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À ESPERA DE UM AMIGO
Francisco Cândido Xavier

Na véspera da nossa reunião,* conversávamos sobre a possibilidade de algum companheiro, recentemente desencarnado, trazer-nos a palavra deles, os que estão no além. Com surpresa, recebemos nessa reunião um comunicado em versos do nosso amigo sr. Cid Franco.

Não me lembro de conhecer alguma produção do nosso amigo no estilo de quadras em que nos escreveu, mas envio a mensagem no próprio original que recebemos, do qual deixamos cópia aqui, pois intimamente guardo a convicção de que foi o nosso amigo, sr. Cid Franco, quem a escreveu por nosso intermédio.

Ele mesmo, hoje no plano espiritual, disse-me: “Chico, você pode enviar as minhas páginas ao nosso Herculano. Ele observará que sou eu mesmo e abraçará a minha gente por mim."

Cumpro a recomendação do amigo espiritual. Aguardarei as suas notícias. O texto lido no início dos trabalhos foi o item 2 do capítulo XV de O evangelho segundo o espiritismo, sobre a parábola do bom samaritano.

Nota – O Evangelho é sempre aberto ao acaso por uma das pessoas presentes. Caiu o tema predileto de Cid Franco – o do amor ao próximo, sobre o qual escreveu vários poemas e trabalhos em prosa que enriquecem a nossa literatura.

* Reunião pública de 7 de fevereiro de 1973.

QUEM É?
Cid Franco

O outro!... Sabes quem é?
Por trás de quanto se vê,
É quem nos acorda a fé
Sem que se saiba com quê...

É aquele que vai contigo
No mesmo carro assentado,
É quem segue ao desabrigo
E nunca viste ao teu lado.

É o portador de uma prova
Que te surge, de improviso,
É o irmão que te renova
No reconforto preciso.

É o companheiro que indaga,
É aquele que te responde,
É o pedinte aberto em chaga
Que vive não sabes onde...

É o grande homem da praça
Que espalha força e renome,
É o peregrino que passa
Cansado de febre e fome.

É aquele que te injuria,
A verbo de fel e brasa,
É quem te perturba ou guia
Por dentro da própria casa.

É a mulher, é o pequenino,
É o jovem de sonho em flor,
É o doente em desatino,
O amigo e o perseguidor...

É quem cria amor e paz,
Quem te bate ou te maldiz,
É a pessoa que te faz
Feliz ou menos feliz.

O outro é o próximo... Alguém
Que nos revela em ação
Quanto já temos de bem
Nas trilhas da evolução.

CID E O SAMARITANO
Irmão Saulo

O original psicográfico do poema de Cid Franco foi examinado atentamente por alguns de seus amigos íntimos, por sua viúva, d. Alice Rosciano Franco e por seu filho Walter Franco, o famoso compositor jovem de músicas renovadoras. A letra do texto difere da caligrafia habitual da psicografia de Chico Xavier, aproximando-se bastante da letra do autor espiritual, quando encarnado. A assinatura é indiscutível: sua semelhança com a assinatura do homem confirma a legitimidade do espírito e a autenticidade de sua manifestação.

Chico Xavier, como se vê no seu relato, não conhecia suficientemente a obra poética de Cid Franco e teve receio de que os amigos do saudoso poeta e radialista não aceitassem as suas trovas. Mas a sua convicção da legitimidade da mensagem e as afirmações do espírito, de que seria reconhecido, o encorajaram a enviar-nos o poema.

Como observou Walter Franco, tudo nesse poema atesta a presença de seu pai: a caligrafia, a assinatura, a pureza das quadras, a escolha das palavras e o cuidado em evitar o lugar comum, a temática do amor universal e da fraternidade humana.

Acrescentaremos a tudo isso uma das características de toda a poética de Cid Franco: o predomínio da razão e do intencional sobre a emoção. E chamamos a atenção do leitor para a finura dessa concepção poética, onde Cid se coloca no lugar do bom samaritano para mostrar-nos que o outro – o judeu assaltado na estrada – pode ser a pessoa mais querida e íntima ou mais detestada e distante, mas será sempre alguém que nos submete à prova da nossa evolução moral.

Entre os vários livros de poemas que Cid Franco publicou, existe um que Chico Xavier desconhece: Trovas para o meu Senhor, lançado pela Livraria Martins, em São Paulo, no ano de 1967, quatro anos antes do seu passamento para a vida espiritual. Mas há outras quadras em livros publicados anteriormente, como se pode verificar em Poemas, editado pela Brasiliense, em 1947.

Como se vê, é este um dos mais recentes e dos mais belos episódios mediúnicos da vasta obra de psicografia literária de Chico Xavier.

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