No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço. Estamos na idade da razão. A humanidade terrena amadureceu suficientemente para não dar mais nenhum crédito às fábulas do passado. O cristianismo nos trouxe a carta de alforria, livrando-nos do jugo da lei e da escravidão dos mitos. Tudo é racional no ensino de Jesus. Se quisermos realmente ser cristãos temos de fazer como ele: guiar-nos pela fé racional, pela fé esclarecida.
Jesus rejeitou os mistérios da mística judaica e as superstições do paganismo mitológico. Mostrou que o dualismo mitológico do bem e do mal decorria da ignorância da verdadeira natureza humana. Ensinou que o homem é filho de Deus pelo espírito e filho do homem pelo corpo. Chamava-se a si mesmo de filho de Deus e filho do homem. E perguntou aos judeus: não está escrito que vós sois Deuses?
Ao Deus dos Exércitos da Bíblia, Jesus opôs o Deus de Amor do Evangelho. Aos deuses múltiplos do paganismo, opôs o Deus único, supremo criador de todas as coisas e de todos os seres. À lei bíblica da vingança, opôs a lei evangélica do perdão. À lei da morte, opôs a lei da ressurreição. À lei da guerra, opôs a lei da paz e da fraternidade.
Tudo no ensino de Jesus é racional. Somos filhos de Deus e como Deus é único, somos todos irmãos. Se falou do diabo e do inferno, foi sempre em sentido alegórico, usando as expressões em voga no tempo a fim de ser compreendido. Mas conclamou a todos para se unirem num só rebanho do qual seria o único pastor.
O diabo é um mito, um símbolo das fases inferiores da evolução humana. Acreditar no diabo como um deus do mal, que disputa as almas de Deus ao próprio Deus, é um ilogismo. É descrer do poder supremo de Deus e da sua divina justiça.
Acreditar no diabo em pleno século XX é rejeitar o evangelho, voltar às superstições do paganismo. Os espíritos diabólicos nada mais são do que os homens maus. Quando morto o homem mau se transforma em espírito mau. Mas torna-se então um pobre diabo, digno de piedade e necessitado de preces e esclarecimentos.
No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Produção do grupo espírita Emmanuel, transmissão 166, 4o ano.
Locutores: José Pires e Jurema Yara. Sonoplastia: Antônio Brandão. Técnico de som: Valdir Pacheco. Direção e participação do professor Herculano Pires.
Gravação nos estúdios da Rádio Mulher, São Paulo. Todas as semanas neste dia e neste horário este programa é transmitido pela Rádio Mulher, 730kHz, São Paulo; pela rádio Morada do Sol, 640kHz, Araraquara; e pela Rádio Difusora Platinense, 780kHz, Santo Antônio da Platina, Paraná. Todas as semanas neste dia e neste horário.
Diálogo no limiar do amanhã, uma busca radiofônica da verdade.
O que é a verdade? A verdade é o que é, não o que a gente imagina.
Quem busca a verdade a encontra na realidade viva dos fatos.
Pergunta 1: Necessidade de orientação segura para prática mediúnica
Locutor - Professor, pergunta a ouvinte Leni Oliveira... Primeiro. Uma pessoa que não se adaptou com a reforma, não fez o curso, nem frequentou a escola mas tem boa vidência e é bem assistida, não pode mais trabalhar?
JHP - Estas perguntas da nossa ouvinte são sequência das que interrompemos quando respondíamos a ela no programa anterior. De maneira que ela está nos fazendo perguntas sobre reformas que foram processadas na estrutura da Federação Espírita com repercussão em vários centros espíritas. Inclusive no centro a que ela pertence e que ela frequenta. No tocante a esta pergunta é evidente que se uma pessoa tiver realmente a mediunidade de vidência, comprovada naturalmente nas experiências que se fazem em sessões, e também nos fatos particulares que ocorram com ela. É evidente que esta pessoa precisa de estudar, precisa de fazer cursos, precisa de estudar nos livros. Precisa se não souber ler de ser ensinada por outras pessoas esclarecidas, para poder exercer bem a sua vidência. Mas o fato desta pessoa não ter feito determinado curso, digamos assim o curso de médium da Federação, este fato não é suficiente para que ela deixe de trabalhar num centro. Um centro bem dirigido sabe que os cursos ilustram, ajudam, orientam o médium. Mas não é possível que estejamos exigindo determinados cursos, seja da Federação, seja da Liga Espírita, seja da USI, seja de qualquer instituição que seja, como título para fazer com que o médium exerça suas funções. A mediunidade é uma faculdade humana natural, e cabe aos diretores de cada centro ver se a orientação de seus médiuns está certa ou não e ajudá-los a exercer com eficiência a sua faculdade.
Pergunta 2: As pessoas são obrigadas a frequentar as aulas da escola de médiuns?
Locutor - As pessoas são obrigadas a freqüentar as aulas da escola de médiuns?
JHP – É o que eu já respondi, não é? Acho que as pessoas devem e podem frequentar as aulas na escola de médiuns, ou de qualquer outro curso que seja dado, seja na federação ou em qualquer outra federação espírita. Mas ninguém é obrigado a fazer isso. É preciso esclarecer isto bem. Porque nós estamos caminhando para uma certa rigidez na institucionalização do Espiritismo, e isso é contraditório com os princípios da própria doutrina. Ninguém é obrigado a fazer este ou aquele curso. A frequentar esta ou aquela casa. Digo mais, nenhum centro é obrigado nem sequer a se filiar à Federação. Filia-se à Federação aquele centro que quer, aquele que quer colaborar no trabalho comum. E submete-se não propriamente às ordens da Federação, mas a orientação geral que a Federação dá, de acordo naturalmente com a aceitação de cada grupo, de cada centro. Não é possível que nós tenhamos no Espiritismo de caminhar para o mesmo sistema das igrejas.
Lembro-me sempre de uma expressão de Emmanuel que é a seguinte. Emanuel escreveu numa das suas mensagens: A religião organizada é o cadáver da religião. Nós não queremos naturalmente transformar o Espiritismo religioso num cadáver de religião. Queremos que ele seja a religião viva que Kardec nos deu, servindo de instrumento como sabemos ao Espírito da Verdade, aos espíritos do Senhor que lhes deram as instruções todas. Queremos essa religião viva e não morta. Queremos que as instituições sejam instrumentos de ajuda, de auxílio no nosso trabalho. Mas não que se tornem empecilhos. Não que assumam o papel de autoridades, de pequeninos vaticanos a determinar ordens para aqui e para ali. Isso nós não podemos admitir no Espiritismo. Temos de compreender que as nossas instituições doutrinárias são simplesmente instituições destinadas a nos auxiliarem no nosso trabalho. A nos ajudarem, mas não, mas não a nos tolherem a liberdade e a nos fazerem imposições para as quais elas não têm autoridade espiritual.
Pergunta 3: Existe uma idade mínima para alguém começar a dar assistência espiritual?
Locutor - Professor, com que idade uma pessoa pode dar assistência espiritual para outra?
JHP - É evidente que o problema da assistência espiritual não está limitado a qualquer idade. Eu tive ocasião de assistir certa vez uma criança, um menino, dar conselhos a uma senhora. E deu conselhos com muita precisão. Porque a senhora estava se desorientando, aturdida com os seus próprios problemas. E o menino de repente sentou-se ao lado dela, tocou-lhe nas mãos e com muito carinho, era um sobrinho dessa senhora, deu-lhe uma lição admirável. Chamando atenção dela para a necessidade de ponderação, de crer em Deus, de ter fé em Deus. Era um menino de dez anos. Ora, este menino naturalmente estava sendo intuído naquele momento. Mas se ele já não tivesse, ele mesmo, uma maturidade espiritual suficiente para isso, não receberia a intuição e não a transmitiria como estava.
Assistência espiritual é isso. Está se criando também agora um outro problema, o problema dos sistemas. Há uma sistemática da assistência espiritual. A assistência espiritual não tem sistemática nenhuma. Nem pode ter. Ela brota do coração, brota da alma das pessoas e sobre o influxo dos espíritos que nos orientam. É preciso compreendermos isso. Nós não podemos sufocar a liberdade das manifestações. A liberdade das manifestações espíritas e das manifestações mesmo anímicas das pessoas que são bem intencionadas e cujas almas portanto, cujos espíritos podem por si mesmos orientar as outras pessoas. A assistência espiritual é um ato de amor. Nada mais do que isso.
Pergunta 4: Todos os centros devem aderir às mudanças propostas pela FEESP??
Locutor - Todos os centros filiados à Federação sofreram esta mudança?
JHP - Não. No programa passado eu lhe disse que não estava suficientemente informado a respeito. Estou agora informado de que a Federação não está impondo essa mudança. Ela está sugerindo. Isto está certo, ela pode sugerir. Com aquela ressalva que eu fiz. Por exemplo, a supressão das comunicações nas sessões espíritas é um absurdo. Isso é um passo profundamente errado do ponto de vista doutrinário. Mas quanto a isso me afirmaram que não é bem assim. Que há qualquer coisa aí que não está bem explicada. Vamos ver. Acredito que sim. Eu já disse no programa passado e sustento neste, que eu tenho confiança nos atuais diretores da Federação Espírita do Estado de São Paulo. Porque realmente são pessoas esclarecidas, sinceras, dignas, dedicadas ao trabalho. Pode ser que alguma coisa de errado ocorra. Porque numa instituição tão grande lidando com tanta gente, com tantos centros espíritas. E dispondo de um quadro de ativistas que nem sempre está suficiente para atender a todas as tarefas, é evidente que pode ocorrer enganos. Mas eu confio nos atuais diretores da Federação e espero que eles tomarão providências a respeito desses enganos que estão havendo.
Pergunta 4: Os centros são obrigados a serem filiados à Federação?
Locutor - Os centros são obrigados a serem filiados à Federação?
JHP - Não. Eu já respondi essa pergunta. Podemos passar à outra.
Pergunta 5: Que vai ser dos espíritos que anseiam por se comunicar?
Locutor - Que vai ser dos espíritos que anseiam por se comunicar?
JHP - Os espíritos que anseiam por se comunicar, eles tem sempre a possibilidade de se comunicar. Não precisam se comunicar na Federação, nem neste ou naquele centro. A mediunidade como sabemos é uma faculdade humana natural. E existem muitas reuniões de grupos particulares, familiares, e numerosos centros. De maneira que esta é uma preocupação que nós não precisamos ter precisamente assim. Como eles vão se comunicar? Eles sempre tem a possibilidade de comunicar-se.
Pergunta 6: Um espírito deve ser impedido de se comunicar numa reunião?
Locutor - Professor, o senhor acha que pode e deve mandar o espírito subir sem conversar com ele?
JHP - Se o espírito se manifesta numa sessão mediúnica é porque ele está necessitado de esclarecimento. Ele precisa ser doutrinado, ele necessita de doutrinação. Doutrinação quer dizer o conhecimento dos princípios da doutrina espírita. Por que? Porque estes princípios é que vão dizer a ele o que aconteceu com ele na morte. Porque que ele passou para o lado de lá, na forma e na situação em que se encontra. Então é necessário que ele tenha esta orientação, e é para isto que ele se manifesta. Se os espíritos superiores fazem estes espíritos necessitados se manifestarem nos centros, é evidente que é porque eles, lá no mundo espiritual, já verificaram que estes espíritos estão mais ligados pelo pensamento à nós, à vida terrena que deixaram, mais impregnados desta vida. Então é mais fácil conseguir-se o seu esclarecimento através de um médium, através da sessão mediúnica, do que lá no plano espiritual na liberdade em que eles se encontram. Porque lá eles não estão ainda em condições de compreender bem as coisas. Eles ficam assim ao se retirarem do corpo, desprovidos das ligações carnais, do meio ambiente em que vive na terra. Eles ficam assim, como que num estado de sonolência, de uma certa ebriedade, eles ficam desligados da realidade plena e incapazes de compreender bem as coisas.
É por isso que esses espíritos necessitam de se comunicarem nas sessões mediúnicas. Porque ao se aproximarem do médium, envolvendo-se nas vibrações do médium, envolvendo-se no fluido vital que eles já deixaram na terra, que eles não possuem. A vida deles é a vida espiritual e não a vida carnal. Então envolvendo-se nesse ambiente eles se sentem novamente seguros. Eles restabelecem a tranqüilidade e a firmeza do seu próprio raciocínio e se tornam mais capazes de entender as coisas. De maneira que fazer um espírito retirar-se do médium sem o doutrinar numa sessão espírita, é a mesma coisa que se dizer. Para que se faz a sessão? É a mesma coisa de se perguntar isso. Pra que se faz a sessão? A sessão não é feita para receber e encaminhar, orientar os espíritos sãos.
Pergunta 7: Por que há tantos espíritas e federações espíritas estaduais contra a Federação Espírita Brasileira? Isso não é prejudicial a doutrina? O Que está errado na FEB?
Locutor - Professor, o ouvinte Jurandir Peres de Souza da Rua Luiz Góes, Vila Mariana, pergunta. Por que há tantos espíritas, e federações espíritas estaduais contra a Federação Espírita Brasileira? Isso não é prejudicial à doutrina? O Que está errado na FEB?
JHP - Seria prejudicial a doutrina se por acaso a doutrina dependesse desta ou daquela instituição. A doutrina não depende disso. O Espiritismo é uma doutrina que não depende de institucionalização. Ela é como uma doutrina filosófica, que realmente ela é, com bases científicas e consequências religiosas. Ora, uma filosofia não necessita de que se crie um estabelecimento apropriado para que ela se desenvolva. Ela vive por si mesma. Porque ela é uma sequência de princípios que todas as pessoas que a aceitam podem desenvolver. Não há necessidade portanto, de instituições com a finalidade de manter a doutrina. As instituições são como já dissemos instrumentos de trabalho, meios de ação. As pessoas se aglutinam numa instituição porque têm os mesmos pensamentos, os mesmos princípios, e querem então auxiliar o seu desenvolvimento.
No caso da FEB, é esta a sigla da Federação Espírita Brasileira, o que acontece é o seguinte. Esta instituição está praticamente perempta. É uma instituição que envelheceu e não soube se remoçar. Os tempos correram, passaram, e ela continuou no passado, ela ficou na distância. Dirigida por um grupo de pessoas que se deixaram levar pela mistificação daquilo que chamamos o roustainguismo. Uma mistificação evidente, inegável, indisfarçável. Um verdadeiro processo de mistificação que tem por finalidade ridicularizar o Espiritismo. Apoiados então nesta mistificação, os atuais diretores da FEB, Federação Espírita Brasileira pretendem, naturalmente sem o querer, eles não tem a intenção de fazer isto. Mas não tiveram ainda a possibilidade de compreender o seu erro. Então eles pretendem através da publicação de obras de Roustaing, da divulgação destas obras pela revista O Reformador. E pela propaganda incessante destas obras e a defesa através do Reformador em artigos violentos. Eles pretendem impor ao meio espírita uma mistificação contrária aos preceitos doutrinários do Espiritismo, contrária ao próprio espírito da doutrina. É por isso que há muitos espíritas que criticam, que se opõem hoje à Federação Espírita Brasileira. E muitas federações dos estados que fazem exatamente isso. Ora, por que fazem isto? Porque estas federações, e graças a Deus são em maioria absoluta, estas federações estaduais não se desviaram do rumo kardecista, elas estão firmadas na orientação de Kardec. E portanto não podem aceitar a mistificação que é defendida pela FEB. É esse o motivo.
Pergunta 8: Por que existem em São Paulo duas entidades de cúpula? A Federação e a USE?
Locutor – A segunda pergunta do ouvinte Jurandir, Professor. Por que existem em São Paulo duas entidades de cúpula? A Federação e a USE?
JHP - Não são propriamente duas entidades de cúpula. O que nós chamamos entidades de cúpula são as federações. As federações são entidades de cúpula pelo seguinte. Não porque elas estejam na cúpula do movimento, mas porque elas foram organizadas com o sentido de cúpula. Por exemplo. Quando se formou a Federação Espírita do Estado de São Paulo. Como foi ela formada? Por acaso se consultaram os espíritas de todo Estado? Não. Foi um grupo que se reuniu aqui em São Paulo e resolveu fundar a federação. Assim aconteceu em todos os demais estados. Pequenos grupos, cuja única vantagem era residir nas capitais, fundaram essas entidades federativas. Elas têm sido muito úteis, tem prestado grande serviço à doutrina. Mas chegou a um momento em que se sentiu o perigo de acontecer com as federações estaduais o que aconteceu com a do Rio. Então resolveu-se organizar o movimento de unificação. Movimento de unificação dos espíritas, do Espiritismo.
Ora, este movimento de unificação é que tomou o nome de USE - União das Sociedades Espíritas. Aqui em São Paulo por exemplo é: União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, mas a sigla continua a ser apenas USE. U, S, E, que corresponde a União das Sociedades Espíritas. E esta organização da União das Sociedades Espíritas inclui as federações. Por exemplo, a Federação Espírita do Estado de São Paulo e a Liga Espírita do Estado de São Paulo, que são duas entidades federativas, pertencem à USE, figuram incluídas na estrutura da USE, da União das Sociedades Espíritas. E esta sociedade, a USE, não é absolutamente uma sociedade de cúpula, mas de base. Porque ela é constituída não por um grupo aqui da capital, e sim por um Conselho Federativo Estadual, que conta com a representação de todas, de todo interior. O interior foi dividido em várias zonas, existem as cidades chaves de cada região. Por exemplo, Marilia, na Alta Paulista, é sede de uma região. Araraquara, na araraquarense, é sede de outra região. E assim por diante. Então em cada região existe um Conselho Regional Espírita. Este conselho é constituído pelos representantes das uniões municipais espíritas que existem nas cidades da região. De maneira que o representante deste conselho vem para São Paulo para figurar no Conselho Federativo Estadual. E aí temos então uma sociedade espírita que realmente está apoiada nas bases populares.
Pergunta 9: Por que o senhor não faz parte da diretoria da Federação ou da diretoria da USE?
Locutor - Terceira pergunta. Por que o senhor professor, não faz parte da diretoria da Federação ou da diretoria da USE?
JHP - Eu já fui vice-presidente da USE. Pertenci à diretoria da USE. À diretoria da federação eu nunca pertenci. Porque eu estive, não podia estar ao mesmo tempo em dois ou três lugares. Eu estive muito tempo empenhado na orientação e na direção do Clube dos Jornalistas Espíritas de São Paulo. Nós tínhamos sempre grande interesse, temos ainda hoje, no desenvolvimento dos aspectos culturais do Espiritismo, e o trabalho jornalístico devia ser aglutinado no seio do movimento espírita. Então dediquei a maior parte do meu tempo a isso. Figurei na USE como representante do Clube dos Jornalistas Espíritas e lá exerci durante certo tempo a função de vice-presidente da USE.
Mas eu me vi obrigado por assim dizer a deixar a USE também. E vou explicar porque com toda sinceridade. Porque infelizmente a maioria dos nossos confrades não compreendem, não compreendem o espírito do Espiritismo. E começou a surgir dentro da própria USE uma tentativa de transformação da instituição numa espécie de instituição autoritária. E eu discordei disto. Então preferi ficar de fora. Pertenço hoje ao Grupo Espírita Emmanuel e também ao Grupo Espírita Cairbar Schutel. Nestes dois grupos eu exerço as minhas funções doutrinárias, quer dizer as minhas atividades doutrinárias.
Pergunta 10: Devemos ensinar Espiritismo às crianças? A começar de que idade?
Locutor - Professor, o ouvinte Armando Marques da Rua das Rosas pergunta. Primeiro, devemos ensinar Espiritismo às crianças? A começar de que idade?
JHP - Espiritismo é uma forma de orientação. Pode ser dada no sentido filosófico, no sentido religioso, e sempre com bases científicas. No sentido religioso é evidente que o Espiritismo se coloca no mesmo plano de todas as demais religiões. Ele representa então uma iniciação da criança na orientação espiritual que ela deve ter na vida. E ao mesmo tempo constitui uma espécie de um estímulo à criança para o desenvolvimento da orientação espiritual própria que ela já traz ao reencarnar-se na terra. Então não existe propriamente um limite de idade para o início do ensino do Espiritismo às crianças. O que existe é naturalmente uma forma apropriada. Nós não podemos começar ensinar às crianças certos problemas do Espiritismo que estão além do seu alcance imediato. Por exemplo, há pessoas que pretendem começar logo ensinar às crianças certos princípios doutrinários que vão além da própria concepção das pessoas adultas. O que é Deus? Como Deus faz as coisas? Como Deus nos dirige? Nós devemos apenas falar às crianças de Deus num sentido mais acessível a elas. E orientá-las nos princípios espíritas sempre com essa mesma precisão. Não nos adiantarmos, não querermos fazer das crianças imediatamente uma espécie de alunos de espiritismo em alto grau.
Pergunta 11: O que fazer com um médium que não quer exercer a mediunidade e sofre perturbações?
Locutor - A segunda pergunta do ouvinte Armando. O que devemos fazer professor, com um médium que não quer exercer a mediunidade, sofre perturbações e se recusa a ir a um centro?
JHP - Devemos orar por ele. Orar e procurar aconselhá-lo, ajudá-lo. Podemos também, tanto nas sessões do centro que frequentamos quanto em reuniões que por acaso tenhamos de fazer. Podemos pedir aos espíritos que auxiliem esse médium, que afastem dele as perturbações, os espíritos que realmente o afastam da sua missão mediúnica. Desta maneira, através de intervenções por assim dizer espirituais, por meio das sessões e através das preces, nós podemos auxiliá-lo. Mas é sempre bom que se tenha também uma ligação pessoal com ele estimulando, acordando, despertando pessoalmente para a necessidade que ele tem de frequentar um centro.
https://soundcloud.com/herculanopires-1/o-que-fazer-com-um-medium-que-nao-quer-exercer-a-mediunidade-e-sofre-perturbacoes?in=herculanopires-1/sets/no-limiar-do-amanha-36
Pergunta 12: Frequento um centro espírita mas não estou contente. Devo retirar-me para outro centro?
Locutor - Frequento um centro espírita mas acho o seu presidente muito ignorante e vaidoso. Devo retirar-me para outro centro?
JHP - Este problema da frequência a centros é um problema muito pessoal. Eu entendo que a pessoa que não se sente bem num determinado centro, seja porque entendeu que o presidente é ignorante, é vaidoso ou coisa semelhante. Se ele não se sente bem ali, ele deve procurar um outro centro. Porque ele pode ser ali um fator de desarmonia. Ao passo que em outro centro, onde ele se adapte bem, onde ele encontre afinidade, ele poderá ser útil. Entretanto, se o senhor notar, por exemplo, que a sua questão com referência ao presidente pode ser, pode provir não apenas da ignorância ou vaidade do presidente, mas também de uma certa falta de afinidade com o senhor, nesse caso o senhor teria de procurar combater essa tendência e adaptar-se ao centro.
Pergunta 13: Toda a minha família é católica, só eu sou espírita. Parentes fogem de mim. O que devo fazer?
Locutor - Professor, o ouvinte Mário Lisange Cabreira da Rua Domingos de Moraes pergunta. Primeiro. Toda a minha família é católica, só eu sou espírita. A maioria dos parentes foge de mim. O que devo fazer?
JHP - O senhor tem de continuar com firmeza na sua orientação doutrinária e demonstrar a esses parentes que fogem do senhor que na realidade eles não tem motivo para isso. Se realmente são tão preconceituosos que não podem aceitar que o senhor seja espírita, mesmo que a sua conduta seja a melhor possível, então o senhor tem de se conformar com isso. Se as pessoas preconceituosas se afastam da gente por motivos que não tem sentido, não seremos nós que vamos ceder à elas e afastarmos dos nossos princípios para contentá-las. É evidente que o senhor deve ter paciência com essas pessoas, orar por elas, e continuar firme no seu, na sua orientação espírita.
Locutor - Mande suas perguntas ao Programa No Limiar do Amanhã, Rádio Mulher, Rua Granja Julieta 205, São Paulo. Ouça as respostas, analise-as e se discordar do que dissemos conteste-as. Isso é diálogo.
Diálogo no limiar do amanhã. Quem estará com a verdade?
Pergunta 14: Frequentar a igreja e o centro ao mesmo tempo.
Locutor - Continuando a responder ao ouvinte Mário Lisange Cabreira da Rua Domingos de Moraes. Minha mãe me pede para frequentar a igreja e o centro. O que o senhor professor, me diz sobre isso?
JHP - Aí é um problema conflitivo, pelo seguinte. Se o senhor tem uma orientação doutrinária espírita, o senhor vai se chocar na igreja com várias coisas que o Espiritismo não admite. Então o senhor deve prosseguir na sua orientação espírita dentro do centro espírita. Explicar à sua mãe que tudo tem a sua razão de ser. Que se o senhor se adaptou melhor ao Espiritismo é porque este é o seu caminho. E ela pode perfeitamente continuar no catolicismo. Para nós como o senhor sabe, todas as religiões são boas desde que sejam religiões orientadas para o bem e não no sentido maléfico como existem também religiões nesse sentido. Então todas as religiões que realmente trabalham para o bem, o esclarecimento das criaturas, ajudá-las a se consolarem das provas da vida, e a procurarem a Deus, são boas. Mas cada um de nós tem a sua sintonia por determinado tipo de religião. E por isso, é exatamente por isso, que muitas pessoas criadas numa religião ao se tornarem adolescentes já começam a se desviar dela, retiram-se e procuram uma outra religião. Isto pode ocorrer dentro do próprio Espiritismo. Numa família espírita pode surgir uma pessoa que criada dentro do Espiritismo, sinta entretanto atração maior por uma outra senda religiosa. E nós não devemos impedir que a pessoa siga aquele tipo de religião que lhe convém. Explicando isto a sua mãe, com clareza, o senhor resolvera esse problema.
Pergunta 15: Como saber o que fui em outra encarnação?
Locutor - Como eu poderia saber o que fui na outra encarnação? Um médium vidente me disse que eu fui um cangaceiro no Nordeste, chamado Zé Piranha. O que o senhor professor, acha disso?
JHP - Acho que este problema das encarnações passadas é um problema muito melindroso e que nós não devemos nos interessar por essas coisas. Pois se Deus quis que nós nascêssemos nesta existência com uma memória nova, com um novo cérebro inteiramamente virgem. Um cérebro que vem gravar aqui a experiência desta vida. E reservou as experiências do passado para o nosso inconsciente. Para ali permanecerem como uma reserva que irá aflorando à nossa mente na proporção em que nós evoluirmos, em que desenvolvermos a nossa capacidade na vida atual. É evidente que nós devemos respeitar este princípio que vem de Deus. Deus sabe mais do que nós. Se nós começamos querer saber o que fomos no passado cairemos forçosamente numa porção de enganos. Porque se Deus não nos permitiu a memória dessas vidas passadas é porque essa memória seria prejudicial para as nossas experiências atuais nesta vida.
Esse problema de médiuns videntes que estão sempre vendo as encarnações de outras pessoas é um problema de perturbação. Os médiuns videntes em geral, mesmo quando percebem alguma coisa que para eles pode ser uma revelação da encarnação passada da pessoa, aqueles que são bem orientados não dizem isso a ninguém. Porque eles sabem que também podem estar enganados. Neste caso por exemplo, dizer que o senhor foi um cangaceiro chamado Zé Piranha. É, torna-se até engraçado, né. Pode ser uma piada de um espírito brincalhão. O senhor não se interesse por estas coisas. Siga aquele princípio do Livro dos Espíritos que diz o seguinte. Se você quer saber o que foi na vida passada, estude, examine as suas tendências atuais. Aí você verá o que foi. Não quero dizer que você ficará sabendo, eu fui fulano de tal, vivi em tal época, em tal cidade. Não. Você terá o tipo moral que você foi na encarnação passada e é isso o que interessa.
Pergunta 16: Prática de atividades mediúnicas no isolamento.
Locutor - Professor, o ouvinte Humberto Pires de Almeida de Osasco, pergunta. Primeiro, sou médium. Um espírito me disse que tenho grande missão a cumprir, mas não frequentar nenhum centro. Devo desenvolver a psicografia sozinho na minha casa. O que o senhor me aconselha?
JHP - O senhor procurar imediatamente um centro. O senhor está ameaçado de um processo de obsessão. Posso dizer-lhe com toda clareza, sem dúvida nenhuma, porque isto é um caso bastante conhecido no Espiritismo. E se o senhor ler com atenção O Livro dos Médiuns o senhor encontrará lá esta advertência que estou lhe fazendo. O espírito que pretende encurralar um médium em casa, e submetê-lo apenas à sua, às suas ordens, ao seu trabalho é um espírito obsessor. Por isso existem os centros, as reuniões familiares, os grupos de trabalho, onde as pessoas podem desenvolver a sua mediunidade, cercadas por outras pessoas experientes e num ambiente de proteção espiritual mais ampla onde evitarão a influência destes espíritos perturbadores.
Pergunta 17: Ouvinte orientada por médium para não levar a filha que sofre de convulsões a centro nenhum.
Locutor - A segunda pergunta. Tenho uma filhinha de seis anos que sofre de convulsões. Os médicos dizem que não tem cura. O espírito me disse que posso curá-la com passes, mas não devo levá-la a centro nenhum. É certo?
JHP – É errado. O senhor deve continuar a tratar da sua filhinha que sofre de convulsões, e a tratar com médicos. Isto não impede que o senhor a submeta a passes. E pode ser no centro espírita. Ou passes através de um outro médium, não este que está aconselhando o senhor a não ir ao centro.
Pergunta 18: Ouvinte que teve várias religiões e as abandonou, mas diz crer em Deus.
Locutor - Professor, o ouvinte Renato Moraes da Rua Lavapés, pergunta. Primeiro, fui católico, depois protestante metodista, depois espírita. Hoje não sou nada. Não tenho religião, mas creio em Deus.
JHP – Ora, se o senhor crê em Deus, o senhor já tem religião. Porque a religião, o senhor sabe que a palavra religião tem um sentido de ligação. De acordo com muitos filólogos a palavra religião provém do Latim. Religare, quer dizer religar. O homem se desliga de Deus e cai por exemplo, na descrença, no materialismo. Na proporção em que o homem evolui, ele se desprende das leis naturais que o dirigiam através dos instintos. Ele se entrega à sua razão própria, e então ele se envaidece porque ele é capaz de julgar as coisas, de compreender, de avaliar. E com este envaidecimento ele se afasta de Deus, se julga capaz de se dirigir por si mesmo, sozinho. A religião é um meio de religar o homem a Deus. Religar a criatura a Deus. Mas se o senhor acredita em Deus, se o senhor realmente tem o seu sentimento voltado para o bem, e se o senhor é capaz de seguir os princípios evangélicos, o senhor está num caminho religioso. Pouco importa que o senhor esteja nesta ou naquela religião. O que importa é que o senhor crê em Deus, tenha fé em Deus, e que procure esclarecer-se através dos ensinos evangélicos na orientação da sua vida.
Pergunta 19: Qual a explicação espírita sobre a santíssima trindade?
Locutor - Professor, a ouvinte Marianinha do Santos, estudante de pedagogia, residente a Rua Casimiro de Abreu, pergunta. Primeiro. Qual a explicação espírita sobre a santíssima trindade?
JHP - A santíssima trindade que existe no catolicismo existe em várias religiões antigas. As grandes religiões do passado quase todas elas tem sempre como princípio básico está questão de três elementos fundamentais no universo. No Espiritismo explica-se o princípio da trindade, o sehor pode encontrar isto no Livro dos Espíritos, através daquilo que Kardec chamou a trindade universal. A trindade universal, segundo os espíritos e segundo Kardec é constituída por Deus, Espírito e Matéria. Deus é o poder criador, é o poder supremo, é a mente suprema do universo. Esta mente suprema dirige todas as coisas. E pelo seu poder mental criou todas as coisas. Nós podemos fazer uma comparação disto com a nossa própria mente que é também criadora. E é por isso que nós somos a imagem e semelhança de Deus. Porque nós temos o poder criador em nossa mente, enquanto os outros seres da criação como os animais não tem. Nós temos o poder criador, nós criamos coisas, modificamos o mundo, construímos civilizações. Promovemos até mesmo guerras destruidoras, arrasamos com o que fizemos, e depois voltamos a construir de novo, porque Deus nos concede a liberdade para que nós possamos aprender a usar o nosso poder criador.
Ora, Deus então é o poder central do universo. É o poder criador e mantenedor do universo. O espírito é por assim dizer a sua própria emanação. É o seu pensamento. E este pensamento de Deus cria o princípio fundamental do universo que é o princípio inteligente. Aquilo que chamamos de espírito neste caso não é o espírito individualizado. É uma substância universal. É uma onda de pensamento, por assim dizer, que invade o universo inteiro, que constitui o próprio universo na sua essência. Mas deste princípio inteligente decorre também o princípio material que é a manifestação deste princípio nos planos mais grosseiros da sensibilidade. Então, temos a projeção do espírito na matéria, e a conjugação do espírito com a matéria para a produção de todas as coisas.
Assim Deus, Espírito e Matéria é o que o Espiritismo considera como a trindade básica, fundamental do universo. Esta trindade é representada nas religiões de forma antropomórfica. Quer dizer, as religiões dão a esta trindade não a forma que nós vemos no Espiritismo. Como substâncias, como elementos dirigidos por uma mente, uma mente que não é propriamente humana, que é a mente de Deus, é a mente divina. Mas as religiões dão a estas três coisas as formas humanas. Então temos por exemplo, temos por exemplo as três pessoas da trindade no catolicismo, e temos nas religiões antigas as correspondentes destas. Vemos na antiga religião egípcia bem demonstrada esta tese, com a constituição da trindade egípcia. Sendo Osíris, o deus principal. E sendo como sabemos, depois de Osíris, o deus Hórus como filho. E temos a deusa egípcia que representa a mãe. Então nestas três figuras centrais, que é Osíris, Isis, e Hórus, as três figuras centrais da trindade egípcia, nós temos um exemplo do que foram nas religiões da antiguidade, estas representações antropomórficas, quer dizer em forma humana, dos elementos da trindade universal.
Pergunta 20: Por que os espíritas não fazem cerimônia de recomendação de cadáveres?
Locutor - A segunda pergunta da ouvinte Marianinha dos Santos. Os espíritas não fazem nenhuma cerimônia de recomendação de cadáveres. Por que?
JHP - Porque os cadáveres como nós sabemos já estão recomendados à terra. Eles vão se dissolver na terra. Eles são pura e simplesmente uma devolução da matéria utilizada pelo espírito, a matéria que pertence a terra. Uma devolução feita à sua proprietária, à sua dona, à sua origem que é a própria terra. Então nós não temos que recomendar cadáveres. Pode-se dizer, mas a recomendação se refere não ao cadáver e sim ao espírito. Quanto ao espírito também não temos que fazer recomendação nenhuma, porque eles já estão recomendados por si mesmos. O que os recomenda são as suas obras, a sua vida, aquilo que eles fizeram na terra. Eles vieram aqui para submeter-se a certas experiências e adquirir conhecimentos, e ao mesmo tempo realizar trabalhos benéficos para si e para os outros. Os que fizeram isto já estão recomendados por si mesmos. São as suas obras que os recomendam. Os que não fizeram também estão porque ao passar para o lado de lá, eles vão ser recebidos como todos os espíritos são, por entidades benévolas que procuram orientá-los. Se eles não estiverem em condições de ver e ouvir essas entidades e caírem num estado de perturbação, eles vão precisar ser socorridos. De maneira que a nossa recomendação formal aqui na terra através de um ato puramente litúrgico, de um formalismo religioso, não tem sentido num caso tão importante como este da passagem do espírito para a vida espiritual. Nós temos que compreender que as formalidades do culto exterior nada representam para o espírito.
Pergunta 21: Como os espíritas podem provar a existência da reencarnação? E como o Espiritismo se diz cristão se o cristianismo condena esse dogma?
Locutor - Como os espíritas podem provar a existência da reencarnação? E como o Espiritismo se diz cristão se o cristianismo condena esse dogma?
JHP - O cristianismo ao contrário do que diz a nossa ouvinte, o cristianismo não condena a reencarnação. Ao contrário disso, o cristianismo ensina a reencarnação. Quem lê o evangelho com atenção, quem estuda as escrituras sagradas. Não dentro da dogmática, da sistemática das igrejas, mas com pensamento atilado querendo compreender aquilo que Paulo chamava o espírito da letra e não a letra que mata. Quem estuda assim está vendo que os evangelhos, por exemplo, estão cheios de casos de reencarnação. É conhecida aquela passagem do ensino de Jesus a Nicodemos. É preciso nascer de novo, nascer da água e do espírito. Quer dizer, é preciso renascer na terra para que se possa entrar no reino dos céus.
E quando perguntaram, quando Nicodemos pergunta a Jesus estranhando como que pode nascer de novo, Jesus responde a Nicodemos simplesmente isto. És mestre em Israel e ignoras estas coisas? E ensina. O que é da carne é da carne o que é do espírito é do espírito. Este trecho está bem claro no evangelho de Jesus. Mas além disso, há outras numerosas passagens, inclusive na própria bíblia, em que a reencarnação é evidente. Existem livros que tratam especialmente deste assunto. Mas eu aconselharia o senhor, a senhora a ler com atenção no próprio Evangelho Segundo o Espiritismo que é um dos livros mais populares de Kardec, as explicações dadas sobre este assunto com base no evangelho e na bíblia.
Mande suas perguntas ao Programa No Limiar do Amanhã. Rádio Mulher rua Granja Julieta, 205 São Paulo. Ouça as respostas, analise-as, e se discordar do que dissemos conteste-as. Isto é diálogo.
Ouça o recado que lhe enviamos no final do programa, logo após a interpretação do evangelho. Há nele uma pergunta. Responda-a por escrito e ganhe um livro que o ajudará na busca da verdade.
O Evangelho do Cristo em Espírito e Verdade. Não fazemos sermões, procuramos dar explicações.
Abrindo o evangelho ao acaso encontramos o seguinte: Lucas 22, 2-6:
“Estava próxima a festa dos pães ázimos chamada páscoa. Os principais sacerdotes e os escribas procuravam algum meio de tirar a vida de Jesus, pois temiam o povo. Ora, satanás entrou em Judas chamado Iscariotes, que era um dos doze. Ele foi entender-se com os principais sacerdotes e os oficiais sobre a maneira de lho entregar. Alegraram-se e concordaram em dar-lhe dinheiro. Ele anuiu e procurava ocasião de lho entregar sem a multidão saber.”
JHP - Há dois aspectos muito curiosos e muito oportunos neste trecho de Lucas, que nós precisamos estudar à luz do Espiritismo, para bem compreendê-lo. Como satanás entrou em Judas no momento em que Judas estava cercado pelos apóstolos de Jesus? Estava reunido com ele, com o próprio mestre? Se satanás teve o poder de entrar em Judas, assim na presença do próprio mestre. Isto nos mostraria que satanás tem um poder tão grande que nem o próprio Deus e nem o seu filho encarnado aqui na terra puderam impedir que ele se apossasse de um próprio discípulo de Jesus para levá-lo ao inferno. Isto aberra de toda lógica. É evidente que nós não podemos compreender este trecho se não compreendermos que Jesus quando se referia a satanás, ao diabo. Ele estava fazendo uma concessão por assim dizer às ideias do tempo para poder através de uma linguagem mais acessível ao povo transmitir-lhes os seus ensinamentos. Mas é evidente que quando Lucas usa essa expressão de que satanás entrou em Judas, ele está se referindo a queda moral de Judas. Satanás é simplesmente uma figura mitológica, um símbolo daquela maldade que nós todos trazemos dentro de nós. Um símbolo portanto dos resíduos do nosso passado inferior, antes de atingirmos o grau evolutivo em que já estamos neste momento na Terra. Essa maldade que no cômputo geral, num quadro geral da natureza e visto, assim numa visão do absoluto como a visão de Deus, essa maldade não existe. Mas existe relativamente para nós. Tudo aquilo que contraria o nosso processo evolutivo, que nos impede de melhorar é mau. Ora, todas essas coisas que contribuem para isto se reúnem então numa síntese mitológica, num mito, que é o mito de Satanás.
O que aconteceu com Judas, nós vimos ai no próprio texto. Ele vai procurar conversar com as autoridades a quem estava disposto a entregar Jesus e recebe dinheiro e pede dinheiro para isto. Por que? Segundo os grandes estudiosos do Cristianismo, não apenas nós os espiritas, mas particularmente os estudiosos universitários das grandes universidades como de Paris, de Londres, de Berlim. Segundo estes grandes estudiosos, o problema de Judas foi um problema moral, pessoal dele. Ele ansiava por que Jesus se tornasse do dia para a noite o Messias de Israel. E o Messias para Judas como para a maioria dos judeus, era um homem poderoso que vinha expulsar os romanos da Palestina e vinha implantar ali um reino seu próprio, o reino do Messias. Que seria o que Jesus chamava de O Reino de Deus. Então Judas como auxiliar de Jesus, ansiando pela libertação do seu país para afugentar os romanos de lá. Judas ansiava pelo momento em que Jesus devia cumprir a sua missão de Messias. Mas ele achava que Jesus não estava querendo cumprir essa missão. Jesus derivava para pregações puramente morais, ao invés de entrar no problema político que para Judas era o problema central. E havia nisto uma grande ambição de Judas, porque ele queria ser por assim dizer o ministro, o ministro do Messias. E o Messias ia mandar no mundo inteiro, ia subjugar não somente a Judéia mas o mundo todo. Então Judas queria entregar Jesus aos judeus não para que ele fosse crucificado mas para que ele não se entregasse. Ele pensava assim, ele raciocinava desta maneira. O Messias não pode se entregar a nenhuma criatura humana que o possa prejudicar e sacrificar. Porque ele é superior, ele é o rei que vem para a terra, o rei supremo enviado por Deus. Então se eu forçar o Messias a cair nas mãos dos romanos e dos judeus, neste momento o Messias reagirá e implantará o seu reino na terra. Foi este o pensamento de Judas.
Aí está o Diabo, esta tentação, a tentação que nasceu das suas próprias ambições interiores, as ambições íntimas dele, do seu coração ambicioso. E foi por isso que ele sofreu a queda. Seria absurdo aceitarmos que o diabo aparecesse ali no colégio apostólico com Jesus presente e ali se apossasse de Judas. É preciso compreender que o diabo é um mito, é uma figura alegórica, é uma representação figurativa. E que este diabo aparece nas manifestações mediúnicas porque os espíritos inferiores, que são espíritos maus, de pessoas más que morreram na terra e ainda não evoluíram suficientemente e continuam apegados à maldade. Estes espíritos se servem da figura do diabo para atemorizar aqueles que eles querem ameaçar. Quando se manifestam dizem: “eu sou o diabo". Quem é que pode provar que ele é o diabo? Ele traz alguma carteira de identidade, alguma ficha de identidade? Traz algum documento provando que ele é o diabo? Não é o diabo coisa nenhuma, ele é um espírito mau que está se aproveitando do medo que as criaturas tem do diabo para aterrorizá-las. Porque uma vez as criaturas aterrorizadas, ele então tem mais facilidade de agir sobre elas. É isto que precisamos entender. E foi bom cair-nos hoje, nesta hora em que se fala tanto no diabo, este trecho de Lucas que é bastante elucidativo deste assunto.
Hora do recado. Ouvidos atentos, espírito atilado.
Quem pensa na mecânica celeste, todos os mundos girando no infinito sem cessar e na dinâmica da vida. Todas as coisas e todos os seres nascendo e renascendo sem cessar na face da Terra, não pode admitir que o universo tenha se organizado por acaso. Inteligência, ordem, precisão absoluta dos movimentos e em tudo uma finalidade, um objetivo a atingir. Se o universo nasceu por acaso, e o acaso sustenta nessa maravilhosa de forças, você não terá de admitir que o acaso é inteligente?
No Limiar do Amanhã. O homem avança na conquista da verdade.