No Limiar do Amanhã - Programa 163
No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.
Os problemas espíritas não pertencem ao campo do sobrenatural. A natureza não é apenas o que vemos e palpamos, o que percebemos através dos sentidos orgânicos. O espírito é a própria essência da natureza. Por toda parte as coisas e os seres são constituídos de dois elementos fundamentais: espírito e matéria.
Descartes que é pai de todo pensamento moderno ensinava que não devemos confundir a alma com o corpo. Espinosa explicava que a natureza tem duas faces, uma espiritual e outra material, mas que as duas se conjugam para formar a realidade em que vivemos.
O materialismo, como ensinou Kardec, é uma aberração da inteligência, pois a inteligência é função do espírito e não da matéria. O materialista é uma inteligência que se nega a si mesma. Quem tem olhos de ver como dizia Jesus, percebe facilmente que a nossa vida não é material, mas espiritual. Vivemos de ideias, de emoções, de aspirações e não da simples satisfação das necessidades materiais.
Nem mesmo os animais que não possuem a inteligência criadora do homem, nem mesmo eles vivem só de matéria. O animal tem sentimentos e pensamentos, sente alegrias e tristezas, é capaz de morrer de saudades. Tudo isso é função do espírito e não da matéria.
O mundo espiritual não é sobrenatural, pois pertence a própria natureza. O sobrenatural é simplesmente o natural que ainda não conhecemos. Para os selvagens o trovão e o raio eram sobrenaturais. O homem civilizado descobriu o segredo desses fenômenos e sabe que eles são naturais.
Os que pensam que ao morrer nos tornamos anjos ou demônios, não sabem o que é a morte, mas quem não vê que a morte é um fenômeno natural a que todos estamos sujeitos. Vitor Hugo ensinou: “morrer não é morrer meus amigos, morrer é mudar-se”.
Nós somos espíritos. Os espíritos são seres humanos como nós.
O mundo espiritual é o nosso mundo de origem. Ao morrer voltamos para o lugar de onde viemos. O que morre é apenas o corpo. O espírito depois da morte continua mais vivo do que nunca.
No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emmanuel, transmissão 163, quarto ano. Locutores: Jurema Iara e José Pires. Sonoplastia: Paulo Portela. Técnica de som Benê Alves. Direção e participação do Professor Herculano Pires. Gravação nos estúdios da Rádio Mulher, São Paulo.
Diálogo No Limiar do Amanhã, uma busca radiofônica da verdade. Queremos a verdade sobre a vida e a morte, sobre o homem e o mundo.
Pergunta 1: Assistência para outras pessoas.
Locutor - Pergunta a ouvinte Leni Oliveira Pepe. O senhor acha que uma pessoa que nunca frequentou um centro, pode dar a dita assistência espiritual para outras pessoas, só porque frequentou o curso?
JHP – Não. Acho que uma pessoa que esteve ausente do centro não conhece bem a estrutura dos trabalhos, não sabe como eles se passam. Essa pessoa devia naturalmente integrar-se primeiro na comunidade por assim dizer que trabalha no centro, para depois começar o seu trabalho com essa integração. O fato de haver realizado um determinado curso anterior não tem para mim grande importância. Os nossos cursos, não só no meio espírita como fora dele, são em geral apenas elementos que devem ser desenvolvidos por pessoas que já tenham aptidões para o desempenho das funções a que eles se destinam. Os cursos dão preparo teórico. Mas é necessário que a pessoa tenha, se realmente adquiriu o preparo teórico, tenha também habilidade pessoal. Uma espécie de um dominato que todos temos para o desenvolvimento dos trabalhos. E isto particularmente no espiritismo é muito importante.
Pergunta 2: Impedimento de trabalhar por não possuir curso.
Locutor - Professor, uma pessoa que não se adaptou com a reforma, não fez o curso e nem frequentou a escola, mas tem boa vidência e é bem assistida, não pode mais trabalhar?
JHP - Não vejo motivo para isso. Acho que na realidade não se trata... Quando se fala assim de uma reforma dá a impressão de que está havendo uma importante reforma no espiritismo. E não é verdade. O que houve foi apenas aquilo que eu já disse em programa anterior. Houve um desvio na federação, um desvio doutrinário muito sério. E a atual diretoria está fazendo ela voltar aos trilhos do kardecismo. Porque é Kardec o espiritismo como nós sabemos. E não vejo motivo para medidas dessa natureza dentro de um centro espírita.
Pergunta 3: “Escola de médiuns”
Locutor - Continuando a responder a ouvinte Leni Oliveira Pepe. As pessoas são obrigadas a frequentar as aulas da escola de médiuns?
JHP - Também acho que as aulas de escola de médium, se continuarem no ritmo que eram dadas na federação até há pouco tempo, elas podem auxiliar muito pouco os médiuns. Na verdade os cursos de médium deviam ser mais ligados a orientação puramente kardecista. Pelos livros de ponto de médiuns e outras coisas que tem sido editados na Federação Espírita do Estado de São Paulo, nós vemos que as escolas de médiuns na verdade exigem muito dos candidatos e oferecem pouco. Fazer uma pessoa passar quatro anos assistindo a escola de médium, para depois funcionar como médium, é simplesmente um absurdo. Acho portanto que os médiuns tendo capacidade devem, como fazia Kardec, entrar logo em ação porque eles são instrumentos mediúnicos. E precisam ir adquirindo conhecimento da doutrina, o que pode ser dado juntamente com a prática. Eu acho que não devemos formalizar muito as práticas espíritas, e sou absolutamente contrário ao sistema de padronizações dessas práticas. Porque no espiritismo, onde o que vale principalmente é a liberdade de iniciativa e de ação, é necessário que se mantenham as linhas doutrinárias com rigor. Mas que dentro dessas linhas os indivíduos não sejam tolhidos nas suas manifestações necessárias.
Pergunta 4: Com que idade uma pessoa pode dar assistência espiritual para outra?
Locutor – Professor. Com que idade uma pessoa pode dar assistência espiritual para outra?
JHP - Isto não há limites. Não há limites porque isso depende, como já dissemos, de dons naturais. Há criaturas que vem para o mundo como espíritos já evoluídos, suficientemente aptos a ajudar os outros desde a adolescência. Não há necessidade portanto de se estabelecer limites para isto. Isto depende da capacidade inata de cada um.
Pergunta 5: Liberdade espírita
Locutor - Todos os centros filiados à federação sofreram esta mudança?
JHP - Não sei. Acho, como já disse em programa anterior, que a federação não deve e não pode exercer um controle assim de pressão sobre os centros para que modifiquem os seus trabalhos. A federação é um órgão de confraternização. É um órgão de fraternidade. Procura conjugar os centros e ajudá-los, mas não deve absolutamente exercer autoritarismo sobre eles. Cada centro é uma entidade livre e livre deve continuar para que não seja afetada a liberdade espírita.
Pergunta 6: Os centros são obrigados a ser filiados à Federação?
Locutor - Professor, os centros são obrigados a ser filiados à Federação?
JHP - Não, não há nenhuma obrigação para isto. A federação conjuga os centros que naturalmente querem ligar-se a ela, inclusive para receber os benefícios que a federação possa lhes dar. E também para que haja uma conjugação de trabalhos espíritas de maneira mais ampla e mais fraterna. O princípio de fraternidade é bastante importante no espiritismo. Mas é como eu tenho dito sempre e sustento esta tese há muito tempo. É necessário que a federação não exerça pressão sobre os centros. Os centros devem ter liberdade de agir. Se os centros se desviarem do roteiro da doutrina, não do roteiro da federação, mas do roteiro da doutrina. Se os centros perverterem por assim dizer, as suas atividades, descambando para misticismos exagerados ou para mistificações de qualquer espécie. A federação deve tentar e naturalmente tentará reencaminhá-los. E no caso e não haver possibilidade nenhuma de reencaminhá-los, só restará à federação excluí-los do seu quadro. Mas isso não impede o centro de continuar a ser uma entidade como ele é. Porque ele é uma entidade juridicamente constituída perante a lei.
Pergunta 7: Mediunidade fora dos centros
Locutor - Que vai ser dos espíritos que anseiam por se comunicar?
JHP - Quanto a isso a senhora não deve ter preocupações. Porque não são apenas no centro que a senhora frequenta que esses espíritos se comunicam. Existem não só centenas, milhares de centros espíritas por toda parte. Como existem também milhares de grupos, de pequenos grupos que não são transformados em centro. Mas onde se realizam sessões mediúnicas e esses espíritos tem sempre a possibilidade de darem as suas comunicações.
Pergunta 8: Sessão mediúnica e sessão de estudos
Locutor - O senhor acha, professor, que pode e deve mandar o espírito subir sem conversar com ele?
JHP - É claro que se a sessão mediúnica se destina a comunicação dos espíritos, os espíritos devem ter a palavra. Se eles não falam, se os médiuns não lhes servem de instrumentos, não vejo motivo para se realizar a sessão. É como já disse anteriormente, sessão de estudos é sessão de estudos. Sessão mediúnica é sessão mediúnica em que os espíritos têm de se manifestar, de ser orientados e de ser doutrinados quando necessitam. Ou de ser ouvidos quando trazem mensagens significativas para orientação das pessoas ali presentes.
Pergunta 9: “Cocriação em plano maior e em plano menor”
Locutor - O ouvinte Ronei Vidigal Lima, da Rua General Chagas Santos, Vila Mariana, pergunta. Primeiro, o que significa cocriação em plano maior e em plano menor?
JHP - Cocriação quer dizer uma colaboração na criação. Quer dizer uma criação do homem ou dos espíritos que é realizada juntamente com a criação de Deus. Deus é o único criador mas ele tem os seus auxiliares. Assim por exemplo nós lemos no evangelho e lemos na epístola de Paulo aos Efésios que quando Jesus organizou o planeta em que nos encontramos, que é a Terra. Ele convocou as pessoas, os espíritos que deviam vir colaborar com ele na tarefa de desenvolvimento da humanidade terrena. Ora, Jesus agiu então como o cocriador em plano maior. Ele ajudou a Deus na formação da terra, do nosso planeta. Nós sabemos que isto faz parte por exemplo, é bom a gente lembrar porque é uma conotação histórica bastante interessante. Isto faz parte da doutrina de Platão. Platão dizia que existia Deus que era o bem supremo e existiam os demiurgos. O demiurgo é uma espécie de Deus secundário, é um Deus auxiliar. Então dizia Platão, Deus fornece a matéria prima e o demiurgo constrói o mundo. Ora, é exatamente o que aconteceu com Jesus. Deus forneceu a matéria prima e Jesus como um demiurgo construiu o mundo. É neste sentido que se fala cocriação. Jesus não criou, ele estruturou o mundo, mas ele colaborou na criação de Deus. Assim também existe a cocriação em plano menor. Um artista por exemplo na terra, um homem, uma criatura humana cria uma obra de arte. Na verdade ele está se servindo dos elementos fornecidos por Deus, porque a matéria prima de que ele se serve é toda provinda de fora dele, não da sua vontade. Mas ali naquela matéria prima ele esculpe uma imagem, ele cria uma figura artística. E com isto ele realiza uma cocriação. Todas as atividades do homem na terra podem ser consideradas trabalhos de cocriação ao lado de Deus. Cocriação em plano menor.
Pergunta 10: Ideias e descobertas que ocorrem ao mesmo tempo
Locutor – E a segunda pergunta. O que é que faz uma ideia ou uma descoberta surgir em muitos pontos ao mesmo tempo?
JHP - Bom, nós sabemos que as ideias, como se costuma dizer popularmente, estão no ar. Porque as ideias não são apenas dos homens, as ideias provem também dos espíritos. Há uma multidão espiritual em torno da humanidade. Há duas humanidades na face da terra, a humanidade material orgânica constituída pelos homens, a humanidade espiritual constituída pelos espíritos. Assim os espíritos também tem suas ideias. E muitas vezes uma ideia elevada, uma ideia importante para a humanidade é divulgada por um espírito e é captada por homens diversos, em diversas partes do mundo no mesmo tempo.
Pergunta 11: Congratulações ao programa.
Locutor - Professor, o ouvinte Luís Gomes Filho, da Rua Bartolomeu de Gusmão, Vila Mariana, congratula-se com as referências do senhor neste programa à nossa senhora e os esclarecimentos sobre a prece Ave Maria e não faz perguntas.
JHP - Não faz perguntas mas faz elogios ao nosso programa. Congratula-se conosco por aquilo que estamos fazendo e ao mesmo tempo mostra-se disposto a colaborar conosco. Gostaríamos que o nosso ouvinte Luís Gomes Filho continue a comunicar-se portanto com este programa e nos envie a sua colaboração sempre que possível.
Pergunta 12: Ouvir os mortos durante o sono
Locutor - Professor, a ouvinte Maria de Lurdes de Oliveira, de Vila Matilde, pergunta. Primeiro, estava dormindo quando ouviu sua mãe chamá-la. Sentou-se na cama e então lembrou-se de que sua mãe havia falecido há cinco anos. Quer saber o que é isso e o que o senhor diz a respeito.
JHP - Isso é simplesmente uma aproximação do espírito de sua mãe à senhora. O espírito de sua mãe naturalmente quis chamá-la, quis mostrar a sua presença. Aproveitou-se do momento de sono em que o seu espírito se retira do corpo e naturalmente falou com a senhora. A senhora ao voltar para o corpo e ao acordar teve naturalmente a ressonância da voz de sua mãe como que a chamá-la.
Pergunta 13: Desaparecimento de água
Locutor - Depois, a segunda pergunta. No centro me ensinaram a pôr um copo com água na cabeceira ao dormir, para tomá-lo de manhã. Mas a água secou totalmente. O que é isso?
JHP - Isso é difícil de explicar. Poderia ser um fenômeno físico como nós chamamos em mediunidade. O fenômeno físico de mediunidade é um fenômeno que produz efeitos materiais. Poderia ser que um espírito servindo-se da sua mediunidade ou da mediunidade de alguém da sua casa ou nas proximidades, quisesse brincar com a senhora e tivesse retirado a água do copo. Secado esta água, fazendo com que ela se evaporasse. Mas também é preciso ver o seguinte. A senhora teria certeza de que pôs o copo cheio d’água? A senhora não teria deixado o copo ali para depois encher? Ou a senhora não teria alguém na sua casa que tivesse passado a noite pelo quarto e tomado a água do copo? Ou mesmo a senhora não poderia ter se levantado a noite e em estado de sonolência tomado a água ou jogado a água fora? Em todos os casos de fenômenos espíritas é preciso a gente sempre contornar os assuntos porque quando os fenômenos não são evidentes é possível que eles não sejam realmente o que estamos pensando. Nesses casos a gente deve ter cuidado, examinar bem os problemas.
Pergunta 14: Livro de Batuíra “Mais Luz”.
Locutor - E a terceira pergunta. Ela quer saber se já saiu o livro de Batuíra?
JHP - Sim, o livro de Batuíra, Mais Luz. É um livro que foi publicado pela editora GEEM, de São Bernardo do Campo, a editora do Grupo Espírita Emmanuel. Esse livro já saiu há algum tempo. Me parece até que já se esgotou a primeira edição, ou a segunda também, e está uma nova edição em circulação.
Pergunta 15: O terremoto que se deu na morte de Jesus.
Locutor - O ouvinte Juvenal Pimenta Lima, da Avenida Dois, Santo Amaro, pergunta. Primeiro, o terremoto que se deu na morte de Jesus. Podemos chamá-lo médium de efeitos físicos ou Deus o atendeu?
JHP - O terremoto, o abalo, a perturbação que ocorreu segundo a descrição dos evangelistas, pode ter sido realmente produzido por diversos motivos. Mas não podemos dizer que Jesus funcionasse nisto como médium de efeitos físicos. A personalidade de Jesus é muito superior a nossa. Nós não podemos confundi-lo assim com médiuns no sentido comum da palavra. Jesus segundo uma expressão de Leon Denis, só podia ser considerado como o médium de Deus. Quer dizer, ele era um intermediário do pensamento divino de Deus. Nós sabemos que os médiuns que se desenvolvem nesse plano superior da intuição, da percepção puramente ideal das mensagens espirituais. Esses médiuns não servem para efeitos físicos. Jesus estaria muito acima disto. Nós poderíamos dizer que Deus atendeu o seu pedido em que sentido? Jesus não pediria a Deus e não pediu que Deus mandasse nenhum terremoto, que produzisse nada de extraordinário. O que aconteceu naturalmente foi que ao se tratar de um espírito superior sacrificado de maneira tão injusta pelos homens, tenha havido uma reação de numerosos espíritos que então produziram esses acontecimentos.
Pergunta 16: Intuição
Locutor - A segunda pergunta. Pedro reconheceu Jesus como Cristo e reconheceu Moisés e Elias no Tabor. Ele era mesmo pescador?
JHP - Porque não? O senhor acha que um pescador judeu não era capaz de ter intuições como tantos dos nossos pescadores têm? O fato de Pedro se dedicar a trabalhos rudes, a trabalhos braçais no Lago de Genesaré, não quer dizer que ele fosse um espírito atrasado. Ele não teve um desenvolvimento cultural naquela encarnação. Mas não obstante revelou um espírito elevado e uma capacidade enorme de compreensão no trabalho cristão que ele realizou, não só junto do Cristo como depois que o Cristo voltou ao plano espiritual. Ele deu provas também de ser um judeu praticante da sua religião e devia forçosamente conhecer as figuras de Moisés e de Elias, que eram figuras típicas do mundo judeu. Não há portanto nada de estranho neste fato. Acho que Pedro como pescador poderia ter feito tudo isso sem que causasse nenhuma estranheza.
Pergunta 17: Sabedoria, loucura diante de Deus?
Locutor – O espiritismo diz que o homem se salva pela evolução e a caridade. Paulo diz que toda sabedoria do homem é loucura diante de Deus. Onde ele quis chegar?
JHP - Paulo quis definir nesse momento a diferença entre a sabedoria humana e a sabedoria divina. Toda a nossa sabedoria, por mais que nós alcancemos aqui na terra, é nada diante da sabedoria divina que é infinita. Paulo advertia aqueles que se tornavam arrogantes por adquirir algum conhecimento e se apresentavam no meio cristão como capazes de resolver problemas que estavam fora do seu alcance. Nós encontramos hoje muitos homens assim. Encontramos essas criaturas que rejeitam o espiritismo sem o conhecer. Nunca penetraram na doutrina, não conhecem a estrutura da doutrina e no entanto formulam acusações as mais descabidas. Por que fazem isso? Porque são arrogantes, são orgulhosos. São pessoas que se encheram de vaidade porque fizeram curso superior qualquer e pensam que com este curso realmente se tornaram capazes de julgas até mesmo as coisas que não conhecem.
Paulo estava advertindo contra isso, mas não contra o estudo, não contra a cultura, não contra a evolução espiritual e intelectual do homem. Seria um absurdo se Paulo fizesse isso. Ele mesmo, Paulo, era um espírito que aqui na terra desenvolveu-se culturalmente no mais alto grau. Ele era um cidadão romano, apesar de ser judeu. Ele se tornara um cidadão romano justamente pelo seu grau de cultura, pela sua elevação, pela sua capacidade de ação perante o mundo daquele tempo e no plano da cultura greco-romana. Assim, seria absurdo que nós considerássemos que Paulo quisesse condenar o desenvolvimento intelectual. É um absurdo que muita gente alimenta, pensando que para se chegar a Deus devemos ser ignorantes. Se fosse assim não haveria a lei de evolução. Deus é sabedoria suprema e quer que nós também sejamos sábios. Mas para nos tornarmos sábios ele nos oferece a série de encarnações porque nós passamos na terra. As vidas sucessivas através das quais vamos adquirindo experiências, refinando o nosso espírito, aprimorando-nos e adquirindo cultura em cada geração, em cada cultura em que nos encarnamos. E assim é necessário que nós compreendamos que o apóstolo Paulo não quis absolutamente menosprezar a cultura no processo evolutivo do homem.
Pergunta 18: Satanás existe?
Locutor - Continuando a responder para o ouvinte Juvenal Pimenta Lima, professor, da Avenida Dois, em Santo Amaro. Dizem que satanás existe e que as almas perdidas são dele. Isso prova que ele não existe pois quem é contra o erro, é a favor do certo, não é?
JHP - Gostei do seu raciocínio. O senhor deu uma volta, um giro e chegou a uma conclusão muito interessante. O senhor diz que se satanás fica com as almas perdidas para castigá-las, satanás então estaria cumprindo por assim dizer, uma tarefa favorável a Deus. As almas que praticam erros sendo castigadas por satanás, satanás está beneficiando a Deus. Ora sendo assim o que nós podemos chamar de satanás seria um absurdo. Um absurdo lógico ou um ilogismo como se costuma dizer. Na verdade o diabo não existe. O diabo é simplesmente uma personificação mitológica das forças inferiores da natureza. Não existe o mal. A maldade humana que nós falamos é simplesmente uma consequência de erros, de ignorância das criaturas. Aquilo que nós consideramos mal na natureza, nada mais é de que fases inferiores da evolução. Quando nós por exemplo, criaturas humanas dotadas de consciência, que já atingimos um alto nível no plano consciencial. Quando nós caímos na animalidade, nos entregamos aos instintos inferiores, nós sofremos naturalmente as consequências desta queda. E as consequências são penosas, são dolorosas. Então nós cometemos um mal, cometemos um erro.
Mas este erro na verdade era necessário porque a nossa estrutura espiritual não estava ainda a altura de se manter no nível alcançado pela nossa inteligência. Então é necessário que passemos por essas coisas afim de nos corrigirmos, de nos renovarmos e de retomarmos o caminho certo. Estas forças inferiores que obrigam o homem a certas quedas e que o levam muitas vezes a crimes nefandos. Estas forças inferiores são o que se transformou na mitologia, na figura de um anjo decaído, de uma criatura perversa, que quis se rebelar contra Deus. O mito da rebelião contra Deus não existe apenas no cristianismo e no judaísmo. Existiu em quase todas as religiões antigas. É um mito muito comum nas mitologias como a da Grécia, de Roma, da antiga Babilônia, do Egito. Em todas elas nós encontramos o mito desta rebelião. É uma figura simbólica mostrando que o homem depois de atingir um certo grau de elevação espiritual, pode cair, pode se rebelar contra o poder supremo de Deus. Mas querer fazer do diabo uma criatura que se rebelou contra o criador e que conseguiu uma vitória sobre ele. Porque Deus o expulsou do paraíso mas ele fundou um império próprio e fica disputando até mesmo as almas de Deus aqui na terra. Apossando-se de almas que pertencem a Deus, para levá-las às suas caldeiras, ao seu inferno. Fazer isto é cair no absurdo, cair no ilogismo. Não seria possível admitir-se que uma criatura se tornasse tão poderosa quanto o criador.
Pergunta 19: Reencarnação e esquecimento
Locutor - Professor, o ouvinte Renato Moretti, de Socorro, pergunta. Primeiro, um médium vidente pode dizer o que a gente foi em encarnações passadas?
JHP - É muita pretensão. O médium vidente tem muitos limites. Além disso o médium vidente é sempre uma criatura que está lutando para se aperfeiçoar na própria vidência. Nunca devemos conferir aos médiuns poderes que eles não têm. Não podemos pensar que um médium vidente possa ver nossas vidas passadas. Na maioria das vezes estas criaturas mistificam. Ou são mistificadas pelos espíritos em virtude da sua vaidade. Se veem um pouquinho, querem ver mais. A vaidade os leva pouco a pouco a se colocarem na posição de profetas de grandes videntes e não raro estes médiuns caem em situações muito difíceis perante as criaturas que o conhecem. É preciso compreendermos que se nós tivéssemos a necessidade de conhecer nossas encarnações anteriores, nós mesmos teríamos a lembrança daquilo que fomos.
Mas Kardec nos dá uma lição muito bonita a respeito disso. Ele diz assim. Se você quer saber o que foi noutra encarnação, estude as suas tendências atuais. Veja quais são os seus impulsos, quais são as suas tendências. Vendo isto nós já vemos o que fomos na encarnação anterior. Porque tudo quanto fomos lá na encarnação anterior, se reflete hoje na nossa encarnação atual. Assim as tendências inferiores que nos procuram arrastar para campos, para posições bastante negativas. Estas tendências já nos mostram que nós não fomos criaturas evoluídas, que nós fomos, pelo contrário, criaturas que se entregavam a situações bastante inferiores. Entretanto se temos tendências elevadas é prova de que também alcançamos alguma coisa de bom nas encarnações anteriores. É claro que estudando as tendências nós não vamos saber, eu fui fulano de tal, vivi em tal lugar, em tal época, fiz isso, fiz aquilo. Não. Não vamos ter essa definição precisa das coisas que muita gente quer. Mas teremos uma ideia do que fomos como criatura humana nos tempos anteriores. Essa ideia nos é dada pelo exame das nossas próprias tendências e não por uma revelação de vidente ou coisa semelhante.
Pergunta 20: Podem os mentores dizerem a um médium se ele foi bom ou perverso em outras encarnações?
Locutor - A segunda pergunta professor. Até que ponto os mentores espirituais podem ajudar um médium vidente a dizer se a gente foi bom ou perverso em outras encarnações?
JHP - E porque fariam isso? Nós não temos a prova em nós mesmos? Porque os mentores espirituais, ou seja, os guias espirituais iriam se interessar por levar um médium vidente a ver isto ou aquilo a nosso respeito? Esta é uma curiosidade malsã e absolutamente fora das normas espíritas. Nós não temos que nos incomodar com isso, nós temos que tratar do nosso presente. É por isso que existe o esquecimento. Deus sabe o que faz. Se Deus nos faz esquecer das vidas passadas é porque nós precisamos estar libertos da carga dessas vidas que muitas vezes é esmagadora, afim de podermos nos reabilitar numa nova existência. Estamos aqui livres do passado como o criminoso que muitas vezes clama no seu desespero, quando a consciência o oprime, pedindo: "ah se eu pudesse esquecer o que fui, se eu pudesse começar tudo de novo". Sim todos nós podemos. Deus nos concede o recomeço. Ele nos devolve ao mundo noutra encarnação, noutra vida, com outro cérebro que não se liga as lembranças do passado. Ele nos livra da carga esmagadora do passado para nós podermos avançar no presente em direção ao futuro. E tanta gente aí a querer saber o passado. Se eles soubessem as dificuldades que iam encontrar no caso do passado voltar a sua lembrança, não desejariam isso.
Pergunta 21: Suspensão da mediunidade
Locutor - E a terceira pergunta do ouvinte Renato Moretti. Como os mentores podem afastar a mediunidade de um médium e podem fazê-la voltar se o médium se portar bem?
JHP - O problema de afastamento da mediunidade ou suspensão da mediunidade como se costuma dizer, é um problema bastante complexo. Nós nunca podemos dizer que os mentores espirituais afastaram a mediunidade, suspenderam a mediunidade de uma pessoa. Na verdade muitas vezes, na maioria das vezes é o próprio médium que suspende a sua mediunidade. Ele descamba para outros campos de atividade. Sai do meio espírita, desliga-se dos problemas espirituais, preocupa-se apenas com os materiais. A nossa mente é como um rádio, ela se liga na estação para que nós voltarmos o seu botão. Se nós voltarmos o rádio para uma ligação com as coisas materiais, nós afastamos das coisas espirituais. O médium estará sujeito então a obsessão e até mesmo a fascinação. Isto decorre portanto do próprio médium. Muitas vezes aquilo que nós chamamos suspensão da mediunidade é apenas uma medida favorável dos espíritos superiores, no sentido de não deixar que aquela pessoa de mediunidade aberta para coisas inferiores, se extravie demais. É uma suspensão temporária. A mediunidade volta então quando a pessoa se reintegra no trabalho espiritual. Mesmo porque então ela se liga de novo àquele campo, aquele plano. Na maioria dessas coisas é preciso compreendermos que elas dependem de nós mesmos. Os espíritos apenas colaboram conosco, nos auxiliam e nos protegem.
Pergunta 22: Sonho com riqueza.
Locutor - Professor, a ouvinte Ana Bento, da Rua Araguari, pergunta. Sonhou com o seu pai falecido há vinte e um anos, e ele lhe disse que pagaria uma encomenda destinada a ela. O pai era muito rico mas ela está em má situação. Quer saber se o pai está querendo ajudá-la?
JHP - O problema das manifestações de espíritos familiares não está ligado precisamente as nossas aperturas atuais no mundo. Muitas vezes a situação de apertura em que nos encontramos, nos é muito favorável e muito benéfica. Nós necessitamos de enfrentar os problemas com que nos defrontamos. Não podemos estar fugindo para esperanças absurdas, como pensar que um espírito que foi rico na terra vem agora nos ajudar a adquirir riquezas de novo. Cada um tem a sua passagem por assim dizer, como costuma dizer o povo, tem a sua passagem aqui na terra já marcada. Cada um tem o seu destino. E o destino muitas vezes nos leva para caminhos diferentes daqueles que seguiram nossos pais, nossos avós e assim por diante. Quantos descendentes de famílias riquíssimas estão hoje vivendo na miséria. E por que? Porque na verdade muitos deles foram os próprios indivíduos ricos no passado que retornaram através das gerações da própria família para encontrar-se em situação difícil. Sustentar o mesmo nome, pertencer ao mesmo sangue, descender dos mesmos títulos e não dispor de recursos para continuar no orgulho e na vaidade em que viveram no passado. E na maioria dos casos esta situação é pedida pelos próprios espíritos porque no plano espiritual eles sentem que aquela vida de riqueza, de poder, de influência, lhes foi perniciosa. Lhes acarretou problemas que eles podiam ter evitado se tivesse uma vida de pobreza. Então eles pedem para voltar nessa condição.
A senhora não deve se preocupar com esse problema. O que deve interessar a senhora na manifestação do seu pai, e isto é que é importante. O que deve lhe interessar é saber que seu pai continua vivo e que se interessa pela senhora. Que seu pai está vivendo bem no plano espiritual. Que seu pai a quer bem. Tanto assim que veio lhe falar, seja em sonho ou fora do sonho, ele se manifestou a senhora. Pois bem. Isto deve alegrá-la como uma filha que vê o regresso do pai. E a senhora espere em Deus, não no espírito de seu pai. Espere em Deus as providências necessárias para que a senhora passe pelas suas provas sem maiores dificuldades. Confiando em Deus a senhora terá a ajuda necessária. A pobreza por maior que ela seja lhe trará uma mensagem e uma mensagem boa que auxiliará o seu espírito a escalar planos superiores da espiritualidade. A vida terrena passa ligeira. Veja bem. Pense na sua própria família. Quantas pessoas que já se foram, que morreram, que desapareceram em tão poucos anos. Nós todos vamos morrer. Nós todos voltaremos ao plano espiritual. Não é melhor voltarmos para lá em boas condições do que vivermos aqui na terra em boas condições numa vida rápida? E na verdade numa vida insípida, muitas vezes atormentada por problemas de toda espécie, por doenças e situações difíceis? Que nos adianta nos beneficiarmos aqui nessa vida insegura, quando nós temos pela frente a vida espiritual que nos espera num plano melhor?
O Evangelho de Jesus em Espírito e Verdade. Abrindo o Evangelho ao acaso, encontramos o seguinte: Efésios, 2:11-14.
“Por isso lembrai-vos que outrora vós gentios em carne, que sois chamados incircuncisão pelo que é chamado circuncisão em carne, feita por mãos estáveis naquele tempo sem Cristo. Alienados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus vós que antes estáveis longe, vós aproximastes pelo sangue de Cristo.”
JHP - Nesta passagem da carta de Paulo aos Efésios, nós vemos a constante orientação de Paulo no sentido evangélico, procurando demonstrar que aqueles que estavam afastados do Cristo por motivos puramente temporais na vida terrena, nem por isso deveriam ficar sempre afastados. E que não havia naturalmente na decisão que os levou a essa posição, nenhum sentido de privilégio para os que estavam próximos do Cristo. De certa maneira este trecho de Efésios se opõe aquele trecho anterior que nos caiu no programa passado. E em que Paulo dava a impressão da predestinação de certas criaturas para virem a terra afim de se tornarem santas. Vemos aqui, Paulo colocar o problema num plano bastante diferente. Mostrando-nos que todos aqueles que pertenciam ao gentios, que eram os incircuncisos. Os judeus realmente circuncidados de acordo com a lei hebraica, estes judeus consideravam os incircuncisos como a incircuncisão. Daí a expressão que nós vemos no texto evangélico, na carta de Paulo e que parece realmente às vezes confusa. A circuncisão diz ele, vos chamava de incircuncisão. Realmente eram os judeus circuncisos que passavam por aquilo que representa para nós no plano atual, o batismo, era o batismo judaico feito através da circuncisão. Os que passavam por isto achavam que os gentios eram impuros. Eram indivíduos afastados da lei de Deus. Eram indivíduos que se entregavam apenas a idolatria e as suas paixões inferiores, e que por isso deviam ser considerados realmente como impuros. Existe até a conhecida expressão judaica, os Goyn. Eles eram chamados os Goyn, porque a palavra Goyn queria dizer estrangeiro e impuro. Queria mostrar que eram pessoas afastadas da comunidade de Israel.
Ora o apóstolo Paulo que havia sido doutor da lei, havia exercido funções elevadas no centro espiritual de Jerusalém, que era o templo. O apóstolo Paulo se levantava entretanto, logo que se converteu ao Cristo, contra esta descriminação. Foi por isso que ele se tornou o apóstolo dos gentios. Como apóstolo dos gentios ele mostrou na sua qualidade de doutor da lei que passava por cima de todos os preconceitos judaicos. Ele um doutor da lei ia falar aos gentios no exterior, nos países diversos em que segundo a concepção judaica reinava apenas a impureza, reinava a selvageria, a brutalidade dos homens, completamente desprovidos do amparo de Deus. Ora sendo assim, nós vemos que o apóstolo Paulo prega nesta carta aos Efésios a necessidade da conversão de todos a Cristo, sejam quais forem. Sejam quais forem os indivíduos que desejam se aproximar de Jesus. Pouco importa que eles não sejam circuncidados. Nós sabemos que o apóstolo Paulo no início da sua missão, das suas pregações, do seu apostolado, ele chegou a circuncidar Timóteo. Por que fez isso? Porque ele também entendeu inicialmente que era preciso o indivíduo tornar-se judeu para depois tornar-se cristão. Mas de pois disso o apóstolo Paulo recusou-se a fazer tais coisas. E nem mesmo o batismo da água que continuava a ser usado nos cristãos primitivos, ele não usou mais. Nós conhecemos a sua expressão a respeito. Eu não fui enviado a batizar mas a evangelizar. Ele afastou-se de todas essas práticas exteriores por compreender que no campo do evangelho o que vale é o que está no íntimo da criatura. O que vale não é o formalismo exterior, não é a prática externa, é o sentimento profundo, é a fé, é a compreensão espiritual que a pessoa deve adquirir, deve ter.
É neste sentido que o apóstolo Paulo insiste junto das igrejas do seu tempo e em particular nesta carta junto da igreja de Éfeso, para que os cristãos ali reunidos compreendessem a necessidade de romper com o passado. De se libertar dos formalismos religiosos e de caminhar num sentido mais livre para a compreensão do evangelho em espírito e verdade. Por isso mesmo foi ele o apóstolo Paulo que nos deixou essa frase lapidar, bastante importante para todos os que querem compreender a verdade espiritual: “a letra mata, só o espírito vivifica.”
Chegou a hora do nosso recado. Atenção amigos ouvintes.
Se você pensa que o espiritismo se baseia em superstições, experimente ler algumas páginas de O livro dos espíritos de Allan Kardec. Não confunda o espiritismo com umbanda, candomblé, e coisa semelhante. O espiritismo é uma doutrina moderna, de base científica e consequências filosóficas e religiosas. Fenômenos espíritas são fenômenos naturais e constituem o objeto da ciência espírita, como os fenômenos físicos constituem no objeto das ciências físicas. Não se deixe levar pela propaganda contra o espiritismo que é sempre feita de má fé. Você pode não aceitar o espiritismo, mas nem por isso deve endossar as mentiras da propaganda antiespírita. Quem quer saber o que é uma doutrina procura estudá-la.
No Limiar do Amanhã, um programa de verdade.