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OS TEMAS DA PRECE
Francisco Cândido Xavier

“Em nossa reunião pública dedicada às comemorações do nascimento do nosso benemérito amigo dr. Bezerra de Menezes, a lição de O evangelho segundo o espiritismo trazida a estudo foi o item 22 do capítulo XXVII.

A nossa instituição recebia, nessa noite, a visita de mais de uma centena de irmãos de várias cidades e os temas da prece animaram vivamente todos os comentários. Quase todas as explanações versaram sobre a maneira de pedir ou de agradecer, sobre o que devemos rogar aos céus e como dialogar com a espiritualidade maior.

Encerrando as tarefas da noite, a nossa benfeitora espiritual Maria Dolores, por nosso intermédio, escreveu a página Petição a Jesus, que nos comoveu muito. Prometi à maioria dos companheiros que faria ao caro professor a remessa dessa oração de nossa irmã, na ideia de tê-la enriquecida com os seus apontamentos."

PETIÇÃO A JESUS
Maria Dolores

Senhor!
Perante os que se vão
Sob nuvens de pó e rajadas de vento,
Dá-me o dom de sentir
No próprio coração
A chaga e o sofrimento
Que carregam consigo
Por fardos de aflição...
Faze, Divino Amigo,
Ante a dor que os invade,
Que eu lhes seja migalha de conforto
Na travessia da necessidade.

Agradeço-te os olhos que me deste,
Espelhos claros com que me permites
Fitar fontes e flores
Ante o céu sem limites...
Mas rogo-te, Senhor,
Ajuda-me a estender a luz em que me elevas
Cooperando contigo, embora humildemente,
No socorro constante aos que jazem nas trevas.

Rendo-te graças pela minha voz
Que te pode louvar
E engrandecer-te sem qualquer barreira
De inibição, de forma, de lugar...
Entretanto, Jesus, aspiro a estar contigo,
Em singela tarefa que me dês
No apostolado com que recuperas
Nossos irmãos atados à mudez.

Agradeço os ouvidos
Em que o discernimento se me apura
Ao escutar o verbo e a música da vida
Na ascensão à cultura.
Consente-me, porém, o privilégio
De repartir o amor com que me assistes
Revigorando a quantos se fizerem
Retardados ou tristes.

Agradeço-te as mãos que me cedeste
Para dar-me ao trabalho que te peço
Na atividade do cotidiano
Em demanda do progresso.
Aprova-me, no entanto, o propósito ardente
De partilhar contigo o serviço fecundo
Com que amparas a todos os enfermos
Que vivem sob a inércia entre as provas do mundo!

Agradeço-te o lar que me descansa
No calor da ternura em que me aqueço,
Meu veludo ninho de esperança,
Meu tesouro sem preço...
Mas deixa-me seguir-te, lado a lado,
No concurso espontâneo, dia a dia,
A fim de que haja abrigo a todos os que passam
Suportando sem teto a chuva e a noite fria!

Rendo-te graças, incessantemente,
Por tudo o que, em teu nome, o caminho me traz,
– A compreensão, a luz, o estímulo, o consolo,
O apoio, a diretriz, a experiência, a paz...
Não me largues, porém, no exclusivismo vão
De tudo o que me dês; ajuda-me, Senhor,
A dividir também com os outros que te esperam
A mensagem de fé e a presença de amor!

CONDIÇÕES DA PRECE
Irmão Saulo

“As condições da prece foram claramente definidas por Jesus”, escreveu Kardec no capítulo XXVII de O evangelho segundo o espiritismo. E para prová-lo, transcreveu os trechos dos Evangelhos de Mateus (6:5-8), de Marcos (11:25 e 26) e de Lucas (18:9-14), que a seguir comentou. No item 22 desse capítulo, inseriu uma comunicação mediúnica do pastor protestante Monod, intitulado “Modo de orar”.

Nessa comunicação, Monod adverte: “O primeiro dever de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar o seu retorno à atividade diária é a prece. Vós orais, quase todos, mas quão poucos sabem realmente orar!” E passa a discorrer sobre a oração e a melhor maneira de fazê-la, acentuando: “Pedi, antes de tudo, para vos tornardes melhores e vereis que torrentes de graças e consolações se derramarão sobre vós”.

Nas reuniões com Chico Xavier, várias pessoas são convidadas a falar sobre o tema de estudos da noite. Esses temas são escolhidos pelos espíritos que dirigem os trabalhos, pois o livro é aberto ao acaso e cai sempre um tópico referente às preocupações dominantes no recinto. Lido o texto, passa-se aos comentários e no final o médium recebe uma comunicação psicográfica.

Todas as explicações já haviam sido dadas, todos os comentários já haviam sido feitos, quando Maria Dolores trouxe, através do médium, o seu aparte do além. E preferiu fazê-lo em forma de exemplo. Ao invés de dar uma nova explicação, fez a sua prece a Jesus. Essa prece corresponde exatamente às condições definidas por Monod. É um agradecimento espontâneo pelas graças recebidas e um pedido para maior atividade no campo da fraternidade e do amor. As condições da prece e a maneira de fazê-la estão bem claras nesse poema em que a inspiração da poetisa confirma, em versos, as lições do Evangelho.

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