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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

 

 

No limiar do amanhã, um desafio no espaço.

A hora decisiva soou no relógio do tempo. Luís Furcade nos envia da França o seu novo livro. Intitula-se, Um mundo desmorona, uma filosofia se eleva. Nosso mundo se esboroa e os pregoeiros do agouro anunciam o fim da humanidade. Não percebem que outro mundo está nascendo sob o clarão de um novo sol.

Esboroa-se o velho mundo de injustiças, hipocrisias, mentiras, ódios e violências. Mas uma nova filosofia se eleva sobre todas as concepções errôneas dos homens para dirigi-los ao encontro da verdade. Alvorece a era do espírito. A Filosofia Espírita se confirma pelos seus frutos como a árvore boa do evangelho e se comprova nas investigações e nas conquistas da própria ciência materialista.

Perdem tempo os pregoeiros do agouro. Na mesma França de Kardec em Paris, Jean Martier procura ainda ressuscitar velhas calúnias e levanta uma fogueira de ironias para incinerar a memória de Kardec e a Doutrina Espírita. Mas Yvonne Castela, André Moreil, André Dumas, René Hubert e outros, depõem no tribunal da história em defesa de Kardec e proclamam a grandeza da Filosofia Espírita.

Soou a hora decisiva e o mundo se transforma em ritmo alucinante. Quem pode deter a roda da história? Quem pode sustentar a mentira ante a verdade dos fatos? O Espiritismo se impõe como a única doutrina capaz de atender a todas as indagações desta fase de transição. Cada nova revelação da ciência encontra a sua previsão já feita há mais de um século na obra de Kardec. Nenhum avanço científico da atualidade rompeu a barreira conceitual da doutrina espírita.A ciência ainda terá que avançar com maior rapidez e por muito tempo para poder alcançar os limites da área luminosa coberta pelo Espiritismo no campo do conhecimento. As ciências psicológicas descobrem a existência do extrafísico. As ciências físicas descobrem a antimatéria revelando a realidade do outro mundo. A física e a biologia provam a existência do corpo espiritual ou perispírito. A astronáutica mergulha nas profundezas do cosmo e revela a possibilidade de vida em outros planetas. As ciências mais avançadas registram mensagens cósmicas e vozes de espíritos em fitas magnéticas. A pesquisa parapsicológica penetra com êxito nos mistérios da reencarnação.

O que mais queremos? Que os astronautas nos tragam uma fotografia de Deus? Que um repórter soviético obtenha uma entrevista com o todo poderoso? Que revoadas de anjos venham pousar nas cumeeiras de nossas casas? Que os espíritos comunicantes nos exibam fichas de identidades fornecidas por um departamento de além-túmulo? São essas as provas que esperamos para compreender que a verdade espírita se comprova aos nossos olhos na maneira inegável?

Perdem o seu tempo os que continuam a escorar com falsas estacas o mundo que desmorona. Águas passadas não movem moinhos. Um novo mundo está surgindo alicerçado na verdade e insuflado pela esperança. A realidade se impõe por si mesma. Os fatos são fatos. O que existe, existe. Os argumentos nada podem contra a lógica do real. Os sofismas são jogos de palavras que não resistem ao sopro do vento.

No limiar do amanhã um desafio da verdade. Produção do grupo espírita Emmanuel. Transmissão 179, quarto ano.

Apresentação de José Pires e Dulcemar Vieira. Sonoplastia, Antônio Brandão. Técnica de som, Paulo Portela. Direção e participação do professor Herculano Pires.

Gravação dos estúdios da Rádio Mulher São Paulo Brasil.

Transmissão da Rádio Mulher 730kw, São Paulo. Da Rádio Morada do Sol 640kw, Araraquara. Da Rádio Difusora Platinense 780kw, Santo Antônio da Platina, Paraná. Todas as semanas neste dia e neste horário.

Diálogo no limiar do amanhã. A verdade sobre o homem e o seu destino.

Pergunta 1: Como um espírito que reencarna se adapta à nova vida e família?

Locutor - Silvia Munhoz da Silva da rua Pires da Mota, na Aclimação pergunta. Um ser humano nasce, cresce, vive no mundo como uma pessoa que tem as heranças físicas e espirituais dos pais. Toda sua personalidade depende dessas heranças. Quando morre, como pode renascer noutra família e ser a mesma pessoa reencarnada?

JHP - O ser humano que nasceu não é forçosamente o produto daquela família, daquelas pessoas. Não é apenas um produto da hereditariedade física. Pelo contrário, o ser humano é o espírito imortal. Este espírito não depende dos pais para se manifestar na realidade física do corpo fornecido pelos pais. O corpo material sim, é um produto da hereditariedade, é um produto da herança física. Tudo quanto os pais herdaram de seus antepassados pode repercutir neste corpo. Mas o espírito que habita este corpo, o espírito que o vai animar na vida, este espírito não provém dos pais. Nós todos somos criaturas espirituais e, como criaturas espirituais somos criados por Deus através de um processo de criação que escapava até agora à nossa compreensão, á nossa possibilidade de compreensão mental. Hoje nós sabemos, graças ao Espiritismo, nós sabemos que a criação dos espíritos por Deus segue um processo cósmico, aparentemente misterioso, mas sempre regido pelas leis naturais. É da união de dois princípios fundamentais do universo, o espírito e a matéria, que surgem os espíritos num processo lento de evolução através dos reinos da natureza.

Então, quando a bíblia nos diz que Deus fez o homem do barro da terra, ela está dizendo a verdade embora de maneira simbólica. Deus não pegou o barro da terra como faz um oleiro para com ele produzir um boneco de barro e, insuflar-lhe nas ventas o sopro da vida. Isto é apenas uma imagem. Uma imagem grosseira dada a homens ainda incapazes de compreender as sutilezas do pensamento, e de perceber naturalmente as produções realizadas por processos diferentes das manipulações humanas. Na verdade, o homem nasce por assim dizer do limbo da terra porque ele vem dos reinos inferiores da natureza. Na proporção em que o princípio inteligente que é o espírito, o espírito não individualizado, não o espírito do homem, não o espírito de um animal, mas o espírito como substância universal, como fundamento do universo. Este espírito, esta força criadora se apossa da matéria e através dela vai produzindo as estruturas, organizando as coisas, os elementos, formando aquilo que constituirá a realidade material. E através deste processo contínuo vindo dos planos inferiores do reino mineral, passando pelo reino vegetal, e depois pelo reino animal, o espírito vai atingir o plano humano. O plano em que se desenvolve mais a sua mente, a sua inteligência, a sua capacidade intelectual, e em que ele ao mesmo tempo se individualiza e se caracteriza como uma personalidade humana.

Esta personalidade, portanto, não é aquele corpo humano que ali está, mas sim aquilo que dá vida, que dirige, que age neste corpo fazendo com que ele realmente possa representar na terra uma criatura viva e uma criatura dotada de inteligência. A inteligência não está no cérebro. Este foi um engano dos materialistas durante muitos e muitos tempos. Hoje a prova feita parapsicologicamente de que o pensamento é um elemento extrafísico, e as comprovações da própria física nesse terreno demonstraram que a tese espírita está certa. O espírito que se reencarna é o espírito livre, que se libertou de um corpo material, mas que durante a sua passagem pela terra no corpo material teve a oportunidade de realizar numerosas experiências destinadas a desenvolver as suas potencialidades psíquicas. Assim sendo, este espírito desencarnado volta à Terra novamente, através de um outro corpo, mas já dotado de uma condição superior.

Não é fácil de vermos isto na história da humanidade? Desde os homens primitivos, desde os homens das cavernas até os nossos dias, não vemos a humanidade evoluindo? Não vemos a humanidade subindo continuamente, passando do plano puramente material, das ações materiais para as ações espirituais? Não vemos o desenvolvimento constante da mente humano, do psiquismo humano? O aprimoramento das faculdades espirituais da criatura humana? Não estamos vendo isto na história? Basta analisarmos o problema, por exemplo, à luz da antropologia cultural para nós verificarmos que a evolução humana é um contínuo, e um contínuo que atravessa os séculos e os milênios, mas que parte naturalmente de um ponto único que é o ponto em que nós notamos a aparição dos primeiros seres humanos na terra. Então, temos de compreender que o que se reencarna não é uma pessoa constituída pela sua aparência física na terra, mas sim o espírito que constituía por assim dizer o substrato daquela pessoa. Que constituía a sua alma, que era, na verdade, a essência do homem.

 

Pergunta 2: Curiosidade sobre as encarnações anteriores.

Locutor - Silvia Munhoz continua professor, ela diz o seguinte. Tenho um tio espírita que diz ter sido morto como general alemão na primeira guerra mundial. Ele não fala e não entende uma só palavra de alemão. É caipira e fala português acaipirado. Mas ninguém lhe tira da cabeça que ele foi soldado alemão na outra encarnação. Que tal?

JHP - Este problema de as pessoas quererem saber o que foram noutra encarnação é muito comum. É uma questão ligada naturalmente à curiosidade humana. Nós todos somos curiosos. E é graças à curiosidade que nós avançamos, que nós aprendemos. Quem não for curioso não aprende nada. Fica sempre fechado em si mesmo. Mas quem tem curiosidade, quem procura descobrir as coisas, quer saber uma coisa ou outra, este realmente aprende, este realmente avança. Entretanto nesse campo das reencarnações é tolice a pessoa querer procurar saber se ele foi um soldado alemão, se ele foi um general francês, ou se ele foi um bandido em qualquer parte do mundo, se foi um poeta ou coisa semelhante. É inútil procurar saber isto com as designações precisas de localização, de tempo, de personalidade, de nome e de posição social. O que o Espiritismo nos diz é o seguinte. Nós todos, todos nós, sem distinção de ninguém, nós todos podemos saber o que fomos, em outra encarnação. Não como uma pessoa humana determinada vivendo em certo lugar. Não. Mas como uma criatura humana, um ser. Apenas isto.

Nós podemos saber a condição que nós tínhamos nas encarnações anteriores. E de que maneira? Examinando as nossas tendências. Vendo, por exemplo, quais foram as tendências inatas que nós trouxemos para esta vida. Essas tendências surgem no nosso espírito desde a infância e vão se desenvolvendo. Por exemplo, o problema da educação vocacional em nosso tempo é um problema justamente de procura das tendências de cada criatura. Nós sabemos que todos nós temos vocações para certos caminhos da cultura. Certos trabalhos, certos ofícios, certas profissões ou certas atividades criadoras. Todos nós temos essas tendências. Essas tendências não nasceram conosco por acaso. Essas tendências muitas vezes não foram herdadas. Nossos pais não tinham nenhuma capacidade nesse terreno. Muitos gênios nasceram de pais simples, humildes, ignorantes. E quando vemos a linhagem anterior da família também não encontramos os elementos genéticos necessários para virem produzir aquelas genialidades espantosas que surgem numa criança inesperadamente.

Então, sabemos que as pessoas trazem consigo as suas próprias potencialidades, os seus próprios poderes ocultos. Esses poderes ocultos se revelam em forma de tendências, de vocações na pessoa. Analisando essas vocações nós podemos ter uma ideia do que nós fomos. Analisando as nossas tendências inferiores nós podemos ter uma ideia da situação inferior em que nós vivemos em vidas passadas, porque essas tendências permanecem no nosso espírito. É inútil querermos atribuir, por exemplo, a sensualidade, a ganância, a volúpia, a glutonaria, o gosto pelas comidas e assim por diante. Ou mesmo a tendência ao crime como atribuições do corpo. É inútil querermos fazer isso porque na verdade isso tudo pertence ao espírito. A nossa vida é mais psicológica do que material, muita mais. Por isso atualmente as filosofias da existência que são as correntes filosóficas mais atualizadas, as que caracterizam mesmo o século XX no campo do pensamento, estas filosofias definem a existência como uma subjetividade pura.

Quer dizer, nós existimos apenas em espírito. O que existe no corpo é a vida. Os existencialistas ou filósofos da existência fazem uma distinção bem nítida entre vida e existência. Viver, dizem eles, vivem as plantas, vivem os animais, e vivem os homens que não querem se preocupar com problema algum e que se assemelham aos animais. Vivem uma vida vegetativa. Viver é simples, mas existir é difícil. Existir é complexo. Por quê? Porque existir é enfrentar o mundo conscientemente e desenvolvendo as nossas potencialidades interiores para podermos atingir o plano da transcendência. Para podermos superar a condição humana. Então, compreendemos que a existência de cada criatura no plano humano é realmente uma existência subjetiva, uma existência que está dentro da mente do homem, do seu coração, da sua consciência e não no seu corpo. O corpo tem a sua vida vegetativa e serve ao homem de instrumento, o instrumento de que ele se serve para realizar as suas atividades, as suas ações aqui no mundo. A recente descoberta pelos físicos e biólogos soviéticos, do corpo bioplástico ou bioplasmático do homem. Esta recente descoberta nos mostra as possibilidades infinitas da compreensão deste problema colocado pelo Espiritismo. E que na verdade também é colocado pelas religiões. Todas as religiões nos mostram que nós vivemos pelo nosso espírito, pela nossa alma, e não pelo nosso corpo. O nosso corpo é um simples instrumento de manifestação do espírito. E temos que compreender isso para também compreender o problema da reencarnação.

No caso deste seu tio, o melhor que a senhora pode fazer é não discutir com ele. Se ele está convencido de que foi um soldado alemão na última guerra, o que isso pode prejudicá-lo ou prejudicar outras pessoas? Em nada. É apenas uma convicção que pode até lhe dar satisfação, lhe dar prazer em pensar que ele foi um alemão. Agora, o fato de ele não saber uma palavra de alemão não tem importância nenhuma. Ele pode ter sido alemão na outra encarnação. Pode perfeitamente. Acontece que ele não dispõe na vida atual do cérebro que ele possuía na vida anterior. O aprendizado do alemão que ele fez na vida anterior permanece com ele, mas em estado latente. Oculto no seu inconsciente. É possível, por exemplo, que sob um estado de hipnose, hipnotizado por alguém, ele possa falar alemão. Se ele falar ele estará então, de certa maneira indiretamente, provando que na verdade ele teve uma encarnação alemã, porque ele aprendeu alemão em vidas anteriores. Não quero dizer apenas que ele possa pronunciar algumas palavras de alemão. Ele deve, neste caso, num estado de hipnose, falar alemão, falar mesmo como quem sabe alemão. Então sim, estaria provando isto. Mas não tente isto com o seu tio, deixe-o em paz. Não vá submetê-lo à hipnose. Não faz mal nenhum que ele tenha essa crença ou essa ilusão de que ele foi um soldado alemão. Alguma coisa ele foi noutra encarnação, isso é certo.

 

 

Pergunta 3: Como o espírito de um morto pode aparecer com o corpo que ficou no túmulo e falar sua voz

Locutor - Prossegue ainda a nossa ouvinte Silvia Munhoz, ela diz o seguinte. Como o espírito de um morto pode aparecer com o corpo que deixou no túmulo e falar com a voz que tinha na terra e que dependia de suas cordas vocais?

JHP - Primeiramente o espírito deve mesmo aparecer com o corpo que ele deixou no túmulo. Isso pode parecer estranho, mas agora mesmo nós falamos do corpo bioplasmático. O corpo bioplasmático descoberto pelos físicos e biólogos soviéticos é um corpo que nós podemos chamar de energético. Ele não se constitui de carne e osso. Constitui-se de energias, de uma estrutura energética, portanto. Ora, este corpo assim constituído, ele tem uma vida própria e é esta vida que transmite ao corpo material. A prova científica disto foi feita de maneira exaustiva pelos soviéticos que estão agora como sabemos estudando e pesquisando o fenômeno da morte. E eles verificam que no momento da morte o corpo bioplástico se afasta do corpo material, se retira dele. E quando este corpo se retira totalmente, o corpo material vira um cadáver. O corpo material só vira cadáver quando há realmente o afastamento do corpo perispirítico como nós o chamamos no Espiritismo. Quando há o afastamento do perispírito. Assim sendo, nós então compreendemos que o corpo bioplástico ou bioplasmático é o corpo energético do homem e é o modelo do seu corpo físico.

Naturalmente a senhora perguntaria? Mas onde ficam então as influências genéticas na formação do corpo? Ora, as influências genéticas têm o seu lugar. Elas realmente regem a organização, a estruturação do corpo de acordo com as heranças físicas de que esse corpo vai se servir. Mas há um modelo pré-existente, um modelo que dirige a formação do corpo diferenciando-o de outros corpos até mesmo na própria família em que nasceu. Então nós vemos que este corpo bioplasmático representa àquilo que no Espiritismo nós costumamos chamar uma duplicata do corpo físico. É o modelo energético do corpo humano. O que ficou no túmulo foram os restos físicos do corpo material. Mas este modelo continua sendo o corpo do espírito, o corpo espiritual de que falava São Paulo. Na Primeira Epístola aos Coríntios o apóstolo Paulo desenvolve muito bem a teoria do corpo espiritual que ele chama de corpo da ressurreição. Nós morremos, enterra-se o corpo material. Ressuscita o espiritual. Isto é textual. O apóstolo Paulo fala isto, escreveu isto na sua Primeira Epístola aos Coríntios. E, ele diz mesmo: O corpo espiritual é o corpo da ressurreição. Assim, nós ressuscitamos na nossa duplicata do corpo material. Ressuscitamos com o nosso corpo espiritual que é o modelo sobre o qual se formou o material. Os dois se parecem bastante. Os dois, um é o modelo do outro. Portanto, é evidente que um espírito quando se apresenta a nós numa materialização e numa vidência, ele se apresenta com o corpo que ele tinha na sua última encarnação, que foi a última modelagem por assim dizer de que ele se serviu para sua vivência aqui na terra.

Quanto às cordas vocais, é preciso saber e eu expliquei ainda no último programa, expliquei este problema ao tratar da voz direta. O espírito conforma, por assim dizer, no seu corpo material as cordas vocais que ele vai ter. Decorre naturalmente das suas condições espirituais em relação com o corpo material. Mas depois da morte ele mantém consigo no corpo espiritual os mesmos elementos que produziram as cordas vocais do corpo material. O que se dissolve no túmulo são, portanto, as cordas vocais da matéria. Mas os elementos funcionais, os elementos ativos que realmente produziram essas cordas e lhe davam a vibratilidade possível, esses elementos permanecem com o perispírito ou corpo espiritual. E por isso o espírito pode reproduzir a sua voz, a voz que para nós desapareceu no túmulo, ele reproduz nos fenômenos da sua manifestação.

Quem quer saber pergunta. Mande suas perguntas para o programa No Limiar do Amanhã. Rádio Mulher, Rua Granja Julieta 205, São Paulo. Ouças as respostas e se elas não agradarem entre no diálogo. Estamos no ar para dialogar.

Diálogo no limiar do amanhã. Um livre debate sobre a verdade.

 

Pergunta 4: Por que Deus nos criou? O Espiritismo pode explicar?

Locutor - Mariana Siqueira da rua Albion na Lapa, pergunta. Nenhuma religião explica isto. Porque Deus nos criou? O Espiritismo pode explicar?

JHP - O Espiritismo é uma ciência. É como diz Alan Kardec, a ciência do espírito. Existem as ciências da matéria. As várias ciências da matéria constituem no seu conjunto uma ciência única que é a ciência material. E existe a ciência do espírito que é o Espiritismo. Poderia alguém nos responder. Mas a psicologia não é uma ciência do espírito? Devia ser. De acordo com as origens filosóficas da psicologia, ela é a ciência da alma. Mas acontece que no seu desenvolvimento ela passou para o plano das ciências experimentais, a ciência de pesquisa material. E a psicologia é conhecida hoje e definida como uma ciência do comportamento. A ciência do comportamento humano. Já não se procura mais a alma. Procura-se ver como as criaturas se comportam no meio físico, na vida humana. Então, a psicologia como bem disse o professor Rhine, fundador da parapsicologia moderna, a psicologia se transformou numa ecologia. Quer dizer, uma ciência das relações do indivíduo com o meio. Do sujeito com o meio físico. Nada mais do que isto. Ela se integrou, portanto, no campo das ciências materiais.

Ora, a ciência, seja ela de investigação da matéria ou de investigação do espírito, a ciência não se interessa pelo porque, ela se interessa pelo como. É preciso notar bem isto. Não pelo porque, mas pelo como. As religiões sempre se interessaram pelo por quê. Existe também a religião espírita, mas Kardec definiu isso muito bem. A religião espírita é apenas um aspecto do Espiritismo. É uma consequência do desenvolvimento da ciência espírita, que teve naturalmente que produzir a filosofia e em consequência a religião. A religião espírita, portanto, é um aspecto do Espiritismo como consequência do seu desenvolvimento filosófico. Ora, dizíamos que a ciência não se interessa pelo por quê. O por quê como sabemos é uma indagação de causas primárias. Por que se fez isso? Porque Deus fez isso? Eu pergunto aos nossos ouvintes. Muitas vezes nós mesmos fazemos coisas que não sabemos por que fizemos. Ora, se nós não sabemos por que fizemos coisas que são comuns da nossa vida, como vamos saber por que Deus criou o universo? Por que Deus nos criou? As religiões se saem deste impasse dizendo assim. Deus criou por amor. Sim, Deus criou por amor. Mas por quê? Então, dizem eles. Criou por amor porque ele precisava ter criaturas que ele amasse e porque precisava também que essas criaturas amadas o glorificassem.

Ora, isto é uma explicação de uma ingenuidade, de uma simplicidade que até nos internesse. Imagine se um Deus todo poderoso, uma consciência suprema, o absoluto, precisando criar seres que o amassem. E precisando ser glorificado por esses seres minúsculos que ele criou num universo infinito, num universo que é glorioso por si mesmo. Precisando desta glória humana, desta glória pequenina dos homens. Isto não é uma explicação. Isto é apenas uma suposição e mais do que isso, é uma escapadela, um escape. As religiões escapam do porque e procuram dar uma resposta evasiva. Na verdade ninguém sabe, nem pode saber o porquê da criação do universo, o porquê da nossa criação. O que nós sabemos é que Deus nos criou. É que Deus criou o universo. E o que nós podemos saber é como ele criou, de que maneira. Como ele fez para criar-nos a nós, os homens. Isto o Espiritismo explica, isto o Espiritismo ensina, porque isto está ao nosso alcance. Quando nós descobrimos a chave da lei da evolução. Quer dizer, quando aprendemos que tudo no universo é evolução. Desde o ínfimo mineral até as constelações mais altas brilhando no espaço. Tudo é uma evolução contínua. Como diz O Livro dos Espíritos: tudo se encadeia no universo. Tudo, tudo está ligado uma coisa a outra. Quando sabermos disso então nós podemos pesquisar, através dos fenômenos, através das sucessões das coisas no tempo e no espaço, nós podemos pesquisar a origem da criatura humana. Isto podemos saber. Agora o porquê, a senhora não encontra esta resposta em parte alguma, porque nós não temos capacidade para penetrar nas intenções de Deus, nos desígnios de Deus. De saber o que uma mente suprema, uma mente que é absoluta, pode ter como motivo para a sua criação, para a criação de nós todos. Esta pergunta, portanto, não é uma pergunta que se coloque como possível de ser respondida por nenhuma religião e por nenhuma ciência e por nenhuma filosofia.

 

Pergunta 5: Se Deus é pai de toda humanidade, por que não nos livra dos males que nos afligem?

Locutor - Mariana Siqueira prossegue. Se Deus é pai de toda a humanidade, por que não nos livra dos males que nos afligem e não nos leva para o céu? Deus é um pai que não gosta dos filhos?

JHP - A paternidade de Deus é às vezes comparada com a paternidade humana. Jesus, por exemplo, fez esta comparação várias vezes nos evangelhos. Há expressões muito bonitas de Jesus em que ele diz assim, por exemplo. Se um filho pedir ao pai que lhe dê pão, o pai não vai lhe dar pedras. Então, se nós pedimos a Deus alguma coisa, devemos confiar que ele nos dará aquilo que nós pedimos. Às vezes, não da maneira que pedimos, mas da maneira que necessitamos. Nós somos como crianças. Nós somos crianças espirituais. Nós podemos ver o infantilismo da espécie humana como um fenômeno curioso de psicologia. E há o infantilismo físico também. Mas o infantilismo psicológico nos mostra criaturas às vezes de setenta, oitenta anos de idade que tem um espírito de criança, que pensam como crianças e agem como crianças. Assim também nós podemos compreender que nós criaturas humanas diante de Deus, somos como crianças. As crianças pedem às vezes ao pai uma coisa que o pai não lhes pode dar. Não lhes pode dar por quê? Porque seria prejudicial para elas, então o pai não dá aquela coisa, dá outra no lugar daquilo.

Assim faz Deus conosco. Muitas vezes pedimos a Deus que suprima as nossas dores, os nossos sofrimentos, as nossas angústias e nos leve para o céu. Isso é pedir um pouco demais. Porque na verdade, Deus conduz nós todos para o céu. O céu não no sentido de um lugar determinado do espaço onde há uma felicidade perene, eterna, inalterável. Se houvesse um lugar assim, seria muito monótono. Nós todos, criaturas humanas, gostamos de atividade. A vida é atividade. Nós não gostaríamos de ficar num céu estático, ouvindo os anjos tocar harpas. Nós quereríamos naturalmente ter atividades. O Espiritismo nos mostra que o céu é um estado de consciência. Quando nós estamos tranquilos na nossa consciência, não devemos nada a ninguém, não fizemos mal a ninguém. Não cometemos nada contra ninguém, nós procuramos viver a nossa vida com decência, com bondade, com amor. Procurando amar aos nossos semelhantes e ajudando-os quando possível. Então, nós estamos no céu. A nossa consciência não nos acusa de nada. Nós dormimos tranquilos. Nós confiamos em Deus. Nós estamos vivendo no céu aqui mesmo na terra. Quando nós temos a consciência atormentada, nós estamos no inferno. As labaredas do inferno são as labaredas do remorso que nos perseguem, que nos queimam a consciência. Que não nos deixam viver em paz. As nossas preocupações também, quando nós nos agarramos à vida. Jesus disse: aquele que se apega a sua vida perdê-la-á. Mas aquele que a perde por amor de mim, esse a encontrará. Veja-se a beleza desta expressão.

Aquele que se apega à sua vida é aquele que pensa que a sua vida terrena é a única vida que existe. Ele fica então limitado pelas suas ambições imediatistas, terrenas, voltado para os problemas atuais, dentro dos quais ele se encontra e querendo resolvê-los de qualquer maneira. Quando os problemas não se resolvem, ele se angustia e ele acha que Deus não é bom, que Deus é injusto. Ele reclama contra Deus. Mas se ele se desapegar da sua vida atual, ele ia entender que esta vida é passageira. Que não adiantam as ambições, as preocupações, as vaidades humanas. Porque tudo isto vai desaparecer, como se costuma dizer, em sete palmos de terra. Se ele compreender isto, e compreender que ele não ficará nos sete palmos de terra, porque ele é um espírito. O que fica lá dentro é o corpo, ele vai viver espiritualmente a sua vida, vai continuar a viver, a viver num plano superior que é o plano do espírito. Se ele compreender isto, ele então perde a sua vida voluntariamente por amor a Jesus. Amor a Jesus quer dizer, aceitar os ensinos de Jesus, o seu evangelho. Aceitar o seu ensinamento de que nós temos de evoluir, de progredir, de nos desenvolvermos espiritualmente. Não é a bondade comum, a bondade pequenina que nós às vezes praticamos em nossa vida mais com interesse do que propriamente por bondade. É a bondade natural, profunda que vive na alma humana, que está dentro do coração do homem, que está na sua consciência. Essa bondade que muitas vezes ele sufoca. Ele sufoca porque ele se agarra à vida presente, então sacrifica a bondade em favor da maldade. Porque a maldade pode lhe dar um pouco mais de dinheiro, um pouco mais de conforto. Pode fazer com que ele brilhe um pouco diante dos homens, embora um brilho falso.

Então, este agarrado à vida está perdendo a sua vida. Porque a vida lhe foi dada para evoluir, para progredir, e não para conquistar coisas aqui na terra que lhe agradem nesta vida passageira. Assim, Deus não detesta os seus filhos. Deus não pode detestar os seus filhos. Ele é um pai e como um pai, essa expressão de Jesus foi decisiva para a evolução da humanidade. Como um pai Deus ama a todos nós. E nos ama com amor profundo, um amor que nós não podemos compreender, porque nós somos criaturas relativas e Deus é absoluto. Deus não é criatura, Deus é criador. Deus é a fonte de tudo quanto existe. Então, o seu amor é imensamente, infinitamente maior que o nosso. Deus nos ama e Deus quer que nós prossigamos na nossa evolução, que nós nos aperfeiçoemos para nos tornarmos um dia capazes de amar como ele ama. A senhora se engana, portanto, ao dizer que Deus não gosta dos seus filhos. Ele gosta sim. Ele nos ama. Mas é preciso que nós entendamos que Deus não é uma criatura humana. E que as medidas de Deus não são as medidas humanas que nós usamos na Terra.

 

Pergunta 6: Por que os espíritos não se manifestam provando sua existência e ensinando o Espiritismo?

Locutor - Paulo Francisco de Araújo da rua 24 de Maio quer saber o seguinte. Se os espíritos têm interesses em melhorar o mundo, e se o Espiritismo é capaz de fazer isso. Por que os espíritos não se manifestam por toda parte provando aos descrentes a sua existência e ensinando o Espiritismo?

JHP - Os espíritos se manifestam por toda parte desde que o mundo é mundo. Já no meio dos homens das cavernas, segundo as inscrições e os desenhos que antropologicamente foram descobertos nas cavernas primitivas. Já se nota a presença da religião, do sentimento religioso, de uma devoção dos homens. E principalmente de uma devoção dos homens, por mais primitivos que sejam, em relação a entidades espirituais. Por toda parte, os livros mais antigos que se conhecem falam da existência dos espíritos e de suas manifestações. Os espíritos estão constantemente ao nosso redor, convivem conosco e, por isso mesmo, eles se manifestam a todos os instantes por toda parte. Mas as criaturas humanas procuram fugir às manifestações dos espíritos. As criaturas humanas temem os espíritos porque criaram a lenda, a ideia falsa de que os espíritos são fantasmas, os espíritos são almas do outro mundo. Então temem às manifestações espirituais. Não obstante isso, as manifestações estão se repetindo por toda parte, a todo instante.

Ainda agora, vejam aí, estão aí as gravações de vozes de espíritos em fitas magnéticas de gravadores comuns. E estas gravações não são obtidas apenas por pessoas desprevenidas, mas sim obtidas por cientistas, por pesquisadores. Por exemplo, o doutor Konstantin Raudive em Berlim, ele apresentou no último congresso nacional de parapsicologia realizado em Puchberg, nada menos de trinta mil gravações de vozes de espíritos, inclusive vozes dos seus familiares mortos. É um homem que vem pesquisando isso intensivamente. E numerosos outros cientistas no mundo inteiro estão fazendo estas pesquisas. Agora mesmo está aí também um livrinho, o livrinho Os espíritos se comunicam por gravadores, um livrinho lançado pela Edicel. É um livro que nos vem da Inglaterra, de um pesquisador inglês cujo nome me escapa neste momento. Um livro traduzido para o português. Ele conta então as suas gravações, as gravações que ele conseguiu fazer. Ora, as pesquisas neste sentido estão mostrando que os espíritos se servem de todos os meios de comunicação, até os mais modernos, para provarem ao homem a sua existência, a sua sobrevivência após a morte, e a existência da vida espiritual como a verdadeira vida do homem. Mas, os piores cegos são àqueles que não querem ver. Esses não veem nada. Por mais que os espíritos façam, eles não veem porque não querem.

 

Pergunta 7: Pregar a Doutrina e sair pelo mundo produzindo fenômenos: isso não é melhor que falar no rádio?

Locutor - Prossegue o ouvinte Paulo Francisco de Araújo. Se o senhor acredita piamente no Espiritismo e acha que é tão importante para a humanidade, por que não deixa tudo o que possui e não sai pelo mundo pregando a sua doutrina e fazendo materializações de espíritos? Isto não seria mais proveitoso do que falar no rádio?

JHP - É como eu já disse. Se eu saísse pelo mundo fazendo materializações de espíritos, se eu pudesse fazer isso... Eu não posso porque eu não sou médium de materialização. Mas mesmo que eu arrumasse um médium de materialização e saísse fazendo isso, sabe o que aconteceria? Diriam que eu era charlatão. Simplesmente isso. Aqueles que não acreditam e não querem acreditar, aqueles que não veem e não querem ver, não aceitariam isso. Diriam que eu estava fazendo truques, ou eu estava fazendo imitações. E o médium meu companheiro seria naturalmente um sujeito submetido a mim. Talvez eu fosse até um hipnotizador. Inventariam mil coisas para não aceitar a verdade. A verdade não se impõe assim. A verdade se impõe naturalmente, pouco a pouco, vencendo as resistências das pessoas através dos fatos naturais que ocorrem com elas mesmas. E não há necessidade nenhuma de que eu abandonasse todas as coisas. Calcule-se. Abandonar, por exemplo, a família, abandonar o lar, abandonar os filhos, abandonar tudo para ir pregar Espiritismo no mundo, seria um contrassenso do ponto de vista espírita. Porque do ponto de vista espírita nós nascemos com destino certo aqui na terra. Com ligações espirituais e com compromissos muito sérios com as pessoas dos nossos familiares. Nós estamos ligados a eles. Devemos a eles o nosso amparo, a nossa ajuda, a nossa convivência. Temos de cuidar deles e não apenas do mundo.

E, então isto seria um contrassenso do ponto de vista espírita. Nós temos de cumprir o nosso dever junto da nossa família. E continuar naturalmente a sustentar a verdade sem nenhuma afobação, sem nenhum desespero no sentido de convencer os outros. Não é com essa finalidade que nós fazemos programa de rádio. Fazemos programa de rádio, programa de televisão, fazemos pregações. Ou melhor, eu não digo propriamente pregações, fazemos palestras, exposições dos problemas espíritas, para levar às pessoas um conhecimento maior daquilo que é tão importante para todos nós, que nos leva ao conhecimento de nós mesmos. Nós precisamos saber o que nós somos para poder viver melhor na terra. Então todos aqueles que têm experiência espírita tem o dever naturalmente de transmitir essa experiência aos outros, de mostrar aquilo que realmente é o homem através das pesquisas e das demonstrações do Espiritismo. Mas não temos nenhum fanatismo no sentido de querer converter todo mundo ao Espiritismo. Cada um chega à compreensão da verdade no seu momento exato, de acordo com as suas possibilidades e as conveniências da sua própria evolução.

Quem quer saber pergunta. Mande suas perguntas para o programa No Limiar do Amanhã, Rádio Mulher, rua Granja Julieta, 205 São Paulo. Ouça as respostas e se elas não agradarem entre no diálogo. Estamos no ar para dialogar.

***

O Evangelho de Jesus em Espírito e Verdade. Texto e explicação.

Abrindo sempre o Evangelho ao acaso hoje cai-nos no seguinte texto que leremos e será explicado. João, 2: 23-25.

“Estando ele em Jerusalém na festa da páscoa, muitos vendo os milagres que ele fazia creram no seu nome. Mas o próprio Jesus não confiava neles porque conhecia a todos. E não precisava que alguém lhe desse testemunho do homem, pois ele mesmo conhecia o que havia no homem.”

Este trecho do evangelho vem como se costuma dizer a talho de foice. O ouvinte que nos perguntou por que nós não largamos tudo e saímos pelo mundo fazendo materializações, tem aí uma bonita resposta dada pelo evangelho. E não pense que nós estamos fazendo isso de propósito. Não. O evangelho, como disse bem a Dulcemar, o evangelho foi aberto ao acaso, ao acaso. Ao abrir o evangelho ao acaso caiu-nos esse trecho. Esse trecho já estava, portanto, marcado desde o início do programa. No início do programa nós fazemos uma prece e abrimos o evangelho. Os trechos que caem nós então vamos trazer para o programa no final do programa. Ora, caiu exatamente esse trecho. Um trecho em que Jesus se mostra, assim, em Jerusalém fazendo os milagres que aquelas pessoas não queriam acreditar. E que aquelas pessoas naturalmente punham em dúvidas. Quantos não acusaram Jesus de embusteiro, de trapaceiro, de indivíduo interessado em fazer coisas que iludissem o povo. Nós sabemos que Jesus foi muito acusado disso e até hoje é acusado.

Quando não é acusado disto é acusado de louco.

Não faz muito tempo em Paris apareceu um livro muito curioso chamado La Folie de Jésus. Quer dizer, A loucura de Jesus. Foi um livro escrito por um grande psicólogo Binet-Sanglé. Este livro era um livro grande e depois foi reduzido por um volume menor para poder ser mais divulgado. Nele Binet-Sanglé procura demonstrar que Jesus era um louco. Jesus estava completamente fora da realidade. Entretanto, para escrever este livro Binet-Sanglé que era um pesquisador, um homem sério no campo da investigação científica, teve de trabalhar, de investigar a vida de Jesus. E deu uma contribuição muito boa para o esclarecimento de vários aspectos da vida de Jesus, com as suas pesquisas. É como diz o povo, há males que vêm para bem. Ele querendo acusar Jesus de louco deu uma bonita contribuição para a verificação de vários aspectos da existência de Jesus.

Aquilo que muita gente diz hoje: ninguém prova que Jesus existiu. Como não prova? Há muitas provas da existência de Jesus. Apenas a história do tempo, a história do tempo não registrou a presença de Jesus, porque Jesus não foi considerado como uma figura importante. Se ele nascesse como nasceu o Buda, por exemplo, na qualidade de um príncipe, a história registraria a sua vida. Mas ele nasceu como filho de um carpinteiro. Filho de um operário numa cidadezinha pequenina da Galileia que era Nazaré. Numa aldeia praticamente. Então a sua vida foi obscura, ele passou despercebido entre os homens do seu tempo. Foi condenado como eram condenados todos àqueles que nesse tempo se levantavam contra as autoridades do templo de Jerusalém ou contra o domínio romano. Jesus não se levantou contra o domínio romano. Ele não fez nenhuma revolução no sentido de expulsar os romanos da sua terra. Ele quis apenas despertar os romanos, os gregos, os judeus e todos os homens da terra para a compreensão da vida espiritual. Mas este despertar incomodava os homens do templo, as autoridades do templo de Jerusalém. E foi por isso que o condenaram e o mataram e o pregaram na cruz. Ora, pregar uma pessoa na cruz naquele tempo era reduzi-lo à máxima ignomínia. Não havia nada mais ignominioso do que isso. Pregar um indivíduo na cruz era condená-lo em definitivo a ele e a sua família, a memória de todos àqueles que pertenciam à sua família. E por isto passou Jesus. Então ele foi considerado como um criminoso vulgar. Um homem que não tinha nenhuma condição de figurar na história.

Mas as provas de Jesus estão principalmente nos seus apóstolos. Os seus apóstolos tiveram uma atividade posterior à morte de Jesus muito grande. Esta atividade não ficou restrita, eles saíram pelo mundo. O apóstolo Pedro, por exemplo, foi morto em Roma. E saíram pelo mundo pregando, contando aquilo que se havia passado na Palestina, como Jesus lhes havia ensinado o evangelho. Eles deram o testemunho de Jesus por toda parte. Ora, então a prova, o testemunho dos apóstolos já é uma prova histórica importante que veio posteriormente, mas que realmente tem um valor probante muito grande. Além disso, as pesquisas históricas foram aos poucos revelando outros aspectos da vida de Jesus e hoje sabemos que Jesus realmente existiu. Como diz Renan no seu livro sobre Jesus: “Não há dúvida nenhuma de que este jovem carpinteiro existiu na Palestina e que realizou um trabalho profundo”. Renan chega mesmo a dizer: Os evangelhos foram escritos nos círculos mais próximos de Jesus entre as pessoas que conviveram com ele. Portanto, nós temos um testemunho muito valioso dessas pessoas quanto à existência de Jesus. Não há dúvida que ele existiu.

Mas se não fosse isto, se não fossem estas provas, hoje poderia considerar Jesus como um simples mito. Arthur Drews, por exemplo, um grande mitólogo publicou na Inglaterra um livro chamado A Teoria do Mito de Jesus. Este livro o mito de Jesus fez furor aí nos fins do século passado, no princípio desse século. Fez grande furor. Outros livros semelhantes foram saindo, foram sendo publicados, procurando mostrar que Jesus era um mito. Mas as pesquisas históricas prosseguiram e um dos últimos grandes pesquisadores, Charles Guignebert na França, um professor catedrático de história do cristianismo na universidade de França, que realizou pesquisas intensivas sobre a vida de Jesus, publicou um livro de mil páginas em francês. Um livro que é hoje fundamental para o conhecimento da história do cristianismo primitivo e que nos dá o testemunho histórico da existência e da vida de Jesus.

Assim vemos que não basta a gente querer fazer milagres. Jesus fazia porque ele podia fazer, porque ele estava investido de autoridade para isso. E porque ele queria através dos seus milagres, que na verdade não são milagres, eram fenômenos produzidos porque ele conhecia as leis naturais com que estava lidando. Ao produzir esses fenômenos, ele procurava despertar as criaturas para a compreensão da espiritualidade. Foi esse o seu grande trabalho. Agora, é interessante no final do texto essa referência de João, de que ele conhecia os homens. Os homens não o conheciam, mas ele os conhecia. Eles sabiam até onde os homens podiam chegar, mas ele não temia o que os homens pudessem fazer. Ele queria chegar ao final da sua missão como realmente chegou. E os homens é que precisam agora procurar conhecer-se a si mesmos para melhor compreender Jesus.

Vamos dar o nosso recado final. Preste atenção e nos mande a sua resposta por escrito. Sua resposta pode ser lida neste programa e nesse caso você ganhará um livro que o ajudará na busca da verdade.

A doutrina espírita não pretende encerrar toda verdade em seus princípios. Não é uma doutrina salvacionista e por isso não tem nenhum interesse em convertê-lo, em fazer de você um espírita. Não há fórmulas de salvação no Espiritismo. Seu princípio fundamental é o da evolução que só pode ser realizada se você dispuser de liberdade e responsabilidade. Se você se prender a uma seita dogmática e acreditar que se salvará através de suas práticas, estará enganado. O que você tem a fazer para salvar-se da ignorância, do erro, da ilusão, do egoísmo e da maldade é muito simples. Usar bem a liberdade que Deus lhe deu comportando-se como uma criatura digna que sabe amar ao próximo e desejar o bem para todos. Faça isso e você estará salvo.


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