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A FILHINHA EXCEPCIONAL
Francisco Cândido Xavier

Há algum tempo, numa de nossas reuniões, apareceu um amigo trazendo nos braços a filhinha excepcional. Declarou estar a caminho de São Paulo para tentar-lhe o tratamento.

Veio com ela à nossa instituição a fim de orar, em nossa companhia, solicitando para a pequenina o auxílio dos benfeitores espirituais.

Comoveu-nos a todos o carinho e o cuidado do genitor com a filhinha que lhe choramingava nos braços, agitada e inconsciente. Esse amigo informou proceder de uma cidade pernambucana e guardar a esperança de alcançar melhoras para a filha, junto de médicos amigos da capital bandeirante.

Diante do quadro enternecedor, penso que todo o pessoal refletia sobre os princípios da reencarnação, sem comentários. Iniciadas as tarefas da noite, O livro dos espíritos nos ofereceu para estudo a questão 371.

Depois das explanações de nossos amigos presentes, a respeito, o nosso caro Emmanuel escreveu alguns comentários sobre a reencarnação. Depois dele veio até nós o poeta Silva Ramos, que escreveu por nosso intermédio o soneto Vinculação redentora.

Nota – O autor espiritual é o poeta José Júlio da Silva Ramos, que foi professor do Colégio Pedro II no Rio e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Filólogo e formado em direito pela Universidade de Coimbra, pernambucano, sua mãe era portuguesa e ele foi educado em Portugal. Sua temática foi toda de origem peninsular. Morreu no Rio em 1930.

VINCULAÇÃO REDENTORA
Silva Ramos

O fidalgo, ao partir, diz à jovem senhora:
“Eu sou teu, tu és minha!... Espera-me, querida!...”
Longe, ergue outro lar... Vence, altera-se, olvida...
Ela afoga em suicídio a mágoa que a devora.

Falece o castelão... Vê a noiva esquecida...
Desencarnada e aflita, é uma sombra que chora...
Ele pede outro berço e quer trazê-la agora
Em braços paternais ao campo de outra vida!...

O século avançou... Ei-los de novo em cena...
Ele o progenitor; ela, a filha pequena
A crescer retardada, abatida, insegura...

Hoje, ele, em tudo, é sempre o doce pajem dela,
E a noiva de outro tempo é a filha triste e bela
Agarrando-se ao pai nos traumas da loucura.

A SOLUÇÃO DO ENIGMA
Irmão Saulo

O estilo e o tema identificam o autor espiritual. Alcântara Machado notou: “a ausência quase completa em sua obra de paisagem e do homem brasileiro”. O seu arraigado lusitanismo transparece em outros poemas transmitidos pela psicografia de Chico Xavier, como se pode ver em Antologia dos imortais.*

Não foi por acaso que Silva Ramos escreveu esse alexandrino através da mediunidade, nem por simples inspiração provocada pelo caso relatado pelo médium. É evidente a intenção de explicar o episódio atual recorrendo às causas remotas que ficaram no além-mar.

Quantos fidalgos europeus, e particularmente portugueses, estão hoje encarnados no Brasil em situação difícil, procurando reparar os abusos e as irresponsabilidades em que incorreram no passado! A figura desse pai pernambucano (da mesma terra do poeta) carregando nos braços a filhinha excepcional e desvelando-se por ela, adquire mais denso colorido emocional ante a revelação do passado. A vida nos revela o seu mistério nessas ligações profundas que os espíritos desvendaram de maneira discreta e emotiva.

O soneto, por sua estrutura silogística, é a forma poética mais apropriada a nos revelar uma história como essa que passa de um século a outro. Note-se ainda a flexibilidade da síntese poética que permite ao autor exprimir em apenas um verso, como num corte cinematográfico, a transição temporal do caso e a metamorfose dos personagens: “O século avançou... Ei-los de novo em cena”.

A emoção poética se acelera nos dois tercetos finais do alexandrino perfeito de Silva Ramos, dando-nos em breves instantes a visão total da lógica e da mecânica da reencarnação. O compromisso rompido levou a antiga dama à loucura do suicídio, mas agora o responsável de ontem a carrega nos braços, pagando-lhe a dívida de amor e ternura e procurando restabelecer-lhe o equilíbrio perdido. A justiça e a misericórdia de Deus ressaltam dessa situação em que algoz e vítima se reencontram para a mútua redenção.

A opacidade do mundo e a frustração da vida, que justificam o ceticismo existencial deste século, carregado de angústia e desespero, resolvem-se em transparência lógica e renovação da fé. O interexistencialismo espírita soluciona em dois tercetos a amarga equação do existencialismo ateu.

* 73ª obra psicografada por Francisco Cândido Xavier.

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