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A princípio, era uma reunião familiar de estudos e mediunidade, que ocorria semanalmente na casa de Virgínia e Herculano Pires. Com o tempo, chegaram os amigos e se juntaram ao grupo.

Quando a família se mudou para a residência da Rua Doutor Bacelar, o imóvel contava com uma garagem que não era utilizada. Conforme o trabalho de Herculano se tornava mais conhecido, aumentava o número de pessoas que vinham procurá-lo, em busca de orientação espírita. Para melhor atender a essa demanda e, ao mesmo tempo, constituir um novo espaço de divulgação espírita, em 1972, o casal deu início às Palestras na Garagem, que eram semanais e dirigidas por Herculano.

Muitas delas foram carinhosamente registradas em fitas cassete pela tia Lourdes (Lourdes Anhaia Ferraz) e pelo Sr. Miguel Grisolia. Agora você pode ler as transcrições dessas gravações, fruto de um trabalho detalhado e paciente de Antonio Leite, da equipe de colaboradores da Fundação. 

SOBRE A QUALIDADE DOS ÁUDIOS: As gravações originais apresentam níveis de qualidade variáveis. Alguns trechos estão quase completamente corrompidos. A linguagem coloquial está mantida nas transcrições. A numeração não segue a ordem cronológica, mas a criação de um índice das mesmas.

 

 

 

 

Palestra 9: Elementos do Universo, Fluido Universal e Fluido Vital

 

 

Toda vez que vou entrar no Princípio Vital acontece alguma coisa,[risos] você não vai dizer nada, mas eu já tenho uma coisa... [risos] Nós falamos no sábado passado do problema de Júpiter e Marte, mas depois, lá em cima [1], eu me lembrei que eu me esqueci de uma parte importante.

No tocante a Marte, nós vimos que há uma certa confirmação da investigação científica atual quanto às condições do planeta, as condições físicas (materiais) do planeta. A investigação astronáutica confirma aquilo que foi dito a Kardec, não totalmente porque também eles não fizeram a investigação total, mas naquilo que eles investigaram, nós temos uma confirmação.

No tocante a Júpiter, eu me esqueci desta parte que é também importante. Nós todos sabemos que os norte-americanos fizeram isso agora recentemente, fizeram uma investigação bastante importante sobre Júpiter através das sondas espaciais que enviaram para lá. E eu falei aqui da confirmação da Astronomia quanto ao peso de Júpiter, quanto à natureza fluídica do planeta, de ser muito mais leve e de ter mesmo uma densidade material muito menor do que a da Terra. Quanto a isso, há uma confirmação astronômica. Mas a confirmação astronômica, como nós sabemos, é sempre dedutiva, não é uma confirmação assim positiva, objetiva, de verificação no local. Então, nós podemos dizer que essa confirmação astronômica estava ainda mais ou menos no mesmo plano da informação de Allan Kardec pelos espíritos, quer dizer nada de verificação instrumental ou pessoal do homem.

Entretanto a investigação dos norte-americanos, não sendo pessoal, é instrumental, porque foi através das sondas espaciais [2] que eles conseguiram circundar Júpiter, fazer observações, tirar fotografias e enviar muitos dados e elementos à Terra para a verificação da situação de Júpiter. Eles chegaram a uma conclusão (naturalmente uma conclusão apenas provisória, porque as investigações têm de prosseguir muito para que cheguem a uma conclusão definitiva), uma conclusão provisória de que Júpiter parece ser – é uma conclusão muito favorável à tese espírita – que Júpiter parece ser até mesmo não um planeta mas, sim, um sol em formação [3]. O aspecto físico de Júpiter é puramente energético. Eles acharam que não há, por assim dizer, matéria densa propriamente em Júpiter. Pode-se dizer que há quase uma ausência de massa. O que há é energia em grande quantidade, a tal ponto, que consideraram Júpiter não como um planeta, o que seria uma revolução até na concepção astronômica, não como um planeta, mas como um sol em formação. Júpiter como nós sabemos tem doze Luas, quer dizer essas doze Luas representariam os planetas em formação em torno do Sol para o seu desenvolvimento. Tudo isto, esta referência à possibilidade de ser um novo sol em desenvolvimento, isto é ainda uma hipótese, é ainda uma hipótese científica que depende de pesquisas para se confirmar. Mas os dados que são tão importantes para nós porque confirmam aquilo que os espíritos disseram a Kardec: “Júpiter é um planeta constituído de matéria rarefeita, muito diferente da Terra, a tal ponto que os habitantes de Júpiter não têm corpo material propriamente dito como o nosso, mas sim um corpo semimaterial que corresponde ao nosso perispírito” [4].

Ora, a simples consideração de que este corpo celeste parece ser formado apenas de energia e não de matéria, de massa material, já coincide com as informações dadas pelos espíritos. Falta ainda naturalmente muita coisa, porque as descrições de Júpiter pelos espíritos foram bastante minuciosas, mas, como nós sabemos, Kardec não aceitou estas descrições, justamente pelo excesso de minúcias. Ele achou que estava tudo muito lógico, muito interessante, mas que esse excesso de minúcias trazia uma certa possibilidade de erro, de engano. Inclusive de informação. (Mesmo que não fosse errônea, informação dada assim de maneira mais ou menos alegórica, simbólica, transmitindo-nos dados em comparação com a nossa situação terrena, que podem não corresponder à realidade efetiva de Júpiter.) O cuidado de Kardec nessas coisas era muito grande e é bom lembrar mais uma vez, como ele sempre dizia: não é função do Espiritismo investigar isso, o Espiritismo tem por função investigar o espírito e não investigar os astros no infinito. Entretanto, como a teoria da pluralidade dos mundos habitados é uma teoria básica no Espiritismo, porque, do ponto de vista lógico, nós não podemos admitir a sucessão das vidas e o progresso e evolução das criaturas sem admitir a existência de mundos superiores para onde essas criaturas podem ir, somente por isto, Kardec admitiu as informações como elementos valiosos para serem estudados, aguardando-se as investigações futuras da ciência correspondente, que era a Astronomia e que hoje é auxiliada pela Astronáutica.

Apenas lembrar isso me parece importante, para nós termos uma ideia de como a teoria da pluralidade dos mundos habitados vai sendo, na realidade, confirmada pelas investigações científicas. Quanto aos pormenores da posição exata de cada um, da sua situação, isso Kardec não foi além de Marte e de Júpiter, justamente por entender que o assunto não era do Espiritismo. No Espiritismo, nos interessa apenas uma espécie de exemplos como esses que foram dados de Marte e Júpiter, para formarmos uma ideia melhor do que seja a diversidade dos mundos no espaço.

E já que estamos no assunto, eu queria lembrar também uma afirmação de Flammarion [5] que eu acho muito importante a gente saber. Flammarion declarou que a pluralidade dos mundos habitados é um corolário do princípio da reencarnação. Quer dizer, ele admite que não podemos aceitar a reencarnação sem aceitar a pluralidade dos mundos habitados. E assim, a aceitação pelo Espiritismo da pluralidade decorre da aceitação da reencarnação, que foi cientificamente provada pelo Espiritismo. E que hoje as ciências, no seu desenvolvimento atual, no campo da Psicologia e da Parapsicologia, e mesmo nos campos que hoje estão sendo também dominados pelas ciências psicológicas, que são os campos da Física e da Biologia. Nesse desenvolvimento das ciências, elas também estão, de certa maneira, já confirmando, porque a investigação parapsicológica como nós vemos por livros que já estão publicados aqui no Brasil, particularmente o livro do professor Ian Stevenson [6], que é um cientista norte-americano não espírita, um psiquiatra, Diretor do Departamento de Psiquiatria de uma importante Universidade. As investigações feitas por ele estão publicadas aí no livro Vinte casos sugestivos de reencarnação, são investigações que merecem respeito e consideração e mostram que ele mesmo como cientista já admite plenamente a reencarnação.

Mas a reencarnação, por si mesma, nos leva ao problema do Princípio Vital. O problema do princípio vital é o problema na vida. Nós sabemos que as investigações científicas no campo da vitalidade são muito intensas e profundas. Muitas investigações têm sido feitas no sentido de descobrir o que é a vida, o que representa a vida e o que produz a vida. É claro que a ciência tem colocado o problema sempre do ponto de vista material e podemos mesmo dizer bioquímico, é baseado nas funções químicas dos organismos, que eles procuram descobrir o princípio da vida. A última descoberta segundo me parece (eu não sou especialista no assunto, estou falando de dados que conheço em função dos interesses espíritas), a última descoberta parece que foi a do ácido ribonucleico [7] que é um ácido que eles consideram fundamental para a existência da vida em qualquer organismo. A cibernética principalmente apoiou-se muito nessa descoberta do ácido ribonucleico, que é a presença de elementos fundamentais da vida nos próprios elementos aparentemente não vitais, que depois vão se desenvolvendo e passando para o campo vital. E há também algumas fórmulas científicas sobre os elementos que devem se aglutinar em torno desse ácido e de outros elementos, que são considerados importantes para que haja, para que se produza o fenômeno da vida.

Mas no Espiritismo não se trata disso, no Espiritismo trata-se de ver não do ponto de vista bioquímico, mas sim do ponto de vista espiritual, como nós poderíamos interpretar o fenômeno da vida e considerar a nossa própria posição diante daquilo que chamamos os elementos não vivos, os elementos que não possuem o princípio vital. Ora, de acordo com a teoria espírita a respeito, o princípio vital existe nos organismos e se desenvolve com os organismos. Mas este princípio vital tem a sua origem naquilo que, no Espiritismo, nós chamamos o Fluido Universal. Aí, há um problema bastante curioso que é o seguinte. Quando nós falamos do fluido universal, nós lembramos imediatamente daquela “trindade universal” de que falamos aqui, com os três elementos fundamentais do Universo. Vocês se lembram bem desses três elementos, não é? Em cima nós colocamos Deus. Muita gente diz que é uma heresia chamar Deus de elemento, eu me lembro que Descartes [8] chamou Deus de “coisa”, disse há várias coisas. Então vamos dizer [que] Deus é o primeiro princípio. Nós já vimos isso mas vamos repetir, pra se tornar bem claro. Espírito, Matéria. De acordo com a Doutrina Espírita estes são os três elementos fundamentais do Universo. Deus é o princípio criador, é o princípio, por assim dizer, genético do Universo, aquele que deu oportunidade ao aparecimento das coisas. Aí, nós estamos num plano tão abstrato, que é até misterioso a gente tratar do assunto, mas é necessário que encaremos o problema. Problemas são problemas.

Considerando-se por exemplo do ponto de vista bíblico aquele dogma da Criação do mundo, é muito interessante notar que na Bíblia diz assim. “Deus tirou o mundo do nada”, “Deus fez o mundo do nada”. Não havia nada, só havia Deus e Deus criou o mundo, então ele criou o mundo do nada. Isto parece um absurdo assim ponto de vista lógico, do ponto de vista científico, porque do nada não podemos tirar nada. Mas no Espiritismo, há um princípio também que precisamos considerar em relação a isto, é o princípio de que “o nada não existe”. Quer dizer, o nada é uma abstração, o nada só existe do ponto de vista relativo. Por quê? Ele só existe quando nós não percebemos nada. Quando nós dizemos que numa ampola em que se fez o vácuo não existe nada, ou melhor, existe o nada, quando dizemos isto, na verdade o nada que ali existe só existe para nós, do ponto de vista da nossa capacidade de percepção e, não, na realidade exata, verdadeira. Por quê? Aquele nada que está lá dentro da ampola, na verdade, contém uma porção de elementos, de forças, de coisas que escapam à nossa capacidade de percepção e à capacidade de percepção dos nossos próprios instrumentos que ampliam os nossos órgãos perceptivos. Então o nada não existe e se Deus tirou o mundo do nada, não foi do nada que ele tirou, foi de alguma coisa, era nada apenas para nós.

Ora, este poder criador de Deus, de acordo com o Espiritismo... O Espiritismo não entra naturalmente em minúcias, porque, como diz Kardec muito bem, o assunto está muito além da nossa compreensão imediata. Quando nós tratamos de Deus, tratamos do absoluto e nós vivemos no relativo. Toda a nossa vida, toda a nossa atividade consciencial, intelectiva, perceptiva, tudo isto, todo este conjunto da nossa vida, da nossa existência na Terra, se passa no plano relativo, nós vivemos entre relações. O processo da vida é dialético como dialético vai aparecer aqui o processo da Criação. Então nós não temos a medida do Absoluto, nós temos apenas a medida das relações. Nós conhecemos o branco porque conhecemos o preto, nós conhecemos o amargo porque conhecemos o doce, e assim por diante. Quer dizer, é no processo de relação que nós vamos conhecendo as coisas. E com Deus o problema não é de relação o problema, é de Absoluto. O que é o absoluto nós já vimos aqui. O Absoluto é aquilo que é em si mesmo, basta dizer isto, que nós já caímos num plano realmente fora da nossa possibilidade lógica de explicação. É aquilo que é em si mesmo, ele é independentemente de qualquer outra coisa, o relativo é aquilo que sempre depende de outra coisa. Ora, o absoluto sendo em si mesmo, nós não podemos imaginar Deus, não podemos pensar em Deus, a não ser como esse Poder Criador, aceitando aquela definição espírita, que é a única que o Espiritismo admite de Deus. Ou seja, “inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” [9]. Inteligência, Deus é inteligência, esta é uma definição. Houve quem alegasse o seguinte: “esta definição não está perfeita porque a inteligência é uma concepção antropomórfica”.

Quando nós falamos que Deus é inteligente, nós estamos comparando o homem com Deus. Por outro lado, a inteligência é um processo de relação, porque a inteligência no homem não é a sua faculdade profunda de poder, de pensamento e de criação. A inteligência no homem é precisamente a parte de relação do seu poder intelectivo com as coisas exteriores. Portanto quando falamos de inteligência, nós falamos praticamente num processo de comunicação, inteligência é aquilo que se relaciona com outra coisa, se comunica. Então, dizem os críticos nesse sentido, principalmente no campo filosófico, que não se podia aceitar a definição de Deus como inteligência. Deus poderia ser uma consciência, a suprema consciência. Mas acontece que a posição de Kardec é bem clara nesse sentido quando ele diz. Aliás foram os espíritos que disseram a ele que Deus só podia ser definido dessa maneira. Mas quando Kardec procura aprofundar o assunto, ele coloca bem o problema ao mostrar que a nossa própria condição relativa nos impede de compreendermos Deus num processo mais profundo. E justamente por isso nós temos de ficar naquilo que nos toca, que é a inteligência humana, a inteligência humana no seu processo de relação. Assim entendemos Deus como uma relação daquilo que seja Deus no absoluto, mas na sua relação com o nosso plano, com o Universo, com a Criação. Não sei... essas coisas são meio difíceis da gente explicar e, às vezes, a gente fala bastante e não transmite nada, isso é que me dá medo, às vezes. Em todo caso a gente vai dando assim, colocando o problema não é, e cada um vai...

Mas então Deus é o poder criador, inteligência suprema, aquela que dirige todo o Universo, criou e dirige. Sendo assim, Deus pelo seu poder criou o Espírito e criou a matéria. Então dizem também alguns críticos de Espiritismo o seguinte: espírito e matéria, de acordo com o próprio Espiritismo, estão sempre interligados, o Universo inteiro está cheio de espírito e matéria. Há matéria e espírito por toda parte. Então, se há matéria e espírito por toda parte, há também uma possibilidade, que parece evidente nas descobertas da Física, de que a matéria nada mais seja de uma forma diferente do espírito, é o problema de energia e matéria. Considera-se na Física que matéria hoje pode ser definida como “energia condensada”. Matéria é uma condensação de energia. Ora, sendo assim, então o espírito estaria numa situação de não ser diferente da matéria. Mas Física é uma coisa e Espiritismo é outra, muitos críticos esquecem-se desse aspecto, desse problema fundamental. O espírito não é energia, o espírito é fonte de energia. O espírito é poder criador do próprio Deus. Quer dizer, o mesmo poder criador de Deus está no Espírito, daí também, a afirmação de que Deus é espírito. Ele é o Espírito Supremo. Ora sendo assim, a matéria é uma criação diversa do Espírito. Entretanto pode-se considerar, do ponto de vista da posição científica hoje, que o Espírito, gerando energia ou emitindo energia, ele pode produzir a matéria, é isso uma possibilidade. Mas dentro da estrutura da doutrina o problema está assim situado. A trindade universal que aparece em todas grandes religiões do mundo, e que na religião católica, como sabemos, está lá com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, na religião egípcia antiga é Osíris, Isis e Horus. Mas então temos ali uma trindade perfeita também.

E assim quando investigamos todas as demais religiões antigas nós vemos que, existe aliás um livro muito interessante da Annie Besant [10], em que ela trata da sabedoria antiga e ela expõe este problema da trindade com muita clareza, mostrando que em todas as grandes religiões aparece a trindade na forma humana, de forma antropomórfica, portanto, como criaturas humanas. Ora, Kardec diz: essa trindade que aparece em toda parte é esta aqui, não é uma trindade humana, é uma trindade constituída de elementos fundamentais do Universo. Mas nessa trindade, então, nós vemos isso: o espírito produzido por Deus relaciona-se com a matéria. A matéria é inerte, ela não tem vida, e é informe (ela não tem forma). A matéria, disseram os espíritos, existe disseminada no espaço em forma de fragmentos; o espírito é o elemento estruturador da matéria, é o espírito que dá forma à matéria. Bom, eu já lembrei aqui, mas é bom lembrar de novo, porque esses assuntos são muito complexos. Eu lembrei aqui que essa posição do Espiritismo encontra um grande apoio na doutrina de forma e matéria em Aristóteles [11], na filosofia de Aristóteles. Para Aristóteles, a matéria era informe, mas existia um elemento que dá forma a matéria e que ele chamava propriamente de “forma”. Então a forma se apossa da matéria, aglutina a matéria e estrutura a matéria. Ora, é exatamente a função do espírito sobre a matéria, no Espiritismo. O espírito como elemento aglutinador da matéria, ele reúne a matéria dispersa do Espaço e, com essa matéria, ele forma as coisas, produz as coisas.

É claro que não podemos pensar de forma antropomórfica, não podemos pensar de forma humana, não podemos estar achando que o Espírito, como está lá naquele símbolo bíblico muito bonito que nunca foi bem entendido – que só o Espiritismo veio dar mesmo a visão precisa do assunto – pensar que Deus pegou o homem, pegou um punhado de barro, fez um boneco de barro, assoprou nas ventas a vida.

Assim, pensar também que o Espírito seja um espírito individualizado, que pega a matéria e com ela produz as formas. O espírito aqui, nesta trindade, ele não é individualizado, ele é uma substância, ele é uma substância universal, como a matéria é outra substância. Então, desta ligação é que vão nascer as coisas.

Mas aqui existe aquela dialética, aquela dialética a que nos referimos entre o espírito e matéria. Quer dizer, o espírito age sobre a matéria, a matéria reage sobre o espírito, desta ação e reação, aí está o diálogo, está a dialética. A gente, quando fala de dialética, às vezes, parece uma coisa tão complicada! ... Ela tem a sua complexidade, no plano filosófico, com o desenvolvimento que deram ao assunto. Mas dialética parte de “diálogo”, portanto, nós temos aqui o diálogo do espírito com a matéria. Vamos dizer assim: o espírito pergunta à matéria, a matéria responde, então realiza-se o diálogo espírito e matéria. Ora, neste diálogo, espírito e matéria, nós vamos obter o resultado de toda a dialética, que é uma síntese. Vamos por aqui assim em forma de esfera, uma síntese. [Refere-se a um gráfico desenhado pelo professor.]

Quer dizer, quando nós discutimos algum problema, duas pessoas em discussão, e isso vem lá dos Diálogos de Platão, naquela discussão de duas pessoas, cada um tem o seu ponto de vista, estabelece-se a contradição, mas o objetivo da discussão é atingir uma harmonia de pontos de vista. Esta harmonia de pontos de vista só pode ser uma síntese, e esta síntese vai nos dar as duas opiniões, a do interpelante e a daquele que responde, reunidas num processo único. Isto aqui é tudo um gráfico assim meio improvisado. [Refere-se ao gráfico desenhado.] Temos então aqui a síntese com os elementos espírito e matéria. Ora, no Espiritismo, esta síntese que surge do diálogo espírito/matéria, é o que chamamos Fluido Universal. Este Fluido Universal, diz O livro dos Espíritos, é o elemento básico fundamental de tudo quanto existe. Então, Kardec perguntou ao Espírito que era o Espírito da Verdade, perguntou a ele: “Se existe esta junção, esta síntese aqui, então nós temos um outro elemento, temos um quarto elemento, desfez-se a trindade universal, porque nós temos um quarto elemento.” Então, o Espírito respondeu a ele tranquilamente o seguinte: “não se trata de um elemento, trata-se simplesmente de uma produção desta ação e reação do espírito e matéria”. Uma consequência desta ação e reação, e que não tem permanência efetiva, não é um elemento porque ele é apenas um efeito passageiro. Quer dizer, o Espírito agindo sobre a matéria e a matéria reagindo sobre o espírito, eles produzem um quarto elemento que, na verdade, não é um elemento. Kardec insistiu no assunto e eles explicaram assim, “é como uma roda girando em torno de um eixo”. A roda girando em torno do eixo produz calor, mas no momento em que a roda parar, há o resfriamento, desaparece o calor. Então disseram eles, o Fluido Universal é produzido pelo atrito de espírito e matéria, por assim dizer. (Tudo isso comparativamente, porque não é precisamente assim que se dá.) Pelo atrito entre os dois, o Fluido Universal, resultando disso, ele se assemelha a um calor, o calor que existe enquanto existe o atrito, desaparecendo o atrito desaparece o calor. Portanto não é um elemento real, ele é um elemento aparente, ilusório.

Notemos bem que isto coloca o nosso mundo, o mundo material em que nós vivemos, naquele plano em que as religiões, as grandes filosofias antigas, as grandes correntes religiosas do passado e do presente, sempre disseram que nós vivemos num plano ilusório, que a vida terrena, a vida material é puramente ilusória. Então está aqui uma explicação espírita muito importante, é ilusória porque toda ela provém do Fluido Universal, que é o elemento básico de tudo quanto existe. E este Fluido Universal, na verdade, só existe em função do atrito espírito e matéria, no momento em que se separar o espírito da matéria desaparece o Fluido Universal e desaparece então tudo quanto é produzido por ele, quer dizer, desaparece todo o Universo material. Então Kardec perguntou: “Mas desaparecendo o universo material, o que sobra? Então os espíritos disseram, sobra o universo espiritual que é o único verdadeiro. [final da Fita 1]

[Fita 2] ... o desenvolvimento da vida e da imersão, por assim dizer, do espírito na matéria, como a semente que se planta na terra para que ela se desenvolva. Quer dizer, o espírito imerso no corpo material, vivendo no mundo material, ele é como uma semente plantada na terra. A semente plantada, se estiver num meio favorável e em condições favoráveis, ela se desenvolve, assim acontece conosco. Nós somos Espíritos que estamos vivendo no plano material para desenvolver as nossas potencialidades, da mesma maneira que a semente desenvolve as suas potencialidades. É aquele negócio, que também nós já falamos aqui: quem pega uma semente de carvalho, uma bolota de carvalho na mão, se não souber previamente que ali dentro daquela sementinha existe todo o plano de uma árvore gigantesca, nunca poderia supor isso. Não é verdade? No entanto está ali. E só ali, porque qualquer outra semente que se plantar, mesmo que seja cem vezes maior do que a bolota de carvalho, não produz uma árvore de carvalho, mas aquela sementinha produz. Então, por quê? Porque dentro de cada semente existe um plano, um plano divino, um plano que provém da mente de Deus, um plano que determina o aparecimento de uma determinada estrutura que vai surgir dali, daquela semente.

Assim também, em nós. De acordo com o Espiritismo, nós estamos desenvolvendo potencialidades que estão no espírito, como substância universal. E que vão se desenvolver através de todos os reinos da Natureza, desde o mineral, passando pelo vegetal, passando pelo animal e passando pelo homem. Dizem por exemplo que a teoria de Darwin [12] sobre a evolução das espécies, é uma teoria puramente materialista. Entretanto junto com Darwin havia um famoso cientista inglês também que foi Russel Wallace, Alfredo Russel Wallace [13]. O Wallace era um êmulo de Darwin, mas era um espírita. Ele deixou um livro muito importante chamado Os milagres e o Espiritismo (em inglês é Os milagres e o Neoespiritualismo) [14], porque ele chamava o Espiritismo de Neoespiritualismo. Então, neste livro, o Wallace procura explicar os milagres de todas as grandes religiões através da teoria espírita. E Wallace foi um êmulo de Darwin, mas não aceito pela ciência como foi Darwin, porque ele falava não só na evolução material das espécies, mas também no conteúdo espiritual das espécies. Wallace [aqui Herculano diz Darwin, onde deveria ter sido Wallace], portanto, está bem integrado no pensamento espírita. Pois bem, esta evolução espiritual é a que vai se realizar através do fluido universal, mas do fluido universal na sua manifestação como fluido vital. Então, do fluido universal, nós temos o fluido vital.

Parece que aqui nós temos uma ideia bem precisa: Deus, espírito e matéria como os elementos básicos. Da relação, Deus é o Criador e o controlador, o sustentador de tudo quanto existe, quer dizer, é o elemento fundamental. Espírito e matéria são as duas substâncias universais produzidas, por assim dizer, pelo pensamento de Deus. E desse espírito e matéria resulta o fluido universal. Do fluido universal, nós vamos ver que resulta o fluido vital.

Mas o que é o fluido vital em si? Dizem os espíritos que o fluido vital é o princípio da vida. O princípio da vida, entretanto, é preciso compreendermos bem, porque há várias interpretações de vida. Os espíritos vivem, os espíritos vivem, como Jesus dizia, a vida em abundância que ele nos prometeu. A vida em abundância que tereis, tereis pela vossa evolução atingindo uma vida que não é uma vida restrita, uma vida dosada, uma vida racionada, por assim dizer, como nós temos na Terra, mas sim, a vida em abundância, a vida plena. Entretanto os Espíritos em si, os Espíritos puros não têm o fluido vital. Então nós poderemos dizer que há duas espécie de vida: há a vida espiritual que é a própria essência da vida e há a vida material, a vida orgânica, por assim dizer, que é a manifestação desta essência num plano relativo, num plano material.

E no tocante ao princípio vital, os espíritos disseram o seguinte: do fluido universal decorrem todos os tipos de energia conhecidos na Terra. Quer dizer de energias fundamentais, não as energias, por assim dizer, secundárias. As energias fundamentais decorrem do fluido universal, ele é a fonte de toda a energia existente no Universo.

Ora, deste fluido universal decorre também essa energia fundamental da vida, que é o princípio vital. Então diz ali O livro dos Espíritos – há problemas que se tornam difíceis porque são muitos abstratos, mas diz ali O Livro dos Espíritos o seguinte: O princípio vital só existe como decorrência do fluido universal, mas ele também só aparece na matéria por um processo dialético semelhante a este, o espírito agindo sobre a matéria produz o fluido universal. Agora, o fluido universal manifestando-se, agindo sobre a matéria, produz o fluido vital. Quer dizer, é outro processo dialético, consequente ou sequente daquele. Entretanto diz assim O Livro dos Espíritos, o que caracteriza o fluido vital é a energia vital, mas não o princípio, que é o fundamento do fluido vital. Então diz: o princípio vital, na sua manifestação, ele se torna, por assim dizer, existente. Antes disso, ele parece não existir. E afirma Kardec o seguinte, o princípio vital por si mesmo não vive, como a matéria por si mesma não vive, é necessário que haja a ligação dos dois para termos a vida. Então, isto parece muito misterioso e difícil de entender, mas é preciso compreender o seguinte, ele está falando com referência ao nosso mundo.

Quer dizer, o princípio vital, por si mesmo, ele não pode aparecer aqui no nosso mundo como uma forma de vida, ele precisa da matéria. A matéria, por si mesma, não pode viver, porque ela, não tendo o princípio vital, ela não passa de um elemento inerte. É necessário então que haja penetração do princípio vital na matéria, para que haja a vida, para que a vida se desenvolva. Mas a vida como nós a conhecemos, a vida no plano da Biologia, não no plano espiritual, porque a vida do espírito é muito superior à nossa vida terrena. Mas essa vida do espírito, que é superior à vida terrena, é a vida dos Espíritos puros, dos espíritos elevados, dos espíritos que já se realizaram, por assim dizer.

Nós costumamos falar aqui em realizações, na nossa vida pessoal na Terra: “Eu sou um homem realizado”, o outro diz “Eu sou uma pessoa realizada”. Esta realização, que é puramente transitória, efêmera e na realidade nunca existe, porque nós nunca podemos nos realizar totalmente numa existência terrena... Essa vida realizada, entretanto, no plano do espírito, é diferente. O espírito se realiza quando ele supera todas as condições ilusórias, quando ele sai fora desta dialética de espírito e matéria, quando ele se liberta de toda a relação com a matéria, quando ele não precisa mais desta relação para desenvolver as suas potencialidades. Quando ele se torna um Espírito puro e, nesta condição, então ele está livre de todo este processo dialético.

Foi isso que levou Kant [15] a dizer, por exemplo, que na evolução do conhecimento há um limite para a razão humana, que ela não pode passar. É o limite da dialética, o momento em que acaba a dialética, acaba o processo da relação, nós não podemos conhecer, não podemos conhecer porque o que está além disto é absoluto. E portanto não há mais essa dialética, não há mais o sistema de relações pelo qual nós conhecemos as coisas. Não sei se eu consegui me fazer entender.

Quer dizer, o principal “entender” aí é isto: a vida existe em função de todo esse sistema que nos explica a Criação do Universo, a sua existência, a sua razão de ser. Agora, o princípio vital está presente em toda forma material orgânica, por isso O Livro dos Espíritos estabelece uma distinção entre os seres inorgânicos e os seres orgânicos. Considerando os seres inorgânicos como os seres inertes, aquilo que filosoficamente se chama hoje os entes, como a pedra, a rocha, todo o reino mineral, afinal de contas, são seres inertes, porque não têm vida própria. Entretanto, nós sabemos que existe um movimento nestes seres, não só um movimento exterior que é sempre produzido por uma força externa, porque eles não têm movimento próprio; mas aquele movimento que parece ser próprio, que é o movimente interno, o movimento da sua estrutura atômica, já que os átomos são vibrações, estão em constante vibração. Então existe, em todo elemento inerte, por mais inerte que seja, um movimento. Mas os espíritos disseram: este movimento da matéria não é vida, porque esse movimento não é produzido internamente por ela, este movimento é produzido por forças externas.

Quais são essas forças externas? Nós já vimos que a matéria é dispersa no espaço em fragmentos, fragmentos que são partículas, podemos dizer que são as partículas atômicas. Por exemplo, há uma teoria de um cientista inglês, cujo nome não me lembro agora, de um físico que considera que todo o Universo está mergulhado num oceano de elétrons livres [16]. Num oceano de elétrons livres dentro do qual, o nosso Universo inteirinho está mergulhado, como um submarino mergulhado no oceano. Cercado de elétrons livres por todos os lados, no nosso Universo e em toda parte, o universo está cheio de elétrons livres. Sendo assim, a Física moderna, através dessa teoria, nos oferece a possibilidade de compreendermos o problema da dispersão da matéria no espaço e da maneira por que esta matéria é aglutinada. Ela é aglutinada pela ação do espírito.

Então, o que dá movimento ao átomo, que produz a movimentação atômica da estrutura da matéria, é a força espiritual, é o espírito, o espírito agindo dentro da matéria. Ora, assim a visão espírita do mundo não é, como nós vemos, uma visão mística, não é uma visão que esteja ligada a um pensamento puramente místico, que queira interpretar o Universo do ponto de vista de uma criação de Deus de forma milagrosa ou misteriosa. É uma visão que procura interpretar o Universo de maneira lógica, racional, mostrando os elementos que devem realmente figurar nessa constituição, nessa estrutura universal e nos dando uma visão que na realidade, sem dúvida nenhuma podemos hoje dizer, está sendo confirmada pela ciência.

Quando nos é apresentado esse problema do princípio vital, como um elemento que aparece nos seres proporcionalmente de acordo com a evolução. Primeiro, no reino vegetal, depois no reino animal, depois no reino hominal. Posteriormente, se nós partirmos [para] além da morte, nós entramos no reino espiritual e, neste reino, nós vamos encontrar as zonas em que a humanidade vive, não no corpo material, mas naquilo que o apóstolo Paulo chamava “o corpo da ressurreição” que é o corpo espiritual, e que no Espiritismo tem o nome de perispírito. Ora, perispírito, que é chamado em outras correntes (que tratam do assunto no plano do ocultismo, e nas antigas organizações ocultistas, espiritualistas) é chamado de corpo astral e tem outras várias denominações. No Espiritismo, é o perispírito. Por que perispírito? É uma palavra criada pelos Espíritos em relação com o perisperma, que é a capa da semente. Então disseram – porque Kardec perguntou: O espírito liberto da matéria vive a descoberto, quer dizer, ele vive nu, ele não tem vestimenta nenhuma, não tem nenhuma estrutura que o envolva? Então os espíritos responderam: Tem sim, ele tem o períspirito! E criaram com isto a palavra períspirito. Ele tem o períspirito, que é o corpo espiritual de que falam as vossas religiões e as vossas correntes espiritualistas. Este perispírito, então insistiu Kardec no assunto, este perispírito de que natureza é, ele é material ou é espiritual? E a resposta foi: ele é semimaterial. Ainda é matéria.

Semimaterial pelo seguinte, porque ele está constituído de grande quantidade de energia espiritual, ligada às energias materiais. E desta mistura então, resulta aquilo que os russos acabam de descobrir. Lá nas pesquisas deles sobre a antimatéria, quando descobriram, logo os russos – parece ironia da história!, logo no campo soviético materialista, eles foram descobrir aquilo que chamaram de corpo bioplasmático. O corpo bioplasmático do homem, quer dizer o corpo bioplásmico do homem. Por quê? Porque é o corpo bio, o corpo da vida, é o corpo que dá vida ao corpo material. E plástico porque é ele que dá forma ao corpo material, ele que estrutura o corpo material. Ora, essa descoberta atual no campo soviético é muito importante para nós, porque é uma confirmação que vem dum campo inteiramente oposto, contrário ao nosso, daqueles homens que querem negar a existência do espírito. E que agora mesmo, eles estão dizendo: Bom... esse corpo é energético. É o momento em que encontraram o corpo energético, também. Esse corpo energético do homem também é material, apenas nós precisamos descobrir a constituição desse tipo de energia, que é diferente de tudo que conhecemos. Quer dizer, na realidade não se trata de um corpo material e, sim, daquilo que Kardec classificou como corpo semimaterial.

Eu falo sempre Kardec, porque Kardec foi o intérprete dos espíritos. A teoria não foi dele, como ele mesmo disse, foi dada pelos espíritos, os espíritos superiores que transmitiam a ele estes ensinos. Mas sempre sob o controle rigoroso da análise, do critério científico de Kardec que conduziu a pesquisa toda com bastante rigor e que chegou a conclusões de tal maneira importantes, que nós vemos que estão sendo confirmadas atualmente pelo desenvolvimento científico.

As pesquisas dos russos chegaram a tal ponto que eles mostraram que no momento da morte, por exemplo... (Estão fazendo pesquisas com a morte, com o moribundo.) O indivíduo está morrendo eles põem ali, a famosa câmara Kirlian, em frente para fotografar, para filmar e para observar visualmente através dos instrumentos ópticos da câmara, o que se passa no moribundo, no momento da morte com referência a este corpo energético. E eles verificaram coisas muito importantes assim, por exemplo, que enquanto não se retiram todos os elementos do corpo energético do homem, o corpo não se cadaveriza, a cadaverização só se dá depois que esses elementos todos saíram. E como eles veem esses elementos saírem? Eles descrevem – e isto coincide muito com as observações dos videntes na Europa, nos Estados Unidos, através dessas instituições de pesquisas psíquicas e também das observações feitas no Espiritismo. Há um livro, por exemplo, do professor Ernesto Bozzano [17], um italiano, um grande investigador que deixou sessenta livros sobre o Espiritismo. Há um livro dele chamado A Crise da Morte, um pequeno livrinho, uma beleza de um estudo, mostrando o que é a crise da morte, de acordo com a visão espiritual, com a observação dos videntes. Ora, eles estão confirmando isso plenamente, quer dizer enquanto o indivíduo está morrendo, está chegando aos seus últimos instantes, estão saindo do corpo dele, em forma de chamas, de cintilações, saindo os elementos do corpo energético. Vão saindo e vão desaparecendo, quando saem os últimos lampejos, então, pode chegar lá e ver que o indivíduo já é cadáver, já virou cadáver. Mas enquanto não saem, todos esses elementos, ele não está cadaverizado.

Bom, aí veio uma preocupação muito importante para os cientistas soviéticos, eram físicos e biólogos fazendo experiências intensivas na Universidade de Alma Ata, no Cazaquistão, lá perto da fronteira chinesa. Uma região mais ou menos como a nossa Amazônia, tem muita selva, em que eles criaram esta cidade de Alma Ata, que é uma cidade universitária, com a finalidade mesmo de realizar lá pesquisas que necessitavam de maior isolamento e também de maior segredo. Tanto que só foi revelado depois que eles haviam obtido resultados bastante positivos. Mas então, surgiu uma ideia neles: se este, no momento da morte, este corpo energético parece se desfazer em flamas que se desprendem do corpo, então nós podemos admitir que a morte é realmente total. O indivíduo desaparece porque o corpo material falece e entra em colapso total, não tem mais vida e o corpo energético também se desfaz. Entretanto, pesquisa científica é pesquisa científica. E eles tiveram que provar isso, quiseram provar isso. E segundo as descrições que estão publicadas principalmente no famoso livrinho das duas pesquisadores, uma americana e outra canadense, que foram à Rússia observar isso, Descobertas Psíquicas por trás da Cortina de Ferro. Então elas descrevem lá na obra, Lynn Schroeder e Sheila Ostrander... São duas pesquisadoras, uma norte-americana outra canadense, ambas funcionando numa universidade norte-americana, pesquisadoras universitárias que foram enviadas à zona soviética especialmente para ver o que estava sendo feito neste terreno, porque havia notícias vagas. E elas obtiveram inclusive depoimentos pessoais dos cientistas que investigaram e relataram tudo.

Então disseram eles o seguinte: que diante da incerteza quanto ao destino do corpo energético depois da morte, eles foram obrigados a estabelecer num ambiente, por exemplo, no necrotério, na sala em que o indivíduo estava morrendo. Eles foram obrigados a colocar num ambiente, um instrumento que eles chamam de detector biológico. Esse detector biológico é capaz de detectar pulsações vitais em lugares onde não se pensa que existe vida. Então colocando esses detectores biológicos, eles viram que enquanto se desfazia ali o corpo energético, entretanto numa determinada região do espaço os detectores acusavam a presença de pulsações biológicas que iam se intensificando. Iam se intensificando até atingir mais ou menos a mesma intensidade daquelas pulsações que davam vida ao indivíduo. Então eles disseram: “o que nós podemos dizer é que o corpo energético se retira do homem e, de uma certa maneira, parece se recompor numa determinada região do espaço, num espaço dentro da própria sala, parece se recompor ali”.

Ora, a visão de muitos videntes relatadas em numerosos livros e, principalmente, nesse livrinho de Bozzano, dizem exatamente isso: os indivíduos viam que, na hora da morte, iam saindo espécies de “chamas” do corpo do moribundo. Iam saindo aquelas chamas e iam se agrupando em cima do cadáver, numa certa altura formando uma nuvem, uma nuvem que se estendia ao [longo] do cadáver e que, depois daquela nuvem, ia se formando o corpo espiritual do indivíduo morto. Quer dizer, praticamente nós podíamos dizer que isto seria a retirada do fluido vital do corpo, que partiria junto com o Espírito. Mas este fluido vital, saindo em porções de acordo com o processo naturalmente lento, verdadeiro processo com o seguimento da morte, no momento em que vão se desprendendo estes elementos vitais do corpo, o corpo vai lentamente se cadaverizando. E esses elementos vão, então, recompor[-se] em torno do Espírito, porque o espírito não sai aos pedaços, vão recompor em torno do espírito a sua forma, a sua original, a sua forma material.

Agora, a forma original não é material, é preciso explicar isso, a forma original é espiritual ou perispiritual. Porque quando o indivíduo vai se encarnar, ele já traz com ele aquilo que nós podemos chamar o “modelo do seu corpo”. É o mesmo processo da semente com o modelo da árvore, ele já traz o plano do corpo físico que vai nascer, que vai se desenvolver. E isto vai se desenvolvendo na ligação do espírito com a matéria, ou seja, a ligação do espírito reencarnante. Aí, já não mais o espírito como substância, mas como um indivíduo, como uma individualidade, do Espírito reencarnante com os elementos orgânicos que vão constituir o embrião, e dali, então, se desenvolve isto.

Ora, sendo assim, nós temos já umas certas comprovações bastante importantes, do ponto de vista científico, e inclusive para maior validade do assunto, informações que nos vêm da zona soviética, da zona materialista. Onde os soviéticos, na verdade, estão agora com um problema muito sério, porque a continuação dessas investigações só poderá ser benéfica para o Estado Soviético, que é materialista, se provar que esse corpo energético é matéria, se não provar não é possível.

 [Seguem-se algumas questões da plateia e fim da gravação.]

[1] Na parte superior da casa, lembrando que as palestras aconteciam na Garagem e, portanto, no nível térreo.

[2] A exploração de Júpiter foi conduzida pela NASA por meio de sondas espaciais, a primeira foi a Pioneer 10 que chegou ao planeta em 1973.

[3] “Júpiter é chamado de estrela falida porque é feito dos mesmos elementos (hidrogênio e hélio) que o Sol, mas não é massivo o suficiente para ter a pressão interna e a temperatura necessárias para fazer o hidrogênio se fundir ao hélio, a fonte de energia que alimenta o sol e a maioria das outras estrelas.” [upiter is called a failed star because it is made of the same elements (hydrogen and helium) as is the Sun, but it is not massive enough to have the internal pressure and temperature necessary to cause hydrogen to fuse to helium, the energy source that powers the sun and most other stars. In: Scientific American - https://www.scientificamerican.com/article/i-have-heard-people-call/]

[4] O tema é abordado na Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos, edição de março de 1858.

[5] Camille Flammarion (1842 – 1925), astrônomo, escritor e espírita francês. Pronunciou o discurso por ocasião do sepultamento de Allan Kardec e é considerado o Pai da Astronomia. 

[6] Ian Stevenson (1918 – 2007), psiquiatra, pesquisador de experiências espirituais e especialmente da reencarnação

[7] Ácido ribonucleico: molécula envolvida na transcrição e tradução da informação genética, formada por uma cadeia de nucleotídeos interligados. (Vade Mecum Brasil - https://vademecumbrasil.com.br/palavra/acido-ribonucleico )

[8] René Descartes (1596 – 1650), filósofo, físico e matemático francês.

[9] Resposta à questão 1, Capítulo 1, de O livro dos Espíritos.

[10] Annie Besant (1847 – 1933), escritora e teósofa.

[11] Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), filósofo grego.

[12] Charles Darwin (1809 – 1882), naturalista, geólogo e biólogo britânico.

[13] Alfred Russel Wallace (1823 – 1913), naturalista, geógrafo e biólogo britânico.

[14] WALLACE, Russel B. Miracles and modern spiritualism. Londres: G. Redway, 1896.

[15] Immanuel Kant (1724 – 1804), filósofo prussiano.

[16] Teoria proposta pelo físico teórico Paul Dirac (1902 – 1984), que Herculano cita no livro Agonia das Religiões (Ed. Paideia).

[17] Ernesto Bozzano (1862 – 1943), professor da Universidade de Turim e pesquisador espírita italiano.

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