No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.
Eclosão da mediunidade musical no mundo. Os grandes compositores do passado enviam novas sinfonias à Terra. Sambistas desencarnados retornam à atividade musical. Sambas de Ataulfo Alves, Lamartine Babo, Noel Rosa e outros, recebidos em São Paulo.
“O mundo invisível e a guerra”, obra monumental de Léon Denis na Argentina, intervenção dos espíritos nas batalhas dos homens.
As revoluções e as guerras são cataclismos sociais semelhantes aos terremotos, aos furacões e às erupções vulcânicas no plano geológico. Nesses dois planos, temos de considerar a ação de duas espécies de leis: as físicas e as sociais. Os espíritos constituem a parte invisível da sociedade humana, são criaturas humanas desencarnadas, mas ainda ligadas aos povos a que pertenceram e que por isso mesmo continuam interessadas na solução de seus problemas. Tinha razão Homero ao descrever a intervenção dos deuses mitológicos na guerra de Tróia.
Para os antigos, gregos e romanos, os espíritos eram considerados deuses. Havia os deuses benignos e os deuses malignos. Em todos os povos antigos, encontramos essa divisão. Os ancestrais velavam pelas famílias e eram chamados deuses lares. O espiritismo esclareceu esse problema de maneira objetiva, demonstrando que os espíritos constituem uma das forças da natureza. Na guerra e na paz contamos com as potencialidades do ar, como escreveu apóstolo Paulo, que não são deuses, nem demônios mas criaturas humanas desencarnadas que nos impedem na luta da vida.
Léon Denis, considerado filósofo poeta do espiritismo, acompanhou durante três anos a ação dos espíritos na guerra e oferece-nos a descrição dessas atividades ocultas muitas vezes decisivas nas atividades dos homens.
Vivem de olhos fechados os que não acreditam na existência e na intervenção dos espíritos em nossas vidas. Assemelham-se aos que, no tempo de Pasteur, não acreditavam na existência e na influência dos micróbios sobre a saúde humana. Hoje, a própria física está nos revelando, cada vez mais claramente, a existência de uma realidade invisível que nos rodeia e que nos condiciona. Chegou o tempo de compreendermos que o mundo e a vida não se limitam ao plano visível. Temos que acordar para a realidade maior que abrange as duas faces do real: a visível e a invisível.
No Limiar do Amanhã, um programa desafio. Transmissão número 137, terceiro ano, direção e participação do professor Herculano Pires.
Pergunta nº 1: Parar o sol
Locutor - Professor, nosso ouvinte J. R. pergunta: o que o professor acha sobre a passagem da escritura onde diz: o rei Davi pediu ao senhor que parasse o sol, que era para que ele, o rei Davi, guerreara e vencer seus inimigos. Será que o próprio Deus parou a Terra, pois se a Terra gira?
J. Herculano Pires - Não conheço nenhuma passagem das escrituras em que o rei Davi tivesse pedido que parasse o sol. É possível que eu esteja enganado, mas pelo que verifico na própria leitura dos textos, quem fez isso foi Josué, e essa passagem está no próprio livro de Josué. Ali se diz claramente que Josué pediu que a lua e o sol fossem estacionados, parassem no céu para poder a guerra prosseguir. Assim, uma vez estacionados esses astros no infinito, pôde ter prosseguimento a batalha que parecia necessária. É evidente que se trata de uma dessas ocasiões em que surgem na Bíblia fatos simbólicos, alegóricos, que não podem absolutamente concordar com o que nós conhecemos das leis naturais que regem o universo. Seria possível, naturalmente, uma ilusão coletiva, pensar-se que o sol havia parado, que a lua havia parado, mas também essa explicação envolve qualquer coisa de fantástico, de sobrenatural, que não nos parece de acordo com a realidade possível no campo psicológico e mesmo no campo do hipnotismo. Por isso, nós entendemos que essa passagem da Bíblia não quer dizer exatamente que aquilo que a letra nos dá. Há, por traz da letra, uma simbologia, uma explicação simbólica, como é bem do gosto oriental, e como a Bíblia a cada passo nos demonstra que ela era bastante usada pelos redatores dos chamados livros sagrados do judaísmo, que constituem a Bíblia. Acredito, portanto, tratar-se de uma passagem simbólica.
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Pergunta nº 2: Densidade do espírito
Locutor - No livro do Dr. Antônio dos Santos diz o seguinte: as comunicações que se observam nas sessões espíritas nada mais são que a manifestação de um dos seres de grupo humano no próprio corpo do médium que, por qualquer desequilíbrio, perde a consciência, a denopatia, e jamais seriam entidades externas, pois que os corpos dos mesmos seres que se encontram nos seus respectivos planos, tanto no homem encarnado como num desencarnado, se acharia pela igualdade da densidade da matéria que os constituem, do mesmo modo que duas pedras se chocariam ao se depararem. No entanto, cada ser é um ser diferente.
J. Herculano Pires - O problema, nesse caso, cai precisamente no campo das hipóteses. Ora as hipóteses são muitas. Desde que a investigação científica se desenvolveu no mundo, se fizeram muitas hipóteses para explicar fatos concretos, fatos objetivos. Acontece que quando essas hipóteses não explicam, não conseguem realmente explicar os fatos, elas não podem ser aceitas. Ora esse livro está levantando uma hipótese que já foi superada pelos próprios fatos. A hipótese em ciência tem uma finalidade: orientar a pesquisa. Mas acontece que nesse caso ela é oposta, por assim dizer, àquilo que a pesquisa já demonstrou. É, podemos mesmo afirmar, de acordo com aquela conhecida expressão do nosso povo, querer colocar o carro adiante dos bois. Na verdade, quando Kardec demonstrou que nos fenômenos espíritas se dava a comunicação de entidades espirituais através dos médiuns, Kardec já passou além dessa hipótese. Ele mesmo havia levantado hipóteses mais ou menos semelhantes, não no sentido da sua formulação teórica, como está aqui, mas no sentido de atribuir as comunicações espíritas ao próprio médium ou aos elementos constituintes do grupo espírita onde elas se davam. Entretanto, a pesquisa incessante – e lembre-se bem: durante doze anos consecutivos essa pesquisa incessante e rigorosa – demonstrou a Kardec que todas as suas hipóteses não explicavam a realidade do fenômeno. O fenômeno se explicou por si mesmo. Se explicou por si mesmo por quê? Porque esse fenômeno era inteligente como é na verdade. Os próprios espíritos que se comunicavam propuseram a Kardec uma nova orientação para a pesquisa. Perguntaram a ele como explicar a manifestação de entidades espirituais identificáveis e ao mesmo tempo reconhecíveis não só pelo seu estilo da linguagem como também pelas suas ideias, pela sua posição diante dos problemas que eram enfrentados por eles e assim por diante. Como justificar que essas entidades ou esses espíritos que ali se manifestavam podiam ser simplesmente uma espécie de projeção da mente ou dos pensamentos de outras pessoas que não entendiam do assunto, que não conheciam os problemas e que nem mesmo estavam em condições de procurar imitar de qualquer forma que fosse o estilo, a maneira de ser daquelas criaturas que se comunicavam? Assim, o que esse livro nos apresenta é uma hipótese inteiramente absurda. Querer comparar, por exemplo, os espíritos e os homens com pedras que se chocam e que não podem se comunicar uma com as outras, é propor uma ideia verdadeiramente absurda. Por outro lado, é preciso lembrar que a própria explicação dos espíritos supera de muito o que esse livro pretende colocar. Os espíritos disseram a Kardec o seguinte: há, naturalmente, a necessidade de que duas fontes, por exemplo, de energia que vão se comunicar tenham homogeneidade. É esse o ponto que o autor quis levantar nesse livro. É necessário que elas sejam homogêneas, que haja a possibilidade de sintonia. Ora, acontece que o espírito que vai se comunicar com o médium ele não se liga ao corpo do médium, mas sim ao corpo espiritual do médium. São duas fontes de energia perfeitamente sintonizadas, perfeitamente homogêneas. O espírito encarnado está apenas revestido, por assim dizer, da matéria grosseira do corpo, mas ele, na verdade, possui o seu corpo espiritual intensamente vibratório. Ora, o espírito desencarnado que quer se comunicar com o médium, e isso nós podemos ver bem descrito, minuciosamente descrito no Livro dos Médiuns, esse espírito desencarnado estabelece antes de mais nada uma sintonia vibratória com o perispírito do médium. Portanto, não se trata de pedras rolando para se encontrarem uma com as outras a maneira de bolas de bilhar. Não. Trata-se de entidades vivas, de entidades de tipo energético, como ainda agora vimos a descoberta do corpo bio-plástico. A própria física moderna confirmou a existência no homem dessa entidade, entidades de tipo energético que se comunicam no processo vibratório através da sintonia necessária para que a comunicação espírita seja dada.
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Pergunta nº 3: Representação de santos como animais
Locutor - Ainda do ouvinte J. R.: diga-me alguma coisa sobre o que e por que os católicos estamparam ou fizeram esculturas dos santos –João Batista em forma de águia, São Marcos em forma de leão e finalmente São Lucas em forma de touro.
J. Herculano Pires - Ainda bem que o senhor disse: diga-me alguma coisa;, porque, na verdade, eu não poderia lhe dar a respeito desse assunto uma resposta decisiva, completa e, portanto, satisfatória. Lembro-me de haver lido alguma coisa a respeito dessas atribuições de figuras de animais a esses evangelistas, mas acontece que não tenho a explicação imediatamente em mente e posso lembrar, entretanto, o seguinte: na era apocalíptica, quer dizer, a era em que apareceram os grandes apocalipses na Palestina, nessa era que vem do século segundo antes de Cristo até o século primeiro depois de Cristo, foi muito usada a aplicação da imagem de animais para designar as pessoas que figuravam representativamente no campo religioso. Assim no judaísmo como no cristianismo, pois temos todo um século. Primeiro século depois de Cristo em que se desenvolveram ainda os apocalipses, quer dizer, foram elaborados muitos apocalipses na Judéia, na Palestina toda. Pois bem, essas atribuições da figura de águia a João Batista e assim por diante, essas atribuições são tipicamente apocalípticas. Quando lemos o apocalipse do próprio João no Novo Testamento, nós vemos ali tudo figurado – o próprio Jesus, como sabemos, é o cordeiro. E aparece depois as figuras mais difíceis de se interpretar como animais de variadas espécies. Acredito, portanto, que a designação dos evangelistas citados com essas figuras aqui mencionadas é uma designação que decorre do processo apocalíptico.
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Pergunta nº 4: Espíritos obsessores
Locutor - Professor, o ouvinte D. pergunta: tudo começou quando há cerca de seis meses atrás, vi na TV uma foto de uma pessoa carbonizada. Comecei a repetir sem cessar em minha mente a foto horrível e sofri muito. Depois disso, comecei a lembrar-me de outras fotos onde sempre havia pessoas deformadas por acidentes e, às vezes, ficava pensando naquilo sempre com o máximo de requinte de detalhes e era difícil lembrar todos os detalhes de cada foto. Já é horrível. Imagine ter de lembrar com detalhes e não conseguir. Não conseguia me controlar. Hoje consigo um pouco. Não queira imaginar o que sofri e sofro com essas imagens perturbadoras. Sempre que tento ou tentei controlar os pensamentos, dá uma ansiedade, vontade de subir nas paredes. Gostaria de saber se isso é uma doença ou influência de maus espíritos? E o que eu devo fazer?
J. Herculano Pires - O senhor está, naturalmente, diante de um caso de obsessão, um caso típico de obsessão. Se o senhor, naturalmente, consultar algum especialista em psicologia terapêutica, e certamente o senhor já fez isso, ele dirá que o senhor está tomado por ideias obsessivas e que o senhor sofre de uma espécie de delírio que faz o senhor voltar constantemente a repetir aquilo mesmo que lhe angustia. Entretanto, no campo espírita, nós sabemos que existe a atuação de entidades perturbadoras, os chamados espíritos obsessores, que se servem de certas dificuldades ou de certos desequilíbrios psíquicos das pessoas para intensificarem o processo obsessivo. Dessa maneira, eu entendo que o senhor devia dirigir-se a um bom centro espírita, orientado com segurança por pessoa que conheça a doutrina e que também entenda ou que possua no seu elemento pessoas que entendam dos processos obsessivos puramente psicológicos. Nunca existe, na verdade, apenas um processo. O processo psicológico é sempre seguido e acrescentado, aumentado, pela obsessão espírita. Aliás, devemos dizer obsessão espiritual, porque ela não é espírita, a não ser como uma descoberta do espiritismo para esclarecer o problema. Qualquer pessoa está sujeita a esses processos obsessivos. No seu caso, pelo que o senhor nos relata, o processo é agudo. O senhor deve realmente ter sofrido muito e está sofrendo bastante.
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Pergunta nº 5: Apocalipse
Locutor - Professor, E. G. da S. pergunta: qual o sentido das palavras cujo versículo dois do livro de Daniel, capítulo doze, são as seguintes: muitos dos que dormem no pó da Terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para a vergonha e horror eterno. Esse versículo tem alguma relação com a primeira ressurreição e com a propalada prisão de satanás, capítulo vinte do apocalipse?
J. Herculano Pires - O senhor, Seu E., o senhor está vivendo em plena era apocalíptica. Porque quando o senhor fala do livro de Daniel, o senhor já está tratando de um livro da Bíblia onde há grande influenciação da era apocalíptica, e logo em seguida o senhor se refere ao próprio apocalipse. Eu queria lembrar ao senhor que esses livros proféticos do judaísmo, pois o próprio apocalipse de São João atribuído a ele figurando no Novo Testamento, é considerado historicamente como pertencente ao judaísmo antigo, pertencente pela sua linguagem, pelas suas imagens, pelo seu estilo e pelo seu sentido. Assim, o senhor encontrará nesses livros sempre um mundo de imagens e de alegorias difíceis de serem explicadas. É claro que os mortos não podem dormir no seio da Terra. Por quê? Porque os mortos ressuscitam e isso quem ensinou foi o próprio Jesus, no próprio evangelho. Ali nós vemos ele ensinar não só pelas suas palavras, mas também pelo seu próprio ato de ressuscitar. Ele mesmo morreu e ressuscitou, e ele nos ensinou que tudo aquilo quanto ele faria, nós também poderíamos fazer, e até mais do que aquilo. Jesus com isso quis dizer e nos mostrar que ele não agia na Terra como um Deus, segundo diriam mais tarde, mas sim que ele agia como um homem, um espírito encarnado, uma criatura humana dotada dos poderes espirituais que nós todos possuímos. Ora, a ressurreição de Jesus aniquilou de uma vez para sempre com essa ideia errônea de que os mortos ficam enterrados ou ficam rolando no pó da terra como dizem algumas passagens da Bíblia. É preciso compreender que o Novo Testamento é um testamento novo, quer dizer, desde que ele entrou em vigor, o Velho Testamento está perempto. Nós não podemos escolher entre os dois, optando pelo Velho Testamento porque o Velho Testamento já foi superado pelo Novo. Assim, quando há qualquer conflito entre os dois, é preciso lembrar-nos de que o próprio apóstolo Paulo afirmou que o Velho Testamento era um livro histórico, mas que agora nós estávamos na vigência do Novo Testamento, do evangelho. Nós não podemos aceitar a ideia de que os mortos estão rolando no seio da Terra. Nós temos de compreender o princípio da ressurreição. Eu quero tirar o senhor dessa era apocalíptica em que o senhor se encontra e remetê-lo diretamente a um livro que o entrosará na era moderna, na era do cristianismo e na era do espiritismo. É o livro constituído pela primeira epístola do apóstolo Paulo aos Coríntios. Ele ali ensinará o senhor de maneira bem clara que nós temos corpo material e corpo espiritual, e que quando morremos, é enterrado o corpo material e ressuscita o corpo espiritual. Se se ressuscita o corpo espiritual, ninguém fica rolando na Terra.
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Perguntas e respostas. Continuamos a responder aos ouvintes.
Pergunta nº 6: Reino dos céus
Locutor - Professor, o ouvinte A. L. pergunta: no evangelho de Mateus, capítulo quatro, versículo dezessete, Jesus disse: arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus. Por que esse pronunciamento de Jesus, se até os nossos dias esse reino celestial não se fez presente?
J. Herculano Pires - O reino dos céus anunciado por Jesus não é apenas exterior, ele é também interior. O reino do céu pode ser conquistado por nós tanto no sentido coletivo, para o seu desenvolvimento na Terra, transformando nosso mundo num mundo melhor. Então dizemos que o reino do céu está baixando à Terra. Jesus veio mesmo implantar na Terra o reino do céu. O seu trabalho nada mais foi do que esse: fazer com que o reino espiritual se estabelecesse entre os homens, superando as condições ainda animalescas em que os homens viviam no seu tempo, e que, infelizmente, vivem até hoje. Mas Jesus sabia, com a sua presciência de espírito elevado, sabia naturalmente que o reino do céu teria que se desenvolver na Terra muito lentamente. Por isso ele usou aquela parábola em que se refere à porção de fermento que colocamos numa medida de farinha para fazer com que a farinha levede. Ora, levedar a farinha é fazer com que o fermento vá se diluindo e penetrando na farinha e se misturando com ela para fazer com que ela possa levedar. A função do cristianismo no mundo foi essa: Jesus semeou a verdade do reino do céu e deixou que essa verdade fosse penetrando nos corações dos homens e transformando esses corações, levedando a massa humana para que realmente possamos ter na Terra uma aproximação da verdade celestial que nada mais é do que a verdade do espírito. Ora, nesse processo então nós temos dois aspectos a considerar. Quando Jesus dizia que o reino do céu estava próximo é porque, na verdade, ele já havia começado nascer na Terra. De lá até os nossos, dias muitas criaturas na humanidade se elevaram até o reino dos céus, atingiram o reino dos céus em si mesmas, no seu coração. Evangelizaram-se, foram capazes de não apenas aceitar o evangelho pela letra, mas de aceitarem o evangelho em espírito e verdade, e de transformarem o evangelho em norma de sua própria vivência na Terra. Essas pessoas superaram de muito a condição ainda inferior da humanidade terrena e passaram a planos superiores da vida espiritual. Passaram a viver no reino dos céus. O reino dos céus estava, portanto, bem perto para todas elas. Não obstante, tendo-se em consideração que Jesus falava para as gerações futuras, para o mundo que viria depois daquele em que ele vivia, é também aceitável que ele tenha dito que o reino do céu estava próximo, porque está próximo para a própria humanidade. Nós estamos relutando para chegar até ele. Entretanto, poderíamos chegar mais depressa se compreendêssemos a mensagem evangélica, se a aceitássemos e realmente a realizássemos em nosso coração. Acabar-se-iam as guerras, acabar-se-ia a ganância, a voluptuosidade incontida no homem, o desejo insaciável de tudo possuir e tudo dominar, e com isso a Terra se transformaria num mundo harmonioso. A transformação do mundo depende do coração do homem. Jesus previu isso e anunciou que o reino do céu está próximo e, na verdade, está bem próximo de nós. O que está faltando é nós darmos o passo decisivo em direção a ele. Podemos lembrar aqui a caminhada, por exemplo, do povo judeu através do deserto do Sinai. Quarenta anos, segundo a descrição histórica da Bíblia, quarenta anos levou o povo judeu para atravessar o deserto. Hoje perguntamos a nós mesmos, hoje que conhecemos o deserto do Sinai, perguntamos a nós mesmos como puderam eles vagar tantos anos por um deserto que, na realidade, é pequeno, é diminuto, é um deserto que seria atravessado em muito menos tempo do que isso. É mais uma vez o problema da simbologia na Bíblia que aparece diante de nós. Os quarenta anos são os quarenta anos de dificuldades para que aquele povo abandonasse todas as suas tradições herdadas dos povos antigos da Babilônia, do Egito; e para que aquele povo abandonasse a adoração do bezerro de ouro, como nós vimos no próprio episódio da recepção das tábuas da lei no Sinai; para que aquele povo se libertasse do apego a matéria e do apego de todas as suas ilusões terrenas e pudesse se dirigir à Canaã celeste, à compreensão espiritual do ensino de Moisés. Isso também acontece conosco. O povo judeu estava atravessando o Sinai e estava bem próximo de Canaã. No entanto, levou muito tempo para chegar lá. Nós também estamos próximos do reino do céu; ele está ao nosso alcance, podemos tocá-lo e atingi-lo na hora em que nos decidimos a isso. De maneira que Jesus não falou absolutamente nada de absurdo, mas propôs uma verdade que nós precisamos compreender no seu verdadeiro sentido espiritual.
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Pergunta nº 7: Atos
Locutor - A segunda pergunta do ouvinte A. de L.: em atos, capítulo quatro, versículo vinte e um, lemos que João e Tiago eram filhos de Zebedeu. Esse Zebedeu e Alfeu eram a mesma pessoa? Atos capítulo um, versículos doze e treze. J. Herculano Pires - Sim, eu compreendo a sua dúvid, porque na segunda referência do livro de atos, encontramos ali a referência a Alfeu. Mas é preciso também lembrar que quando se fala de Alfeu, ali menciona João Marcos, não apenas João, João Marcos. E João Marcos estava com Pedro, e nós sabemos que Pedro era realmente o discípulo de João Marcos. Pedro já era um homem idoso, um apóstolo experimentado, e João Marcos era um discípulo jovem. Atribui-se, por exemplo, o evangelho de Marcos a esse João Marcos que teria escrito esse evangelho sobre a orientação do seu mestre, o apóstolo Pedro. Esse João Marcos não é o mesmo João Evangelista.
Locutor - Em atos, capítulo doze, versículo doze, nós vemos uma Maria que é a mãe de João. Essa Maria é a mesma Maria, mulher de Cleofas e irmã da Maria, mãe de Jesus? Nas velhas traduções bíblicas, lia-se o seguinte: jamais ninguém viu a Deus. O filho unigênito que está no seio do pai é quem deu a conhecer ou quem o revelou. Agora lê-se: o Deus unigênito que está no seio do pai é quem o revelou. Como pode Deus estar dentro do próprio Deus e por que essa alteração?
J. Herculano Pires - Quero voltar um pouquinho à pergunta anterior, porque eu terminei de maneira ambígua quando eu disse que esse João Marcos não é o João Evangelista. Foi um engano meu no falar, quero dizer, o João Marcos, possivelmente o evangelista que escreveu o evangelho de Marcos, esse não é o João apóstolo, o João de Jesus, que seria mais tarde o evangelista do quarto evangelho. Como o senhor vê, esses problemas são um pouco difíceis até mesmo de se explicar, porque há vários nomes, há várias posições semelhantes. Por exemplo, João Marcos seria também um colega de João, filho de Zebedeu, que partiu para a cidade de Éfeso, onde, acompanhado de Maria, mãe de Jesus, foi residir e onde escreveu o quarto evangelho. Os dois seriam evangelistas, mas um é uma criatura e o outro é outra. São dois Joães. Um João sendo aquele que acompanhou Jesus como apóstolo, o outro que foi apóstolo de Pedro e não de Jesus. Assim, é um tanto difícil nós compreendermos todas essas relações, mas estou procurando satisfazer a sua pergunta. No tocante à Maria a que o senhor pergunta aqui, mulher de Cleófas e irmã de Maria, o senhor pergunta: vemos uma Maria no capítulo doze, versículo doze do livro de atos, que é mãe de João. Essa Maria é a mesma Maria mulher de Cleófas e irmã de Maria, mãe de Jesus? Francamente, eu no momento não posso responder ao senhor com certeza, porque, na verdade, esses problemas referentes às diversas figuras que aparecem nos relatos bíblicos e nos relatos evangélicos, esses problemas são muito minuciosos, depende de se ver inclusive as várias opiniões a respeito, porque houve muitos historiadores estudando e interpretando esses assuntos e cada qual apresentando, às vezes, opiniões diferentes umas das outras. Diante disso, eu deixaria esse assunto para lhe responder oportunamente com maior segurança.
Quanto às velhas traduções bíblicas encerrarem expressões que hoje estão modificadas, isso mostra, meu caro amigo, aquilo que eu já tive oportunidade de dizer aqui algumas vezes, mostra que as adaptações dos textos sagrados do cristianismo, e particularmente daqueles que vieram do judaísmo, continuam a ser feitas em nossos dias, adaptações que têm sempre uma finalidade dogmática. Quando a expressão bíblica não corresponde exatamente àquilo que o dogma de certas igrejas estabelece, então os tradutores procuram mais ou menos adaptar a tradução ao dogma. Eu já denunciei mesmo aqui a modificação do texto bíblico em edições lançadas aqui no Brasil, editadas aqui em São Paulo, modificações feitas com o fim exclusivo de combater o espiritismo, por exemplo, confundindo médium com feiticeiro. Quando lá no texto bíblico se refere a feiticeiros, as traduções mais recentes mudaram adotando a expressão médium. Essa expressão médium não existia naquele tempo, embora existisse a palavra médium, porque vem do latim, mas essa palavra não era aplicada no sentido que é aplicada hoje no espiritismo. Feiticeiro também é uma adaptação, porque feiticeiro, como nós sabemos, vem de feitiço, uma palavra portuguesa que foi depois adaptada ao francês com a elegante expressão de fetiche, e hoje muito se usa fetiche no lugar de feitiço. Quer dizer que nenhuma das duas corresponde exatamente à expressão original do texto que não tratava nem de feiticeiro, nem de médium. Tratava simplesmente de mágicos, os mágicos daquele tempo. Ora, essas modificações, portanto, decorrem, como vimos, de interesses sectários, e nós sempre procuramos advertir aqui quanto ao perigo de se interpretar a Bíblia através das traduções que variam conforme a moda.
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Pergunta nº 8: Necessidade de médiuns
Locutor - Professor, nosso ouvinte R. R. G., de São Bernardo do Campo, pergunta: no capítulo oito, questão dez e precedentes do Livro dos Médiuns, São Luís diz que os espíritos têm poderes sobre a matéria que estamos longe de imaginar, e no caso foi dado o exemplo da possibilidade de materialização do Rapé com todas as suas características. Então por que a necessidade de médiuns? Gostaria de ter explicações mais completas.
J. Herculano Pires - A necessidade de médiuns para comunicação do espírito é evidente. O espírito pode comunicar-se, por exemplo diretamente com uma criatura, sem um intermediário, sem um médium, mas nesse caso o médium é aquele mesmo que está recebendo a comunicação, porque o médium recebe a vibração do espírito, é envolvido por ele, e a comunicação do espírito com o médium é direta. Mas mesmo sendo direta, nós sabemos – e o Livro dos Médiuns é bem claro nesse assunto –, sabemos que o espírito comunicante está agindo sobre o médium primeiramente no sentido de estabelecer sintonia vibratória com o seu perispírito. O perispírito do médium, quer dizer, o corpo espiritual do médium, responde ao estímulo que provem do perispírito do espírito, ou seja, do corpo espiritual da criatura desencarnada. Estabelece-se, então, uma ligação vibratória entre ambos e torna-se possível a comunicação do espírito. Entretanto, quando se trata de visões, de manifestações visuais, como no caso da tabaqueira que o senhor leu lá no Livro dos Médiuns, quando se trata disso, o espírito pode servir-se no seu plano espiritual do seu poder sobre elementos materiais para formar objetos aparentes que imitam os objetos terrenos. Mas isso não quer dizer que ele não esteja se servindo também dos elementos materiais do médium para tornar esses objetos acessíveis à percepção do médium.
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Pergunta nº9: Desaparecimento do corpo de Cristo
Locutor - Outra pergunta: no programa do dia 20 de outubro, o senhor salientou o fato de Paulo haver dito que Cristo ressuscitou em espírito. Como se explicaria o fato de seu corpo haver desaparecido?
J. Herculano Pires - Nós não podemos hoje querer, portanto, determinar de maneira alguma como desapareceu o corpo de Jesus. Por outro lado, há também, do ponto de vista espiritual, um problema curioso que é o seguinte: os espíritos, como o senhor já viu ao tratar do caso da pergunta anterior, os espíritos têm poderes que nós ainda não conhecemos sobre a matéria. Eles podem materializar e desmaterializar objetos. Eles podem, através de um poder que a nossa física somente agora está atingindo, agir sobre a matéria com plena atividade eficaz, com plena eficácia. Assim, nós podemos imaginar que o espírito da elevação de Jesus podia perfeitamente ter feito desaparecer o seu corpo do túmulo. Ele mesmo poderia agir nesse sentido ou os espíritos a seu serviço, aqueles que trabalhavam com ele no cumprimento da sua elevada missão aqui na Terra. Então, perguntariam: mas então por que fazer esse desaparecimento? Tanto para evitar aquelas coisas que poderiam surgir em torno do seu corpo em face das contradições da política reinante no tempo, como também por um motivo mais alto, um motivo sublime que nós encontramos no evangelho que é dar, através do seu próprio corpo, uma última lição as criaturas humanas: é a chamada lição do túmulo vazio. Fazendo desaparecer o seu corpo do túmulo e ao mesmo tempo aparecendo ressurreto a Maria de Madalena e aos outros apóstolos, mostrando que ele possuía o seu corpo espiritual em plenitude, Jesus nos dava uma última lição através do seu corpo material: a lição de que todos os túmulos estão vazios. Nenhum espírito está dentro de um túmulo. Os túmulos estão vazios e os espíritos ressuscitados, na plenitude do seu poder espiritual, estão vivendo numa vida melhor.
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Abrimos o evangelho ao acaso e vamos ler o que saiu (Mc, 5:06-15).
Por ocasião da festa, o governador soltava um preso a pedido do povo. Havia um chamado Barrabás, preso com outros sediciosos os quais, em um motim, haviam feito uma morte. Chegando o povo, começou a pedir a graça que lhe costumava fazer. Disse-lhe Pilatos: quereis que eu vos solte o rei dos judeus? Pois ele percebia que por inveja os principais sacerdotes o haviam entregado. Mas esses insistiram, instigaram a multidão para que Pilatos lhes soltasse antes a Barrabás. Pilatos tornou a dizer-lhes: que farei, então, daquele a quem chamais o rei dos judeus? Eles clamaram de novo: crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: pois que mal fez ele? Mas clamaram cada vez mais: crucifica-o. Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhe a Barrabás e depois de mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.
Esse trecho do evangelho de Marcos, capítulo quinto, versículos seis a quinze, é quase uma pintura. Coloca diante de nós de uma maneira tão viva aquilo que se passou. A multidão clamando diante do pretório, e Pilatos indeciso, na sua insegurança, propondo a soltar alguém na esperança, talvez, de que o povo pedisse por Jesus. Mas o povo preferiu Barrabás. De acordo com as explicações que tradicionalmente são dadas nas várias igrejas a respeito desse fato, em geral se fica perguntando assim: mas por que; por que motivo esse povo foi preferir um criminoso, um assassino, segundo diz o texto, embora não diga expressamente que ele, Barrabás matou um homem, mas que do motim a que ele se ligou, resultou uma morte? Em todo caso, ele estava preso por ter havido um motim, uma sedição, como diz aí, e consequentemente da qual se resultou um assassinato pelo qual ele era, de certa maneira, responsável. Então, pergunta-se: mas então por que se preferiu um assassino, um indivíduo que andava promovendo motins e não a Jesus de Nazaré que pregava o reino do céu, que ensinava aos homens o amor, a bondade, a paz, a fraternidade. Como se pode explicar isso? Quando estudamos hoje o problema à luz das investigações históricas que se desenvolveram no mundo inteiro, particularmente nos grandes centros universitários do mundo, através dos grandes pesquisadores do cristianismo, quando estudamos assim, nós vemos que as coisas não se passaram bem da maneira pela qual entendemos até hoje. Não. Barrabás não era simplesmente um homem que andasse promovendo tumultos. Aí no texto diz claramente: ele participou de uma sedição. Ele era um revolucionário, um revolucionário judeu que queria libertar a Judéia do julgo romano. Ora, sendo assim, ele apelava naturalmente para a violência, aquela violência que lhe havia sido transmitida pela sua própria tradição religiosa, pela sua própria educação judaica. Quando lemos hoje a Bíblia, nós ficamos às vezes arrepiados com o teor de violência com que os problemas são ali colocados. Ora, essa violência bíblica estava no sangue de Barrabás, e Barrabás queria arregimentar gente, homens corajosos, valentes, para se arremeter contra o império romano, para afastar os romanos da Palestina, porque os romanos não representavam apenas o domínio político e econômico sobre o estado de Israel; os romanos representavam, principalmente, o domínio de uma religião impura sobre a religião pura de Javé; era o domínio dos mitos, da mitologia greco-romana, conspurcando o templo de Jerusalém e conspurcando as cidades santas da Judéia – cidades santas, naturalmente, para os judeus no tempo. Ora, assim, aquele povo que preferiu Barrabás a Jesus, ele revelou simplesmente que estava de acordo com a sedição que Barrabás queria preparar. Já muito antes de Barrabás tinha havido a feroz revolta de Judas Gaulonita contra os romanos que terminou na crucificação de centenas e centenas de heróis da luta pela libertação de Israel, heróis esses que penderam das cruzes nas estradas como símbolos ameaçadores para todos os que tentassem de novo a revolta. Mas apesar disso, nós sabemos que a seita dos Zelotes, os Zelotes que andavam de espada escondida embaixo do manto, essa seita por toda parte semeava indignação e a revolta contra os judeus e procurava arregimentar homens para a luta franca, aberta, para a expulsão contra os romanos, para a expulsão dos romanos e a libertação dos judeus. Assim, o que aconteceu ali foi simplesmente um problema político. O povo não preferiu a Jesus, porque Jesus era o pregador religioso, era o pregador amoroso, o pregador pacífico, aquele que não queria lutas, aquele que disse quando lhe apresentaram a moeda romana que era renegada pelos judeus, ele disse: dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Ora, isto era contra o preceito que animava os revolucionários. Eles não queriam dar nada a César, não admitiam nada a favor de César, queriam tudo apenas para o judaísmo, para os judeus. É claro, porque eles estavam na sua Terra, era seu povo. A preferência, então, do povo judeu era determinada historicamente pela sua própria posição política e religiosa. Eles preferiram Barrabás, porque Barrabás correspondia aos seus anseios políticos, aos seus desejos de libertação, enquanto Jesus de Nazaré não lhes propunha a mesma atitude e a mesma possibilidade que Barrabás lhes oferecia. É sempre o homem preferindo aquilo que lhe parece mais de acordo com os interesses imediatistas da Terra, esquecido dos interesses superiores do espírito.
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No Limiar do Amanhã: um desafio aos que dormem.