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OS POETAS CEARENSES
Francisco Cândido Xavier
Em uma de nossas reuniões públicas tivemos a satisfação da companhia de alguns amigos cearenses. Compartilharam da nossa visita habitual de sábados à noite a vários lares e conversamos animadamente sobre as lutas que todos estamos atravessando na vida prática. Dificuldades de adaptação ao trabalho, necessidade de compreensão das realidades do espírito, provas no campo afetivo e imperativos de renovação íntima.
Na fase terminal da nossa reunião, isto é, ao término das visitas compreendidas, O evangelho segundo o espiritismo nos ofereceu para estudo os itens 3 e 4 do capítulo XXV, “Buscai e achareis”. E depois dos comentários feitos, não apenas um comunicante, mas vários nos trouxeram em trovas as opiniões do mundo espiritual. Dois dos amigos cearenses declararam que todos os poetas comunicantes são conhecidos e residiram no estado do Ceará.”
VIDA PRÁTICA
Espíritos diversos
Na grande escola da vida,
Que Deus formou para o bem,
Não há nota por engano
Nem férias para ninguém.
Tibúrcio de Freitas
Aceita com paciência
A provação que te alcança,
Ninguém se aperfeiçoaria
Se não houvesse mudança.
Antônio Bezerra
Sábia sentença da vida
Que serve em qualquer lugar:
Derrota não é fraqueza,
Fraqueza é desanimar.
Almeida Braga
Se caíste, ergue-te, anda,
Corrige-te e serve; em suma,
Unicamente não erra
Quem nunca faz coisa alguma.
Adolfo Caminha
Perfeição? Notei-a clara
Numa lição de fazenda:
A cana só faz açúcar
Apertada na moenda.
Valdemiro Cavalcanti
Conselhos dos Altos Céus
Que todos entenderão:
Sem amor ninguém consegue
A própria libertação.
Carlos Vítor
Quem educa em se educando
Não abraça fantasia.
Quem guia não se embriaga,
Quem se embriaga não guia.
João Paiva
Duas classes de pessoas
Que não encontram a paz:
Uma sabe e não ensina,
A outra ensina e não faz.
José Carvalho
Um lembrete de valor
Para os tropeços que levas:
Trabalho aplaina caminho,
Amor elimina as trevas.
Lopes Filho
Recordemos, caro amigo,
Nos problemas teus e meus:
Deus ajuda a quem trabalha,
Quem trabalha serve a Deus.
Luis Sá
A LEI DO TRABALHO
Irmão Saulo
Quando lemos em O livro dos espíritos o capítulo referente à lei do trabalho, compreendemos que ele não nos foi imposto como castigo, mas como necessidade. O mesmo nos diz O evangelho segundo o espiritismo nos trechos mencionados por Chico Xavier. Necessitamos de trabalho para o desenvolvimento de nossas potencialidades vitais e espirituais. É trabalhando que modificamos o mundo e é pelo trabalho que o mundo nos modifica. Essa reciprocidade de ação e reação constitui a dialética da evolução humana. O trabalho, portanto, não é castigo, não é condenação – é necessidade vital do homem e constitui para todos nós um imperativo do progresso.
Os dez poetas cearenses, que transmitiram suas trovas através da mediunidade de Chico Xavier, não estão mais na vida física. São espíritos, mas como espíritos continuam a trabalhar. Porque, como Jesus ensinou e podemos vê-lo no Evangelho, nem mesmo Deus jamais parou de trabalhar. Os poetas trabalharam suas trovas, trabalharam para transmiti-las e o médium trabalhou para recebê-las. A seguir, houve o trabalho de datilografia, a remessa pelo correio, a carta de Chico a respeito, este comentário, a composição linotípica, a revisão de provas, a impressão e outros esforços subsequentes.
Trabalho que começou no plano espiritual e veio expandir-se nas atividades terrenas, no plano material. Trabalho que desceu do céu para auxiliar o homem na Terra. Temos assim a teoria e a prática, o ensino e a demonstração. A morte não nos exime do esforço da evolução, das atividades necessárias ao nosso progresso. Quem espera da morte o eterno descanso terá grande surpresa ao passar para a vida espiritual. Porque ali não encontrará o repouso inútil, mas a atividade produtiva.
As trovas dos poetas cearenses nos mostram, numa sequência didática, vários aspectos do trabalho, a começar da escola sem férias que é a vida, passando pela necessidade das mudanças que hoje tanto nos aturdem, mostrando a importância da coragem na luta, do erro que nos corrige e assim por diante. A provação é resumida na imagem da cana apertada na moenda. E no final temos a explicação das relações do trabalho entre o homem e Deus. Dez trovas, dez sínteses, porque a trova é a arte de dizer o máximo com o mínimo de palavras.