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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

 

No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.

 

O desafio de uma realidade atordoante continua a pesar sobre o pensamento humano. O homem conquistou a Terra, mas a Terra continua a devorá-lo, como na lenda da Esfinge na estrada de Tebas: "decifra-me ou devoro-te". É esse o desafio do mundo e da vida a todos nós.

 

Léon Denis, o filósofo poeta do Espiritismo, exclamava diante das ruínas da Antiguidade. "Por que a agitação incessante das populações da Terra? Por que as gerações se sucedem como as camadas de areia sobre as ruínas de civilizações e cidades? Por que tantos trabalhos, tantas lutas, tantos sofrimentos, se tudo deve acabar no sepulcro?"

 

Os séculos, esses minutos da Eternidade, viram passar nações e impérios e nada restou em pé. Para onde vai o homem no seu curso? Para o Nada ou para uma luz desconhecida? Na Natureza, nada morre que não seja para renascer. Leis profundas, numa ordem imutável, presidem as suas evoluções. O homem, com as suas obras, as suas criações, será o único destinado ao nada, ao esquecimento absoluto?

 

Uma criatura que amais vai morrer? Debruçado sobre ela, de coração abertado, observais a sobra da morte estender-se lentamente sobre a sua face. A chama interior já lança apenas alguns fracos reflexos. Quem ainda não pediu a si mesmo, a explicação desse mistério?

 

Esse problema nos interessa a todos, pois todos nós estamos sujeitos à mesma lei. Todos morreremos inevitavelmente. Ninguém nos livra do momento fatal. Os que fogem a esse desafio ou se conformam com as respostas tradicionais, procuram fugir à realidade. Mas nós lançamos o desafio no espaço para respondê-lo com segurança. Léon Denis o respondeu através de suas pesquisas espíritas. Léon Denis decifrou o enigma da Esfinge.

 

Responda você também, amigo ouvinte. Não permaneça na ignorância. Responda ao desafio que lançamos no espaço. Responda! No Limiar do amanhã, um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emmanuel, transmissão número 145, terceiro ano. Direção e participação do Professor Herculano Pires.

 

Este programa é um desafio, amigo ouvinte. Um desafio à sua fé ou à sua descrença. Um desafio à sua cultura e à sua inteligência. Um desafio ao seu amor e ao seu ódio. E sobretudo, um desafio ao seu comodismo ou à sua rebeldia.

 

Não deixe de ouvi-lo todas as semanas, neste dia e neste horário, porque ele interessa ao seu futuro, ao seu destino. Ele arranca você da rotina das ideias feitas. Ele precipita você numa nova ordem de ideias. Ele faz você pensar nos problemas que pareciam resolvidos, mas que, na verdade, continuam a desafiá-lo. Ouça este programa todas as semanas, neste dia e neste horário. Renove-se para uma Nova Era.

 

Perguntas e respostas. Entre no diálogo radiofônico do programa No Limiar do Amanhã, enviando-nos as suas perguntas, ouvindo as nossas respostas e contestando-as, quando não concordar.

 

Pergunta 1: Quem não crê em Jesus já está condenado?

 

Locutor – Professor, um ouvinte faz a seguinte pergunta: Jesus disse que ninguém irá ao Pai senão por ele. Então, quem não crê em Jesus já está condenado?

 

J. Herculano Pires – Essa expressão, de que ninguém irá ao Pai senão por ele, Jesus, não é uma expressão personalista. Ela sempre foi interpretada em ligação direta com a missão de Jesus. Ela é uma expressão dessa missão. Jesus veio trazer um novo ensino religioso, um novo ensino espiritual à Terra. Ele veio revolucionar o campo da religião, mostrando aos homens uma nova maneira de encarar os problemas espirituais. Assim, disse ele, que ninguém iria ao Pai senão por ele, no sentido de que ninguém poderia progredir espiritualmente na Terra, avançar além daquele momento em que a Terra parecia estagnar, no campo da mitologia e da dogmática religiosa, ninguém poderia ir além disto e dirigir-se a Deus, se não seguisse aqueles ensinos que ele Jesus trazia.

 

Jesus, então, personificava simbolicamente a verdade do Evangelho. E o Evangelho de Jesus tem seus princípios fundamentais, está presente, como nos ensina o Espiritismo, em todas as grandes religiões do mundo. Não só, no momento em que Jesus pregava, ele transmitia verdades novas, como ele reafirmava aquelas verdades fundamentais que já brilhavam, por exemplo, em grandes religiões, como o próprio Judaísmo e o Budismo, e outras religiões do mundo. Assim, quando falamos de ir ao Pai através de Jesus, é ir ao Pai através daquelas verdades fundamentais que ele nos deixou no seu Evangelho. E essas verdades, mostra-nos hoje o Espiritismo, estão presentes fundamentalmente em todas as grandes religiões do mundo. Mas não eram entendidas, não eram compreendidas ainda, foi necessário que ele esclarecesse estes problemas. A mensagem de Jesus portanto, foi uma mensagem de salvação neste sentido. Esclarecendo os grandes princípios que conduzem o homem a Deus.

 

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Pergunta 2: Virgindade de Maria, a mãe de Jesus

 

Locutora – Professor, Rosa Inês Gonçalves pergunta: Desde menina ouço dizer que Maria, mão de Jesus, continuou pura, mesmo depois de ter dado a luz ao seu filho. Então ela não teve um parto normal, igual às outras mulheres?

 

J. Herculano Pires - A interpretação deste problema não deve ser colocada em termos das nossas convenções e dos nossos preconceitos humanos. Para Deus, a mulher pura não é aquela mulher que evitou, durante toda a sua vida, o contato com o homem. Porque para Deus não há impureza no ato sexual. A impureza só existe para nós, as criaturas humanas. Porque na nossa inferioridade, na nossa malícia, não compreendemos que se trata de uma lei, e de uma lei fundamental da Natureza. Uma lei que corresponde à necessidade da reprodução dos seres, através dos corpos materiais na Terra. Assim, o problema sexual influiu na interpretação deste problema espiritual da pureza de Maria, e não foi compreendido pelos homens. Porque os homens sempre insistiram no seu ponto de vista da malícia, considerando o pecado do ato sexual, quando, na verdade, este pecado não existe, se interpretarmos o problema do ponto de vista mais elevado da lei natural, que rege a criação dos seres humanos e de todos os seres na Terra.

 

Assim, quando tratamos do nascimento de Jesus e Maria nos é apresentada como a Virgem Mãe, é preciso nos lembrarmos de que em toda Antiguidade existiram numerosas virgens mães. O preconceito humano havia criado a ideia de que um ser superior só poderia nascer na Terra, violando as leis naturais de Deus. Mas Jesus não fez assim. Jesus nasceu normalmente, naturalmente. Como disse o apóstolo Paulo: “ele veio sob a lei e nasceu de mulher”. Está lá na I Epístola aos Coríntios, isto de maneira bem clara. Em nenhuma epístola de Paulo, nós vemos aparecer o mito da virgem mãe. Porque, na verdade, a virgindade de Maria não era a tola virgindade puramente física, a que os homens se apegam. A virgindade de Maria era a virgindade superior, a virgindade espiritual. Ela era um Espírito virgem, porque era um Espírito puro e dela nasceu Jesus, como Espírito puro, que também veio ao mundo para nos conduzir ao esclarecimento espiritual. Temos pois de considerar isto assim.

 

Mas há uma explicação mitológica muito interessante para este problema da virgindade de Maria, antes, durante e depois do parto. Já nos referimos, certa vez, a este problema, aqui no nosso programa. Os povos da Antiguidade, na Ásia e na Europa, estavam sujeitos a invernos rigorosos, como estão ainda hoje. Durante o inverno, o mundo morria, coberto pela neve. A vida desaparecia. Os homens tinham de permanecer em suas casas, não podendo trabalhar o campo, e as searas morriam, submetidas à neve, ao frio, ao gelo, que tudo dominava. Entretanto, passado o inverno, o Sol brilhava de novo no céu. Mas, antes de aparecer o Sol, a primeira constelação que brilhava no céu era e é precisamente, a constelação da Virgem. Dizia-se, então que a virgem dava nascimento ao Sol. E o Sol era considerado o Messias. Por quê? Porque a palavra Messias vem da palavra "messe", que quer dizer colheita, como sabemos.

 

Ora, o Sol era o Messias porque ele trazia de novo a colheira para a Terra. O Sol trazia de novo a vida. Ele fazia com que a vida brotasse de novo, nos campos da Europa e da Ásia. E assim, as populações teriam a possibilidade de novamente trabalhar, alimentar-se, viver, como viviam antigamente, antes do inverno. Desta maneira, o nascimento do Sol era uma apoteose. E como este fato ocorre, geralmente, no dia 25 de Dezembro, porque é a data precisa em que se dá a transição do inverno, o dia 25 de Dezembro foi também escolhido no próprio Cristianismo, para marcar a data do nascimento de Jesus. Sabemos disto bastante, e a influência deste mito, na designação dessa data, foi historicamente bem definida pelos investigadores, pelos estudiosos da História cristã.

 

Ora, então acontece o seguinte, como explicam os mitólogos: A constelação da Virgem era virgem antes, durante o nascimento do Sol e depois do seu nascimento. Vem daí, a aplicação desta atitude ou desta posição mítica, mitológica, na interpretação do nascimento do Sol, a aplicação disto ao nascimento de Jesus, porque Jesus foi considerado o Sol das almas. Há portanto, neste problema, uma porção de influências mitológicas e de influências do simbolismo da linguagem oriental, que nos levam, muitas vezes, a interpretar mal este assunto. A verdade portanto é esta: de acordo com todas as pesquisas feitas no Cristianismo, e de acordo com a posição espírita, o nascimento de Jesus foi normal, ele era filho de Maria e José. A influência do Espírito Santo, nada mais é do que a presença da sua grandeza espiritual. O Espírito Santo é o Espírito puro e Jesus era o Espírito puro. Assim, o nascimento de Jesus, como disse o apóstolo Paulo, foi um nascimento normal, sob a lei e ele nasceu de mulher.

 

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Pergunta 3: Cremação e doação de órgãos, seus reflexos na vida espiritual

 

Locutor – Professor. Valetin Simioni Neto, pergunta: Que prejuízo pode haver a um Espírito que concorda com a cremação do corpo após a morte? E com relação à doação de órgãos?

 

J. Herculano Pires – O problema da cremação, como o da doação de órgãos, é um problema que implica numerosos elementos a serem estudados e verificados. Mas nós sabemos que, quando uma pessoa, em vida, se dispõe a oferecer o seu corpo à cremação e não à sepultura, esta pessoa alimenta ideias relacionadas com o problema da cremação, entendendo que, sendo o seu corpo, cremado, ele escapa da destruição vagarosa do túmulo. E ao mesmo tempo, ele quer evitar que a putrefação do seu corpo, após a morte enterrado, possa produzir elementos que venham a poluir a Terra, a prejudicar naturalmente as condições de higiene que devem reinar no mundo. Muitas pessoas entendem que, se nós passássemos apenas a cremar os corpos, evitaríamos as situações perigosas para a Humanidade com as mortes de tantas criaturas.

 

Na verdade, tanto faz cremar como deixar que o corpo se consuma na sepultura, porque a Natureza tem as suas leis e, através destas leis, ela elimina sempre aquilo que pode ser mau, para transformar as coisas em Bem. Eu acredito, e de acordo com os princípios espíritas, nós podemos dizer o seguinte: A pessoa que destina o seu corpo à cremação depois da morte, ela já alimenta no seu Espírito a ideia de que, uma vez afastado do corpo, não manterá nenhuma ligação com ele. Esta ideia, por si só, é suficiente para ajudá-lo a se libertar mais facilmente das ligações com o corpo. A cremação não o afetará. De outro lado, quanto à doação de órgãos. A doação de órgãos também depende sempre do Espírito doador. Quando há rejeição, nós sabemos que a rejeição não é apenas orgânica, é uma rejeição psíquica também, porque há elementos psíquicos na transposição do órgão de uma pessoa para outra. Mas nós sabemos, também, que certos Espíritos, ao verem que seus órgãos foram transportados para o organismo de outra pessoa, eles se revoltam com isto e procuram agir sobre aquela pessoa. Naturalmente, dentro da sua ignorância, da sua incompreensão do bem que estão fazendo. Entretanto, quando as pessoas se propõem a dar voluntariamente o seu órgão, para atender a um caso de uma necessidade em outra pessoa, ela está fazendo um gesto altruísta, um gesto de caridade e de fraternidade humana, e é sempre protegida nesta sua atitude, para que nenhuma reação negativa possa afetá-la.

 

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Pergunta 4: Quando o marido e mulher se separam é porque se confundiram na escolha ou foram inimigos noutra encarnação? Locutor – Professor, o Jerônimo A. Barbosa, pergunta: Se o casamento é um compromisso espiritual, não seria mais justo que a própria lei que rege a vida desse igualdade espiritual aos que se casam? Quando o marido e mulher se separam, é porque se confundiram na escolha ou foram inimigos noutra encarnação?

 

J. Herculano Pires – O problema do casamento não é assim tão simples, tão esquemático como o senhor pretende. Na realidade, os casais vêm à Terra compromissados espiritualmente, um cônjuge com o outro. Mas há sempre nas vidas humanas, uma série de problemas que vão se infiltrar no processo da vivência, no processo existencial da criatura aqui na Terra. Então, as pessoas têm as suas ligações espirituais múltiplas através de vidas sucessivas, e estas ligações vêm se refletir aqui, no plano terreno. O compromisso espiritual assumido por um Espírito deve ser cumprido por ele, diante da sua própria consciência, livremente, e não por injuções. É este o motivo porque não existe lei natural impondo que Fulano se case com Sicrana, ou coisa semelhante. O que existe é a escolha, a escolha que parte de ambos. Ambos trouxeram o compromisso de aqui se unir. Quando se encontram e sentem a atração mútua. Muitas vezes, até sentindo que existe uma atração maior com referência a outras pessoas, do ponto de vista puramente material. Entretanto espiritualmente elas se voltam, aquelas duas pessoas, para elas mesmas, e procuram consorciar-se. Então, neste momento, está funcionando aquilo que Kardec chama, "os instintos espirituais da criatura". Os instintos espirituais são as lembranças dos compromissos firmados na Espiritualidade, que aqui aparecem na consciência e influem na escolha, na opção que a pessoa vai fazer.

 

Entretanto, os casamentos nem sempre são realizados com base na felicidade plena de que devem gozar os cônjuges. A felicidade plena que a nossa vida terrena objetiva é uma felicidade mais longínqua, mais remota, que está no fim do processo evolutivo que nós temos de seguir. Muitas vezes, o casamento é também uma prova, um compromisso mútuo assumido pelos dois, de se suportarem numa existência em que não se entendem bem, mas na qual terão de receber os filhos. E os filhos são também Espíritos compromissados com ambos. Dessa maneira, não é fácil querer solucionar o problema do casamento através de uma determinação, de uma determinada lei. Os casamentos se realizam de acordo com os processos cármicos. Ou seja, de acordo com a lei de ação e reação que determina todo o nosso futuro, em cada existência que nós vivemos.

 

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Pergunta 5: A orelha de Malco e o bom ladrão

 

Locutor – Professor, Artur Casagrande faz a seguinte pergunta: É verdade que Pedro fez uso de uma espada, cortando quase fora a orelha de um soldado romano? Teria mesmo Jesus autorizado Dimas, o bom ladrão, a entrar no Paraíso?

 

J. Herculano Pires – É claro que os dois fatos figuram nos relatos evangélicos. Uma vez que ali estão, devem ter ocorrido, porque os evangelistas foram pessoas que elaboraram os seus Evangelhos, baseando-se nos dados que existiam na tradição, após a morte de Jesus. E também nos registros feitos por vários apóstolos de várias expressões, de vários acontecimentos ocorridos na vida de Jesus. Assim, é provável que tenham ocorrido estes dois fatos. Eu digo provável, porque nós historicamente não podemos sustentar que estes fatos foram reais, objetivos, da maneira que estão descritos ali. Mas seja como for, eles se tornaram reais na tradição. A tradição cristã os admite como verídicos, a fé cristã os admite também como verídicos. Nós, do ponto de vista histórico, podemos olhar tudo isto à nossa maneira, mas temos de reconhecer a veracidade fideísta e a veracidade tradicional destes fatos.

 

Assim, diríamos o seguinte. O apóstolo Pedro como sabemos, era um homem impetuoso. E naquele tempo, a Palestina fervia, tanto quanto ferve atualmente. Os romanos dominavam a Palestina e os judeus queriam expulsar os romanos. Mesmo porque, a presença dos romanos ali era, para eles, um motivo de impureza. Era, por assim dizer, uma agressão aos seus sentimentos religiosos. Ora, o apóstolo Pedro, impulsivo como era, certamente concordou com vários, várias das organizações da Palestina no tempo, que procuravam organizar-se secretamente para expulsar os romanos. Então, nós sabemos, pelas descrições, não só dos Evangelhos, mas também das histórias antigas, com que facilidade os judeus de várias tendências religiosas, se entregavam a carregar espadas e outras armas, esperando o momento da vingança, o momento da vindita contra os romanos. De acordo com a descrição do Evangelho, Pedro teria dado um golpe no soldado Malco, que apareceu para prender Jesus, cortando-lhe a orelha. É possível que isto tenha acontecido, nada impede historicamente que assim tenha ocorrido.

 

No tocante a Dimas, o bom ladrão, a expressão de que Jesus permitiu a sua entrada no Paraíso não é precisamente aquela expressão que corresponde à verdade do texto. Jesus disse a Dimas que estaria com ele no Paraíso. Mas isto não quer dizer que Jesus tenha aberto as portas do Paraíso para Dimas, e sim, dizer o seguinte: que Dimas não era um homem que estivesse naquela posição de crucificado por ter cometido crimes horríveis, não obstante ele houvesse sido condenado. Nós sabemos que os evangelistas dizem mesmo, que os três estavam sob a mesma condenação. Ora, parece ter havido naquele tempo... Parece, não, porque os documentos provam realmente isto, que houve uma revolta contra os romanos da qual resultou a condenação de Jesus. Jesus não tinha nada com a revolta, mas ele foi apontado como o autor intelectual da revolta. Barrabás, como nós sabemos, aparece neste assunto como uma figura estranha, mas que serve de chave para a decifração do enigma. Por que o povo romano pediu a soltura de Barrabás e, não, a de Jesus? Porque Barrabás representava a violência contra os romanos. Ele era o revolucionário conhecido e proclamado como tal e esperado para pôr os romanos para fora da Palestina. Jesus era o pregador. Jesus era o messias, no sentido religioso e, não, no sentido revolucionário que os judeus esperavam.

 

Quanto a Dimas e Jestas, o bom e o mau ladrão, eles foram condenados junto com Jesus, o que faz supor historicamente que eles participaram da luta contra os romanos. Jesus condenado e os dois condenados, estavam os três sob a mesma condenação, segundo dizem os evangelistas. E desta maneira nós não podemos dizer que eles eram realmente criminosos. Que eles eram realmente homens assaltantes, ladrões vulgares. Eles pereciam numa luta, numa batalha pela libertação de sua terra. E se Dimas, revelando ali na cruz, no próprio ato da crucificação, um temperamento suave, resignado e a convicção de que estaria vivo depois da morte corporal, ele se mostrava um Espírito já mais elevado que Jestas. Era natural que Jesus disesse a ele, que ele, na realidade iria para o Paraíso.

 

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Pergunta 6: Escapar da morte

 

Locutor – Professor, Ari Cecarelli pergunta: Certa vez, ele viu um homem dar seis tiros à queima-roupa em um indivíduo e este não foi atingido por nenhum tiro. As balas eram verdadeiras, conforme ele mesmo pode ver. Como pode-se explicar esse fato? J. Herculano Pires – É claro que esse fato pode ter várias explicações. Quem atirou podia ser um mau atirador. Podia estar nervoso. Podia não estar em condições de executar aquilo que ele pretendeu. Não ter a coragem necessária. E, naturalmente, a sua mão trêmula fez com que as balas se desviassem. Do ponto de vista espiritual, nós poderíamos dizer que, na verdade, o que devia ser assassinado não estava sujeito à essa pena, do ponto de vista da lei de ação e reação. Ele então estava imune e, justamente por isso, influências podem ter se exercitado sobre aquele que tentou assassiná-lo.

 

Há muitos casos, no mundo inteiro, de pessoas que são agredidas assim e não são atingidas. Há outros bastante curiosos, como, por exemplo, casos de uma pessoa que recebe um tiro, mas o tiro acerta precisamente sobre um objeto de metal que está no bolso do colete ou do paletó, e a pessoa não é prejudicada. Assim, há muitas maneiras pelas quais um indivíduo pode escapar da hora da morte, se na verdade aquela não é a sua hora.

 

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Pergunta 7: Procedência de Jesus e mensagem sobre acontecimento futuro

 

Locutor – Professor, o Pedro Grechi faz a seguinte pergunta: De que plano veio Jesus para reencarnar-se entre nós? Como se explica o fato de um mentor espiritual começar a nos advertir espontaneamente sobre algum acontecimento futuro e, de repente, ele para e deixa tudo no ar?

 

J. Herculano Pires – É, o senhor formula duas perguntas, diferentes. A primeira referente à procedência de Jesus, nós só podemos dizer, de acordo com aquilo que é possível deduzirmos dos ensinos espíritas. Dizer que Jesus veio de um plano superior da Espiritualidade. Ele é um Espírito superior. Ele representa, para nós, o verdadeiro governador espiritual do planeta. Assim, a vinda dele para a Terra, não propriamente para reencarnar, para encarnar. Porque quando nós falamos em reencarnação, falamos das pessoas que estão morrendo e se reencarnando no planeta. Jesus não tinha necessidade nenhuma de vir encarnar na Terra, a não ser para nos atender, para nos ajudar. Foi um gesto de abnegação que ele fez. Mas ele não havia encarnado anteriormente na Terra, ele vem de um plano superior da Espiritualidade. E nós podemos, assim, compreender que ele vivia bastante distanciado do nosso planeta, não obstante ligado conosco, ligado com o próprio planeta através do seu pensamento divino. O seu pensamento com o qual ele procura nos auxiliar a todos na nossa evolução. Essa é a compreensão espírita do problema.

 

No tocante ao fato que o senhor fala aqui, do mentor espiritual, que começa a devassar espontaneamente algumas coisas do futuro e depois interrompe e deixa tudo no ar, eu queria dizer ao senhor o seguinte: É preciso muito cuidado com esses mentores especuladores. Porque, na verdade, os Espíritos não estão incumbidos disso, em suas relações conosco. Eles não devem fazer o papel de ciganas leitoras de buena-dicha. O papel dos mentores espirituais é orientar-nos para a boa execução das nossas tarefas, neste momento aqui na Terra. Nós estamos vivendo uma existência que decorre de existências passadas. E esta existência, que vivemos aqui, é de grande importância para o nosso futuro. Mas o futuro imediato, aquilo que pode acontecer para nós em nossas vidas atuais, isto nem sempre nos deve ser revelado. De maneira que o caso que aconteceu com o senhor, deve ter sido de algum Espírito que quis se fazer passar como mentor. Ou seja, como Espírito guia, orientador, protetor. Porque na verdade não é essa a função dos Espíritos guias.

 

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Pergunta 8: Por que o senhor combate a Umbanda e o Candomblé?

 

Locutor – Professor, Cinésio de Almeida, seu colega de imprensa, lhe faz a seguinte pergunta: Por que o senhor combate a Umbanda e o Candomblé, se essas duas correntes do Espiritismo só praticam o bem?

 

J. Herculano Pires – Eu não combato a Umbanda nem o Candomblé. Nem combato a Quimbanda, que é a prática do mal. Nem combato nenhuma outra qualquer prática religiosa que surja do sincretismo religioso afro-brasileiro. Eu, o que combato, meu amigo, é a mistura que se faz, por ignorância, de Espiritismo com essas práticas. Espiritismo é uma coisa, Umbanda é outra, Candomblé é outra. As formas africanas de religiões que vieram com os negros para o Brasil e aqui se desenvolveram, naquilo que chamamos sincretismo. Ou seja, mistura das suas práticas com as práticas das religiões dos índios, das nossas crendices populares e da própria religião dominante então no país, que é a religião católica. Essas práticas, essas religiões vindas da África, têm o direito de existir, como todas as outras religiões. Nós respeitamos todos aqueles que aderem a essas religiões e querem segui-las.

 

O que nós não concordamos, é que queiram misturar isto com o Espiritismo. Espiritismo é uma doutrina de base científicas, de desenvolvimento filosófico e de consequências religiosas. Esta doutrina é moderna. Ela nasceu na França, em meados do século passado, e vem se desenvolvendo até aqui, através de processos puramente culturais. É preciso compreender o que é Espiritismo, uma doutrina com os seus princípios próprios. Ela não admite, absolutamente, as práticas que se realizam em Umbanda e em demais formas de sincretismo religioso. Não admite nada disso. No Espiritismo, não há nenhuma espécie dessas práticas. Assim, é preciso compreender que o Espiritismo tem a sua própria doutrina.

 

Por outro lado, os próprios umbandistas, quando compreendem bem a sua religião, eles não querem misturá-la com o Espiritismo, porque a Umbanda tem a sua própria doutrina. Cada religião tem a sua própria estrutura teórica e esta estrutura é que a define. Então, não podemos misturar uma coisa com outra. Não combato, absolutamente, nenhuma religião. Apenas me oponho a que se faça confusão entre o Espiritismo e as formas de sincretismo religioso afro-brasileiro.

 

Download Pergunta 9: Escolas e informações sobre a Educação Espírita

 

Locutor – A ouvinte Marisa Pereira de Arruda, professora, residente no Bairro da Saúde, pergunta: Professor, tenho ouvido falar em Educação Espírita e, até mesmo, na existência de escolas espíritas. Nada sei a respeito. Gostaria que o senhor me explicasse algo sobre o assunto ou me indicasse alguma leitura esclarecedora. J. Herculano Pires – É curioso que a senhora mandou esta pergunta e ela nos chega às mãos precisamente no momento em que está saíndo mais um exemplar da Revista Educação Espírita. Como a senhora vê, existe já, inclusive, uma revista especializada em assuntos educacionais espíritas. A Revista Educação Espírita já está no seu quinto número, que é este que está saindo agora. Através desta revista, a senhora se informa a respeito do problema da Educação Espírita. Não se trata da educação propriamente religiosa. Trata-se de uma nova forma de educação. Uma educação geral para ser dada através de escolas, das escolas espíritas, por exemplo, que existem hoje. Numerosas escolas de todos os graus, desde o grau Pré Primário até a universidade. Nós já temos várias faculdades espíritas em funcionamento.

 

Então, estas escolas espíritas devem reger-se por uma Pedagogia Espírita. Entende-se por pedagogia espírita, uma forma de educação que respeite os princípios do Espiritismo. Não quer dizer que esta educação tenha por finalidade criar na mente das criaturas, uma tendência exclusiva para o Espiritismo. Não! Quer dizer que a educação espírita, procurando mostrar a necessidade de compreendermos que cada criança é um ser reencarnado, e precisa desenvolver-se através de elementos que ele encontre no meio em que vai viver. Mas elementos que o ajudem a desenvolver as suas faculdades internas, no processo em que agora se encontra. Esta educação deve basear-se em métodos especiais que ajudem o desenvolvimento material e espiritual da criança.

 

O Espiritismo oferece, como filosofia que é, os elementos necessários para uma remodelação da educação atual. Atualmente, nós temos aquilo que podemos chamar a "educação sectária". A educação religiosa obedecendo a princípios dogmáticos das várias seitas cristãs ou de outras religiões. E temos a "educação leiga", ou educação laica, que é desenvolvida num sentido puramente materialista, pondo de lado os problemas espirituais. A Educação Espírita vem se situar entre estas duas educações, entre estas duas formas de educação. Ela representa uma síntese de todo o desenvolvimento educacional realizado até hoje na Terra. E, justamente por isso, ela abre uma oportunidade inteiramente nova na educação dos nossos dias.

 

A senhora encontrará a Revista Educação Espírita, tanto na Livraria Edicel da rua Genebra, 122, esquina da Rua Maria Paula, quanto na Livraria da Federação Espírita do Estado de São Paulo, à rua Maria Paula, 158. Como também encontrará em outras livrarias, como a Livraria Espírita Boa Nova, da Rua Aurora, 706, próximo à avenida São João. Ou na LAKE – Livraria Allan Kardec Editora, na Rua Lavapés 805, no Cambuci. Em qualquer dessas livrarias e em outras livrarias comuns, que vendam obras espíritas, a senhora encontrará também a Revista Educação Espírita. Penso que, com a leitura desta revista, a senhora se informará bem do assunto.

 

Download Desperte amigo ouvinte, a clarinada do Evangelho está vibrando no ar. Estudemos o Evangelho em Espírito e Verdade.

 

Abrindo o Evangelho ao acaso, saiu-nos o trecho dos versículos 15 a 18 da II Epístola de Paulo aos Coríntios, Capítulo 12, que vamos ler.

 

“Mas seja assim. Eu não vos fui pesado, porém sendo astuto, vos apanhei com dolo. Porventura, defraudei-vos por algum daqueles que vos enviei? Roguei a Tito e enviei com ele um irmão. Defraudou-vos Tito? Não andamos no mesmo espírito? Não seguimos as mesmas pegadas?” Como vemos neste trecho da Epístola de Paulo, II Epístola de Paulo aos Coríntios, Paulo estava sempre preocupado com o problema daquilo que ele chamava "pesar sobre os companheiros", sobre os irmãos. Não somente ele se importava com o trabalho dele mesmo, para não ser pesado aos irmãos. Mas também queria que outros, como Tito, que era seu discípulo, e o irmão que acompanhou Tito a Corinto a seu mando, a mando de Paulo. Que também eles, não pesassem na economia dos companheiros de Corinto. Mas nós vemos que Paulo diz assim, que não pesou sobre eles, mas como era astuto, os encontrou em dolo. Quer dizer, ele não pesou sobre os companheiros de Corinto, mas vivendo entre eles percebeu o que havia de errado, na posição que eles assumiam diante do Cristianismo. E procurava então corrigi-los. As cartas de Paulo são exemplos constantes desta atitude maravilhosa que ele assumiu. Ou seja, aquela atitude que veio romper com tudo quando se fazia naquele tempo, em matéria de religião. Não aceitava absolutamente de se converter num profissional da religião. Ele tinha sua profissão, vivia dessa profissão. Mas dedicava todo o seu tempo possível à pregação do Evangelho e à vigilância sobre as igrejas, que no tempo eram consideradas assembleias cristãs, espalhadas pelo mundo gentio. Por toda parte, ele estava sempre vigilante, mas suprimindo decisivamente o problema do profissionalismo religioso. Este cuidado de Paulo apóstolo, com referência a ele próprio e aos outros apóstolos também, dos quais ele exigia a mesma posição, é muito importante. Porque, segundo nós vemos hoje, no Espiritismo e de acordo com uma das mais belas mensagens de Emmanuel: “a religião organizada pode tornar-se no cadáver da religião”, se esta organização se estender de tal maneira a transformar cada igreja numa espécie de empresa, com os seus funcionários para todas as execuções necessárias dos serviços religiosos.

 

É necessário fazer com que o espírito da religião seja seja entendido, seja compreendido e seja praticado acima de qualquer profissionalismo. E que aqueles que pregam e ensinam, aqueles que administram a religião, não sejam pesados aos demais fiéis. É neste sentido que Paulo sempre insistiu, estabelecendo naquele tempo, num mundo em que a religião era sempre e constantemente, não só um instrumento profissional, mas o elemento econômico do próprio Estado. Ele insistiu sempre na libertação da religião, no tocante a este compromisso ou a esta sujeição aos poderes do mundo. Ele libertava a religião da política e do negócio. Para ele, a religião tinha de ser vivida em si mesma, e vivida com toda a independência moral. Janeiro é o mês de Léon Denis, o filósofo-poeta do Espiritismo, sucessor de Kardec na orientação do movimento espírita mundial. Denis nasceu à 01 de Janeiro de 1846, na pequena cidade de Foug, da província francesa de Lorena. Era filho de um ferroviário e tornou-se o apóstolo do Espiritismo na Europa.

 

No Limiar do Amanhã, um encontro com a verdade.

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