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RESPEITO AOS PAIS
Francisco Cândido Xavier
A mensagem de Maria Dolores – homenagem às mães – foi recebida em nossa reunião pública, após a leitura do item 3 do capítulo XIV de O evangelho segundo o espiritismo. O tema se refere ao respeito que devemos aos nossos pais na Terra.
Nota – O Dia das Mães encontra grande ressonância no plano espiritual. Os espíritos esclarecidos sentem a necessidade de ativar os sentimentos filiais na Terra, mormente nesta fase de transição em que os valores morais estão sendo submetidos ao impacto das mudanças de costumes e, portanto, do estilo tradicional de vida. É necessário preservar os valores reais que não se fundam apenas em formalidades sociais, mas também e principalmente nos deveres espirituais da criatura humana. Maria Dolores é um dos espíritos que, através de Chico Xavier, mais se dedicam a essa campanha de preservação.
OUÇA, MÃEZINHA!
Maria Dolores
Quero lembrar, mamãe, a vida de criança
quando você me punha de mãos postas e
ensinava-me a oração:
"– Pai nosso, que estais no Céu,
santificado seja o vosso nome...”
Depois da prece, ao desunir-me as mãos,
você me esclarecia:
"– Todos somos irmãos,
a lei de Deus é praticar o bem,
perdoar e servir sem perguntar a quem."
No entanto, logo após, se alguém
me molestava, você perdia o rosto amigo
e protestava incontinenti:
"– Quem ferir a você há de se haver comigo!”
Se me entregava à rebeldia,
quebrando o prato ou rasgando a lição,
você me recolhia junto ao peito,
e se os vizinhos nos aconselhavam
a fugir da superproteção,
você justificava com seu jeito:]
"– Ninguém nasce perfeito,
eu só sei que sou mãe...”
Se parentes e amigos me acusavam
pelos erros que fiz,
você me defendia revoltada,
mostrando-se infeliz...
E depois, a fitar-me enternecidamente,
você falava assim:
"– Não creia nas intrigas dessa gente
que nada valem para mim.
Tenho em você um anjo que não erra,
que apareceu na Terra
para grande missão...
Será você em nossa casa
o nosso apoio e a nossa salvação!”
Eu tudo ouvia num deslumbramento...
Depois, mamãe, o tempo, igual ao vento,
veio e varreu as suas profecias.
Quando cresci, cheguei a acreditar
que você fosse
egoísta e antiquada, de ânimo violento.
E, acalentando estranhas fantasias,
Troquei o nosso lar por estradas sombrias...
Tudo o que então sofri não sei contar.
Muitas vezes chorei
meditando em você, triste e sozinha,
nas aflições e mágoas que lhe dei,
a humilhar-se e lutar por culpa minha!
Um dia regressei sobre os meus
próprios passos.
Tive saudades de você...
Você me abriu os braços...
Não quis saber o que eu fizera,
nem como nem porque...
E ao relatar meus grandes infortúnios,
vi pranto nos seus olhos.
Seu carinho enlaçou-me e você me falou,
cariciosamente,
no mesmo antigo e doce tom de voz:
"– Nunca perca a esperança, meu tesouro!
Deus terá novo rumo para nós.”
Hoje, passado tanto tempo,
venho vê-la e beijá-la, mãe querida!
Não preciso explicar que não fui anjo,
nem gênio salvador.
Quero apenas dizer que o seu imenso amor
fortaleceu-me a fé e iluminou-me a vida!
E se posso pedir algo de novo,
embora não mereça,
abrace-me e perdoe... perdoe e esqueça
as lâminas e espinhos que lhe
finquei no peito
em forma de aflição.
E depois da oração
que você me ensinava,
diga, mamãe, enquanto estamos sós:
"– Nunca perca a esperança, meu tesouro!
Deus terá novo rumo para nós.”
A NOVA DIMENSÃO
Irmão Saulo
Acelera-se a evolução da Terra. Novos tempos abrem-se diante de nós. Da chamada Era Tecnológica passamos sem sentir para a Era Psicológica. Começamos a perceber, apesar dos óculos opacos do pragmatismo, que na verdade não vivemos no plano material, mas no espiritual. Acertam as filosofias da existência ao sustentarem a natureza subjetiva do ato de existir.
O homem não é um ser biológico, mas psíquico. Vivemos de anseios, de aspirações, de sonhos, de ideias e sentimentos. A própria técnica, aplicada à psicologia, revela cada vez mais a intensidade da nossa vida emocional que se sobrepõe à estrutura tecnológica e dirige a nossa mente em busca da verdade espiritual do homem.
Maria Dolores coloca esse problema na mensagem comemorativa do Dia as Mães. Tecnicamente procuramos conduzir a criatura humana através de esquemas psicológicos traçados sob a inspiração das máquinas. Queremos reajustar comportamentos e reorganizar a vida em termos cibernéticos. Procuramos dar ao homem a eficiência fria dos mecanismos que movimentam as máquinas. Mas o homem reage e cai na revolta da angústia, do desespero, da insubmissão aos esquemas rígidos. O amor desvirtuado, a ternura asfixiada, a liberdade descontrolada, explodem na revolta dos instintos animais que levam à enganosa fuga dos tóxicos e das ideologias fratricidas.
Cria-se uma nova terminologia. Escreve-se e fala-se levianamente sobre impulsos vitais, autenticidade, opressão familiar, superproteção e coisas semelhantes. Mas a força maior que impulsiona os seres e move os mundos no espaço fica no esquecimento. Poucos se lembram do poder do amor e são considerados como passadistas, marginais do progresso, inadaptados aos novos tempos. Maria Dolores volta a bater na tecla esquecida para mostrar que o verdadeiro amor transcende a todas as nossas ambições técnicas. A mãe superprotetora pode errar nos seus excessos de vigilância, mas erra menos do que os psicólogos de mentalidade cibernética.
O amor materno cobre a loucura dos homens e abre uma nova dimensão para a vida humana. É a dimensão do humano sobrepondo-se à dimensão do animal e da máquina. A palavra mãe, tão pequenina, escapa às medidas técnicas dos psicólogos mecânicos. É um raio de luz que as peneiras metálicas não conseguem prender. A senha do futuro abrindo as portas da verdadeira vida. Vale mais um beijo de mãe de olhos fechados do que todas as técnicas modernas para corrigir e orientar os filhos.