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PROBLEMAS DA FAMÍLIA
Francisco Cândido Xavier
Em nossas tarefas e estudos da noite, O livro dos espíritos nos trouxe à meditação e ao comentário a questão 205, alusiva aos problemas da família na Terra. O assunto inspirou vários apontamentos.
Cremos que a época dedicada mais especialmente ao Dia das Mães suscitou muitas observações sensatas da parte de vários amigos presentes. Ao término da reunião, diversos trovadores, presentemente desencarnados, escreveram as Notas do lar.
NOTAS DO LAR
Espíritos diversos
Lar erguido unicamente
Para o egoísmo de dois:
Desilusão pela frente
Com desespero depois.
José Albano
Lar às vezes lembra um campo
De lutas indefinidas
Em que pagamos com juros
Os débitos de outras vidas.
Múcio Teixeira
Lar no mundo transitório
Por vezes lembra hospital,
Pequenino sanatório
De cura espiritual.
Jésus Gonçalves
Louvada seja a mulher
Que esquece os dons femininos
Para ser mãe dos enfermos
E amparo dos pequeninos.
Vivita Cartier
Lar é núcleo de fusão,
Cadinho renovador,
Que apura no coração
As qualidades do amor.
Toninho Bittencourt
Lar em que só se aproveite
Interesse frio e inglório
Começa com muito enfeite
E acaba num purgatório.
Cornélio Pires
Lar é um cárcere querido
Com que a gente se habitua.
Onde se paga escondido
O que se deve na rua.
Lulu Parola
Na vida terrestre, o corpo
É a cela que nos isola,
Família é a classe em lição
E o lar é a bênção da escola.
Casimiro Cunha
Amor – um rio gigante
Que salta qualquer divisa.
O sexo controlado
É a força que o valoriza.
Marcelo Gama
Bendita seja a mulher
Que busca o lar que não tem
Nos lares da caridade
Que acendem a luz do bem.
Irene S. Pinto
Mulher em qualquer sentido
Não há sombra que a degrade,
A mulher é sempre mãe
No apoio da humanidade.
Antônio Salles
CADINHO DE PRATA
Irmão Saulo
A desagregação da família, de que tanto se fala em nossos dias, não é mais do que fenômeno social de mudança. Através dos tempos, a família passou por mudanças diversas. Os que pretendem a sua destruição – sempre por motivos egoístas –, são sonhadores desorientados, utopistas do absurdo. Porque o homem é um ser gregário que não pode prescindir de companhia e necessita de lar para o seu próprio desenvolvimento. Biológica, sociológica, moral e espiritualmente o ser humano depende da família.
A estrutura familiar sofrerá, naturalmente, muitas mudanças ao longo do processo evolutivo, adaptando-se às novas condições de progresso terreno. Mas mudança não quer dizer destruição e sim reajustamento. A mulher traz consigo o anseio da maternidade. O homem, por mais que se extravie nas suas tendências aventureiras e nas teorias egocêntricas, guarda sempre consigo o desejo secreto da paternidade. E todos temos, no mundo espiritual, criaturas amadas que precisam retornar ao nosso convívio na Terra.
Por tudo isso, o lar pode ser comparado a sanatório, campo de lutas, cárcere, escola, purgatório, como o fizeram os trovadores do além. Mas a imagem talvez mais apropriada seja a de núcleo de fusão, cadinho renovador que Toninho Bittencourt nos oferece em sua trova. Cadinho, esse pequeno vaso de metal ou argila, que nos vem da mais alta antiguidade, destina-se à fusão de metais. Entre gregos e romanos usava-se o cadinho de prata que melhor se compara ao lar. Um cadinho precioso em que fundimos os metais do nosso egoísmo para formar a liga do altruísmo.
No lar passamos pela experiência da interdependência humana. Aprendemos a amar aos outros e não apenas a nós mesmos. Pagamos dívidas de gratidão e abrimos créditos no mesmo sentido. A vida humana passa depressa, mas o espírito, que não morre, sai renovado e purificado do cadinho do lar. Por pior que seja o nosso lar, estamos nele para melhorar, o que vale dizer para nos humanizarmos.