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AS QUEDAS MORAIS
Ao enviar-no a mensagem abaixo, informa-nos Chico Xavier que ela foi psicografada em reunião de estudos em Uberaba, da qual participaram numerosos visitantes de outras cidades. E esclarece:
“Antes das tarefas habituais, o problema das quedas morais foi o tema dominante das conservações dos nossos visitantes. Alguns casos de suicídio e criminalidade preocupavam grande parte dos amigos e perguntas diversas surgiam sobre o assunto.
Por que o abandono de compromissos solenemente assumidos por pessoas claramente instruídas ou claramente normais do ponto de vista humano? Por que existem filhos que fogem dos pais e vive-versa? Por que certas criaturas começam com tanto entusiasmo o serviço do bem e, de um momento para outro, deixam a obra iniciada, sem maior consideração para com os outros? Por que o suicídio de pessoas indiscutivelmente respeitáveis?
Depois de aberto o horário para os nossos estudos e após a prece inicial, O livro dos espíritos, consultado ao acaso, ofereceu-nos a questão nº 171, em conexão com o assunto dominante, e no término da reunião o nosso caro Emmanuel nos deu a página “Não suportaram”, intitulada por ele, que passo às suas mãos, pois muitos dos nossos companheiros externaram o desejo de vê-la com os seus comentários.”
NÃO SUPORTARAM
Emmanuel • psicografia de Francisco Cândido Xavier
Mal – será sempre engano, erro, desequilíbrio, desajuste. E para recuperar-lhe convenientemente as vítimas, a primeira atitude é a do entendimento que nasce da compaixão.
Assim sucede porque a queda moral, no fundo, significa extravasamento da carga de emoções e ideias negativas que criamos em nós.
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Quando anotes a presença de companheiros caídos em perturbações, reflete, sobretudo, no esforço imenso que despenderam para suportar a pressão dos próprios conflitos na intimidade da cela carnal em que provisoriamente residem.
Este reencarnou para resgatar antigos débitos perante inimigos de outras épocas, cuja convivência lhe cabia tolerar por alguns poucos decênios. Entretanto, por algum tempo, aguentou em si próprio o impacto das vibrações contrárias que o contato difícil lhe causava e, embora sem razão, volveu ao campo da ofensa, reincidindo na culpa.
Aquele tornou à Terra a fim de reajustar-se em ambiente de penúria material, de modo a corrigir tendências à dissipação e ao desmando. Todavia, carregou o fardo de obstáculos em certo trecho do caminho, até que, sem motivo justo para rebeldia, derivou para a deserção e remorsos consequentes.
Outro veio de novo ao plano físico a fim de operar a própria desvinculação de hábitos infelizes, após solicitar situações regenerativas em auxílio de si mesmo. No entanto, depois de algum trabalho em autorreeducação, admitiu-se portador de imaginário cansaço e retornou aos costumes lastimáveis de outros tempos, adquirindo arrependimentos de longo prazo.
Outros ainda pediram graves provas na Terra para se afastarem das induções ao suicídio, em cujas sombras se demoraram em estâncias do pretérito. Mas, finda certa quota de aflições, impacientam-se com o peso dos problemas com que se oprimem e destroem o próprio corpo inutilmente, retomando trevas e lágrimas de que muito dificilmente lograrão se desvencilhar.
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Quando observes o mal, compadece-te daqueles que lhe aguentam as investidas. Entretanto, compadece-te mais ainda de todos aqueles que o praticam.
Os que sofrem de consciência tranquila estão ampliando o campo da alegria e da bênção nos domínios da própria alma. Os que estendem o mal, porém, não suportaram a si mesmos. E, como que fazendo explodir os conflitos que acumularam por dentro deles próprios, aniquilam benditas possibilidades da vida para cujo reajustamento serão necessariamente compelidos a lutar e recomeçar.
A EXPLOSÃO DA CALDEIRA
Irmão Saulo
Note-se a estrutura didática dessa mensagem. Primeiro, a colocação do problema do mal e de como devemos encará-lo. Depois, a definição da responsabilidade dos culpados e a advertência de que eles caíram sob a explosão da caldeira interna dos conflitos psíquicos, vencidos na batalha moral para sufocá-los, merecendo portanto a nossa compaixão e a nossa ajuda. A seguir, os exemplos concretos que nos ajudam a melhor compreender o problema. E, por fim, a lembrança de que devemos compadecer-nos dos que praticam o mal, pois são as vítimas de si mesmos, destruidores das oportunidades que a vida lhes oferece em cada existência.
Se acrescentássemos às escolas de psicoterapia dos nossos dias a dimensão espírita – como já o estão fazendo alguns especialistas eminentes –, a causa dos desequilíbrios mentais e passionais tonar-se-ia mais acessível aos métodos de cura. O conceito espírita do corpo carnal como verdadeira cela em que o espírito se acha encerrado, segundo vemos nesta mensagem, implica naturalmente o conceito da reencarnação. Mas a limitação existencial das escolas psicológicas, agravadas pelos preconceitos e pela vaidade profissional, impede essa penetração nas profundidades do espírito.
Os traumas e os recalques da alma, presentes e atuantes até mesmo nas pessoas aparentemente mais equilibradas, são comprimidos no interior da cela do corpo que se transforma numa caldeira perigosamente explosiva. Se não colocarmos nessa caldeira a válvula da humildade, para que ela possa aliviar a sua pressão através de uma visão mais ampla da vida, a explosão ocorrerá, fatalmente, mais cedo ou mais tarde. O intelectualismo vaidoso é uma espécie de resíduo que entope a válvula natural da intuição espiritual e apressa o momento fatal. Nossos instintos animais, nossas ambições desmedidas, nosso orgulho ferido, nossas pretensões de supremacia aceleram dia a dia o ritmo da pressão interna.
E quando caímos ante a explosão que devíamos evitar, não somos nada mais do que as vítimas de nós mesmos. Os que culpam a Deus, o destino, a má sorte, são vítimas teimosas, renitentes, que mesmo depois do desastre se recusam a reconhecer-lhe as causas reais. Pobres seres esmagados sob o peso do próprio orgulho, dos quais devemos compadecer-nos e pelos quais precisamos orar.