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DELITO E REENCARNAÇÃO
Cornélio Pires • psicografia de Francisco Cândido Xavier


Por ódio trocado, Antônia
Matou Lin do Lagarto
Hoje, elas são mãe e filha
Doentes no mesmo quarto.

Joaquim arrasou Simão
Para tomar-lhe Ana Vera,
Mas Simão tornou a ele,
É o filho que o não tolera.

Por Téo, Nana largou Juca
Que se matou pela ingrata,
E Juca voltou a ela,
É o filho que a desacata.

Manoel seduziu Percília,
Deixando-a em tombos loucos...
Ela morreu e voltou:
É a filha que o mata aos poucos.

Por Zina, matou-se João...
Um carro fê-lo aos pedaços...
Hoje ele é o filho doente
Que Zina beija nos braços.

Tesouro maior da vida
É a mente tranquila e sã.
Erro que a gente faz hoje
A vida acerta amanhã.

DELITO E REENCARNAÇÃO

Irmão Saulo

Cornélio Pires foi o poeta caipira que marcou uma época da vida paulista, assinalou a fase de transição da cultura caipira para a cultura cosmopolita que surgiria com a transformação da cidade provinciana em metrópole moderna. Deixou vasta e curiosa obra de inegável interesse folclórico e literário. Todos os anos a cidade de Tietê, sua terra, promove oficialmente a Semana Cornélio Pires. Na praça central da cidade há um busto do poeta e Tietê mantém carinhosamente o Museu Cornélio Pires.

Tendo falecido em São Paulo a 17 de janeiro de 1958, Cornélio teve o seu corpo transportado para Tietê, onde se deu o enterro. Pouco tempo depois começou a transmitir sonetos e trovas através de Chico Xavier. A Federação Espírita Brasileira lançou o livro O espírito de Cornélio Pires, reunindo essa produção inicial. Mas o poeta continua a transmitir os seus versos pelo telégrafo mediúnico, na mesma linha espírita que já havia adotado nos seus últimos anos de vida terrena, quando publicou Coisas do outro mundo e Onde está, ó morte, a tua vitória?

A trova é o haicai da língua portuguesa, uma forma de síntese poética de que Cornélio sempre se serviu com habilidade. Mas, nas trovas deste capítulo, o tema é a reencarnação. Note-se que o poeta não joga com argumentos, mas com fatos. Expõe a tese focalizando pequenos episódios da vida diária, no permanente intercâmbio da morte com a vida. Uma forma didática de mostrar as consequências de nossos atos e de nosso comportamento, não no após morte, mas na volta à vida.

Quem conheceu Cornélio Pires e conhece a sua obra não tem a menor dificuldade em identificá-lo nesses versos. O poeta caipira, simples, objetivo, direto, reflete-se nessas quadras psicografadas como se elas viessem das suas próprias mãos. Atende-se para a maleabilidade extrema do médium, que com a mesma presteza recebe um alexandrino grandiloquente de Cyro Costa, como se viu no Pinga Fogo do Canal 4; um poema erudito de Augusto dos Anjos ou uma quadra caipira de Cornélio Pires. Chico Xavier, segundo sua resposta a Scantimburgo na televisão, não escreve “à maneira de...”, mas deixa que os espíritos escrevam por suas mãos “à maneira deles”.

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