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Por Rita Foelker

J. Herculano Pires, mais do que filósofo e profundo conhecedor da doutrina, foi um dedicado divulgador do Espiritismo, em jornais espíritas e não espíritas, no rádio, na TV, em palestras e livros. Tendo iniciado um modesto estudo espírita familiar e sendo cada vez mais procurado por pessoas em busca de orientação, Herculano também abriu as portas de sua própria casa e iniciou as Palestras na Garagem.

 

HERCULANINHO FALA SOBRE AS PALESTRAS NA GARAGEM

 

Por Rita Foelker

J. Herculano Pires, mais do que filósofo e profundo conhecedor da doutrina, foi um dedicado divulgador do Espiritismo, em jornais espíritas e não espíritas, no rádio, na TV, em palestras e livros. Tendo iniciado um modesto estudo espírita familiar e sendo cada vez mais procurado por pessoas em busca de orientação, Herculano também abriu as portas de sua própria casa e iniciou as Palestras na Garagem.

Eram momentos de estudo e convivência, aprendizado e conforto espiritual, cura e transformação íntima para todos que puderam participar.

Conversamos com Herculano Ferraz Pires, filho de J. Herculano Pires, que nos conta o que foram as Palestras na Garagem e como funcionavam.

RF. Como José Herculano Pires teve a ideia de transformar a garagem de casa em local de palestras?

HERCULANINHO. Mudamos para São Paulo em 31 de outubro de 1946. Eu tinha apenas 4 anos. Antes de São Paulo, nossa família morou em Cerqueira César e em Marília. A informação que tenho é de que, nessas cidades, nos frequentávamos regularmente um Centro de Estudos Espíritas. Além disso, sempre tivemos um dia da semana reservado para o estudo do Livro dos Espíritos em nossa residência, além de realizarmos uma reunião mediúnica ao final dos estudos.

No inicio de nossas vidas em São Paulo, por não termos ainda localizado nenhum Centro de Estudos Doutrinários Kardecistas, meus pais resolveram reforçar o estudo das obras de Kardec, reservando também um dia da semana para essa atividade, no lar.

Essas reuniões passaram naturalmente a contar com a participação de amigos e vizinhos, que procuravam comparecer toda a semana. Morávamos à rua da Camélia, 40, Vila Mariana, numa casa pequena para o tamanho da família. Mudamos, em 1948, para a rua Dr. Bacelar, 505, na Vila Clementino. Uma casa maior, com uma garagem no térreo, que tinha um ótimo tamanho e podia ser utilizada como uma sala de estudos, com condições de realização de pequenas palestras.

Como meu pai já estava bem conhecido no movimento espírita de São Paulo, o número de pessoas que o procuravam, buscando orientação doutrinária, cresceu, e com isso, nós, moradores da casa, estávamos perdendo nossa liberdade e segurança. A família decidiu aproveitar a garagem como local para a realização das reuniões de estudos doutrinários e colocaram cadeiras e uma mesa grande, para as reuniões mediúnicas.

Inicialmente, as reuniões eram realizadas apenas um dia por semana. Por força do aumento na procura de ajuda, passaram a ser realizadas duas vezes por semana, sendo que as reuniões eram dirigidas por meu pai. Felizmente, certo dia, apareceu o Dr. Milton Calciolari, procurando orientação sobre a doutrina. Dr. Milton se engajou nos trabalhos das reuniões e, após um bom tempo de frequência, foi convidado, pelo meu pai, para assumir a direção de uma das reuniões semanais, o que vinha ocorrendo até praticamente esses dias, no Grupo Espírita Cairbar Schutel, quando teve de se afastar dos trabalhos por problemas de saúde.

RF. A principal razão da mudança para a garagem, então...

HERCULANINHO. As reuniões já eram realizadas na sala de nossa casa. A razão da mudança para a garagem foi que o trabalho que se realizava na divulgação da doutrina tomou tal proporção que, para que pudéssemos atender a todos que nos procuravam, pedindo esclarecimentos ou ajuda espiritual, necessitávamos de um local maior. Por sorte, a casa que meu pai conseguiu comprar possuía a garagem, que atendia a essa necessidade.

RF. Em qual período ocorreram as Palestras na Garagem? Em qual dia da semana e horário?

HERCULANINHO. As reuniões na garagem tiveram início no ano de 1972 e ocorriam às quartas e sábados, sempre das 20 horas até em torno das 22:00 horas. Quando terminava a reunião, as pessoas subiam para a cozinha de casa, onde Dona Virginia esperava com café e um bolo. A conversa continuava, muitas vezes, até altas horas da madrugada.

RF. Dá para ter uma ideia do número médio de participantes?

HERCULANINHO. Consultando minha esposa e minha irmã Helena, concluímos que o número de pessoas que compareciam a esta estas reuniões era de aproximadamente de 25 a 45 pessoas.

RF. Havia um momento reservado aos passes, para os presentes?

HERCULANINHO. As reuniões iniciavam-se com uma prece pronunciada pela minha tia Maria de Lourdes. Em seguida, Herculano Pires fazia uma explanação sobre um capítulo de um dos livros de Kardec, sendo dado um tempo para perguntas dos presentes, que eram respondidas por Herculano. Antes do encerramento, era realizada uma reunião mediúnica e, após esta reunião, todos os presentes recebiam um passe.

Durante um período de funcionamento das reuniões na garagem, foi organizada uma reunião de desobsessão em um dos quartos de dormir da casa. A direção desta reunião estava a cargo do Dr. Antonio João. Participavam como médiuns: Wilson Fragoso, Dr. Laércio, o casal Vitor e Assunta, José Carlos, Helena e Maria Alice.

RF. Como eram feitas as gravações das palestras? Em que tipo de gravador e, geralmente, quem fazia a gravação?

Eram feitas com um gravador caseiro operado pela tia Lourdes, utilizando fitas cassete.

RF. D. Virgínia participava, de algum modo, desses momentos das palestras? Como?

Dona Virginia entrevistava os novos frequentadores, dando orientações quanto à leitura para melhor conhecimento da Doutrina e encaminhando-os, ou para apenas participar das palestras, recebendo os passes que em todos os trabalhos ocorriam, ou para passarem a participar das reuniões de desobsessão.

RF. Quando as Palestras na Garagem deixaram de acontecer e por quê?

Quando foi inaugurada a sede própria do Grupo Espírita Cairbar Schutel, as reuniões foram transferidas da residência de J. Herculano Pires para esse novo imóvel. Herculano Pires já havia desencarnado e, portanto apenas conheceu o imóvel no momento de sua compra e inicio da reforma.

RF. Em sua opinião, qual foi (e continua sendo, até hoje) a importância dessas palestras para os espíritas?

Bem, sem duvida nenhuma, o objetivo de divulgação da Doutrina foi e continua sendo alcançado. Digo que foi, pois vários vizinhos nossos, desde a época da rua das Camélias, rua das Rosas e Dr. Bacelar, tornaram-se espiritas ao participar espontaneamente desses trabalhos.

RF. Pode nos contar algum momento importante, especial, das Palestras na Garagem?

Fora vários casos de pessoas que chegaram totalmente desequilibradas psicologicamente (obsidiadas) e, participando das reuniões de desobsessão, voltaram a viver sua rotina normal, seja no trabalho ou no convívio com a família.

Mas o fato mais importante ocorreu no dia do desencarne de meu pai. Meu pai estava na cozinha de casa, tomando café com dois amigos médicos, enquanto Dr. Milton dirigia a reunião na garagem, quando pediu licença para voltar a trabalhar em seu quarto.

Passados alguns minutos, ele gritou pela minha mãe, que subiu imediatamente e o encontrou caído, desacordado na cama. Seus amigos o levaram com urgência para o Hospital São Paulo que fica a cerca de três quarteirões de casa. Os médicos que o atenderam informaram à família que ele já chegou sem vida ao hospital. Durante esse tempo, estava em andamento a reunião na garagem, mas ninguém sabia do problema ocorrido com meu pai. Mesmo assim, um médium em desenvolvimento recebeu uma mensagem de Herculano. Apesar de minha mãe, de imediato, ter ficado brava com a pressa em aparecer uma mensagem de meu pai, a apenas algumas horas de seu desencarne. Após uma analise mais apurada de seu conteúdo, conseguimos comprovar que realmente a mensagem era dele, o que reforçou esta comprovação é que o médium, que a recebeu, estava treinando sua mediunidade e, apesar de sempre ter uma mensagem no fim de cada reunião, aquela fora a primeira que tinha um conteúdo lógico e com detalhes que apenas meu pai poderia dar.

Gravações de época originaram as fitas cassete que foram transcritas pelo confrade Antonio Leite e cujo conteúdo você poderá ler em breve, no site da Fundação Herculano Pires.

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