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OS POETAS E O INCÊNDIO

Francisco Cândido Xavier

Os poetas Cyro Costa e Cornélio Pires manifestaram-se pela psicografia, como já dissemos anteriormente, oferecendo-nos visão nova do terrível acidente. Ambos os poetas trouxeram-nos grande conforto. Nossa troca de impressões sobre o acontecimento doloroso, antes da manifestação dos poetas, revelava o grande abalo que todos sofrêramos.

Concordamos todos em colocar os sonetos em suas mãos, na ideia de que possam consolar outros irmãos, cujos sentimentos estejam mais diretamente ligados à provocação que nos atingiu a todas.

Deus nos ampare a todos. Agradecemos o seu apoio habitual ao lançamento da palavra de nossos amigos espirituais no Diário de S. Paulo, e enviamos a todos os amigos o nosso abraço de afeto e reconhecimento.

Nota do editor – O soneto de Cyro Costa, que revelou os motivos cármicos de tantas mortes no incêndio, foi publicado em nossa edição de domingo passado. Hoje reproduzimos o de Cornélio Pires, o poeta de Tietê, de saudosa memória, que nos dá uma dupla visão da dolorosa ocorrência.

INCÊNDIO EM SÃO PAULO
Cornélio Pires

Céu de São Paulo... O dia recomeça...
O povo bom na rua lida e passa...
Nisso, aparece um rolo de fumaça
E o fogo para cima se arremessa.

A morte inesperada age possessa.
E enquanto ruge, espanca ou despedaça,
A Terra unida ao céu a que se enlaça
É salvação e amor, servindo à pressa...

A cidade magoada e enternecida
É socorro chorando a despedida,
Trazendo o coração triste e deserto...

Mas vejo, em prece, além do povo aflito,
Braços de amor que chegam do infinito
E caminhos de luz no céu aberto...

ALMAS LIBERTAS
Irmão Saulo

Tudo se encadeia no Universo, explicam os espíritos na obra básica da doutrina. Nada acontece por acaso. Há em tudo uma sequência natural de causas e efeitos, de ação e reação. Cyro Costa nos deu em seu soneto as raízes da tragédia do Joelma. Cornélio Pires nos relata as consequências. Temos assim uma visão em três tempos da catástrofe que seria absurda, ininteligível, sem os esclarecimentos proporcionados pela comunicação mediúnica.

A ocorrência não se torna dolorosa, mas consolação é levada a muitos corações desesperados. Saber que os entes queridos não desapareceram nas cinzas, mas foram socorridos por amigos espirituais e estão a caminho de recuperação nos planos superiores da vida, é aliviar o coração e desafogar a alma. Muitos perguntarão: e as provas de tudo isso? E quantos, ao fazer a pergunta, já obtiveram a resposta pela intuição da realidade que trazem em si mesmos, nas profundezas misteriosas da consciência.

O soneto de Cornélio Pires é descritivo, como era de seu estilo tão conhecido de todos. O poeta busca socorro nas reticências, nos três pontinhos que, sem mudar de aparência, mudam de significação em cada verso. Todo o quadro da tragédia foi apanhado nesses catorze versos de um decassílabo modesto, mas preciso. Não há uma pincelada a mais nem a menos. E a última reticência é uma abertura para tudo aquilo que a palavra não pode traduzir.

Das terríveis guerras das Cruzadas, em nome de Cristo, as almas enclausuradas em reencarnações sucessivas vieram imolar-se no último sacrifício. Em breves momentos de desespero e dor, libertaram-se do passado para libertar-se a planos superiores da vida. Aliviaram para sempre suas consciências doloridas. Almas libertadas, podem agora prosseguir nos caminhos da evolução espiritual sem cair em novos enganos. Possuem a experiência maior. Amadureceram para a imortalidade. Ontem queriam servir a Deus a ferro e fogo. Hoje compreendem que só o amor nos livra das ciladas do egoísmo e da arrogância e nos prepara de maneira eficiente para os serviços de Deus.

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