No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.
A primeiro de agosto de 1865 Alan Kardec lançou em Paris a primeira edição do livro O Céu e o Inferno, quarto volume da codificação do Espiritismo. Nesse volume o problema da existência do inferno e dos demônios, do céu e dos anjos é tratado de maneira completa à luz das escrituras sagradas, da história e da lógica. No ano que vem esse livro completará cem anos.
Apesar dos cem anos decorridos, o livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec continua de evidente atualidade. Neste momento, quando o mito do diabo renasce na crendice popular sob o amparo das igrejas cristãs, o estudo da mitologia comparada que Kardec apresenta neste livro, precisa ser lido por todas as pessoas que são capazes de pensar por si mesmas, usando a razão que Deus lhes deu.
A nova edição do livro O Céu e o Inferno tem nova tradução, rigorosamente anotada e explicada. Acaba de sair em São Paulo num lançamento da editora Edicel. Ler esse livro é uma obrigação de todos os que desejam manter-se na era da razão, evitando cair no passado mitológico. Quem teve a coragem de ler o romance O Exorcista, deve ter agora o bom senso de ler o livro O Céu e o Inferno de Alan Kardec, abrindo a porta e as janelas da mente aos ares saudáveis e purificadores da era da razão.
Este programa não faz propaganda de livros, não comporta anúncios pagos de espécie alguma. Mas, cabe-lhe o dever de indicar aos ouvintes os livros necessários ao esclarecimento dos problemas neles focalizados. Livro não é mercadoria, é instrumento de cultura. Quando destacamos um livro neste programa é porque ele interessa ao desenvolvimento da cultura espírita.
O livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec tem entre nós apenas uma edição crítica, repleta de informações e notas esclarecedoras sobre o texto e suas relações com o movimento cultural e religioso do nosso tempo, a edição que acaba de ser lançada pela Edicel. Todas as demais edições desse livro se limitam apenas a reproduzir o texto de há cem anos, como se o tempo não houvesse passado.
A nova tradução é dos professores Herculano Pires e Silvia Melo. Nenhum deles tem interesse comercial na venda dos livros. Anotem bem isto, porque há muita confusão a respeito. Nenhum desses tradutores tem interesse comercial na venda dos livros. A tradução de um livro é trabalho intelectual. A edição e venda é problema comercial que não compete aos tradutores. Deixamos isto bem claro para que não se pense que estamos fazendo propaganda gratuita em benefício dos tradutores. Este programa não é comercial, é um programa que só tem interesse cultural.
No limiar do amanhã, um programa desafio.
Produção do grupo espírita Emmanuel. Transmissão 174, quarto ano. Apresentação de Dulce Amaro Viera e José Pires. Sonoplastia Antonio Brandão. Técnica de som Paulo Portela. Direção e participação do professor Herculano Pires. Uma hora na busca da verdade.
Diálogo no limiar do amanhã, uma busca radiofônica da verdade. A verdade só é acessível aos que a buscam de mente aberta.
Pergunta 1: Como o Espiritismo implantará a Civilização do Espírito?
Locutor - A ouvinte Norma de Oliveira da rua 24 de Maio quer saber o seguinte. O senhor insiste na afirmação de que o Espiritismo vem implantar na terra a civilização do espírito. Não seria mais certo dizer que a preconizou? Segundo penso nossa cultura está realmente evoluindo para o espírito, mas não é o Espiritismo que dá esse impulso. O Espiritismo me parece numa posição marginal em nosso tempo. Eu gostaria que o senhor me dissesse alguma coisa a respeito. É uma dúvida que tenho e vou ser franca, duvido muito que o senhor me tire esta dúvida. Desculpe-me.
JHP – Pois não! Eu gostaria apenas o seguinte. Se eu não lhe tirar a dúvida, a senhora volte me explicando porque não tirei. E digo isto não porque eu pense que seja capaz pela minha própria inteligência, de lhe tirar uma dúvida da cabeça. Não. Apenas porque o assunto me parece muito claro do ponto de vista cultural e histórico. Então vou procurar explicá-lo assim. Se eu for feliz, a dúvida desaparecerá da sua cabeça. Senão, poderemos voltar e devemos voltar a debater o assunto.
O problema é o seguinte. Quando se encerra um ciclo de desenvolvimento cultural representado por uma grande civilização que praticamente dominou o mundo, então surgem os elementos necessários que vão, por assim dizer, semear os germes de uma nova civilização. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando a civilização greco-romana que era a mais importante no mundo civilizado de então, não obstante as civilizações orientais ainda persistissem em grandes áreas culturais do oriente. Quando esta civilização greco-romana chegou ao fim, surgiram os elementos da nova civilização que devia se desenvolver através de um movimento aparentemente obscuro, marginal, que foi o movimento do cristianismo. O cristianismo nasceu como sabemos na Palestina, uma das mais obscuras províncias do Império Romano. E de lá foi que ele pouco a pouco conseguiu infiltrar-se em todo o império. Mas infiltrou-se de maneira marginal a tal ponto que em Roma, por exemplo, chegou-se a dizer que o cristianismo era a religião dos escravos. Por quê? Porque o cristianismo penetrou primeiramente no meio escravo, nas camadas da grande população escrava que Roma mantinha sob o seu julgo. E isso por quê? Porque o cristianismo trazia uma idéia renovadora, remodeladora da estrutura social. Ele destruía com seus princípios, com os seus ideais, a estrutura assim arrogante, poderosa do império romano para criar um mundo novo, um mundo de liberdade. Um mundo em que o homem não fosse apenas a peça de uma grande engrenagem, mas que ele tivesse a sua individualidade. Que ele realmente fosse uma criatura capaz de raciocinar e pensar por si mesmo e decidir por si mesmo.
Por outro lado, o cristianismo representava um grande avanço sobre a civilização greco-romana do ponto de vista espiritual, porque essa civilização era politeísta e mitológica. Os deuses de Roma e da Grécia, como sabemos, eram mitos e esses mitos dividiam o mundo em várias partes, em vários aspectos. Cada Deus correspondia a um determinado aspecto da natureza ou das atividades humanas. Eram os deuses mitológicos. Não havia, portanto, uma concepção unitária do universo. A concepção unitária como sabemos é o passo mais avançado que o homem atinge no desenvolvimento do seu pensamento abstrato. Da sua capacidade de apanhar as coisas no sentido global e não apenas em seus aspectos muitas vezes contraditórios.
Ora, o cristianismo trazia no seu próprio conteúdo a ideia monoteísta, a idéia de um Deus único. Esta ideia ele herdara do judaísmo. Quer dizer, que naquele tempo apesar de todo esplendor da civilização greco-romana, o povo que havia atingido a mais elevada concepção do universo e de Deus era o povo judeu. E justamente por isso nasceu Jesus na Judéia. Ora, sendo assim, o cristianismo desenvolveu-se lentamente infiltrando-se no povo antes de atingir a cúpula cultural. Não obstante o cristianismo venceu a parada. O império romano, a cultura greco-romana foi vencida pelo desenvolvimento da ideia cristã. O próprio império romano como sabemos, já no fim do seu declínio, ele se converteu ao cristianismo. Ele adotou o cristianismo como religião oficial do estado. E a verdade é a seguinte. As ideias cristãs trouxeram uma nova condição para o desenvolvimento da sociedade humana e uma remodelação cultural em grande profundidade. Ora, nós sabemos que durante dois milênios desenvolveu-se então a chamada civilização cristã. Esta civilização cristã no seu desenvolvimento não foi capaz realmente de encarnar o espírito do cristianismo. Ainda hoje nós estamos num mundo guerreiro, num mundo de contínuas atrocidades em que os homens mais parecem muitas vezes animais ferozes do que propriamente criaturas humanas. O cristianismo, portanto, não conseguiu realizar-se nesses dois milênios. Mas isto não quer dizer que o cristianismo tenha sido frustrado nos seus objetivos. Ele os realizou em grande parte.
Quando lemos o evangelho vemos que Jesus mesmo previu a necessidade da vinda de uma nova forma de revelação espiritual que iria completar o cristianismo. E iria levar o mundo para a realização total da civilização cristã. Ora, essa nova forma surgiu precisamente de acordo inclusive com as predições evangélicas, surgiu com o advento das manifestações espíritas no mundo. Falamos advento no sentido dessas manifestações terem sido consideradas na sua verdadeira natureza. Porque essas manifestações existiram desde todos os tempos, mas os homens não eram capazes de compreendê-las. Entretanto, a partir de meados do século XIX, portanto quase dois milênios depois do advento do cristianismo. A partir de meados do século XIX, com o desenvolvimento das manifestações espíritas de maneira mais intensiva na Europa e nos Estados Unidos, surgiu a possibilidade de equacionamento do problema espiritual em termos mais amplos, mais profundos e mais naturais. Os fenômenos que eram então considerados sobrenaturais passaram a ser considerados naturais. E surgiu a doutrina espírita colocando esses fenômenos numa conotação cultural perfeita nas três áreas principais do conhecimento humano que são a Ciência, a Filosofia e a Religião.
Esta doutrina, portanto, abriu perspectivas novas para a cultura que haviam se formado a partir do renascimento, desenvolvendo-se mais amplamente no mundo moderno. E com esta doutrina novas conceituações do homem, do mundo, da vida, da existência na terra começaram a se desenvolver. Por outro lado, as próprias ciências que se baseavam em princípios puramente materiais foram abaladas. As pesquisas, por exemplo, de Alan Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas durante doze anos. A divulgação da Revista Espírita que até hoje ainda existe na França e circula no mundo. Os trabalhos espíritas, em todos os sentidos, fizeram com que surgissem algumas ciências que o passado desconhecia. Por exemplo, a antiga Parapsicologia alemã que tratava da pesquisa dos fenômenos espíritas. É preciso notar isso. Surgiu esta antiga parapsicologia alemã das pesquisas de Kardec, porque foi ele o pioneiro na sociedade parisiense de estudos espíritas. Depois dessa ciência alemã que desenvolveu-se através de pesquisas universitárias muito significativas e importantes, validas até hoje, nós temos ainda o aparecimento da chamada Ciência Psíquica inglesa, que repercutiu fundamente nos Estados Unidos, dando nascimento aos institutos de pesquisas psíquicas no mundo. Posteriormente nós tivemos na própria França, o desenvolvimento de uma ciência já colocada num outro sentido que foi do “enforcamento” por assim dizer, fisiológico dos fenômenos espíritas. Foi a Metapsíquica do professor Charles Richet. E a metapsíquica desenvolveu longas pesquisas dando uma contribuição bastante importante para a compreensão dos problemas humanos à luz dos princípios espíritas. E atualmente, no mundo atual, no mundo contemporâneo, nós temos ainda uma nova ciência que é a Parapsicologia norte-americana, a parapsicologia moderna, hoje mundialmente difundida e seguindo também as mesmas linhas de orientação das pesquisas anteriores, mas servindo-se de métodos e de recursos metodológicos mais atualizados.
Bastaria isto para mostrar que o Espiritismo não está no presente no mundo como um movimento marginal. A senhora poderia, por exemplo, considerar o Espiritismo numa posição marginal olhando do ponto de vista religioso. Na realidade o aspecto religioso do Espiritismo desenvolve-se assim à margem, por que levado e incentivado mais no meio popular, à margem do desenvolvimento cultural da atualidade. Mas não obstante é preciso considerar as influências científicas do Espiritismo na cultura moderna e também as influências filosóficas. O Espiritismo repercutiu grandemente na filosofia do século passado, tendo produzido, por exemplo, na França, vários livros em que filósofos não espíritas esposaram os princípios espíritas. E atualmente a influência filosófica do Espiritismo é também bastante intensa. Então existe realmente uma influência decisiva do Espiritismo na orientação do desenvolvimento cultural do presente. Quando, por exemplo, as pesquisas da física chegam à descoberta da antimatéria, e, além disso, levam à descoberta do próprio corpo bioplasmático do homem, confirmando assim a tese espírita da existência do perispírito que é um corpo energético do homem. Quando isto acontece nós estamos na linha de desenvolvimento do pensamento espírita. Há, portanto, uma orientação espírita presidindo ao desenvolvimento da cultura, não obstante muitos dos cientistas não tenham nem conhecimento disso. O que vale no processo de reformulação cultural é precisamente este aspecto por assim dizer, inconsciente das influências poderosas das ideias novas. As ideias surgem, controlam o desenvolvimento cultural sem, entretanto, precisarem impor-se através de uma sistemática doutrinária a determinados expoentes da cultura e desenvolvimento. É o que está acontecendo no mundo atualmente. O mundo caminha de acordo com aquilo que nós podemos chamar os princípios do Espiritismo que balizam o desenvolvimento cultural do nosso tempo em direção à civilização do espírito.
Pergunta 2: Sobre a gratuidade no Espiritismo
Locutor - O ouvinte Juvenal Camargo da Avenida Paulista que se diz seu amigo pessoal Professor, diz o seguinte. Fiquei indignado ao ouvir comentários numa rodinha à porta da Federação de que um seu ex-companheiro desse programa, Jamil Salomão, teria dito numa reunião de diretores de trabalho daquela casa que você é um mercenário do Espiritismo. Que recebe secretamente uma verba da Rádio Mulher para fazer este programa e que cobra direitos autorais de suas traduções do livro de Allan Kardec. Eu o conheço de muitos anos e sei que você sacrificou até mesmo a sua carreira profissional, tanto no jornalismo como no professorado em favor do Espiritismo. Sei que este assunto é muito desagradável, mas gostaria que você me desse uma resposta nesse programa para que a coisa fique esclarecida em público. Pode ser apenas fofoca, mas andam fofocando por aí.
JHP - Eu não acredito que realmente o Jamil tenha dito isto numa reunião de diretores da Federação. Talvez tenha sido mal interpretada alguma coisa que ele disse lá. Porque o Jamil trabalhou conosco neste programa e ele sabe desde o início, desde a fundação, desde a instalação deste programa no rádio. Ele sabe que este programa é inteiramente gratuito. Só ganham, por assim dizer aqui, os funcionários da rádio que trabalham. Ele mesmo o Jamil trabalhou aqui gratuitamente. E outros companheiros que aqui trabalharam conosco o fizeram gratuitamente. De maneira que ele dizer que eu ganho uma verba secreta seria um absurdo tão grande, mas tão grande mesmo que eu não posso nem admitir. Primeiro porque a Rádio Mulher não iria dar verba secreta pra ninguém. Segundo porque eu não tinha necessidade nenhuma de receber verba secreta. Eu quero deixar também bem claro este problema porque no meio espírita se faz muita confusão a respeito da questão de gratuidade no Espiritismo.
A gratuidade no Espiritismo é obrigatória do ponto de vista religioso. Não se pode cobrar um passe. Não se pode cobrar a realização de uma seção espírita. Cobrar entrada para seção espírita. Não se pode cobrar nada daquilo que se diga ser uma assistência espiritual a alguém. Isto tem que ser gratuito. A mediunidade tem de ser inteiramente gratuita. Esta é uma exigência fundamental do Espiritismo. Por quê? De acordo com os princípios evangélicos, devemos dar de graça aquilo que de graça recebemos. Quer dizer, o médium é um instrumento, é um intermediário. Ele serve para transmitir aquilo que os espíritos lhe dão. E conseqüentemente, ele não pode cobrar aquilo que não é dele. É neste sentido que existe o princípio fundamental da gratuidade. Mas no campo profissional querer que todo espírito exerça suas funções de maneira gratuita é uma estreiteza mental. Uma falta de compreensão da própria natureza do Espiritismo e das próprias necessidades humanas.
Assim, eu que sou jornalista profissional e que também sou radialista porque trabalhei profissionalmente na rádio Tupi durante vários anos, mais de dez anos. Além da rádio Tupi trabalhei na rádio Cultura. E só não prossegui no radialismo porque não era esta minha tendência, a minha tendência maior era o jornalismo. Mas sou registrado como jornalista profissional e comportando também a profissão de radialista, principalmente no campo jornalístico. Ora, se eu quisesse cobrar de uma estação de rádio para fazer um programa, fosse ele espírita ou não, isso é um direito líquido meu do qual eu não teria que dar satisfação a ninguém. No campo profissional, eu tenho direito de exercer a minha profissão porque não estou dando nada que recebi de graça. Estou dando aquilo que me custou trabalho, estudo, persistência nas investigações. Então, eu não precisaria absolutamente receber verba secreta de ninguém para fazer um programa de rádio. Eu a receberia claramente. Se não a recebo é porque entendo que graças a Deus posso fazer de graça, numa rádio que me oferece de graça o tempo necessário para isso. Posso fazer de graça com muita satisfação, com muito entusiasmo, com muita boa vontade um programa de divulgação do Espiritismo e de esclarecimento espiritual segundo os princípios da nossa doutrina. Assim, é um negócio tão absurdo isso que eu não acreditaria se não viesse de você Juvenal, que realmente é um meu grande amigo de muitos anos.
E quero acrescentar mais. Quero acrescentar a você que eu já recebi informações disto através de outras pessoas. Já três pessoas me falaram nisso, eu não acreditei. Agora vem você confirmando por assim dizer. Ainda não quero acreditar. Acho que há algum equívoco, algum engano nisto. Mas já que isto está correndo na fofoca por aí, foi bom que você me mandasse a pergunta. Eu até lhe agradeço ter feito esta pergunta. Porque assim eu tenho esta oportunidade de responder mostrando que é absolutamente falso. É simplesmente mentiroso esse boato que se procura divulgar no meio espírita. Eu não recebo verba secreta nenhuma. Nem a rádio Mulher tinha necessidade de pagar verba secreta para ninguém. E nem eu tinha necessidade de receber verba secreta. Se tivesse de receber recebia às claras. Porque tenho direito para isso e não considero que eu esteja impedido de fazer um programa de rádio mesmo espírita recebendo se eu quiser receber. Inclusive porque posso receber e destinar a uma instituição de caridade. Posso receber e destinar aquilo que recebo a qualquer instituição espírita de divulgação da doutrina. Seria perfeitamente legítimo e ninguém teria nada com isso.
Eu até me lembro neste momento daquilo que Kardec respondeu aos seus adversários quando disseram que ele estava se enriquecendo com os livros espíritas. Ele respondeu precisamente isto. Eu não estou enriquecendo com os livros espíritas. Mas se estivesse enriquecendo o problema era meu, vocês não teriam nada com isso. Porque os livros que eu escrevo são trabalho meu. E é uma verdade. Assim também quando dizem aqui que eu cobro direitos autorais das minhas traduções. As traduções de Alan Kardec que eu fiz foram feitas com o sentido puramente doutrinário de suprir deficiências do campo da literatura espírita. Por quê? Porque nós tínhamos uma porção de traduções antiquadas. Traduções que vinha do século passado. Traduções numa linguagem arcaica dos livros de Kardec. E algumas traduções modernas publicadas mais recentemente, estavam cheias de erros que eu aponto nas notas de pé de página das minhas traduções. Então eu comecei a rever as obras de Kardec, a fazer uma tradução nova. E também porque achei que era necessário fazer traduções críticas e não apenas traduzir o texto de Kardec escrito há cem anos e oferecer ao povo sem explicar nada.
Há muitas coisas ali que se referem àquela época de Kardec e que o leitor não entende. Então é preciso esclarecer. Há mesmo expressões, inclusive expressões filosóficas que se a pessoa não tiver uma nota explicativa não sabe o que Kardec está dizendo. Então eu procurei suprir isso tudo e fiz traduções cuidadosas neste sentido. Tão cuidadosa que hoje são divulgadas por várias editoras. É claro que o meu trabalho de tradução que foi um trabalho penoso eu cobrei. E cobro. Toda tradução que me pedirem para fazer, eu cobro. Cobro porque eu sou um profissional não apenas da imprensa, mas também como escritor devidamente registrado, devidamente colocado dentro da União Brasileira dos Escritores. Fui até vice-presidente do primeiro Sindicato dos Escritores criado em São Paulo. E consequentemente sou um profissional de letras e tenho o direito de cobrar. Mas direitos autorais não é pagamento de tradução. Pagamento de tradução é praticamente um pagamento de datilografia, porque é um trabalho penoso, cansativo. O direito autoral é um pagamento contínuo. Cada edição que sai, o autor recebe os direitos autorais na base de dez por cento, que é a base universal sobre o preço do livro. Dez por cento para o autor.
Eu não recebo direitos autorais de minhas traduções. As minhas traduções estão sendo publicadas, hoje, pela Edicel, pela Lake, pela editora Calvário. Saiu uma edição do Evangelho Segundo o Espiritismo pela editora Três, da minha tradução. A Federação Espírita do Estado de São Paulo me pediu para lançar edições da minha tradução. Eu cedi a ela, a tradução. Agora, acontece que essa tradução, e essas edições tiradas não me dão direito autoral nenhum, porque eu não cobro direitos autorais. Elas estão saindo gratuitamente. Gratuitamente. Ora, querer, portanto, fazer fofoca neste assunto é simplesmente descer à mesquinharias. Mas eu sou obrigado a explicar, como você me pede Juvenal. A explicar para que compreendam que, no nosso trabalho espírita, nós não podemos querer sacrificar, como muita gente quer, os profissionais. Certa vez um sujeito me escreveu aqui, que foi a um médico espírita consultá-lo como espírita, e que o médico lhe cobrou a consulta. Eu disse: o que você queria que ele fizesse? Você vai no consultório do médico. O fato de você ser espírita e ele, espírita, não quer dizer que ele seja obrigado a lhe dar uma consulta gratuita. Ele fez muito bem de cobrar. Inclusive para ensinar a vocês a respeitar os profissionais, os profissionais que são espíritas. Então, vocês acham que um profissional, porque se torna espírita tem que fazer tudo, na sua profissão, gratuitamente para vocês? E vocês, o que fazem gratuitamente para eles? É preciso compreender este problema. Fez muito bem você de perguntar e eu tenho muito prazer em responder.
Pergunta 3: Fofocas e Cornélio Pires
Locutor - Professor, a gente vai prosseguir agora com as perguntas do nosso ouvinte Juvenal Camargo. Ele manda dizer o seguinte ainda. Gostaria também que você dissesse por que deixou de ir ao programa da Xênia, no canal treze? E porque não está dando o curso sobre o livro O Céu e o Inferno na Federação neste mês, segundo havia sido anunciado. Você me conhece e sabe que faço essas perguntas para esclarecer outras fofocas que andam por aí. Sei que você não deixa de responder perguntas, por mais incômodas que sejam. Desculpe-me, mas eu prometi a uns fofoqueiros que iria provocar essas respostas da sua parte.
JHP - E fez muito bem Juvenal. Sempre que houver fofocas você pode me perguntar que eu responderei. Não tenho dúvida nenhuma. Faço até questão de que as coisas sejam bem claras, colocadas com bastante clareza. Eu deixei o programa da Xênia simplesmente porque o programa foi transferido da Avenida Brigadeiro Luis Antonio para o Morumbi. Eu na era do automóvel, sou ainda um pedestre. Não tenho automóvel, nunca tive e não quero ter, porque acho que automóvel dá muito trabalho e eu tenho muita falta de tempo. O meu tempo é muito escasso. Então, nunca me preocupei com automóvel. Acontece, então, que, para mim, ir lá no Morumbi, eu perdia muito tempo. Fácil ir, mas difícil voltar. A condução de lá para a cidade é muito difícil. Então eu fui obrigado, apesar de ter ido algumas vezes lá, quando eu vi que era impossível continuar, eu fui obrigado a sair. A deixar o programa com muita dor de coração, porque gosto muito da Xênia, gosto muito do seu programa. Sempre mereci dela todas as considerações, lá no trabalho, quando ela me convidou para participar do programa. E não vejo motivo nenhum para se fazer fofoca a respeito disso.
Na verdade já tinham me dito que havia fofoca a respeito. Até me pediram, um dos nossos confrades muito interessado em por as coisas bem claras. Me pediu que fosse ao programa da Xênia e juntamente com ela desmentisse a história, a lenda que criaram de que ela me havia expulsado do programa. Não houve nada disso. Absolutamente, pelo contrário. De maneira que foi apenas isso. Quanto ao curso na Federação sobre o livro O Céu e o Inferno, eu não sabia de nenhuma fofoca. Essa é novidade Juvenal, novidade. Mas acontece o seguinte. O Céu e o Inferno não está sendo dado, esse curso não está sendo dado, simplesmente porque ele devia ser dado no correr do mês de agosto. E no correr do mês de agosto a Federação teve que suspender as suas reuniões públicas, em virtude do surto de meningite em São Paulo. É esse o motivo, nada mais do que esse.
Juvenal, eu agradeço muito a você ter a lembrança de me provocar realmente para esclarecer esses problemas. São coisas que ficam no ar que as pessoas não sabem, não compreendem, e é bom que a gente de vez em quando diga a verdade a respeito. A propósito, vamos fazer o seguinte. Existem aqui umas quadrinhas do Cornélio Pires enviadas através do Chico Xavier. Essas quadrinhas foram divulgadas na última edição do jornal A Folha Espírita. O título é Assunto entre Amigos. Acho muito oportunas essas quadrinhas neste momento. Vamos ver.
- Numa carta você pergunta, meu amigo Tarcisio Roca, como se enxerga no além os problemas da fofoca?
- Fofoca ao que me parece, e se estou certo na lembrança, pela voz do dicionário, era roupa de criança.
- Agora, fofoca é isto. Uma praga que caminha. Maledicência que nasce de cabeça miudinha.
- Se você sabe ninguém passa sem assuntos escolhidos, que só se deve explicar da boca para os ouvidos.
- De afeição para afeição. Em algum canto da sala, quanta lição de família, quanta luz no que se fala.
- Em meio de tanta luta humana de nossa terrestre escola, a confidência entre amigos anima, ampara, consola.
- Mas a fofoca meu caro, no lugar onde se ajeita, pelo conceito de agora é sempre a intriga perfeita.
- Se a vemos do além? De certa. É uma sombra indefinida que se enrola ou se estende lançando estragos à vida.
- Faz-se garra, pedra, nuvem. Faz-se monstro ou veneninho. Fofoca vive em caminho.
- Você o conhece de sobra. As lutas do leva e traz. Botemos algumas delas em nossa busca de paz.
- Lilia da Conceição exagerava o que via. Temos três lares em guerra por fofoca da Lilia.
- Ouvindo a nora sem vê-la, falando a um gato do Enoque, o sogro fez a malícia, o filho morreu de choque.
- Havia um centro de amparo no sítio de João Vilhena. Quando a fofoca surgiu, a obra saiu de cena.
- Recordo o grupo das preces, intrigas de Aninha Rosa destruiu a confiança, pôs o grupo em polvorosa.
- Tião servia, era médium no centro de Irmã Clarice. Fofoca envolveu Tião, Tião morreu de preguiça.
- Lembre a casa da bondade, fofoca entrou em função. Acabou-se a caridade e começou a confusão.
- Ana orava e dava passes no grupo de Irmã Josefa. A fofoca apareceu, Ana deixou a tarefa.
- Joel era pregador do tempo do irmão Nazário. A fofoca trabalhou, lá se foi o missionário.
- Só se falava de Deus no grupo de Irmão José. A fofoca deu de cima, o povo perdeu a fé.
- Caíam bênçãos e luzes no grupo da Irmã Jojora. Fofoca falou em fraude, o grupo morreu na hora.
- Onde a fofoca se instala o remate é sempre assim: Desconfiança aparece, a união tomba no fim.
- Se você quer trabalhar no alto dever do bem, perdoa, ampare, auxilie. Não pense mal de ninguém.
- Silêncio e prece. Eis a dupla que fofoca não desata. Guarde essa dupla consigo, que fofoca também mata.
Pergunta 4: Pergunta sobre o princípio da alternância de sexos nos espíritos.
Locutor - Vamos continuar com as perguntas dos nossos ouvintes, Professor. A ouvinte Antonieta Santa Maria da Rua Libero Badaró quer saber o seguinte. Sou espírita, mas não posso concordar com o princípio de mudança de sexo do espírito na reencarnação. Quanto mais penso sobre isso, mais me convenço de que isso é um absurdo. Então Jesus poderia encarnar-se como mulher e nossa senhora como homem? Perdão professor, mas isso não me cabe à cabeça.
JHP - É claro que embora a senhora seja espírita, a senhora não prestou bem atenção aos princípios doutrinários. Um dos princípios fundamentais do Espiritismo é o seguinte. O espírito não tem sexo. O sexo no sentido e na forma pela qual nós o conhecemos, o sexo é um instrumento da reencarnação. Ele existe na terra entre as plantas, entre os animais, entre os homens, como um meio de transmissão dos elementos físicos da vida. Da constituição física, portanto, do corpo humano. Mas o espírito não se reproduz. O espírito não tem necessidade da ação sexual para a sua reprodução, porque ele não se reproduz. O espírito existe como criação infinita, criação imortal. O espírito não morre. É uma criação de Deus. Consequentemente não existe sexo entre os espíritos no sentido que conhecemos aqui.
Poderíamos dizer que existe sexualidade. A sexualidade é mesmo entre nós interpretada como uma condição do indivíduo numa determinada posição espiritual ou psíquica. Então, a sexualidade masculina se define por determinadas características do homem e a sexualidade feminina pelas qualidades e características da mulher. Então, existe o espírito que está numa posição, por assim dizer, feminina, e o espírito que está numa posição masculina. Mas justamente para que haja um desenvolvimento constante dos espíritos em todos os seus aspectos, porque o espírito tem as potencialidades divinas. O desenvolvimento que o espírito humano tem por objetivo levar a criatura humana ao plano divino. Então é necessário que muitas vezes os espíritos passem por numerosas existências em que ora eles aparecem como homens, ora como mulheres. Isto é muito importante porque inclusive nos mostra, que não há distinção entre as criaturas. Perante Deus homem e mulher são a mesma coisa, são espíritos em evolução. E cada um tem o seu progresso a realizar, o seu trabalho, a sua tarefa a cumprir aqui na terra. É nesse sentido.
Então a senhora diz assim. Jesus poderia encarnar como mulher? Quando tratamos de Jesus devemos nos lembrar que estamos tratando de uma figura divina. Jesus só desceu ao plano humano e se humanizou por um ato de abnegação, um ato de amor, para trazer à humanidade um novo impulso no seu desenvolvimento evolutivo. Ele não se reencarna. Ele não tem essa necessidade. Poderíamos dizer o mesmo de Nossa Senhora. Maria de Nazaré era um espírito puro. Um espírito que já havia superado os ciclos das reencarnações. Quando um espírito supera o ciclo das reencarnações, ele não tem mais necessidade de se encarnar. Mas ele pode encarnar-se tanto como homem como quanto mulher se ele achar que deve encarnar-se para realizar uma tarefa, realizar uma missão um grande trabalho entre as criaturas humanas. Então é aí que ele se reencarna.
Mas a forma humana de homem e de mulher não tem essa limitação estrita e absoluta que nós queremos lhes dar aqui na terra. Por sinal que as pessoas que estudam sexologia, que conhecem os problemas de biologia e de fisiologia, sabem muito bem que na verdade, todos nós somos de certa maneira bissexuais. As qualidades do homem não são definitivas e absolutas, mas, sim relativas. Ele possui também muitas qualidades femininas. A mulher por sua vez, possui também muitas qualidades masculinas. Costuma-se mesmo dizer que todos nós temos elementos dos dois sexos em nossa existência. Isto naturalmente sem implicar aquilo que nos levaria para o plano inferior da prática sexual. Não! Esse plano que foi praticamente transformado pelo homem num absurdo aqui na terra, porque entre as plantas, entre os animais, o problema sexual é natural e segue leis precisas, não descamba para o terreno lodoso em que descambam entre os homens.
Então, nós sem descer pra esse terreno nós sabemos que todos nós possuímos, tanto homens como mulheres, elementos bissexuais em nossa constituição orgânica, em nosso próprio espírito. Isto já mostra de maneira bem clara no próprio plano físico, que não há essa distinção absoluta que se pretende estabelecer entre homem e mulher como se fossem dois seres criados diferentes. Não! Deus não criou o homem e a mulher como criaturas diversas. O homem e a mulher nascem naturalmente no desenvolvimento das espécies, no progresso sucessivo das espécies, na evolução geral. E aparecem como criaturas detentoras de certas qualidades que desenvolveram mais do que outras. Mas precisam passar depois por sucessivas encarnações em que possam também aprimorar e desenvolver as potencialidades que ficaram em atraso, quando eles passaram apenas por uma linha masculina ou por uma linha feminina de encarnações.
Pergunta 5: Mediunidade e Moralidade*
Pergunta 5: Antonieta Santa Maria prossegue. Outra coisa que me confunde é essa: Se a mediunidade não tem nada a ver com a moral, então, não é sagrada e, não podemos confiar nela. Como podemos ter confiança nos médiuns e nas suas comunicações?
JHP - Também nesse ponto a senhora não se aprofundou bem no estudo da doutrina. A senhora está revelando aí certos resquícios de religiões, as religiões antigas dentro das quais nós nos formamos naturalmente. Ora, essas religiões trazem o princípio sagrado como uma espécie de mistério. O que é sagrado é misterioso. É algo intocável, algo divino. Ora, a mediunidade como todas as coisas que existe na natureza humana, a mediunidade não é propriamente sagrada. Ela é natural. Se nós quisermos fazer a distinção entre o profano e o sagrado, se quisermos, por exemplo, distinguir as coisas naturais daquelas que são sagradas, nós então não podemos considerar a mediunidade como sagrada. A mediunidade é natural. É uma faculdade humana como qualquer outra. Por exemplo, podemos dizer que a inteligência do homem é uma faculdade humana natural. E nem por isso, se nós interpretarmos à luz do espiritismo, ela deixa de ser sagrada, não do ponto de vista das religiões, mas, do ponto de vista de ser uma conquista divina do homem. Uma conquista do homem no plano divino. Quando o homem desenvolve a sua inteligência amplamente, ele se aproxima da inteligência, das ordens divinas, das criaturas divinas. Assim também na mediunidade. Quando o homem desenvolve a sua mediunidade, e, sabe aprimora-la, liga-la, inclusive, no desenvolvimento moral, a sua mediunidade se torna, por assim dizer, sagrada, se nós quisermos interpretar o sagrado como aquilo que se aproxima do divino. É preciso compreender, portanto, que os médiuns são simples instrumentos de transmissão, de comunicação e, de influência dos espíritos para determinados fins na vida humana. Os médiuns como intermediários, eles não são sagrados em si. São criaturas humanas. O problema da moral está ligado sim à mediunidade. O que se afirma no espiritismo é que a mediunidade como faculdade humana natural, independe da mediunidade. Mas, a mediunidade como faculdade humana a serviço da espiritualidade está ligada estreitamente e, irreversivelmente à condição moral do médium. Isso porque nós sabemos que o médium, por melhor que ele seja, por grande médium que ele seja do ponto de vista puramente humano, ele depende nas suas comunicações do seu comportamento moral. Porque cada um de nós traz consigo os companheiros com que tem afinidade. Um médium sem moral está sempre acompanhado de espíritos inferiores, desmoralizados, como ele. Então, a prática da mediunidade no espiritismo exige o comportamento moral do médium. O médium por melhor que seja do ponto de vista mediúnico, ele não pode servir para comunicações morais elevadas porque ele não tem capacidade moral para isso. Dessa maneira não há um desligamento completo de moral na mediunidade. O desligamento é apenas no plano moral. Por exemplo, na inteligência. Nós podemos ter uma inteligência muito avançada e, podemos até ter uma inteligência enriquecida com muita cultura, e, não termos moralidade. Então, nós temos a inteligência separada da moral. E podemos dizer que a inteligência não depende da moral para o seu desenvolvimento. Mas, se essa inteligência quiser se aplicar ao campo espiritual, ela tem que se moralizar porque ela não servirá, ela não produzirá resultados nesse campo uma vez que não tem as condições morais necessárias para desenvolver as suas atividades.
O evangelho do Cristo em Espírito e Verdade. Rompendo a casta da letra para penetrar no espírito.
Abrindo o evangelho ao acaso encontramos o seguinte. Lucas 6: 46-49:
“Porque me chamais Senhor e não fazeis o que vos mando? Todo aquele que vem a mim e ouve as minhas palavras e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É semelhante a um homem que edificou uma casa, cavou, abriu profunda vala e pôs os alicerces sobre a rocha. E vindo uma enchente deu a torrente com ímpeto naquela casa e não a pode abalar, porque tinha sido bem edificada. Mas aquele que as ouve e não as observa é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, na qual a torrente deu com ímpeto e logo caiu. E foi grande a ruína daquela casa.”
JHP - Como vemos este trecho do evangelho de Lucas, não tem praticamente nenhum segredo. Ele é bem claro na sua exposição do assunto. É necessário que quem quer seguir determinados princípios realmente procure penetrar na compreensão desses princípios. Ouvir, por exemplo, o que Cristo ensinou e em seguida praticar o contrário, é fazer como o homem imprudente que não soube alicerçar a sua casa na rocha. Ele construiu a casa sobre a areia e esta casa não resiste. Então as intempéries, os elementos naturais podem destruí-la, derrubá-la, com muita facilidade. Isto acontece precisamente no campo da mediunidade. Ainda agora estávamos falando sobre este problema da mediunidade. Um médium, por exemplo, sente desenvolver a mediunidade em si. Ele é um homem do mundo. Ele está ligado às coisas mundanas. Não tem praticamente grande interesse pela religião, pelas coisas espirituais. Mas uma vez que ele se sentiu assediado por espíritos, ele foi obrigado a procurar um centro espírita e procurar ali encontrar a solução do seu problema. Encontrou a solução no desenvolvimento mediúnico.
O desenvolvimento mediúnico, entretanto, o coloca numa posição muito difícil se ele não procurar compreender os princípios morais do Espiritismo e se não procurar absorver os ensinos do evangelho. Porque ele como médium, ele estabelecerá relações por afinidade, por sintonia, com entidades espirituais muito inferiores se ele continuar na sua posição inferior, desligado dos pensamentos mais elevados. Desligado, portanto, dos ideais espirituais. Então, ele se verá na sua situação do homem que construiu a sua casa sobre a areia. Por quê? Ele não foi capaz de cavar o chão para encontrar a rocha. Cavar o chão no caso seria ele dedicar-se ao estudo do Espiritismo, ele aprofundar o seu conhecimento do evangelho. Ele procurar realmente a rocha da moral cristã que o Espiritismo oferece como base de todo desenvolvimento espiritual para ali alicerçar a sua mediunidade. A sua mediunidade alicerçada nesta rocha da moral, então lhe permitiria uma construção sólida e ele se tornaria um médium realmente eficiente capaz de atender às criaturas, de socorrer àqueles que necessitassem dele. E, ao mesmo tempo, de prestar o seu auxilio aos espíritos inferiores que a ele estiveram ligados antes e que como instrumentos benéficos o levaram ao desenvolvimento mediúnico. É nesse sentido que nós podemos compreender este pequeno e verdadeiramente edificante versículo, ou melhor, este tópico com os versículos do evangelho de Lucas.
Há um recado especial para você amigo ouvinte.
Dizem que o diabo anda à solta e solta os demônios seus sobre as almas indefesas arrebatando-as de Deus. Se isso é certo, que diabo faz a polícia celeste que não desce das alturas e contra os diabos investe? Se você acredita nisso, responda-nos bom amigo. É justo que Deus nos deixe correr tamanho perigo?
Atenção amigos ouvintes, vamos repetir ao recado.
Dizem que o diabo anda à solta e solta os demônios seus sobre as almas indefesas arrebatando-as de Deus. Se isso é certo, que diabo faz a polícia celeste que não desce das alturas e contra os diabos investe? Se você acredita nisso, responda-nos bom amigo. É justo que Deus nos deixe correr tamanho perigo?
No limiar do amanhã. Um desafio aos que dormem.
*A Pergunta 5 foi editada/retirada da transmissão original, mas como consta em nossos arquivos, nós a incluímos (áudio e texto).