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TRAGÉDIA ANTIGA

Francisco Cândido Xavier

Em reunião do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, da Vila de Peirópolis, nos arredores de Uberaba, O evangelho segundo o espiritismo, aberto ao acaso, nos deu para um estudo o item 8 do seu capitulo XIV, que provocou vários comentários sobre educação.

No final dos trabalhos, o poeta Valentim Magalhães psicografou, por nosso intermédio, o soneto que envio para a nossa seção de domingo no Diário de S. Paulo, com os seus apontamentos doutrinários.

Desde já agradecemos muito o que puder fazer nesse sentido. O soneto é uma tragédia antiga em forma antiga.

RETORNO
Valentim Magalhães

– “Rua, filho infeliz!...” – grita brandindo a vara
O severo dom João, de gesto frio e rude...
– “Não me mates, meu pai!... Socorro!... Deus me ajude!..."
Clama o rapaz, fugindo à mão que o desampara.

Mas não existe dor que o tempo não transmude.
Envelhece dom João na casa nobre e rara,
Lembra com novo amor o filho que expulsara,
Quer reencontrá-lo agora e viaja amiúde...

Certa noite, ante um rio, ao vento rijo e forte,
O castelão viajor pede auxílio e transporte...
Mas surge por barqueiro estranho maltrapilho...

É um moço salteador que o saqueia e tortura...
Dom João fita o agressor... é o filho que procura...
E morre a suplicar: "não me mates, meu filho!..."

(Soneto recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião pública do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, na noite de 08/12/1975, em Peirópolis, MG)

O POETA E SUA FORMA
Irmão Saulo

O poeta Valentim Magalhães, que foi também romancista e teatrólogo, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, tem psicografado numerosos sonetos já divulgados nos volumes de poesias da obra mediúnica de Chico Xavier.

O que hoje publicamos foi recebido pelo médium recentemente. O tema trágico se desenvolve na métrica alexandrina, a mais apropriada ao caso, segundo o sistema clássico. É uma espécie de dramalhão ao gosto do passado, hoje considerado anacrônico. Mas o seu objetivo é acentuar o problema da lei de retorno, que nos leva a receber de volta o que fazemos aos outros.

Pergunta-se, às vezes, se os poetas antigos não evoluem na vida espiritual, continuando apegados às velhas formas literárias que cultivaram na Terra.

O problema é mais complexo do que parece. Há espíritos que se fixam mentalmente no passado por motivos emocionais, e recusam-se a aceitar as modificações do tempo.

Isso ocorre entre encarnados e desencarnados e decorre de condições psicológicas individuais. Esta seria uma explicação para certos casos. Mas, em geral, os poetas antigos conservam suas velhas formas por outros motivos.

Em primeiro lugar, há o problema da identificação. Se transmitir seus poemas de forma moderna, não identificará e exporá o médium à crítica negativa ou à suspeita dos leitores. Usarão, por certo, formas mais avançada na vida espiritual, mas em suas relações com os homens têm de levar em conta as exigências terrenas.

Em segundo lugar há o problema da comunicação. Uma mensagem poética psicografada não tem apenas finalidade estética, mas também e principalmente moral e espiritual. E a maioria dos leitores prefere ainda as formas poéticas antigas.

Os poetas do além não buscam a glória literária, mas o serviço ao próximo. Querem despertar os homens para o problema da imortalidade e da responsabilidade da existência terrena. A forma poética do passado e o estilo pessoal de cada um são elementos importantes para despertar nas criaturas humanas a ideia da continuidade da vida após a morte.

Por outro lado, a aceitação popular da poesia antiga, com seu ritmo, sua métrica e suas rimas, dão maior facilidade de comunicação à mensagem mediúnica.

O que interessa ao poeta é levar o seu recado de maneira eficiente ao maior número de leitores. Quando o poeta é moderno, usa os processos atuais, como vemos nos poemas psicografados de Mário de Andrade, Cassiano Ricardo, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e outros.

Esse é problema que escapa, apesar de tão simples e racional, à maioria dos críticos da poesia psicografada.

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