onde esse personagem, isto é, o índio Brogotá se comunique normalmente.

 

J. Herculano Pires - Não, não conheço nenhuma coisa, nem outra. Nenhum livro que fale de Brogotá de maneira a tratar de sua personalidade quando vivo aqui na Terra e nem mesmo da sua personalidade como espírito comunicante. Já tive ocasião de assistir em algumas reuniões, manifestações desse espírito. Parece-me um espírito bondoso, bem orientado e esclarecido, pelo menos nas manifestações que eu assisti. Entretanto, é bom lembrarmos o seguinte: os nomes dos espíritos, como ensinava Kardec, não são absolutos, quer dizer, assim como aqui na Terra nós temos vários indivíduos que tem nomes semelhantes, assim também os espíritos. Os espíritos, às vezes, se comunicam também servindo-sedo nome daqueles outros que são mais considerados pelas pessoas que estão na reunião, de maneira que nós precisamos ter sempre cuidado com o problema de nomes. Não basta o espírito se comunicar e dizer: é o índio Brogotá que está falando. É preciso que a gente analise a comunicação dele, que veja se realmente está essa comunicação à altura do personagem que nós conhecemos ou de que tivemos pelo menos alguma experiência favorável. Muitas vezes, espíritos do mesmo nome não são da mesma categoria, não pertencem à mesma ordem espiritual, então nesse caso ele não estará mistificando, estará dando o seu nome verdadeiro, mas não quer dizer que esse nome corresponda àquela personagem que nós estamos pensando, em que nós estamos acreditando.

 

Em todas as experiências espíritas, é preciso, portanto, ter muito cuidado com o problema do nome, como Kardec sempre acentuou. A propósito, é bom lembrar: existe aí uma série enorme de comunicações dadas em nome de Jesus, em nome de Maria, em nome dos apóstolos, em nome de Moisés e assim por diante. Inclusive, ultimamente, muitas comunicações em nome de Allan Kardec. Na verdade, essas comunicações são todas fraudulentas. Podemos dizer sem nenhum receio de errar. São todas fraudulentas, porque todas as que lemos, que conhecemos até hoje não trazem nada absolutamente que possa ser digno da personalidade que aparece na assinatura. É preciso muito cuidado, não se deixar levar pelo nome dado pelo espírito. Como dizia Kardec, cada comunicação tem de ser analisada, tem de ser apreciada por nós em profundidade, e os nomes nada representam se a comunicação não equivaler à importância do nome.

 

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Pergunta nº 2: Relação com os que foram

 

Locutor - Professor, nosso ouvinte Gilberto Martins, da Vila das Palmeiras, pergunta: meu pai faleceu há quinze anos e normalmente rezo todas as noites para o seu descanso total. Quero saber se o espírito de meu pai encarnou novamente, aqui ou em outro planeta. Como é que ele, seu espírito, recebe essas minhas preces?

 

J. Herculano Pires - Como poderíamos responder ao senhor se seu pai se reencarnou ou não? O problema da reencarnação é um problema que não pertence a nós aqui na Terra. O controle está na vida espiritual, no espaço, e está nas mãos de espíritos superiores. Eles é que sabem, portanto, quando um espírito deve se reencarnar, quando ele está em condições de voltar àTerra e eles é que preparam essa volta. Não é nem conveniente, de maneira alguma, que nós saibamos quais são os espíritos que estão se reencarnando, principalmente espíritos de familiares. Se fosse conveniente isso, não haveria necessidade de morrermos para depois voltarmos à Terra reencarnados. É preciso compreender que o processo da reencarnação tem por finalidade acelerar a evolução espiritual. Um indivíduo que viveu aqui uma vida ligado a várias pessoas e morreu, ele vai viver uma outra vida no espaço, no mundo espiritual, a não ser que seja um espírito ainda incapaz de permanecer com proveito no mundo espiritual. Então ele voltará logo, voltará rapidamente, porque ele precisa desenvolver mais aquelas faculdades que o libertarão da prisão terrena, da atração da carne, que a carne exerce sobre ele. E dessa maneira os espíritos que voltam aqui, quando já viveram a vida espiritual, eles vêm com uma nova missão, com uma nova tarefa a cumprir, com novos propósitos a realizar e, ao mesmo tempo, ele vem com o propósito principal de desfazer tudo quanto de mal entendido, de mau, de mágoa, de ressentimentos ficou da sua encarnação passada. Nas suas ligações com as pessoas que deixou na Terra, ele não pode ser reconhecido, porque se for reconhecido, todos aqueles problemas anteriores continuarão voltando à tona, e assim perde-se a finalidade principal da reencarnação. De maneira que acho que o senhor não deve estar se incomodando com a possível reencarnação do seu pai ou não. O que deve interessar ao senhor é isso que o senhor está fazendo muito bem: orar para ele. Porque todas as vezes que o senhor faz uma prece em favor de seu pai, é como se o senhor passasse para ele um telegrama de solidariedade pela sua nova vida no além. Ele recebe o seu telegrama, recebe-o mentalmente, emocionalmente, espiritualmente. Nenhuma prece dirigida a um espírito querido se perde. Na contabilidade do além, não há perdas dessa espécie. E não há extravios no correio do além e no telégrafo do além. Tudo que nós dirigimos aos espíritos queridos, eles recebem, assim como tudo que dirigimos aos espíritos de que não gostamos, também os afeta, e a maioria das perturbações espirituais existentes na Terra decorrem precisamente da falta de compreensão desse princípio.

 

É popular a expressão seguinte: quando uma pessoa morre, não devemos falar mal dela. Muita gente pensa que isso é um absurdo, que isso é uma maneira de endeusar a pessoa que não foi boa na Terra. Não, não é. É apenas uma precaução. Essa expressão pertence à sabedoria popular que capta, pela intuição, muita coisa que nós não conhecemos racionalmente. A verdade é que o espírito que está no além, recebendo os nossos comentários contrários a ele, recebendo as nossas vibrações contrárias, ele sofre com isso, e se ele for um espírito inferior, dotado de instintos vingativos, ele pode vir perturbar a pessoa que o está também perturbando. Ele responderá com as mesmas armas e atacará a pessoa, podendo, portanto transformá-la, inclusive, numa pessoa obsedada, perturbada. É por isso que se aconselha em todas as religiões o respeito aos mortos, àqueles que se foram desta vida, já viveram a sua existência e devem agora ser respeitados. Então, não fazemos nada mais de que orar por todos aqueles que se foram, sejam nossos amigos ou inimigos, e as nossas orações farão bem a eles e farão bem a nós também.

 

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Pergunta nº 3: Terreiro

 

Locutor - Professor, a segunda pergunta do ouvinte, ele diz: sou frequentador de um centro de mesa branca, mas fui convidado várias vezes para frequentar centros de terreiro. Existe alguma proibição nisto?

 

J. Herculano Pires - O problema não é de proibição. Aliás, no espiritismo não existe proibição para nada, é bom que se assinale isto. O espiritismo é uma doutrina de liberdade e responsabilidade. Todos aqueles que aceitam o espiritismo, não estão se filiando a nenhuma igreja, nem se submetendo a nenhum sacerdote. Todos estão apenas se submetendo à sua própria consciência. Aprendendo então os problemas espíritas através da doutrina, essas pessoas devem ter liberdade de agir, de pensar, de falar e assim por diante. Devem ter também liberdade de ir onde quiserem, de ler os livros que quiserem. A liberdade no espiritismo é inteira para que a pessoa possa ter responsabilidade naquilo que faz. Quando uma pessoa deixa de fazer uma coisa porque ela está proibida de fazer, ela não tem responsabilidade e mérito nenhum nisso, porque ela está simplesmente obedecendo aqueles que mandaram. Para que se tenha responsabilidade, é preciso que se tenha também liberdade. Assim, no espiritismo não há proibição. Entretanto, é preciso compreender o seguinte: as sessões de terreiro, como nós sabemos muito bem, são sessões que pertencem ao sincretismo religioso afro-brasileiro. São sessões realizadas com médiuns, sem dúvida, com a presença de espíritos que se comunicam, mas aproveitando-se da mediunidade sem o conhecimento da mediunidade. O espiritismo alerta sempre as pessoas contra o perigo de se abusar da mediunidade, de se querer praticá-la sem conhecê-la. Isto nós encontramos no “Livro dos Espíritos”, no “Livro dos Médiuns”, as advertências a respeito. É preciso que se conheça a mediunidade e que se saiba a que se destina a mediunidade. Quando se aplica a mediunidade para objetivos puramente materiais, sempre se arrisca a cair num círculo de mistificações. Ora, o que nós sabemos que ocorre nos terreiros é precisamente isso: aplicação da mediunidade para objetivos imediatistas, objetivos materiais. Então,uma pessoa que frequenta espiritismo, que está aprendendo a estabelecer suas relações com os espíritos de maneira elevada, tendo por finalidade a sua própria elevação espiritual, não tem nada a fazer numa sessão de terreiro.

 

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Pergunta nº 4: Sexo além da morte

 

Locutor - Professor, o ouvinte Ricardo, da Rua São Leonardo, Itaberaba, pergunta: o recorte anexo é apenas um capítulo do romance que venho seguindo. Queria que o senhor desse uma lida nesse assunto e diga-me se isso que está escrito é possível, e desejo explicações a respeito, caso seja realmente possível.

 

J. Herculano Pires - O senhor me manda um recorte de jornal, mas não esclarece que jornal é, ou de uma publicação semelhante a jornal, com o título de “Sexo Além da Morte”, do doutor Rafael Américo Ranieri: “As sombras do passado”, final, o senhor está dando aqui o final de um capítulo. Este livro, “Sexo Além da Morte”, acaba de sair, editado por uma editora, se eu não me engano, do Rio de Janeiro. Está sendo divulgado. O doutor Ranieri é muito conhecido no meio espírita. É um advogado que foi delegado de polícia, delegado regional em vários lugares do estado, foi prefeito de Guaratinguetá, um homem ilustre, um homem inteligente, dotado de cultura suficiente para um bom trabalho na seara espírita. Entretanto, nós discordamos de livros desta natureza. “Sexo Além da Morte” é uma tentativa de mostrar para os leitores que, após a morte, ainda se prolongam no além, nas zonas sombrias, nas zonas baixas do além, naquelas zonas chamadas o umbral por Emmanuel, André Luiz e outros espíritos que têm dado bonitas comunicações a respeito, que ali continua o mesmo problema de sexo existente aqui na Terra e ainda com complicações mais terríveis. Ora, essas revelações das zonas umbralinas, como nós chamamos, e que poderíamos, de acordo com o que diz Kardec, chamar as zonas purgatoriais ou as zonas infernais da atmosfera espiritual da Terra, estas revelações não têm mais de que o sentido de despertar a curiosidade malsã dos leitores. O que vem revelado neste próprio capítulo é simplesmente tenebroso. O espiritismo não se interessa pela divulgação de possíveis aspectos inferiores do mundo espiritual. Nós todos sabemos, desde que estudamos espiritismo, que existe uma verdadeira escala da evolução dos espíritos. Existem espíritos muito inferiores que ainda permanecem nas zonas umbralinas próximas à crosta da Terra ou permanecem mesmo aqui na Terra, ao nosso redor, ainda impregnados de desejos, de anseios, de vícios, de perturbações, de sentimentos inferiores que levaram da Terra. Mas não é isto que nos interessa no espiritismo. Isto nós conhecemos, estamos cansados de ver as manifestações de espíritos desta natureza nas sessões de doutrinação. Realizamos sessões de doutrinação especialmente para tratar de encaminhar esses espíritos, de ajudá-los a superar essa inferioridade, mas não nos interessa estar fazendo romances, descrições pormenorizadas do que se passa nessas zonas tenebrosas, mesmo porque quanto mais falarmos nisso, dessa maneira, entrando num processo emocional através de obras literárias, nós mais auxiliaremos o desenvolvimento das trevas na mente dos homens, ao invés de auxiliá-los a pensar de maneira mais elevada para a sua libertação espiritual.

 

Dessa maneira, posso dizer ao senhor que, na realidade, o senhor encontra no próprio “Livro dos Espíritos”, encontra no próprio “Livro dos Médiuns”, encontra na Revista Espírita numerosos relatos de situações penosas em que os espíritos se encontram do lado de lá. Mas tudo isso, naturalmente, com a finalidade de nos mostrar que precisamos ter cuidado aqui na Terra quanto ao desenvolvimento das situações inferiores em nosso psiquismo.

 

Ora, não é justo que ele se venha, através de relatos minuciosos de regiões assim inferiores, provocar na imaginação humana certas reações perigosas para aqueles que não estão prevenidos e que não conhecem bem os problemas espíritas. Dessa maneira, nós não concordamos com a divulgação de livros dessa natureza. Basta-nos enfrentar os problemas sexuais tremendos que já existem aqui na Terra. Não é necessário querermos levar isto para além da morte. É verdade que existe, naturalmente, um reflexo de todas essas tendências do lado de lá, mas isto não nos autoriza a estar entrando em descrições minuciosas e principalmente criando, por assim dizer, um ambiente aterrador na mente dos leitores a respeito do que se passa além da morte, com espíritos que não pertencem ao normal da humanidade, mas sim à anormalidade, à faixa de anormalidade. É por isso que não concordamos com publicações dessa natureza.

 

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Pergunta nº 5: Sintonia de mediunato

 

Locutor - Professor, o ouvinte Francisco pergunta: transpiro muito na palma das mãos. Quando estive num centro espírita, disseram-me que esse sintoma é proveniente de mediunidade. Qual a sua resposta, professor?

 

J. Herculano Pires - A resposta que eu posso dar é que essa diagnose feita no centro espírita é absurda. O fato de uma pessoa transpirar na palma da mão, na sola dos pés, ou de ter mesmo uma exsudação constante do seu corpo não tem nada que ver com mediunidade. Esse é um problema puramente fisiológico. Nós não podemos misturar as reações orgânicas, fisiológicas do nosso corpo, com as sensações ou os sintomas de mediunidade que se revelam através de sensações espirituais. É preciso compreender que quando nós falamos de mediunidade, estamos colocando o problema das relações entre os espíritos e os homens. Ora, nós já vimos aqui numerosas vezes, já temos dito isso, está nas obras de Kardec e, posteriormente, em tantas outras obras que nos vêm dos próprios espíritos, que a mediunidade não pode ser diagnosticada dessa maneira, através de sintomas puramente materiais de ordem fisiológica. É preciso não confundir uma coisa com outra.

 

A mediunidade se caracteriza pela produção de fenômenos espíritas. Então nós só podemos saber realmente se uma pessoa é médium quando aparecem os sintomas efetivos da mediunidade que são as comunicações, as manifestações produzidas com a presença e pela influência daquela pessoa no ambiente, então é que nós realmente verificamos que se trata de fenômenos mediúnicos e que aquela pessoa tem o que nós chamamos de mediunidade de trabalho, de serviço. É preciso também não esquecer, porque a gente fala aqui continuamente, que a mediunidade é uma faculdade humana natural, que nós todos somos médiuns. É preciso não confundir a mediunidade generalizada como faculdade humana natural, com a mediunidade de serviço, que é aquela através da qual o médium assume um compromisso espiritual de vir ao mundo para servir de intérprete aos espíritos nas suas comunicações. Este tipo de mediunidade, que os próprios espíritos chamam de mediunato, é uma espécie de uma investidura que o espírito recebe, o mediunato. Este tipo de mediunidade só se define através das manifestações espíritas.

 

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Pergunta nº 6: Tempo no mundo espiritual

 

Locutor - Continuamos a responder aos nossos ouvintes. Professor, nosso ouvinte José Luciano da Conceição pergunta: pode um espírito desencarnar e ficar na erraticidade só nove meses e ainda voltar com umas cicatrizes no corpo que tinha na vida anterior? Esse fato que exponho li no jornal do dia 10 de setembro de 1973.

 

J. Herculano Pires - É evidente que o espírito pode permanecer no espaço um breve tempo, na vida espiritual um tempo muito breve, de acordo com as suas necessidades reencarnatórias, quer dizer, quando o espírito não tem capacidade, como eu já disse aqui, não tem condições para viver no mundo espiritual de maneira proveitosa, ele então é enviado quase que imediatamente de volta à Terra. Mas é claro que se trata aí de espíritos muito primitivos. Isto quase não ocorre no mundo civilizado, a não ser com referências a certas faixas bem inferiores de espíritos. De maneira que nós precisamos considerar isto com muito cuidado, estas informações todas, pois ninguém pode saber com exatidão o tempo que um determinado espírito permanece na vida espiritual.

 

Quanto ao espírito voltar com características físicas que ele tinha aqui na Terra, quando se trata de reencarnações breves, reencarnações assim apressadas, é possível que isso também aconteça. Não há dúvida nenhuma que este caso está dentro das possibilidades do que conhecemos sobre o problema da reencarnação. Mas como eu já disse, são casos muito raros em que figuram espíritos de categoria bastante inferior, ainda primitivos, o que não se dá geralmente no mundo civilizado, onde quase todos os espíritos já estão num certo grau de elevação suficiente para viverem no mundo espiritual, mesmo que seja nas regiões inferiores desse mundo.

 

É preciso, portanto, não se impressionar com relatos desta natureza. A verdade é que todos nós temos de passar para a vida espiritual e de adquirir lá novas experiências, nova compreensão das nossas responsabilidades como espíritos, para quando voltarmos à Terra, podermos aproveitar a encarnação nova que nos vai ser dada. Se os espíritos chegassem lá e fossem imediatamente remetidos à Terra de volta, eles pouco aproveitariam, porque é na vida espiritual que o espírito passa a viver, por assim dizer, a sua vida subjetiva interior, analisando mentalmente aquilo que ele sofreu, aquilo porque ele passou, aquilo que ele fez de bom e de mau na Terra. Deste balanço que às vezes demora vários anos é que ele vai concluir então pelo pedido de uma encarnação favorável, uma encarnação que lhe permita resgatar os seus débitos com muitas criaturas que ele ofendeu ou que ele prejudicou aqui na Terra. E é necessário também que ele aprimore os seus sentimentos, que ele aprenda modificar-se, a melhorar-se na vida espiritual para depois garantir a eficácia da reparação que ele terá de vir fazer aqui na Terra no tocante às pessoas que ele prejudicou.

 

Por isso, não concordamos muito com estes relatos de reencarnações quase que imediatas. Estas reencarnações, como sabemos, existiram nos tempos primitivos quando a evolução humana ainda estava adstrita praticamente à vida selvagem. Nós vemos, por exemplo, no livro “Evolução em Dois Mundos” um relato bastante importante de como se processavam as reencarnações no meio selvagem quando os espíritos não tinham condições para continuar vivendo de maneira proveitosa no mundo espiritual. Mas nós hoje não estamos mais na selva, nós temos uma vida bastante complexa no mundo civilizado onde as pessoas, por mais atrasadas que sejam, sempre têm a possibilidade de adquirir conhecimentos que lhes permitem uma compreensão melhor dos seus próprios direitos e das suas próprias responsabilidades.

 

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Pergunta nº 7: Rebeldia infantil

 

Locutor - Segunda pergunta do nosso ouvinte José Luciano da Conceição: porque as crianças de hoje são tão rebeldes, não têm respeito com os adultos – é lógico que com algumas exceções, principalmente na faixa de três a treze anos. Então pergunto: seria falta de orientação dos pais ou são espíritos que não progrediram nada com as reencarnações que já tiveram?

 

J. Herculano Pires - O problema dos filhos rebeldes não é absolutamente novidade. Este problema sempre existiu. Nós podemos, quando lemos a história do mundo ou a história de vários países, dos vários povos, encontrar numerosos relatos de filhos que chegaram a assassinar os pais no passado, que lutaram contra os pais, que conspiraram contra os pais, que os prejudicaram de várias maneiras, que foram amaldiçoados pelos pais e assim por diante. Os filhos rebeldes muitas vezes são encarnações de espíritos inimigos dos pais, que vêm para,numa encarnação de aproximação, procurarem reparar aquilo que fizeram de mau, e, ao mesmo tempo, para que os pais também os compreendam e aprendam a amá-los como criaturas humanas que são, porque todos nós, criaturas humanas, somos irmãos uns dos outros.

 

Então, podemos dizer o seguinte: num mundo como o nosso, onde a população aumentou de maneira espantosa, pois nunca a Terra teve tamanha população como tem hoje, é claro que o problema dos filhos rebeldes teria de aumentar, porque o aumento da população, o aumento de pessoas, traz também o aumento da proliferação das crianças e,consequentemente, o aumento de todos os casos de rebeldia que sempre caracterizaram as crianças espertas e ativas, inteligentes, e não perturbadas mentalmente ou desprovidas de inteligência.

 

Ora, em todos os tempos, houve a rebeldia dos filhos contra os pais, principalmente na fase que o senhor menciona aqui, que é uma fase de idade que vai de três a treze anos. Não, aí nessa fase o que nós temos é sempre a desobediência das crianças. Mas dos treze anos em diante, nós temos uma fase ainda mais crítica, que é a chamada crise da adolescência, quando vemos também os filhos se rebelarem muito contra os pais.

 

Hoje fala-se muito da rebeldia da mocidade, mas é preciso compreender que, no passado, a ação dos pais era uma ação violenta contra os filhos. Não havia o espírito de liberdade que há hoje. O mundo do passado foi um mundo terrivelmente autoritário, porque baseado na força, na violência, na imposição, numa autoridade fictícia que as pessoas assumiam perante as demais. Então este mundo era marcado pela violência e pela opressão. As crianças eram oprimidas, eram constrangidas pela autoridade do pai, exercida, às vezes, com ferocidade. A própria evolução da humanidade fez com que esses métodos se fossem modificando. Se o senhor comparar, por exemplo, a escola antiga, a escola em que os alunos eram tratados a vara de marmelo, eram obrigados a ajoelhar em grãos de milho, eram passados pela palmatória e assim por diante, comparar essa escola em que as crianças não tinham nenhuma liberdade com a escola de hoje, o senhor verá que a diferença é muito grande. Aprendeu-se, afinal, depois de muitos anos de luta, de evolução, de relações humanas constantes, aprendeu-se que, na verdade, é preciso que consideremos as crianças como espíritos que têm direito no seu desenvolvimento à consideração e ao respeito dos mais velhos. Ora, estabelecendo-se, assim, um clima de maior liberdade, então nós consideramos hoje muita coisa como desrespeitosa, quando na verdade não o é. São apenas manifestações do espírito ativo, desenvolvido, inteligente das crianças atuais. E elas, nesse desenvolvimento, não procuram perturbar os pais, a não ser em casos excepcionais, em casos especiais de espíritos rebeldes encarnados na família. Mas o que eles procuram é reivindicar os seus direitos, é manter o seu direito de ser o que eles são. Cada criatura é o que é. Os pais antigos moldavam os filhos, obrigavam os filhos a serem o que eles queriam, até um certo ponto, porque quando os filhos se rebelavam, nós tínhamos aqueles tremendos dramas de família que caracterizam a história de todas as sociedades antigas no mundo inteiro.

 

Ora, a evolução dos conhecimentos e, principalmente, a evolução pedagógica, a evolução no campo da educação fez com que tudo isto se fosse modificando. Hoje, nós sabemos que uma criança é um espírito em desenvolvimento,carregado de numerosas heranças do passado, trazendo consigo grandes possibilidades, mas que ela precisa de liberdade para se desenvolver. Então oferecemos á criança um ambiente de fraternidade, de amor, de compreensão, e a rebeldia de que tanto se fala, na verdade, nada mais é de que o produto deste mesmo ambiente.

 

Por outro lado, é preciso compreender que a evolução do mundo está sendo muito rápida. Os processos de comunicação se desenvolveram de maneira muito ampla. As crianças hoje não vivem apenas restritas à sua casa, ou ao recanto onde os pais moram. Elas vivem no mundo, vivem no mundo através da televisão, através do rádio, através dos jornais, através dos livros, através do cinema e assim por diante. Estão sempre em contato com todas as novidades, e isto desperta nas crianças, já por si mais evoluídas que as anteriores no processo natural da evolução, desperta nas crianças em geral, considerando geralmente o maior número de crianças, desperta nelas novas possibilidades de desenvolvimento de sua própria personalidade.

 

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Acordemos para a luz do evangelho.

 

Aberto o evangelho ao acaso, encontramos o seguinte na 1Tm, 3:1-13.

 

Fiel é esta palavra: se alguém aspira ao episcopado, deseja uma obra boa. É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, discreto, sóbrio, circunspecto, hospitaleiro, capaz de ensinar; não dado ao vinho, não espancador, mas moderado, inimigo de contendas, não cobiçoso, e que saiba governar bem a sua casa, tendo seus filhos em sujeição com todo respeito. Se um homem não sabe governar a sua casa, como cuidará da igreja de Deus? Não neófito para que não suceda, que inchado de soberba, caia na condenação do diabo. É necessário que ele tenha bom testemunho dos que são de fora, para que não caia no opróbio e no laço do diabo. Os diáconos sejam também sérios, não dobres em palavras, nem dados ao vinho, nem amigos de sórdidas ganâncias, conservando o mistério da fé em uma consciência pura. Também estes sejam primeiro provados, depois exercitem o diaconato se forem inculpáveis. As mulheres também devem ser sérias, não maldizentes, sóbrias, fiéis em tudo. Os diáconos devem ser esposos de uma só mulher que governem bem a seus filhos e as suas casas, pois os que houverem exercitado bem o seu diaconato, alcançarão para si um lugar honroso e muita confiança na fé que é em Jesus Cristo.

 

Esse trecho da primeira epístola de Paulo a Timóteo revela-nos o esforço de construção da igreja naquela época em que o cristianismo nascia como uma religião nova na Terra. Era preciso organizar essa religião. Sabemos que, a princípio, o cristianismo se espalhou pelo mundo através das sinagogas judaicas. Os judeus, na sua dispersão pelo mundo, estavam praticamente localizados nas principais cidades do império romano. Por todo o império, por todas as regiões dominadas pelo império havia sinagogas judaicas. Então, a propagação do cristianismo se fez através dessas sinagogas, até o momento em que, acentuando-se cada vez mais as dificuldades – porque as diferenças entre as duas religiões –, o cristianismo, abrindo suas perspectivas para nova compreensão do homem e do mundo, foi necessário que se dividisse, que se separasse o cristianismo do judaísmo. Não venceram aquilo que Paulo chamava os “apóstolos judaizantes”, que procuravam naturalmente fazer com que o cristianismo se transformasse numa espécie de seita judaica. Venceu o espírito vibrante, valente de Paulo, o espírito esclarecido de Paulo que compreendia a necessidade absoluta da separação. O cristianismo era uma nova mensagem, era uma nova ordem que surgia na Terra e era preciso que se estruturasse então a igreja cristã de uma forma diferente daquelas outras. É verdade que isso não era possível no sentido absoluto, porque umas coisas nascem das outras, como sabemos, na sucessão histórica, e teria de acontecer que a igreja cristã também se formasse sobre modelos já existentes nas diversas religiões. Quando, entretanto, Paulo nos fala aqui dos bispos, acentuando a necessidade de que sejam esposos de uma única mulher, de que sejam moderados, de que sejam exemplos, de que sejam, enfim, criaturas modelares diante da igreja, nós precisamos saber e compreender que os bispos naquele tempo, assim como os diáconos, eram eleitos pela própria congregação e não tinham absolutamente a vigência do seu mandato de maneira permanente. Periodicamente eram substituídos os bispos, eram substituídos os diáconos. Aqueles que funcionavam na igreja exercendo uma função superior, funcionavam de maneira transitória, tudo isso para que houvesse, dentro da igreja cristã, uma forma diferente daquela que prevalecia, por exemplo, na igreja judaica e nas várias igrejas das outras religiões na Terra. Seria a forma de maior liberdade, de maior facilidade para que todos os adeptos sinceros e honestos, dignos, pudessem exercer funções sacerdotais sem, entretanto,ao fato dessas funções, se transformarem em mandatos vitalícios ou permanentes. E isso por quê? Porque o espírito de renovação do cristianismo não poderia permitir que os vícios dos mandatos permanentes se impusessem também na igreja cristã. Não obstante, essa situação, como sabemos, teve de ser modificada mais tarde, e teve mesmo de ser como um processo histórico natural. Eram imposições do próprio desenvolvimento histórico. Jesus falou no evangelho que devemos comparar o reino de Deus com uma porção de farinha a qual se leva um pouco de fermento. O fermento leveda a massa de farinha e se ele não levedar, a massa não será transformada. Ora, o cristianismo, através do evangelho, o evangelho aplicado, por assim dizer, como aquela porção de fermento que penetraria na massa de farinha, o evangelho ali aparece como o elemento transformador da vida religiosa da antiguidade, e essa transformação é efetuada em virtude da impregnação do fermento na farinha e ao mesmo tempo da absorção da farinha pelo fermento. Quer dizer, no desenvolvimento da igreja cristã, ela teria não só de penetrar nas estruturas religiosas, sociais, políticas do mundo antigo, de penetrar na cultura desse mundo, mas também de absorver elementos dessa cultura. Foi por isso que as coisas foram se modificando, se transformando, e o cristianismo acabou por adotar uma estrutura bastante semelhante àquela do judaísmo e de outras grandes igrejas da época. Isso tudo serve para nós compreendermos, então, o rigor que os cristãos tinham naquela época. Ao ensinar a Timóteo como devia ele estruturar cada igreja cristã que nascesse no roteiro da sua pregação, Paulo insiste, principalmente, na moral, na moral bastante elevada daqueles que fossem escolhidos para bispos e diáconos, e principalmente num mundo em que o problema do casamento era um problema bastante controvertido e bastante confuso, então ele estabelecia o sistema monogâmico como indispensável para o exercício de qualquer função na igreja, porque havia muitos homens que possuíam numerosas mulheres, de acordo com os vários sistemas dos países e das raças diferentes a que o cristianismo se dirigia. Esta era, portanto, uma medida necessária para distinguir o cristão dos pagãos e também dos pertencentes a religiões poligâmicas que havia em grande quantidade na época.

 

No Limiar do Amanhã é um toque de despertar no amanhecer de uma nova era. Acordemos para a era do espírito. Afugentemos de nossa mente as névoas do passado. Conquistemos a fé pela razão.

 

No Limiar do Amanhã: um foguete no espaço.

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