Portuguese English Spanish

 

A princípio, era uma reunião familiar de estudos e mediunidade, que ocorria semanalmente na casa de Virgínia e Herculano Pires. Com o tempo, chegaram os amigos e se juntaram ao grupo.

Quando a família se mudou para a residência da Rua Doutor Bacelar, o imóvel contava com uma garagem que não era utilizada. Conforme o trabalho de Herculano se tornava mais conhecido, aumentava o número de pessoas que vinham procurá-lo, em busca de orientação espírita. Para melhor atender a essa demanda e, ao mesmo tempo, constituir um novo espaço de divulgação espírita, em 1972, o casal deu início às Palestras na Garagem, que eram semanais e dirigidas por Herculano.

Muitas delas foram carinhosamente registradas em fitas cassete pela tia Lourdes (Lourdes Anhaia Ferraz) e pelo Sr. Miguel Grisolia. Agora você pode ler as transcrições dessas gravações, fruto de um trabalho detalhado e paciente de Antonio Leite, da equipe de colaboradores da Fundação. 

SOBRE A QUALIDADE DOS ÁUDIOS: As gravações originais apresentam níveis de qualidade variáveis. Alguns trechos estão quase completamente corrompidos. A linguagem coloquial está mantida nas transcrições. A numeração não segue a ordem cronológica, mas a criação de um índice das mesmas.

 

 

 

 

Palestra 12: Fluido Vital: Apontamentos teóricos e fenomenologia [1]

 

Vamos então continuar a nossa conversa do sábado anterior, nós estávamos falando sobre o fluido vital [2]. Convém a gente lembrar que o fluido vital, de acordo com a Doutrina Espírita, procede do Fluido Universal. O Fluido Universal, nós já vimos aqui, que é uma consequência da ação entre espírito e matéria, ação e reação. Portanto, um processo de ação e reação do qual resulta um novo elemento, que é o fluido vital.

O fluido vital constitui propriamente aquilo que nós chamamos a vida, mas a vida no sentido orgânico, no sentido material. Então, o nosso corpo e o corpo dos animais, o corpo das plantas, são todos dotados de fluido vital e é o fluido vital que dá vida a esses organismos. Entretanto como nós vimos aqui, o Fluido Universal, do qual deriva o fluido vital, ele só existe em função da relação espírito e matéria. Uma vez que nós afastemos o espírito da matéria, que não haja mais possibilidade de relação entre eles, não haverá Fluido Universal.

No corpo humano e no corpo dos animais e das plantas, o que acontece com o fluido vital é precisamente isso. O fluido vital existe como um elemento que é, por assim dizer, absorvido pelas organizações materiais do reino vegetal, do reino animal e do reino hominal. Mas na proporção em que estas organizações, estes elementos (que seriam os elementos da planta, os elementos do animal, da carne animal, da carne humana) absorvem o fluido vital e, na proporção em que eles fazem isto, eles entretanto entretêm ou mantêm a existência do fluido vital, através do funcionamento orgânico. Quer dizer, o fluido vital se sustenta pelo funcionamento orgânico e o funcionamento orgânico existe em decorrência do fluido vital. Eu acho que dá para entender bem, quer dizer, uma coisa corresponde a outra.

Na proporção em que os órgãos estão funcionando, eles estão produzindo fluido vital, estão mantendo a quantidade de fluido vital necessária para o organismo. No momento em que os órgãos deixarem de ter a sua capacidade de funcionamento, o fluido vital vai desaparecendo, no tocante a cada órgão. Assim também, no tocante ao corpo material. Então é aquela situação que nós dissemos aqui: o fluido vital, de acordo com a sua relação com o Fluido Universal.

É preciso estabelecer uma diferença entre os dois. O Fluido Universal é uma energia geral, uma energia universal, que existe em todo Universo, em toda parte. Deste Fluido Universal é que se geram as coisas, as formas materiais. Todos os objetos são constituídos de Fluido Universal. No Fluido Universal, existem todas as formas de energia que conhecemos, todas as formas de energia que não são produzidas artificialmente, que existem naturalmente. A eletricidade natural, o magnetismo, a força de gravitação, tudo isto está no Fluido Universal, são correntes de energia que constituem o Fluido Universal. O fluido vital também é uma corrente de energia do Fluido Universal. Então, assim como este Fluido Universal que aparece para nós, aparece para nós, quando nós lidamos com um aspecto dele. Por exemplo, a vida, a eletricidade natural e outras manifestações de energias. Parece para nós uma coisa absolutamente real e independente, que tem existência própria, na verdade não tem. Ele tem uma existência efêmera, passageira, porque ele está na dependência da relação espírito/matéria. Se nós separarmos os dois, se não houver possibilidade de contato do espírito com a matéria, não existe Fluido Universal.

Este é um ponto curioso da Doutrina, que a gente precisa depois ir esmiuçando nas relações com outros pontos que vão surgindo. Mas, no tocante ao fluido vital, ele é absorvido pelo organismo, ele então alimenta o organismo e continua a ser alimentado pelo próprio organismo. Esta é a doutrina que os Espíritos deram a Kardec, sobre este assunto, e que Kardec aceitou depois de longas observações e também de pesquisas espíritas que ele realizou a respeito. Então ele entendeu que na realidade essa doutrina é certa, corresponde a uma realidade. Que nós não podemos compreender, no tocante ao problema da vida, se não a conhecermos. Temos de conhecer este problema do fluido vital, para definirmos o que é a vida do ponto de vista material, do ponto de vista orgânico.

Ora, é claro que por trás disto está o espírito. O espírito, que é a fonte de tudo, o espírito que é a fonte da própria vida. É fácil de compreendermos que o espírito é a fonte de tudo porque, se não houver a relação espírito e matéria, não há nada mais, tudo desaparece. Então o espírito é a fonte propriamente da vida.
Mas a vida do espírito não depende do fluido vital. Então o fluido vital pertence aos organismos vivos, aos organismos materiais vivos, não pertence ao espírito propriamente dito. Quando morremos, nós como espírito nos afastamos do corpo, nos retiramos do corpo. Mas na proporção em que nós nos retiramos do corpo, o corpo fica entregue a si mesmo, é matéria e se torna matéria inerte, não tem vida porque o fluido vital desaparece com a retirada do Espírito. Eu me lembro de uma expressão do Padre Vieira[2] num dos seus sermões, uma expressão que ficou clássica através dos sermões dele (que são clássicos mesmo). Mas essa expressão ficou muito conhecida pelo seu poder de significação. O Padre Vieira dizia assim: “Quereis ver, quereis saber o que é a alma, vede um corpo sem alma.”

Quer dizer, é só olhar um cadáver, né? Vendo um cadáver nós então sabemos o que é a alma. Quer dizer, a alma é a própria vida, a alma é a personalidade, a alma é a criatura. O corpo, não. O corpo é apenas um instrumento de que a criatura se serve, enquanto este instrumento está validamente funcionando, está constituído com eficácia, com capacidade de funcionamento. No momento em que se rompe um vaso, em que se perde um órgão essencial do corpo, indispensável ao seu funcionamento total, o corpo tende a se tornar inútil, não pode mais ser movimentado pelo fluido vital, então o indivíduo morre.

A morte portanto nada mais é do que, como diz o Chico Xavier [3] muito bem, isso é uma expressão do próprio Chico, não é nem do Emmanuel, nem de nenhum espírito, é dele mesmo. O Chico diz: “A morte é um descondicionamento.” Nós estamos condicionados à vida física, à vida orgânica, estamos dentro de um corpo que é mantido pelo fluido vital. Mas este condicionamento se rompendo, desaparecendo por um motivo qualquer, nós saímos dele. Então não estamos mais condicionados, nos descondicionamos e nos libertamos daquela condição humana em que nós vivemos. Esta concepção da morte é bem uma concepção claramente espírita, porque é o que o Espiritismo diz a respeito. Quando nós morremos, na verdade, simplesmente abandonamos o corpo, nos libertamos de uma condição corporal física e nada mais do que isto. É um descondicionamento.

Mas quando nós falamos no fluido vital e vemos então que ele constitui a base de toda a vida, desde a vida do vegetal até a vida humana, constitui essa vida que nós conhecemos como um processo biológico, o processo da vida orgânica material, nós estamos então diante de um problema que nos lembra a necessidade de considerarmos dois tipos de vida: a vida espiritual, propriamente dita, e a vida material. Mas esses dois tipos de vida são relacionados obviamente, porque a própria vida orgânica depende da vida espiritual, depende da ação do espírito sobre o corpo, da ação do espírito sobre a matéria para que se produza vitalidade que é, em essência, o fluido vital. Ora, sendo assim nós vamos ver que existe uma certa relação, existe uma certa relação entre aquilo que chamamos fluido vital e aquilo que é o responsável pela produção dos fenômenos mediúnicos.

Na mediunidade, nós encontramos uma situação bastante curiosa. O espírito aproxima-se do médium, emite as suas vibrações em direção ao médium. Estas vibrações provocam no médium uma reação. A reação do médium se traduz por uma resposta ao espírito. Esta resposta ao espírito é vibratória. Por quê? Porque o médium é um espírito. Então, recebendo a vibração do espírito que dele se aproxima, o espírito do médium responde a esta vibração. Então nós temos aquilo que chamamos a “mistura fluídica”. Os fluidos do espírito que quer se comunicar, misturam-se com os fluidos do médium. Estabelece-se a ligação mediúnica necessária para que haja a comunicação. Estabelecida esta ligação, toda a condição do espírito, a sua situação no mundo espiritual, se reflete no médium. Daí o médium sentir as dores, os sintomas diversos do espírito ou a sua condição feliz. Como o espírito estiver, assim o médium se apresenta. Não há, portanto, apenas a transmissão do pensamento do Espírito para o médium, que seria então um processo telepático. Não há somente isto. Há toda uma transmissão, que nós poderíamos dizer assim, uma transmissão total daquilo que o espírito é, do estado em que ele se encontra, tudo aquilo se reflete no médium, o médium recebe toda a carga.

É evidente que existe a variedade no campo da sensibilidade mediúnica. Há médiuns mais sensíveis e, com maior sensibilidade, eles sentem mais. O envolvimento do Espírito é mais poderoso, por assim dizer, e faz com que o médium manifeste a situação do Espírito de maneira mais evidente. Outros médiuns são menos sensíveis, então refletem aquilo de maneira mais branda, mais suave. Muitas pessoas às vezes duvidam de certos médiuns que recebem comunicações de Espíritos, sem se transformarem (no sentido de darem uma ideia precisa da situação, da condição do espírito comunicante). Entretanto, muitas vezes esses médiuns são de grande fidelidade. Por quê? Porque eles estão mais ligados ao processo telepático da transmissão de pensamento do que ao processo endopático da transmissão de todo o páthos, de toda a situação patológica do espírito. Situação patológica no sentido, não de doença, mas no sentido emocional.

Então nós vemos que esta ligação do espírito com o médium é, por assim dizer, uma busca de uma situação vital que ele perdeu ao morrer. Um espírito que passou para o plano espiritual, ele não está mais naquela situação vital que estava aqui na Terra. Houve o descondicionamento, ele não tem consigo o fluido vital, porque o fluido vital desapareceu com a morte do corpo. Ele tem o princípio da vida, o princípio essencial da vida, mas não tem o fluido vital. Para ele se comunicar conosco, ele necessita do fluido vital do médium, daí aquela ação dele sobre o médium provocando uma reação. Porque quando ele emite a vibração espiritual sobre o médium, esta vibração é puramente espiritual, mas quando o médium reage a vibração do médium sai carregada de fluido vital. Então este fluido vital envolve o espírito, aí a situação em que o espírito se encontra na comunicação mediúnica, assim como que mergulhado num ambiente material. E ele se sente novamente revitalizado porque ele está habituado, ele morreu recentemente, ele está habituado à condição vital da matéria.

Então a comunicação mediúnica é de grande utilidade para o esclarecimento, a orientação dos espíritos sofredores, dos espíritos inferiores, que ainda não podem compreender bem a sua situação depois da morte. Porque estes espíritos que, no plano puramente espiritual, se sentem inseguros, eles não têm domínio próprio, eles se sentem como que “flutuando” num ambiente diferente, a que eles não estão habituados. Quando eles se aproximam do médium eles retomam a sua firmeza, aquela firmeza que eles tinham aqui na vida, a certeza de que estão pisando no chão, de que estão vivendo num corpo, eles retomam aquela sensação de novo. E retomando aquela sensação, eles se tornam mais aptos a receberem o esclarecimento da sua situação através de uma pessoa viva, que no caso é o doutrinador. Quer dizer, isto é muito importante da gente compreender, porque muitas vezes as pessoas perguntam: Mas por que o Espírito vem na sessão dar comunicação? Por que que ele não é encaminhado e orientado lá no mundo espiritual? A maioria dos Espíritos são socorridos lá no mundo espiritual.
Mas acontece que há certos casos em que a situação do Espírito é tão vaga, tão imprecisa, tão incerta, ele está tão desorientado que é necessário aquilo que nós chamamos o “choque mediúnico”. Trazê-lo e ligar ao médium. Porque ao se ligar ao médium, ele se sente em condições mais favoráveis para compreender as coisas, ele retoma a sua condição vital e se sente mais apto a entender a sua própria situação. Então, o fenômeno mediúnico serve nas sessões para acordar, despertar Espíritos que, lá no mundo espiritual, seria muito mais difícil. Eles seriam despertados também, mas dariam mais trabalho, seria mais penoso. Então, os espíritos, quando não dispõem de recursos mediúnicos, procuram realizar lá, da sua maneira, o esclarecimento daquele Espírito. E muitas vezes se servem de médiuns inconscientes, que nem percebem, que nem sabem que estão servindo para eles. Mas quando existe uma sessão organizada, um trabalho mediúnico organizado para estes esclarecimentos, tudo se torna mais fácil. Tudo se resolve com mais facilidade e com menos sofrimento para o espírito, abreviando as suas angústias, as suas incertezas no mundo espiritual e orientando, dando-lhe a possibilidade de se firmar naquele mundo.

Mas o que, além desse aspecto, nos interessa muito no fluido vital é saber o seguinte: A ligação, a relação do fluido vital com a mediunidade é tão intensa, que nós vamos encontrar certos aspectos comprobatórios da existência e da ação do fluido vital nas ciências. Por exemplo, nós temos então, no Espiritismo, a teoria do fluido vital. Quando o professor Charles Richet [4] começou as investigações dos fenômenos mediúnicos, e fundou a Ciência Metapsíquica para o desenvolvimento dessas investigações, Richet, como sabemos, era o maior fisiologista dos fins do século passado e princípio deste século, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Paris, Prêmio Nobel de Fisiologia e portanto um homem, um cientista dos mais categorizados. Bem, Richet começou a investigação científica, criou a Ciência Metapsíquica, elaborou o Tratado de Metapsíquica, que ele ao se despedir da cátedra e da direção da Faculdade de Medicina em Paris, entregou à Universidade um volume do seu Tratado de Metapsíquica, dizendo que era a herança que ele deixava para que os seus discípulos, dali por diante, continuassem aquela investigação que era de importância vital para o homem, para o mundo, para a civilização. E muitos dos seus alunos realmente continuaram essa investigação.

Mas o que nos importa no caso é o seguinte. É que Richet investigando os chamados fenômenos de efeitos físicos e de materialização de espíritos, ele chegou à conclusão de que esses fenômenos se baseavam numa força que emanava do próprio médium. Portanto uma força orgânica, uma energia orgânica e ele deu a esta energia o nome de ectoplasma. Nós já falamos aqui várias vezes no ectoplasma. Ectoplasma quer dizer, ecto, para fora; plasma, forma. A energia então produz uma emissão fora do corpo e plasma certas coisas que correspondem a formas imprecisas, ou a formas definidas de membros humanos e, até mesmo, de corpos humanos inteiros. Quando nós temos aquilo que chamamos uma materialização parcial, nós temos apenas uma parte do corpo. Por exemplo, um famoso médium inglês, Daniel Dunglas Home [5], que por sinal não foi espírita, nunca foi espírita, com ele ocorriam com grande frequência as materializações de mãos. As materializações de mãos caracterizaram todo o trabalho mediúnico do Home, embora não fosse apenas isto que ele produzia, ele produzia também materializações totais, mas as mãos eram mais comuns.

Fazia-se uma sessão de materialização com o Daniel Dunglas Home, nós então víamos o aparecimento de mãos sobre a mesa, de mãos que nos pegavam, de mãos que a gente podia pegar nas nossas próprias mãos. E estas mãos tinham o calor humano, davam toda a impressão de uma mão humana. Mas elas, quando nós queríamos retê-las, elas não escapavam fugindo. Elas desapareciam, elas se diluíam na nossa mão, nós não podíamos pegar porque elas se diluíam. Quer dizer, estas mãos eram constituídas de ectoplasma, dessa energia que Richet denominou ectoplasma. Essa energia que sai do médium foi verificada experimentalmente nos laboratórios científicos.

Por exemplo, o Barão von Schrenck-Notzing [6] , em Berlim, ele montou o primeiro laboratório de pesquisa espírita do mundo em Berlim e trabalhou intensamente com fenômenos de materialização servindo-se de vários médiuns. Ele conseguiu os mais belos fenômenos de materialização. Materializações totais e parciais, de várias formas, de várias maneiras. Ele estudou o problema do ectoplasma, então ele fez uma coisa muito curiosa. Ele notou, por exemplo, que o ectoplasma saía do médium, às vezes, por certos canais, dependendo de uma certa variabilidade. Quer dizer, em uns médiuns o ectoplasma saia pela boca, noutros saia pelas narinas, noutros saia pelos ouvidos e noutros saia pelos poros do corpo. Do próprio peito, por exemplo, do médium, podia sair uma emissão de ectoplasma. O ectoplasma sai de três formas diferentes: primeiro a forma fluídica, invisível. É como se não houvesse nada, no entanto nós sentimos que há no ambiente uma emissão de forças que está presente e que tem inclusive o cheiro, principalmente o cheiro de ozônio, tem o seu cheiro característico. E às vezes também, principalmente quando dá suas explosões, o cheiro de enxofre, cheiro semelhante ao enxofre. Então esse ectoplasma, embora invisível, ele é perceptível na sua emissão, mas ele sai mais comumente numa forma de massa leitosa. A massa leitosa primeiro costuma sair em forma de uma emanação como se fosse fumaça. Esta fumaça chega às vezes a asfixiar certos médiuns, não de maneira decisiva, mas eles se sentem asfixiados, porque esta fumaça lhes entope as narinas, a garganta, e vai saindo por ali. Mas esta fumaça é que vai se transformando depois naquela massa leitosa que se projeta sobre uma mesa, no assoalho, sobre uma cadeira, em qualquer lugar. Esta massa leitosa, o Barão von Schrenck-Notzing (como aliás posteriormente vários outros pesquisadores conseguiram) conseguiu captar, cortar um pedaço do ectoplasma, um pedaço da massa, e submetê-lo a exame de laboratório para ver do que se constituía. E verificou-se que se constituíam, esses pedaços de ectoplasma, se constituíam de elementos orgânicos, de células orgânicas, havendo uma grande mistura de células dos órgãos interiores e dos órgãos epiteliais, ou seja, das células da pele.

Bom, então, Notzing teve o cuidado inclusive de fazer o seguinte, ele cortava um pedaço do ectoplasma, dividia-o, mandava um para um laboratório, outro para outro. Um dos casos mais bonitos de identificação da estrutura do ectoplasma, feito o exame histológico do ectoplasma, foi quando ele mandou uma porção do ectoplasma para um laboratório de Berlim e outro, para um laboratório de Viena. Para ver os exames feitos de maneira completamente diferente, por dois laboratórios com outros cientistas, né? E todos os exames confrontados deram o mesmo resultado. Mas o que aparece no exame de laboratório é apenas a parte material do ectoplasma, não é propriamente o ectoplasma. O que aparece ali é aquilo que o ectoplasma carrega com ele do organismo humano, aquilo que ele tira do organismo humano para poder produzir as formas materializadas. Quando pegamos uma mão materializada por exemplo, nós sentimos o calor da mão, podemos inclusive ver a pulsação. Richet como fisiologista examinou isto profundamente – ver, tomar o pulso da mão – e no entanto, se nós queremos pegar no braço, não existe. A mão está solta no ar ou está solta em cima da mesa.

Como é que é possível haver calor nesta mão? É que ela está ligada ao corpo do médium, ela está reproduzindo, ela está repetindo o seu condicionamento aparente, ela está refletindo a temperatura do médium. Então, dá a impressão de que realmente é uma mão humana, natural, de uma criatura viva e não é. É apenas uma produção do ectoplasma. Revestindo naturalmente uma forma espiritual, que é a mão do espírito que se materializa. Ora, o importante nisto aqui, a verificar-se, é o seguinte: O ectoplasma corresponde precisamente ao fluido vital, ele é o elemento que permite a manifestação do Espírito. Ele é, portanto, energia vital que se projeta do médium para fora. Mas como se trata não apenas de estabelecer ligação entre o médium e o espírito para uma comunicação oral ou escrita, mas sim para produzir fenômenos físicos, então o ectoplasma traz consigo elementos orgânicos, materiais do médium que é para lhe dar a densidade necessária à produção daqueles fenômenos.

O professor Crawford [7] de Belfast, o professor Crawford era catedrático de Mecânica na Universidade de Belfast. E como catedrático de Mecânica, ele se interessou pelo aspecto mecânico do ectoplasma, ele quiz descobrir a mecânica do ectoplasma. Então ele realizou vários estudos bastante curiosos, assim por exemplo. Temos aqui, vamos dizer, temos aqui um tablado, um tablado. Aqui nós pomos uma cadeira e pomos um médium em cima desta cadeira. Este médium sentado na cadeira, ele vai produzir o ectoplasma [...] [Final da fita K7].

[Início da fita K7] [...] de como fazer levitar uma mesa pesada, uma mesa grande que está aqui. Bom, aqui vamos dizer que é uma sala, né? Então o Professor Crawford, embaixo deste estrado ele colocou várias campainhas. Essas campainhas disparavam quando houvesse uma pressão no estrado. E começou a fazer as pesquisas, o médium emitia o ectoplasma, emitia o ectoplasma. Este ectoplasma se dirigia por exemplo em forma de emissão fluídica para a cadeira e levantava a cadeira no ar. Levantando essa cadeira no ar, o ectoplasma também mudava de direção, ele seguia a direção da cadeira, levantava a cadeira, porque ele é a força que está erguendo a cadeira no ar.

Aqui o médium estava sentado numa balança e esta balança tinha uma fita, como as fitas das nossas máquinas registradoras que registravam o peso do médium de instante a instante. O médium fazia um movimento na cadeira, a fita registrava. Quando a cadeira era levantada no ar a fita registrava o peso do médium, mais o peso da cadeira. O que provava o seguinte, que a cadeira estava pesando sobre o médium, né? Mas quando o ectoplasma levantava esta mesa, por exemplo que era uma mesa dessas antigas, muito pesadas, ou levantava um piano no ar, por exemplo. Então acontecia o seguinte, o registro do peso do médium diminuía enormemente. Em vez de aumentar, diminuía. Logicamente se chegava à seguinte conclusão. Quando o ectoplasma levanta um objeto muito pesado, este objeto não pesa sobre o médium porque se não a balança acusava, né? Então para tirar a dúvida a respeito foi que ele organizou esse estrado com... eu estou fazendo aqui embaixo, mas era lá por baixo do estrado, que ficava as campainhas. Ele fez esse estrado para ver se conseguia provar a maneira por que o ectoplasma agia.

Então ele provou o seguinte: o ectoplasma emitido vinha embaixo da mesa, a mesa está aqui, vinha aqui; aqui ele se apoiava no chão e levantava uma coluna de ectoplasma, uma coluna de energia que suspendia a mesa no ar. A mesa não pesava lá no médium, porque ela está pesando aqui, no chão. Então foi isso que Richet denominou a Alavanca de Crawford, que lá está, no Tratado de Metapsíquica, a Alavanca de Crawford. É a alavanca de ectoplasma para produzir movimentos. Ele conseguiu provar que realmente havia esta ação, porque cada vez que a mesa levantava, disparavam as campainhas embaixo do estrado. Quer dizer, nada estava forçando a campainha, então o que estava forçando a campainha era a coluna de ectoplasma. Posteriormente ele conseguiu, como também Crookes [8] conseguiu, Richet, Osty [9] , Geley [10], todos eles conseguiram fotografias do ectoplasma na sua emissão e conseguiram provar fotograficamente esta alavanca, a existência desta alavanca.


Bom, então estamos vendo bem claramente que o problema do fluido vital foi confirmado pela Ciência Metapsíquica, que era uma ciência fisiológica, ciência através da qual Richet não procurava demonstrar que havia Espíritos. Ele queria demonstrar que os fenômenos espíritas nada mais eram de que produções do organismo material do médium, eram emanações do corpo do médium. Depois, nas pesquisas, ele foi obrigado a chegar à conclusão de que eram Espíritos. Por quê? Porque ele conseguiu materializações de Espíritos, materializações totais e materializações parciais. Uma das materializações mais curiosas, de que há uma fotografia no Tratado de Metapsíquica, é uma fotografia que ele conseguiu de um árabe que se materializou só daqui pra cima, só o busto, né? E esta parte de baixo não tocava o chão, mas tinha uma ligação direta com a médium que era Eva Carrière [11], uma mocinha francesa, ela estava sentada lá na cadeira, então havia aquela ligação do ectoplasma que foi fotografada, saiu perfeitamente fotografada.

Este árabe materializado, Richet examinou inclusive a pulsação do coração, tomou o pulso dele, tudo normal como se fosse uma criatura humana. Para ver se ele respirava de fato ele se serviu de um tubo com água de barita [12] e chegou à narina do fantasma, porque com a respiração precipita-se, a barita precipita-se dentro do líquido, então vê-se a barita acumular-se. E chegou lá e deu a precipitação, quer dizer o fantasma respirava como uma criatura humana. Por que havia todos estes fenômenos lá no fantasma, ele era um espírito, ele não tinha corpo, aquele corpo de ectoplasma era transitório e não tinha os órgãos corporais nossos? Mas é que toda a condição do médium estava se refletindo no fantasma, então dava a possibilidade de produzir os fenômenos físicos orgânicos como se o fantasma fosse realmente uma criatura viva, material. Então nós vemos aí uma comprovação científica do fluido vital que foi de grande importância porque feita no campo da fisiologia. Naquele campo precisamente em que se procurava provar que os fenômenos eram puramente fisiológicos. Richet chegou à conclusão de que não eram fisiológicos apenas, que eram produzidos no organismo humano por ação de entidades espirituais.

Depois desta prova nós temos de considerar a prova de William Crookes, em vez de ser um fisiologista era um físico, um grande físico inglês e um homem de grande prestígio científico na época, um dos maiores cientistas da época que foi nos fins do século passado. Crookes produzindo materializações ele chamou o elemento que produz a materialização de força psíquica. Outro nome científico do fluido vital mas que proveio já não mais da Metapsíquica que era fisiológica e sim da Física, através da chamada Ciência Psíquica Inglesa, com que colaboraram numerosos cientistas como sabemos. Crookes se destacou precisamente pelas suas pesquisas de materialização. Então ele conseguiu provar que do ponto de vista físico a materialização demonstrava a existência do espírito. Ele se serviu principalmente de uma médium, também uma jovem inglesa que servia de médium e tinha grande sensibilidade mediúnica. Se serviu dessa médium chamada Florence Cook [13], não era "Crookes" era "Cook", portanto não era parente dele.

Florence Cook era uma jovem que se prestou a essas pesquisas e produzia materializações de um espírito que dava o nome de Katie King, Katie King era uma moça que se materializava. A grande preocupação de Crookes foi conseguir, ver ao mesmo tempo a médium em estado de transe e o espírito materializado, e ele não só conseguiu como fotografou. Ele começou as pesquisas, também ele com a finalidade de desmentir o espiritismo. Ele achava que os fenômenos espíritas eram ilusórios, não podiam existir, ele como físico não podia admitir esses fenômenos. Então ele acedeu a um convite da Sociedade Dialética de Londres para fazer pesquisas nesse campo. Ele disse: “Eu vou suspender os meus trabalhos científicos que estão em andamento, suspendê-los por uns três meses. Vou dedicar três meses a essa investigação, não posso dedicar mais do que isto, mas estou certo que em três meses eu liquidarei com este assunto.”

Ficou três anos fazendo as investigações e depois veio a público para demonstrar que os fenômenos eram reais, que existiam, e relatando todo o caso das materializações de Katie King que duraram cerca de três anos, realizando-se com ele sempre esses fenômenos. Katie King materializava-se totalmente, a ponto de haver passeado de braços com William Crookes na sala de pesquisas, diante de outros cientistas que ali estavam participando do trabalho. E há outros episódios muito curiosos das manifestações de Katie King. Mas como era que Katie King se materializava? Através do fluido vital. O fluido vital na forma de ectoplasma ou de força psíquica, é que fornecia os elementos materiais para que o espírito de Katie King se revestisse, por assim dizer, de uma camada externa de matéria, que pudesse se apresentar como uma pessoa viva. A maneira porque o espírito se manifesta é tão evidente que dá a impressão plena de uma pessoa viva. Mas no momento da formação, da materialização ou no momento do seu desaparecimento, torna-se evidente que não era uma pessoa viva porque o Espírito se dilui, ele se derrete, por assim dizer.

Por exemplo, William Crookes fez uma curiosa experiência com o espírito de Katie King, fez uma curiosa experiência com o espírito de Katie King. Katie King havia dito que não suportava a luz direta, uma luz direta sobre ela, porque produzia efeito negativo sobre o ectoplasma. Então as pesquisas eram feitas com luz indireta ou com luz vermelha. Então Crookes resolveu fazer uma experiência com Katie King com a luz direta, e disse a ela, “eu vou experimentar a luz direta, posso fazer?” Ela disse: “pode”. Quando Crookes acendeu a luz direta sobre Katie King, o fantasma, como Crookes descreve, derreteu como uma vela, uma vela que se derrete. Ela foi derretendo e desapareceu no chão. Então quer dizer, uma prova muito bonita da maneira por que os Espíritos se manifestam, servindo-se de um elemento estranho a eles, que é o elemento do médium.

Na Parapsicologia atual, que não cuida propriamente ainda de fenômenos de materializações, não entrou nesse campo, nesse terreno, porque os parapsicólogos acham que esse campo é muito difícil, muito complexo, eles estão tratando ainda de problemas fora deste campo. Mas eles já entraram na área dos fenômenos de materialização, porque tiveram de tratar dos fenômenos físicos, fenômenos de movimentação de objetos. Por exemplo, este negócio de erguer a mesa no ar é um fenômeno em que entra o ectoplasma, né? Então, na Parapsicologia atual, o fluido vital tomou o nome de efeito psi-kappa. Então dizemos que um médium produz efeito psi-kappa quando este médium é capaz de produzir a movimentação de objetos sem contato da mão, sem contato pessoal dele ou de ninguém. Então é um efeito psi-kappa. Isto, a Parapsicologia atual provou que realmente existe, através de investigações de laboratório. Ora, então nós temos mais um nome científico, quer dizer na ciência não-espírita, mais um nome científico do fluido vital que é o efeito psi-kappa.

Por que é o fluido vital? Porque é o único elemento que realmente sai do corpo. Todos estes nomes correspondem apenas a um elemento, que é uma emanação energética do corpo, produzindo efeito à distância. Ora, quando nós temos, portanto o efeito psi-kappa, produzindo movimento de objetos, nós estamos no plano do ectoplasma, é a emanação dessa energia. Então vemos a ligação que existe entre todas estas denominações de um único fato, que é o fluido vital. De um único elemento, que é o fluido vital.

Mais uma vez, eu aproveito para dizer o seguinte. As pesquisas tanto da Metapsíquica, como da Ciência Psíquica Inglesa, quanto da Parapsicologia, todas estas pesquisas são feitas com os fenômenos espíritas. Há pessoas que dizem assim: “eu quero que o senhor me explique se este fenômeno é espírita ou é parapsicológico”. Não existe fenômeno parapsicológico isolado, o fenômeno é um só, os nomes é que são dados. Por exemplo, eu digo fenômeno metapsíquico. É o mesmo fenômeno espírita, é o mesmo fenômeno parapsicológico, né? Fenômeno psíquico de acordo com a Ciência Psíquica Inglesa é o mesmo fenômeno espírita. Quer dizer, não há dois, três tipos de fenômeno, o fenômeno é um só. Apenas a denominação é dada por certo tipo de investigação, certo grupo de cientistas, certo sistema científico que é criado. Então se dá uma denominação diferente, mas o fenômeno é um só.

Vemos então a importância do fluido vital e a sua comprovação não só pelo Espiritismo, como pelas ciências que procuraram combater o Espiritismo. Esse fluido vital nessa manifestação exterior, saindo do médium para produzir... Ele, entretanto, não se dispersa, ele volta para o médium. O ectoplasma, que foi o nome que ficou mais aceito universalmente, tem o nome de ectoplasma, porque é um nome bem construído e que representa bem o fenômeno em si, a produção fora do corpo de uma forma com energias produzidas pelo corpo. Então o ectoplasma caracteriza bem esta ação e nos dá uma ideia precisa de como são produzidos estes fenômenos. Mas o que nos interessa aqui, no tocante a essa emissão de ectoplasma, para uma comparação com o Espiritismo, é vermos que este ectoplasma está presente, não só nesses fenômenos mais ou menos espantosos, fenômenos mais evidentes que chamam mais atenção. Ele está presente em todas as manifestações mediúnicas e, podemos mesmo dizer, sem sombra de dúvida, que o ectoplasma está presente na telepatia, na transmissão do pensamento. Por quê? Porque a própria palavra telepatia, ela não quer dizer transmissão do pensamento, ela quer dizer transmissão do páthos, né?

Quer dizer, o páthos como fala a expressão grega, que quer dizer emoção, quer dizer o sentimento, a condição emocional do indivíduo. Então quando nós transmitimos um pensamento, não transmitimos apenso o pensamento. Por exemplo, experiências realizadas a grande distância, tanto na Rússia quanto nos Estados Unidos, experiências de telepatia mostraram coisas curiosas. Eu costumo citar muito o caso de Wilkins [14] e Sherman [15]. Wilkins era um aviador que costumava fazer explorações polares, ele trabalhava praticamente nisso, explorações polares. Quando caia um avião, quando sumia um grupo de exploradores do Polo, ele ia com seu aviãozinho procurar estas pessoas lá no Polo Norte. Era a especialidade dele. Ele morava em Nova York. Sherman era um conhecido psicólogo norte-americano. Então Wilkins estava trabalhando com Sherman em experiências telepáticas, transmissão de pensamento.

Quando um avião russo que tentava fazer a linha Rússia-Estados Unidos através do Polo, descendo no Alaska, caiu no Polo e ficou perdido, eles perderam inclusive o aparelho de transmissão radiofônica, rádio-telegráfica, se quebrou. Então ele não tinha possibilidade nenhuma de se comunicar. A embaixada russa nos Estados Unidos procurou o Wilkins e contratou o Wilkins para fazer as pesquisas lá no Polo. Então o Wilkins chegou a Sherman e disse : “bom, agora vamos interromper as pesquisas, porque eu vou para o Polo”. Ele [Sherman] disse: “Não, vamos continuar as pesquisas à distância. Você de lá do Polo, vamos marcar uma hora certa, você continua a emitir pensamentos pra nós, aqui, e nós captamos aqui e vamos ver o resultado, vamos ver se podemos captar.” Eles ainda não sabiam, não conheciam a extensão, a potencialidade do pensamento. E fizeram uma série de pesquisas. Existia até um livro importante em que eles relatam todo este trabalho e que se chama Pensamentos através do Espaço (Thoughts Through Space: a remarkable adventure in the realm of mind) [16]. Este livro infelizmente não existe em português, mas existe em espanhol, publicado na Argentina. Pensamentos através do Espaço.

Então o Wilkins estava lá fazendo as suas pesquisas e transmitindo sistematicamente o seu boletim mental para Sherman, nos Estados Unidos, que recebia aquilo através de um recipiente, de um receptor como se diz “telepático”, um médium, portanto. Acontece que muitas vezes o médium não captava apenas o boletim de Wilkins, captava também a situação em que ele se encontrava, o que ele estava dizendo, com quem ele estava conversando. Então, um dos fatos mais curiosos foi o seguinte. Vários aviadores que faziam o mesmo trabalho que o Wilkins, prestaram uma homenagem a ele pelas pesquisas ou pelos anos de pesquisas que ele já tinha realizado. E lá no Polo eles organizaram um pequeno banquete de homenagem ao Wilkins.
Então na hora do banquete estava “um fala, outro fala”, aquelas saudações, aquela coisa e na hora [em] que deram a palavra ao Wilkins, o Wilkins olhou no relógio e era hora dele transmitir a mensagem telepática. Ele pediu um minuto de silêncio e transmitiu a mensagem telepática para o Sherman. Mas quando ele começou a falar, a telepatia continuou a funcionar. Quer dizer, então o Sherman recebeu não apenas o pensamento dele, mas também o discurso dele e a voz dele, que era ouvida pelo médium que recebia a telepatia. As emoções que ele sentiu, aquilo tudo, foram registradas. Então vê-se que a telepatia, também ela, depende das emissões de fluido vital, porque o pensamento carrega consigo não só a expressão mental que se quer dar, mas toda situação emocional do emissor, daquele que emite o pensamento. Vemos então a importância deste problema do fluido vital no Espiritismo e quanto ele pode nos oferecer para a explicação de vários fatos, de vários acontecimentos.

Ouvinte: Professor, desde que os parapsicólogos, não o desejando, têm conhecimento de materializações de Espíritos, por que na verdade eles não aceitam


Professor Herculano: O senhor sabe que agora os russos descobriram uma nova forma. Até foi bom o senhor se lembrar, né? Existe agora na Física, a antimatéria. A antimatéria, segundo as características que dela apresentam os físicos e os efeitos que ela exerce, a antimatéria nada mais é do que aquilo que nós chamamos Fluido Universal. Não o fluido vital, mas o Fluido Universal do qual decorre o fluido vital, que é a antimatéria. Quer dizer: a antimatéria não é o Fluido Universal. E o fluido que decorre do Fluido Universal também decorre da antimatéria, que é a mesma coisa. Antimatéria é um nome novo, né? É um nome que a Ciência arranjou para designar uma coisa, é preciso que se deem nome às coisas para poder trabalhar com elas, então deram o nome de antimatéria.

Pois bem, as pesquisas dos físicos soviéticos (que são materialistas) sobre a antimatéria, levam à descoberta daquilo que nós já falamos aqui, que é o corpo bioplasmático do homem, o corpo energético do homem. Eles verificaram que existe, formado no campo da antimatéria, existe no homem um corpo que é o modelo do corpo físico, do corpo material. Daí, o nome de bioplasmático, bio porque é o corpo que dá vida ao corpo material, plasmático porque é o corpo sobre o qual é plasmado nosso organismo físico, material. Isso é pesquisa soviética, pesquisa portanto de materialistas, de pessoas que não acreditam absolutamente na existência do espírito, nem na sobrevivência da alma após a morte. Ora, esses cientistas soviéticos conseguiram fotografar o corpo bioplasmático, o corpo energético. Conseguiram, através daquilo que eles chamam de câmara Kirlian, que foi uma câmara fotográfica inventada pelo casal Kirlian [17], que é um casal de cientistas armênios. A Armênia como se sabe é uma das repúblicas soviéticas.

Então esses cientistas inventaram essa câmara Kirlian para fotografar sobre um campo imantado de energia elétrica em alta frequência. Eles conseguem fotografar a antimatéria e, fotografando a antimatéria, eles fotografaram o corpo espiritual do homem. Aquilo que o apóstolo Paulo chamava o corpo da ressurreição [18]. Nós morremos, vamos para a terra. Ele diz lá na I Epístola aos Coríntios. Enterra-se o corpo material, ressuscita o corpo espiritual. Bom, eles conseguiram tudo isto, eles estão de posse destes dados e eles não acreditam no espírito. Por quê? Porque a posição deles, a posição mental deles é materialista, então a obrigação que eles têm, como materialistas, é uma convicção. Se eu tenho por exemplo uma convicção espírita, como tenho, qualquer fenômeno que se me apresenta eu o considero dos dois lados, o material e o espiritual. Mas não posso ignorar o aspecto espiritual, porque está dentro do meu pensamento, da minha maneira de encarar o problema.
O materialista é o contrário, ele não pode esquecer o aspecto material e ele quer sustentar a sua convicção material. Então ele exige provas, provas que estão dentro das exigências materialistas, mas não correspondem absolutamente à natureza dos fenômenos. Por exemplo, os russos fotografaram o corpo espiritual, o corpo energético. É uma prova, eles viram, eles têm, na câmera Kirlian, têm a lente pela qual veem o que vão fotografar. Eles viram, descreveram belissimamente o corpo espiritual, dizendo que é um corpo de luz, um corpo luminoso, uma coisa extraordinária. Chegaram mesmo a dizer que é um corpo constelado, como se fosse um céu cheio de estrelas, porque existem as irradiações do corpo. Então quer dizer eles estão vendo, eles estão fotografando, eles sabem que este corpo existe, chegaram mesmo à conclusão de que este corpo é que dá vida ao homem.

Por que que chegaram à esta conclusão? Porque as pesquisas mostraram a eles que quando o homem morre... Eles estão fazendo pesquisa com a morte, fotografando moribundo na hora que está morrendo, acompanhando através das lentes óticas o que se passa no corpo do moribundo. E eles viram que, enquanto este corpo bioplasmático não se retira do corpo material, o indivíduo não morre. Só depois que este corpo se afasta é que ele se cadaveriza. Ele não se torna um cadáver, enquanto o corpo energético estiver ligado a ele. Então quer dizer que eles têm todas as provas, para nós, mais de que suficientes, para demonstrar a existência do Espírito. Mas eles pensam assim: Bom, isto, este corpo material, este corpo bioplasmaático energético também pode se dissolver. Pode ser que, no fenômeno da morte, ele também se dissolva. Ele se retira do corpo material, mas deve se dissolver.

As últimas pesquisas de que se tem notícia... Tem aí agora um livrinho em inglês, está sendo traduzido para o português, um livro muito interessante que relata todas as pesquisas por duas pesquisadoras, uma norte-americana, outra canadense. A gente encontra, por exemplo, na Livraria Siciliano, encontra o livro em inglês, um livrinho cujo título é Descobertas Psíquicas por trás da Cortina de Ferro [19]. São as pesquisas que elas andaram fazendo e tem os depoimentos dos cientistas russos sobre isto. Tudo leva a crer que os russos deviam dizer “bom, vamos entregar os pontos aqui, realmente a nossa teoria está errada, a nossa doutrina está errada”. Agora, no caso deles o problema é mais complexo, porque é uma doutrina de Estado, é uma ideologia. Ideologia materialista. Para eles voltarem atrás, eles têm que reformular muita coisa. Mas no caso individual, de um indivíduo que é materialista por conta própria, que não pertence a ideologia marxista...

 

[1] Veja também a Palestra na Garagem #9.

[2] Antônio Vieira, ou Padre Vieira (1608-1697), escritor português e orador jesuíta.

[3] Francisco Cândido Xavier (1910 – 2002), médium espírita mineiro.

[4] Charles Robert Richet (1850 – 1935), médico fisiologista francês. Prêmio Nobel de Medicina de 1913 e fundador da Metapsíquica.

[5] Daniel Dunglas Home (1833-1886), espiritualista e médium britânico.

[6] Albert von Schrenck-Notzing (1862-1929), psiquiatra e parapsicólogo alemão.

[7] William Jackson Crawford (1881 – 1920), engenheiro, professor da Queens University (Irlanda) e pesquisador de fenômenos psíquicos.

[8] William Crookes (1832 – 1919), químico e físico britânico.

[9] Eugène Osty (1874 – 1938), físico francês e pesquisador de fenômenos psíquicos.

[10] Gustave Geley (1865 – 1924), psiquiatra e pesquisador espírita francês.

[11] Eva Carrière foi o nome adotado por Marthe Beráud (1884 – 1943), médium francesa de efeitos físicos.

[12] Barita é um mineral de sulfato de bário com fórmula química BaSO4 (Fonte: Wikipedia).

[13] Florence Cook (1856 – 1904) foi a primeira médium inglesa a obter materializações de Espíritos em plena luz, sendo as mais famosas as de Katie King. Participou como médium das experiências de William Crookes.

[14] George Hubert Wilkins (1888 – 1958), aviador, naturalista e explorador australiano.

[15] Harold Morrow Sherman (1898 – 1987) foi um escritor, conferencista e pesquisador americano de fenômenos psíquicos.

[16] George Hubert Wilkins, Harold Morrow Sherman. Thoughts Through Space: a remarkable adventure in the realm of mind. Ann Arbor: Creative Age Press, Inc., 1942.

[17] Semyon Davidovich Kirlian (1898 – 1978), cientista, engenheiro elétrico e pesquisador russo, casado com Valentina Lototskaya (1904 – 1971). Ambos construíram em 1939 a primeira câmara Kirlian.

[18] 1 Coríntios, 15, 35-39.

[19] Sheila Ostrander, Lynn Schroeder. Experiências psíquicas além da Cortina de Ferro. São Paulo: Cultrix, 1970.

 

 

Style Selector

Layout Style

Predefined Colors

Background Image